Às vezes a gente se pergunta, com certa angústia: o que fazer para sair de um relacionamento que já acabou? Mas talvez o verbo mais honesto aqui não seja “fazer”, e sim escutar. Escutar o que ainda nos prende, o que insiste em doer, o que ainda nos liga a esse outro que já não está — mas cuja ausência ainda ocupa espaço demais. Escutar com cuidado, com delicadeza, sem se cobrar pressa, mas também sem se deixar paralisar.
Nem tudo termina quando acaba. Há afetos que continuam circulando, silêncios que seguem dizendo, restos que resistem ao apagamento. Um amor não se desfaz com um adeus: ele se transforma devagar, escorrendo pelas frestas da memória, atravessando sonhos, frases soltas, músicas ... O fim de uma relação não é só um ato: é um processo. E, como todo processo, exige tempo, exige linguagem, exige elaboração.
Deslocar o amor de lugar: talvez seja essa a travessia possível. Não para esquecê-lo ou apagá-lo, mas para que ele não pese mais como um obstáculo, e sim componha — ainda que com dor — aquilo que nos constitui. Amar, mesmo quando já não se está mais com o outro, ainda diz muito de quem somos. E escutar isso, mesmo em silêncio, pode ser o começo de um novo modo de seguir.