terça-feira, 15 de julho de 2014

Vange Leonel (São Paulo, 4 de maio de 1963 — 14 de julho de 2014)


“Não gosto de despedidas. Ainda que me alivie pensar que os ciclos se fecham, e realmente desejo e espero que seja assim, despedidas formais me deixam constrangida. Adoraria escrever um texto de encerramento como se fosse uma simples coluna de meio de temporada. Mas é impossível: tenho que fechar o ciclo”. (Vange Leonel)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Tarde (Francis Hime)



Quando estou sozinha no meu canto,
Penso muito nas pessoas,
Penso muito nos seus cantos,
Penso quanto foi difícil para cada um falar,
E sinto o coração se confortar,
E fico por um tempo meio assim,
E penso em sentimentos meus,
E penso em sentimentos

Quantos edifícios,
Tantas casas,
Tanta gente dentro,
Como será?
Que sonhos terão?
Será tudo em vão?
Eu juro que não...
E os morros vão ficando azuis
Sobre essa cidade

Sobre essa cidade,
Eu já estou pronta
Pra viver a minha idade,
Pra entender a liberdade,
Pra contar pros nossos filhos
Uma história de amor...
E até quem sabe pra fazer amor,
E é bem capaz de gente ser assim...
E a tarde vai caindo em mim,
Sobre essa cidade,
E eu fico pensando assim

E a tarde vai caindo em mim,
Sobre essa cidade,
E eu fico pensando assim

No galho do manacá (Vinícius Cantuária)


Ludo real (Chico Buarque e Vinícius Cantuária)



Que nobreza você tem
Que seus lábios são reais
Que seus olhos vão além
Que uma noite faz o bem
E nunca mais

Que salta de sonho em sonho
E não quebra telha
Que passa através do amor
E não se atrapalha
Que cruza o rio
E não se molha

Ê, ê, ê andaia
A lua ê, a lua ê
andaia

Contato Imediato (Arnaldo Antunes)



Peço por favor
Se alguém de longe me escutar
Que venha aqui pra me buscar
Me leve para passear

No seu disco voador
Como um enorme carrossel
Atravessando o azul do céu
Até pousar no meu quintal

Se o pensamento duvidar
Todos os meus poros vão dizer
Estou pronto para embarcar
Sem me preocupar e sem temer

Vem me levar
Para um lugar
Longe daqui
Livre para navegar
No espaço sideral
Porque sei que sou

Semelhante de você
Diferente de você
Passageiro de você
À espera de você

No seu balão de são joão
Que caia bem na minha mão
Ou numa pipa de papel
Me leve para além do céu

Se o coração disparar
Quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar
E acalmar a minha pulsação

Longe de mim
Solto no ar
Dentro do amor
Livre para navegar
Indo para onde for
O seu disco voador

Tenho dó das Estrelas (Fernando Pessoa)


Tenho Dó das Estrelas

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo…
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir…

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão –
Qualquer coisa assim
Como um perdão?

É realmente Fantástico!

Bem, que eu assisto a programação da Rede Globo aqui em Portugal não é nenhuma novidade: assisto as séries Pé na cova e Tapas e Beijos, além do Jornal Nacional e, vezinquando, o Fantástico
Hoje, pela manhã, vi este programa pela internet e constatei mais uma vez que a qualidade, a criatividade, as inovações jornalísticas, as notícias veiculadas merecem nota -345. (ISSO MESMO = MENOS TREZENTOS E QUARENTA E CINCO).
Primeiro, o que me incomodou foi a insistência no placar de 7 x 1 do jogo da Alemanha contra o Brasil. Os jornalistas diziam o tempo todo que "os brasileiros não conseguiam se esquecer desse placar".
Se depender do Fantástico, os brasileiros não vão se esquecer mesmo porque isso foi dito, pelo menos, 9 vezes durante todo o programa. Fiquei exausto de tanto ser obrigado a relembrar este episódio. Tínhamos passado pela Holanda, MAS os brasileiros não podiam se esquecer do 7 x 1 contra a Alemanha. Pelo amor de deus!
Aí quando eu pensei que eles iam passar para outro assunto, outra vez fizeram uma retrospectiva dos jogos do Brasil para...mais uma vez falar do 7 x 1 contra a Alemanha.
Depois disso, mais algumas vezes o 7 x 1 contra a Alemanha: brincadeiras na internet, comentários dos torcedores, comentário de comentaristas esportivos, outra vez os apresentadores, algumas imagens. #PQP
O que restou do programa de ontem, apenas a matéria do médico brasileiro que ajudou o menino africano: gostei demais dele, da sua família, da sua emoção, da sua atitude. Pronto.
E aí, para finalizar, que tal mais uma vez o 7x 1 contra a Alemanha?

domingo, 13 de julho de 2014

Da Série Contos Mínimos

Sem saber direito para onde ir, resolveu arriscar: colocou três nomes em um pequeno pedaço de papel, embrulhou cuidadosamente cada um, segurou-os na palma da mão, fechou os olhos e definiu assim a sua última viagem.

sábado, 12 de julho de 2014

Tocando em frente (Almir Sater)

Ando devagar
Porque já tive pressa


E levo esse sorriso


Porque já chorei demais


Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Da Série Contos Mínimos

O ritual de se sentar, abrir o computador e ficar na expectativa de alguma novidade, alguma mensagem que não viria, que nunca viria, o satisfazia por uns instantes.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Da Série Contos Mínimos

Abriu a porta e enquanto observava o passado deslembrou de um tempo triste e viveu feliz para sempre.

Uma grande capacidade de se reinventar

Bem, começar a escrever, pra mim, pelo menos, não é fácil, mesmo quando a escrita é para este blog. O "mesmo" significa que a escrita para o blog sempre é a partir do prazer e nunca da obrigação. Não que eu escreva para algum lugar a partir de alguma obrigação (sempre escrevo sobre o que eu gosto), mas é que a atenção, o rigor, quando o texto é acadêmico, tem que ser outro.
Tenho lido e ouvido, aqui em Portugal, muitos comentários sobre o futebol ser o que identifica o povo brasileiro e acho isso uma bobagem sem tamanho. Tenho ouvido esses comentários tb de outros lugares, não apenas de Portugal, mas a partir daqui.
Não estou dizendo que este esporte não contribua tb para nos identificar como um povo. Contribui sim. O brasileiro, de uma forma geral, gosta de futebol. Claro que estou me referindo ao imaginário construído sobre nós. De qualquer forma, este esporte está muito presente no nosso dia a dia: basta entender a mobilização que acontece quando dos campeonatos estaduais, nacional e quando das copas internacionais.
Mas dizer que vamos sofrer ainda por muito tempo porque a seleção brasileira perdeu por 7 x 1 para a Alemanha e que a "alegria" do brasileiro tem relação íntima com os jogos, é um pouco demais para os meus ouvidos.
O brasileiro tem uma vida além do futebol: tem no seu dia a dia preocupações que vão além de um estádio lotado. O brasileiro trabalha, tem família, se não tem inventa,  estuda, enfrenta transportes e rodovias sem quaisquer condições de uso, tem outros focos além do carnaval e do futebol. Só diz que o carnaval é a alma do povo brasileiro quem não conhece algumas cidades do sul do Brasil.
Ninguém vai sofrer mais do que devia por conta de um 7 x 1 para a Alemanha. Quando a copa acabar tem eleições, tem a vida que continua igualzinha, isto mesmo, igualzinha como era antes da Copa.
Bem, a copa foi um sucesso, apesar da mídia, dos políticos, de uma gente que apostou num colapso. O brasileiro recebeu/recebe bem quem vem de fora: essa recepção tem ritmo, tem alegria, tem riso, tem paquera, tem sol, apesar do inverno, tem praias lindas, tem paisagens absurdamente grandiosas, lugares de tirar o fôlego de qualquer um que goste de natureza. O Brasil não é a Suíça. O brasileiro não é o francês. Somos o que somos. 
Nos divertimos com os jogos. Eu continuo me divertindo aqui e continuarei até a final, domingo, dia 13. Ele dá alegria sim, mas para os alemães, para os italianos, para os espanhóis, para os argentinos, para muitas nações e povos além de nós brasileiros.
O futebol faz parte sim, mas somos muito mais do que isso. E temos uma grande capacidade de nos reinventar. Bem, era isso que eu queria dizer.

domingo, 6 de julho de 2014

O Homem duplicado

Eu já disse aqui mais de uma vez que nao iria mais fazer nenhum comentário sobre filmes, porque isso e aquilo, e mais uma vez não cumpro com a minha palavra.
O motivo é apenas um: tem blogs especializados nisso, além de pessoas com muito mais competência que eu para fazer crítica.
Bem, agora que iniciei, vamos adiante. hoje assisti ao Homem Duplicado e fiquei com uma vontade de entender o filme quando ele acabou. Me pareceu, ainda que eu tenha gostado da adaptação, que na telona alguma coisa deixou a desejar. O filme não conseguiu atingir o realismo mágico do livro de Saramago. E por isso, ficou faltando um pedaço que desse liga à trama.
No entanto, gostei demais da interpretação do ator Jake Gyllenhaal. Vale ver o filme.


Quem escuta o meu Sim?


















quinta-feira, 3 de julho de 2014

A sensação de felicidade

Hoje, concluí mais um artigo do estágio de pós-doutorado: escrevi sobre o Brasil e o brasileiro a partir do que é recorrente nos jornais portugueses, de 2011, quando se fala da nossa economia: de um país emergente, da sensação de felicidade que a economia produz na população como se isso fosse uma equação linguística: economia emergente = população feliz.
É muito interessante perceber os efeitos de sentidos produzidos quando se naturaliza a relação entre a felicidade, o consumo e o poder aquisitivo da população. 
Não há espaço para que se efetive nada de negativo quando se pensa num país emergente, nesses jornais: nada é falado, por exemplo, sobre uma má distribuição de renda, sobre um número crescente de miseráveis, sobre os que estão do outro lado do balcão enquanto o consumo acontece, dos que nao têm moradia, dos que não tem alimentação ou educação, dos que não têm segurança, nada se fala das margens. Não há um outro lado, nesses jornais quando se pensa nas economias emergentes, sobretudo quando se fala nos países membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). 
É claro que não se pode esquecer do lugar de Portugal, das condições de produção desses textos jornalísticos, quando o assunto é economia: a crise da zona do euro, sobretudo a que atinge os países periféricos da Europa: Portugal, Grécia, Itália, Espanha e Irlanda, principalmente, no ano de 2011. A crise maior acontece no ano seguinte, mas o susto, o que paralisa, se dá em 2011.
Fala-se apenas de se consumir tudo e da sensação (imaginária) de felicidade que o consumo produz. A falta, constitutiva do sujeito sendo "preenchida" pelo consumo.
Tudo é consumível: desde o novo aparelho mais sofisticado de telefone celular, da televisão em 3D, até de um novo relacionamento, como se tudo isso pudesse preencher um vazio que nos subjetiva. Tudo é coisificado quando se pensa dessa formação discursiva do consumo como um caminho para ser feliz.
É tão natural a relação que se faz entre o otimismo dos indianos, dos brasileiros e dos chineses e a economia emergente que os sentidos parecem colados nas palavras.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Da Série Contos Mínimos

É claro que ele sabia que ao escolher aquele livro deixaria todos os outros, ainda que por um tempo, de lado.

Da Série Contos Mínimos

Quis a todo custo desler aquele livro e desviver aquela vida.

Da Série Contos Mínimos

Pegou um livro qualquer na estante, abriu aleatoriamente numa página e se descobriu em um parágrafo: "Olhou-se no espelho e achou que era cedo demais para ganhar os traços de sua mãe."

A culpa que pesa o corpo e o faz afundar

Soube através de um amigo que mora em Cascavel do suicídio de duas adolescentes na Ponte da Amizade, pra quem não se localiza bem, é a ponte que liga o Paraguai ao Brasil. Contou-me que elas se jogaram abraçadas dessa ponte em direção ao Rio Paraná. Coutou-me tb que imediatamente após serem avisados, o corpo de bombeiros de ambos países saíram em buscas das meninas, mas que não encontraram nada. É um rio perigoso, com correntezas violentas, um rio profundo.
Além disso, que já me deixou bastante chocado, me contou também que estão dizendo por lá e pelas redes sociais que as meninas se jogaram no rio porque tinham uma relação afetiva, eram namoradas, e que suas famílias não aceitavam a relação. Aí de chocado fiquei arrasado porque fico sempre pensando, diante dessas situações, como é que ainda hoje tantas famílias não aceitam o amor de seus filhos porque julgam que amar alguém do mesmos sexo seja pecado, erro, anormalidade, doença, crime. E como é que essa pressão ainda impõe em muitas pessoas um peso tão grande de culpa a ponto de fazê-las não vislumbrar outra solução que não seja a de por fim a própria vida.
Fiquei pensando, mesmo sem saber nada sobre as meninas, sem sequer poder compartilhar com elas a dor que sentiram, o medo que sentiram, a solidão em que se encontravam, se não haveria outra forma de enfrentar essa dor sem por fim a própria vida.
Alguém vale a dor que a gente sente? O que dizem a nosso respeito deve ser levado tão a sério a ponto de fazer com a gente se anule para dar satisfação? Esse ato modifica alguma coisa?
E aí fiquei me imaginando, me colocando no lugar dessas meninas, adolescentes, provavelmente sozinhas, rodeadas dessa enorme moral religiosa fundamentalista que produz ódio no lugar do amor, que separa quando devia juntar, que denigre quando devia compreender.
Não deve ser fácil mesmo enfrentar um bando de santos espalhados em quase todas as religiões. Os Santos que falam em nome de Jesus, em nome Deus, em nome de uma Família sagrada e que sabem/podem julgar como se ocupassem um outro lugar e mais, como se julgar, não fosse passível de julgamento, porque santificados que são, podem tudo, inclusive, produzir essa culpa que as meninas carregaram a ponto de se matarem. A culpa que ajudou a pesar para afundar o corpo das adolescentes.
É, talvez a atitude delas modifique sim alguma coisa: talvez a família possa, mesmo que tardiamente, é verdade, repensar a sua posição em relação ao amor que elas sentiam. Talvez possam em algum momento compreender o que é o amor. Talvez possam, a partir disso, repensar as suas maneiras de encarar a vida dos outros.
Ou, cheios até a alma de suas religiões-de-ódio julgar ainda o suicídio, como se ele independente dessa moral-religiosa-fundamentalista tivesse uma vida própria.
Tenho certeza de que vamos nos envergonhar muito ainda dessas posições cristalizadas sobre a homossexualidade, assim como nos envergonhamos hoje de antigos preconceitos. Tenho certeza de que precisaremos nos explicar um dia, como já foi feito tantas vezes, diante de tanto sofrimento por alguma coisa que diz respeito, sobretudo, ao privado. Como é que podemos julgar as formas do amor? Como é que podemos pensar que há uma única maneira dele se manifestar: a que julgo certa?
Não sei se as meninas puseram fim as suas vidas por conta disso, mas de qualquer forma, se não fizeram por isso, outros o fazem todos os dias.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pra rua me levar

Já sei olhar o rio por onde a vida passa

sem me precipitar, e nem perder a hora

Escuto no silêncio que há em mim e basta

Outro tempo começou pra mim agora

(Ana Carolina)



Não sei quantas vezes aqui eu falei sobre a música na minha vida. Acho que tantas pela importância que ela tem no meu dia a dia, sobre o meu humor. Um mundo sem música teria uma falta enorme. Vivo dela, mesmo. Vivo para prestar atenção nas músicas que ouço o dia inteiro por todos os lugares. Estou sempre atento aos sons ao meu redor.
Se estou assistindo a um filme, a trilha sonora me chama muito atenção. Se estou em silêncio, tem uma música tocando na minha cabeça. Anúncios. Cantoras. Letras. Sons em geral. Meus momentos mais intensos tem uma música qualquer que o representa. Sou um homem musical.
A música sempre esteve presente na minha vida. Sempre. Minha mãe escutava muita música em casa. Ouvíamos o tempo todo alguma música. Meus tios, homens, eram/são músicos: faziam parte de uma banda, na década de 60 (Os forasteiros). Ensaiavam em casa, e eu, é claro, não ficava fora disso. Era o mascote da banda: com direito a roupa igual a deles (hoje pode parecer meio cafona, e é mesmo bastante cafona, mas à época eu, criança, pouco me importava com cafonices. Pra ser sincero, cafonice é ser mal caráter, aproveitador, sanguessuga, sonso, interesseiro...). Bem, deixemos isso de lado, porque o que vale a pena é quem somos de verdade, quem acreditamos ser.
Em casa, não tinha essa de não ouvir isso porque era assim ou assado. Nunca. Eu tinha a liberdade de ouvir o que eu quisesse, acho que por isso sou tão eclético em termos musicais: ouço tudo e gosto de quase tudo um pouco. Em geral, o que não gosto é mesmo por falta de conhecimento ou qualquer implicância babaca. 
A música me alegra. E mesmo se estou triste a música não me coloca pra baixo. Ao contrário, ela me tira desse lugar. Lembro-me de uma vez em que duas amigas estiveram em minha casa, no Rio, e eu estava ouvindo Maria Bethania. Uma delas me disse: "tá na fossa!" E eu, verdadeiramente, não estava, ouvia Bethania porque aquilo me fazia bem.
Dia desses, à noite com alguns amigos, estávamos num bar de um brasileiro aqui em Lisboa e ele colocou Ana Carolina: "Pra rua me levar" e eu fechei os olhos para cantar o refrão. Meus amigos, na hora, me disseram que eu estava triste. E eu não estava, mesmo. Essa música me coloca em um lugar tão especial: me coloca de volta próximo de amigos, de momentos especiais que vivi. A música me salva. Não consigo me lembrar de nenhuma situação em que ela tenha me colocado em algum lugar incômodo: ao contrário, ela me conforta.

domingo, 22 de junho de 2014

Morri - Martha Medeiros

É uma das gírias do momento: Morri (mas dizem que já começa a cair em desuso, fenecendo ela própria).
“Morremos” quando ficamos impactados por algo, quando um acontecimento nos tira o ar, quando não acreditamos no que estamos vendo, ou seja, quando parece que fomos para o céu. Sem fatalismo, é apenas uma gracinha.
Tenho simpatia pelo uso corriqueiro e desestressado de tudo que invoque a palavra morte. Na mesma proporção, sinto um certo desprezo pela reverência aterrorizante que prestam a ela. Qual o problema, morrer?
Não tenho medo da morte porque já morri muito.
Não apenas em momentos quando cabia o uso da gíria (durante minha música preferida num show, quando me deparei com uma praia paradisíaca, quando ouvi algo que eu esperava escutar havia tempo), mas, muitas vezes, no sentido fúnebre mesmo: morri todas as vezes em que me frustrei, morri quando deixei a infância, morri quando deixei a puberdade, morri quando passei por finais de amor, morri quando passei adiante apartamentos em que vivi, morri por todas as minhas desistências, morri diante de cada tarefa terminada, morri quando machuquei algumas pessoas sem querer, morri nas inúmeras vezes em que fui machucada, morri tanto por ferimentos leves quanto por balaços à queima-roupa.
E morri em solidariedade à morte dos outros, morri diante de tragédias que não foram comigo que aconteceram, morri pelas estatísticas, morri de vergonha alheia, morri pelo que passou raspando. Tudo o que acontece de triste a qualquer outro ser humano, passa rente a nós.
Morri por excesso de sensibilidade e às vezes por um rigor desmedido, mesmo que, em termos genéricos, procure ver alguma graça em tudo.
Agorinha mesmo, 10 minutos atrás, morri um pouquinho. Coisa de nada. Já voltei.
Sem morte, não há vida. Quem não morre, não renasce, não volta mais atento, não volta mais amoroso, não volta mais experiente, não volta. Vira cadáver já na primeira morte, que pode ter acontecido aos cinco anos, aos 12, aos 16: quando você morreu pela primeira vez?
Minha relação amistosa com a morte vem justamente do exagero de amor que tenho pela vida, pela profunda capacidade de regeneração que me trouxe até aqui, habilitada para extrair alegria das mínimas coisas e êxtase das maiores. É por já ter morrido muito que vibro quando o telefone toca, quando o dia amanhece com sol, quando vejo os amigos, quando pratico exercícios, quando aprendo uma atividade nova, quando acerto, quando sorrio, quando comemoro.
Não é só a iminência de uma morte definitiva que nos faz valorizar cada dia respirado, mas também as sucessivas mortes pontuais, aquelas que nos dão o passe para finalizar a próxima jogada com mais êxito.
Morreu? Nasce um novo começo.

Contagem regressiva

Contar os dias para volta ao Brasil não quer dizer, definitivamente, que eu não tenha gostado muito de estar por aqui. Não apenas gostei de morar (estar morando) em Lisboa como me sinto privilegiado por isso. Acho mesmo que foi uma grande oportunidade que ganhei ao conseguir uma bolsa de estudos da CAPES para realizar o meu pós-doutorado. Além de geograficamente poder conhecer lugares que me pareciam muito distantes do Brasil. Bem, além disso tudo, estar longe e praticamente sozinho, me fez tb me conhecer um pouquinho mais. Descobri coisas sobre mim que não imaginava poder (e não poder) fazer.
Eu sabia, por exemplo, que não gostava de invernos, que não suporto dias chuvosos, sobretudo quando eles se transformam em semanas e mesmo em meses de céu cinza, vento, frio etc etc etc. Não sabia, por outro lado, que ficar tanto tempo longe do Brasil não era uma boa opção de vida. Não ficaria mesmo mais tanto tempo assim longe da minha casa: sinto falta de tudo. Da minha cama até dos meus amigos, do dia a dia em Cascavel. Dos alunos, das aulas na universidade, do contato diário com algumas pessoas.
Mas, tudo somado, acho que ganhei muito mais do que perdi: acabei conhecendo pessoas tão importantes por aqui. Pessoas com as quais mantive/mantenho uma relação muito boa, posso dizer, apesar do pouco tempo, de amizade
Nesses últimos dias, fiquei mais solto, acabei aceitando todos os convites para sair e isso me fez muito bem. Acabei conhecendo tb outras pessoas: brasileiros, colombianos, portugueses, pessoas alegres, parceiras etc.
É claro que esse post não é uma avaliação desse último ano, ainda falta um pequeno tempo de estadia por aqui (volto em agosto) e muita coisa ainda vai rolar (espero!). 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Da Série Contos Mínimos

Eles sabiam que os grandes problemas não eram nem as alegrias e muito menos as tristezas, mas lidar com o dia a dia.

Dois amigos e uma vida inteira de histórias

O Dia dos Amigos é aquele lembrete meio piegas, meio necessário, de que ninguém caminha sozinho – e, se caminha, provavelmente está perdido...