Tem dias em que a cabeça parece uma reunião de colegiado: todo mundo quer falar ao mesmo tempo e todo mundo tem razão. É nessa hora que eu escrevo. Não para organizar o caos, mas para dar forma a ele. Escrevo porque a cabeça anda cheia, o coração meio atravessado, e tem sentimento fazendo hora extra sem receber adicional noturno. A página em branco me escuta sem interromper, sem opinar, sem querer me dar conselho. E só por isso, já merece um abraço.
E olha que não escrevo para ser lido, às vezes nem eu me entendo depois. Mas escrevo como quem acende uma luz num corredor escuro só para mostrar que está tudo ali: cansaço, ternura, raiva, gratidão, amor e um pouquinho de tédio com os boletos da vida adulta. Escrevo para não acumular ressentimento no fígado, para dar um destino digno às lágrimas não choradas e às frases que engoli no trabalho para manter o emprego.
Se a escrita não resolve todos os meus problemas, pelo menos me deixa em melhores condições de lidar com eles. Depois de escrever, volto ao mundo mais leve, com menos vontade de xingar no trânsito ou de enviar uma mensagem impaciente no whats. Escrever virou meu jeito de conversar comigo mesmo sem ser interrompido por notificações. É terapia barata, com a vantagem de não ter que marcar horário.
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