terça-feira, 21 de janeiro de 2025

16 anos: Um lugar para ser e dizer



Há 16 anos, o Blog Do Avesso nasceu despretensiosamente, como um espaço para compartilhar as impressões de uma viagem inesquecível a Buenos Aires. O que começou como um relato de momentos vividos, compartilhamento de fotos na capital portenha se transformou em um refúgio de palavras, um espaço onde cada texto reflete o meu olhar sobre o mundo, sobre mim e sobre os entrelaces da vida. Aqui, entre linhas e entrelinhas, deixo transbordar o que gosto e o que não gosto, o que me inquieta e o que me conforta.

Ao longo desses anos, o blog não seguiu um padrão nem se prendeu a rótulos. Não é científico, jornalístico ou informativo. É pessoal, íntimo, pulsante. É minha voz escrita, ecoando pensamentos, sentimentos e vivências. Tem momentos de maior intensidade, em que escrevo mais, como se o teclado pudesse dar conta de tudo o que transborda de mim. Em outros períodos, as palavras chegam mais devagar, como quem espera o momento certo para se manifestar.

Neste último ano, as postagens têm sido mais frequentes, refletindo sobre a minha vida, minhas experiências e os encontros – e desencontros – que me moldam. Escrever aqui tem sido um diálogo constante comigo mesmo, um espelho de emoções e inquietações. O Blog Do Avesso não é apenas um lugar para escrever; é um lugar para ser, para me reconhecer e, às vezes, até para me perder entre as tantas possibilidades de dizer.

Celebrar os 16 anos deste espaço é, acima de tudo, celebrar a liberdade de escrever sem amarras, de falar do que importa para mim e de encontrar, na escrita, uma forma de existir. Que venham mais anos, mais textos e mais momentos de entrega, porque, no fundo, este blog não é apenas meu – ele é também um convite para que cada leitor encontre, aqui, um pouco de si.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Soixante

Hoje, completo sessenta anos de existência. Uma trajetória que se desenrolou em meio às mudanças do tempo, aos aprendizados constantes e às marcas que a vida me permitiu deixar e receber. Cada ano vivido é uma peça única no conjunto que forma quem sou, com suas luzes e sombras, encontros e despedidas, conquistas e recomeços. É impossível olhar para trás sem reconhecer a importância de cada instante, até mesmo daqueles que, no momento, pareciam apenas desafiadores.

Seis décadas significam mais do que tempo. Representam histórias partilhadas, momentos de superação e o simples fato de estar aqui. É uma alegria imensa saber que, apesar das adversidades, a vida continua a me abraçar, oferecendo a chance de renovar sentidos e de caminhar com a alma aberta ao que está por vir. Celebrar não é sobre grandes alardes, mas sobre reconhecer, em silêncio, a profundidade e o privilégio de estar vivo.

Hoje, escolho celebrar a vida com gratidão, por tudo o que me trouxe até aqui. Pelos afetos, pelas trocas e pela possibilidade de continuar aprendendo e me transformando. Este dia é um marco, mas também é um convite para seguir adiante com a coragem de quem sabe que viver é, acima de tudo, um ato de esperança.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

BBB: A tv (Globo, mas não apenas ela) aberta força uma relevância e molda as conversas públicas



A imposição do Big Brother Brasil (BBB) na programação da TV aberta, especialmente na Rede Globo (mas não apenas, porque outras emissoras tb se alimentam desse programa), levanta questões sobre a falta de alternativas para quem não tem acesso à TV por assinatura ou plataformas de streaming. Com uma antena interna, a Globo muitas vezes é a única opção de entretenimento para milhões de brasileiros, consolidando o BBB como o centro das discussões televisivas e sociais durante sua exibição. Isso cria um cenário em que aqueles que não apreciam o programa se veem sem alternativas atraentes, tornando-se reféns de uma grade de programação limitada e massificada.

Essa hegemonia do BBB não se limita à exibição do programa em si, mas se estende ao jornalismo e às outras atrações da emissora, que frequentemente incorporam pautas e debates relacionados ao reality show. Sem falar (e já falando) das inserções durante a programação. A narrativa dominante transforma o programa em um fenômeno inevitável, forçando sua relevância e moldando as conversas públicas. Para quem não se interessa pelo formato ou pelo conteúdo apresentado, essa insistência pode ser percebida como um excesso, uma vez que se restringe o acesso a outras formas de entretenimento ou informação na televisão aberta.

A questão central, portanto, é como equilibrar o poder de atração de um programa de sucesso com a responsabilidade de oferecer uma programação mais diversa e inclusiva para os telespectadores. Enquanto o BBB conquista grande audiência e engajamento, a ausência de opções alternativas reforça a sensação de que o espectador sem acesso a outros meios está preso a um modelo de consumo único e monopolizador. Esse cenário reflete não apenas uma limitação na pluralidade da oferta televisiva, mas também um desafio maior para a democratização da mídia e do entretenimento no Brasil.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Últimos dias de férias



As férias sempre trazem aquela sensação de liberdade, de respirar fundo e sair da rotina, mas também carregam a sombra do retorno. Com o dia 18 de janeiro se aproximando, sinto que não estou pronto para voltar para Cascavel, Paraná. Não que tudo seja perfeito onde estou, mas em Cascavel sei exatamente o que não vou encontrar. A ideia de retornar à rotina, enfrentar o trabalho acumulado e revisitar as demandas diárias é um peso que diminui o brilho desses últimos dias de descanso.

Aqui, no Rio, a relação é de carinho e afeto. É o lugar onde construí memórias importantes e onde meus amigos estão, oferecendo uma rede de apoio que faz a vida parecer mais leve. Mais do que isso, é a distância das obrigações que torna esses momentos ainda mais preciosos. A tranquilidade de não estar enrolado com trabalho, de não ter prazos pressionando ou decisões para tomar, cria um estado que desejo prolongar. O Rio, com toda a sua imperfeição, representa esse intervalo, essa pausa tão necessária.

Se pudesse, prolongaria essas férias por mais alguns dias, apenas para saborear um pouco mais essa liberdade. É o desejo de adiar o inevitável, de me permitir viver sem o peso das responsabilidades, nem que seja por um curto tempo. Mas sei que o retorno se aproxima e, com ele, a oportunidade de encarar a rotina com um olhar renovado, mesmo que ainda não me sinta totalmente preparado para isso. Afinal, talvez parte de estar de férias seja também aprender a valorizar o descanso enquanto ele acontece e carregá-lo como um alívio na bagagem ao voltar para a realidade.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Precisa mesmo fazer parte do nosso dia a dia?



O Big Brother, além de ser um programa de entretenimento raso que promove conflitos, conversas superficiais e uma competição artificial, se tornou também uma imposição cultural por parte da Rede Globo. A emissora, com sua abrangência nacional, praticamente obriga o público a estar ciente do que acontece no programa, mesmo aqueles que não têm interesse. Durante os intervalos de novelas, programas jornalísticos e outros conteúdos, a Globo insere chamadas constantes sobre o reality, colocando-o no centro de sua programação e dificultando que os espectadores escapem dessa narrativa.

Esse excesso de exposição do Big Brother reforça a sensação de que ele é onipresente na vida cotidiana, direcionando o foco para um conteúdo que pouco contribui para a formação crítica ou cultural do público. A estratégia da emissora, voltada para maximizar audiência e engajamento nas redes sociais, cria um ciclo no qual o reality show domina as conversas e os espaços midiáticos, sufocando outros conteúdos que poderiam ser mais relevantes ou enriquecedores. Para aqueles que buscam informação ou entretenimento de qualidade, a constante presença do programa nos intervalos e até nos noticiários é um incômodo que desvaloriza o restante da programação.

Essa insistência em promover o Big Brother reflete um desrespeito ao público que não deseja consumir esse tipo de conteúdo. A Globo, ao integrar o reality em diversos horários e formatos, contribui para a superficialização do debate cultural e limita as opções de quem busca diversidade na TV aberta. Em vez de estimular reflexões ou oferecer alternativas que promovam o pensamento crítico, a emissora se prende a um formato que prioriza brigas, fofocas e superficialidades, reforçando um padrão que, na prática, pouco acrescenta ao desenvolvimento cultural ou intelectual da sociedade.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

O que você está enfrentando de Sigrid Nunez



O que você está enfrentando, da autora Sigrid Nunez, é um romance que explora as complexidades da condição humana por meio de uma narrativa introspectiva e sensível. A história é conduzida por uma narradora que, ao acompanhar uma amiga com câncer terminal, se vê imersa em reflexões profundas sobre a vida, a morte e as relações interpessoais. Através de encontros com diversas pessoas, ela coleta relatos de experiências dolorosas, como a perda progressiva da sanidade de uma mãe idosa e as angústias do envelhecimento, tecendo uma tapeçaria de vivências que revelam a universalidade dos desafios humanos.

Nunez utiliza uma prosa elegante e poética para abordar temas muitas vezes espinhosos, sem recorrer a clichês ou sentimentalismos excessivos. A relação entre a narradora e sua amiga doente é retratada com uma cumplicidade rara, onde o processo de morrer é enfrentado de maneira racional e, por vezes, cômica. Essa abordagem permite uma reflexão sincera sobre a mortalidade e a forma como as pessoas lidam com o fim da vida, oferecendo ao leitor uma perspectiva que é ao mesmo tempo íntima e universal.

Ao proporcionar a experiência de se colocar no lugar do outro, O que você está enfrentando convida o leitor a uma empatia profunda, revelando sentimentos comuns a todos e oferecendo um conforto duradouro para os desafios que a vida apresenta. A obra destaca a importância da escuta e do acolhimento, mostrando que, ao compartilhar nossas histórias e ouvir as dos outros, encontramos um sentido de conexão e compreensão que nos ajuda a enfrentar as adversidades com mais serenidade e coragem.

O desafio está em nos permitirmos acreditar no afeto



Muitas vezes, nossa mente se torna um palco para histórias que criamos (porque ouvimos e entendemos de um lugar específico), histórias que geralmente nos afetam profundamente. É claro que nem sempre nos damos conta disso. É comum imaginarmos coisas sobre o que os outros pensam de nós, muitas vezes de forma negativa. Essas narrativas podem surgir da nossa insegurança, do medo de rejeição ou mesmo de experiências passadas que marcaram nossas percepções. No entanto, é importante lembrar que o que criamos em nossa cabeça raramente corresponde ao que as pessoas sentem ou pensam (não acessamos a cabeça do outro).

Um exemplo disso é a sensação de “estar sobrando”, como se nossa presença fosse apenas tolerada por educação, e não verdadeiramente desejada. Esse tipo de pensamento pode ser uma manifestação de algum abandono que vivenciamos (real ou imaginariamente) e está lá no inconsciente produzindo alguma baixa autoestima ou autocrítica excessiva, que nos faz duvidar do nosso valor nas relações. A verdade é que as pessoas, em sua maioria, não investem tempo ou energia em alguém por pura obrigação. Há afeto, consideração e, muitas vezes, admiração que não enxergamos porque estamos ocupados demais acreditando no contrário.

Essas histórias que criamos em nossa mente podem se tornar armadilhas emocionais, nos isolando e nos impedindo de viver plenamente as experiências e os vínculos que poderiam ser enriquecedores. É como se estivéssemos sempre olhando para o reflexo de nossos próprios medos, em vez de encarar o mundo com curiosidade e abertura. Questionar esses pensamentos é essencial: por que eu assumo que não sou desejado? Que sinais concretos tenho disso? Muitas vezes, ao investigar essas perguntas, percebemos que não há fundamento para essas crenças.

O desafio está em nos permitirmos acreditar no afeto e na aceitação dos outros, sem projetar neles nossas inseguranças. As pessoas convidam porque querem compartilhar momentos, porque reconhecem algo de especial em nossa presença, mesmo que não expressem isso o tempo todo. Ao nos libertarmos dessas construções mentais negativas, abrimos espaço para nos relacionarmos de maneira mais leve, confiando que, sim, pertencemos aos lugares onde estamos e que somos mais importantes para os outros do que nossa mente, às vezes, nos faz acreditar.

Pensamento acordado dentro de nós

Há dias em que a cabeça não silencia. O corpo pede sono, mas a mente insiste em continuar — ideias, projetos, pensamentos atravessam a noite...