Vinho & Literatura soa elegante, quase como se cada gole fosse acompanhado de uma citação francesa sussurrada ao ouvido. Mas, convenhamos, a grande área de Linguística e Letras não vive só de vinhos. Se quisermos brincar, dá para imaginar uma verdadeira carta de bebidas acadêmicas. Por exemplo, a cachaça combinaria perfeitamente com a Linguística Histórica: forte, rústica e cheia de memória — cada gole trazendo à tona as raízes da língua, lá no latim já quase esquecido, mas ainda presente na garganta.
A caipirinha, por sua vez, poderia ser o par ideal da Sociolinguística. Do mesmo jeito que a bebida mistura limão, açúcar, gelo e cachaça, o estudo sociolinguístico junta classes sociais, regiões e escolaridades. Cada gole muda conforme o equilíbrio dos ingredientes, assim como cada fala depende do contexto, da situação e da relação entre interlocutores. Já a cerveja, tão democrática, cairia como uma luva na Gramática Descritiva: acessível, variada e plural, porque sempre tem um estilo para cada gosto, seja IPA, pilsen ou stout — assim como há um jeito legítimo de falar em cada região ou grupo.
Agora, se quisermos ousar, o corote seria perfeito para a Análise do Discurso. Barato, marginal, muitas vezes visto com desconfiança, mas que nos mostra uma potência de sentidos no lugar onde circula. Afinal, o discurso também vem marcado por ideologias, por posições e por um certo efeito de escândalo quando ocupa espaços não autorizados. Já o suco se encaixaria na Linguística Aplicada: nutritivo, variado, mas muitas vezes subestimado. Quem nunca ouviu um “é só suco” — assim como o “é só ensino de língua” — sem perceber a complexidade que se esconde ali?
E ainda poderíamos pensar no café, companheiro inseparável de quem escreve artigos até altas horas, perfeito para a Crítica Literária: denso, amargo, mas que mantém o sujeito acordado para ir fundo na análise. O quentão, por sua vez, seria a Literatura Popular: quente, coletivo, cantado em roda. E a água? Essa seria a Gramática Normativa: necessária, insípida, transparente — e obrigatória. O bom mesmo é que, entre um gole e outro, descobrimos que beber e estudar têm algo em comum: ambos produzem efeitos de sentido, e a ressaca, às vezes, é inevitável. Saúde e boas leituras!