Reconheço, no entanto, que esse sentimento de desencontro não é passivo. Eu também tenho me colocado nesse lugar — talvez por defesa, talvez por uma tentativa de reorganizar sentidos internos que ainda não nomeei. Não é desprezo pelas pessoas, tampouco uma arrogância emocional. É mais uma exaustão delicada, uma espécie de saturação da socialidade cotidiana. As conversas repetem gestos, giram em torno de temas que não me atravessam mais da mesma forma. E eu, nessa escuta que se ausenta, me percebo cada vez mais no intervalo entre estar e querer estar.
Não tenho negado esse estado. Pelo contrário: tenho tentado habitá-lo com a dignidade possível, reconhecendo que o humor também tem pausas, e que o desejo de conexão não é uma constância sem falhas. Talvez esse silêncio em mim esteja dizendo algo que ainda não entendo completamente — e tudo bem. Nem todo sentimento precisa ser imediatamente decifrado. Às vezes, ser um peixe fora d’água é também um modo de respirar diferente, de procurar outro fôlego, ainda que ele venha com a estranheza do que não se controla.
Muito bem. Tenho me sentido assim também.
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