Tem dor que a gente arquiva, aperta salvar como rascunho e segue o baile. Mas o corpo não esquece, não perdoa, não perde prazos. Fica tudo ali, adiado, em stand-by, esperando uma brecha na agenda, uma folga no cansaço, um silêncio entre as notificações para finalmente desaguar. Às vezes, é no banho. Às vezes, lavando louça. Às vezes, entre um riso e outro, ele escorrega. Disfarçado. Educado. Envergonhado.
Tem choro que precisa ser chorado com hora marcada, como quem faz exame de rotina ou tira uma tarde pra resolver pendências emocionais. Choro velho, de infância, de perda mal curada, de susto disfarçado de coragem. Choro recente, de notícia difícil, de saudade adiada, de injustiça engolida com café preto. E a gente, cheio de compromissos, tenta ser forte, tenta ser adulto, tenta ser produtivo. Mas chega uma hora em que o choro cobra. Com juros, multa e correção emocional.
Prometo pra mim mesmo: um dia desses eu paro. Ligo o modo offline da alma. Deixo as lágrimas fazerem sua rebelião silenciosa, sem plateia, sem cronômetro. Porque tem tristeza que, se não for chorada, começa a se fantasiar de mau humor, de impaciência, de dor nas costas. E aí, meu caro, o problema já não é só o choro: é tudo que ele empurrou pra dentro quando só precisava sair.
Nenhum comentário:
Postar um comentário