segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Últimos dias de férias



As férias sempre trazem aquela sensação de liberdade, de respirar fundo e sair da rotina, mas também carregam a sombra do retorno. Com o dia 18 de janeiro se aproximando, sinto que não estou pronto para voltar para Cascavel, Paraná. Não que tudo seja perfeito onde estou, mas em Cascavel sei exatamente o que não vou encontrar. A ideia de retornar à rotina, enfrentar o trabalho acumulado e revisitar as demandas diárias é um peso que diminui o brilho desses últimos dias de descanso.

Aqui, no Rio, a relação é de carinho e afeto. É o lugar onde construí memórias importantes e onde meus amigos estão, oferecendo uma rede de apoio que faz a vida parecer mais leve. Mais do que isso, é a distância das obrigações que torna esses momentos ainda mais preciosos. A tranquilidade de não estar enrolado com trabalho, de não ter prazos pressionando ou decisões para tomar, cria um estado que desejo prolongar. O Rio, com toda a sua imperfeição, representa esse intervalo, essa pausa tão necessária.

Se pudesse, prolongaria essas férias por mais alguns dias, apenas para saborear um pouco mais essa liberdade. É o desejo de adiar o inevitável, de me permitir viver sem o peso das responsabilidades, nem que seja por um curto tempo. Mas sei que o retorno se aproxima e, com ele, a oportunidade de encarar a rotina com um olhar renovado, mesmo que ainda não me sinta totalmente preparado para isso. Afinal, talvez parte de estar de férias seja também aprender a valorizar o descanso enquanto ele acontece e carregá-lo como um alívio na bagagem ao voltar para a realidade.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Precisa mesmo fazer parte do nosso dia a dia?



O Big Brother, além de ser um programa de entretenimento raso que promove conflitos, conversas superficiais e uma competição artificial, se tornou também uma imposição cultural por parte da Rede Globo. A emissora, com sua abrangência nacional, praticamente obriga o público a estar ciente do que acontece no programa, mesmo aqueles que não têm interesse. Durante os intervalos de novelas, programas jornalísticos e outros conteúdos, a Globo insere chamadas constantes sobre o reality, colocando-o no centro de sua programação e dificultando que os espectadores escapem dessa narrativa.

Esse excesso de exposição do Big Brother reforça a sensação de que ele é onipresente na vida cotidiana, direcionando o foco para um conteúdo que pouco contribui para a formação crítica ou cultural do público. A estratégia da emissora, voltada para maximizar audiência e engajamento nas redes sociais, cria um ciclo no qual o reality show domina as conversas e os espaços midiáticos, sufocando outros conteúdos que poderiam ser mais relevantes ou enriquecedores. Para aqueles que buscam informação ou entretenimento de qualidade, a constante presença do programa nos intervalos e até nos noticiários é um incômodo que desvaloriza o restante da programação.

Essa insistência em promover o Big Brother reflete um desrespeito ao público que não deseja consumir esse tipo de conteúdo. A Globo, ao integrar o reality em diversos horários e formatos, contribui para a superficialização do debate cultural e limita as opções de quem busca diversidade na TV aberta. Em vez de estimular reflexões ou oferecer alternativas que promovam o pensamento crítico, a emissora se prende a um formato que prioriza brigas, fofocas e superficialidades, reforçando um padrão que, na prática, pouco acrescenta ao desenvolvimento cultural ou intelectual da sociedade.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

O que você está enfrentando de Sigrid Nunez



O que você está enfrentando, da autora Sigrid Nunez, é um romance que explora as complexidades da condição humana por meio de uma narrativa introspectiva e sensível. A história é conduzida por uma narradora que, ao acompanhar uma amiga com câncer terminal, se vê imersa em reflexões profundas sobre a vida, a morte e as relações interpessoais. Através de encontros com diversas pessoas, ela coleta relatos de experiências dolorosas, como a perda progressiva da sanidade de uma mãe idosa e as angústias do envelhecimento, tecendo uma tapeçaria de vivências que revelam a universalidade dos desafios humanos.

Nunez utiliza uma prosa elegante e poética para abordar temas muitas vezes espinhosos, sem recorrer a clichês ou sentimentalismos excessivos. A relação entre a narradora e sua amiga doente é retratada com uma cumplicidade rara, onde o processo de morrer é enfrentado de maneira racional e, por vezes, cômica. Essa abordagem permite uma reflexão sincera sobre a mortalidade e a forma como as pessoas lidam com o fim da vida, oferecendo ao leitor uma perspectiva que é ao mesmo tempo íntima e universal.

Ao proporcionar a experiência de se colocar no lugar do outro, O que você está enfrentando convida o leitor a uma empatia profunda, revelando sentimentos comuns a todos e oferecendo um conforto duradouro para os desafios que a vida apresenta. A obra destaca a importância da escuta e do acolhimento, mostrando que, ao compartilhar nossas histórias e ouvir as dos outros, encontramos um sentido de conexão e compreensão que nos ajuda a enfrentar as adversidades com mais serenidade e coragem.

O desafio está em nos permitirmos acreditar no afeto



Muitas vezes, nossa mente se torna um palco para histórias que criamos (porque ouvimos e entendemos de um lugar específico), histórias que geralmente nos afetam profundamente. É claro que nem sempre nos damos conta disso. É comum imaginarmos coisas sobre o que os outros pensam de nós, muitas vezes de forma negativa. Essas narrativas podem surgir da nossa insegurança, do medo de rejeição ou mesmo de experiências passadas que marcaram nossas percepções. No entanto, é importante lembrar que o que criamos em nossa cabeça raramente corresponde ao que as pessoas sentem ou pensam (não acessamos a cabeça do outro).

Um exemplo disso é a sensação de “estar sobrando”, como se nossa presença fosse apenas tolerada por educação, e não verdadeiramente desejada. Esse tipo de pensamento pode ser uma manifestação de algum abandono que vivenciamos (real ou imaginariamente) e está lá no inconsciente produzindo alguma baixa autoestima ou autocrítica excessiva, que nos faz duvidar do nosso valor nas relações. A verdade é que as pessoas, em sua maioria, não investem tempo ou energia em alguém por pura obrigação. Há afeto, consideração e, muitas vezes, admiração que não enxergamos porque estamos ocupados demais acreditando no contrário.

Essas histórias que criamos em nossa mente podem se tornar armadilhas emocionais, nos isolando e nos impedindo de viver plenamente as experiências e os vínculos que poderiam ser enriquecedores. É como se estivéssemos sempre olhando para o reflexo de nossos próprios medos, em vez de encarar o mundo com curiosidade e abertura. Questionar esses pensamentos é essencial: por que eu assumo que não sou desejado? Que sinais concretos tenho disso? Muitas vezes, ao investigar essas perguntas, percebemos que não há fundamento para essas crenças.

O desafio está em nos permitirmos acreditar no afeto e na aceitação dos outros, sem projetar neles nossas inseguranças. As pessoas convidam porque querem compartilhar momentos, porque reconhecem algo de especial em nossa presença, mesmo que não expressem isso o tempo todo. Ao nos libertarmos dessas construções mentais negativas, abrimos espaço para nos relacionarmos de maneira mais leve, confiando que, sim, pertencemos aos lugares onde estamos e que somos mais importantes para os outros do que nossa mente, às vezes, nos faz acreditar.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

8 de janeiro


O dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília, ficará marcado na história do Brasil como um dos momentos mais críticos de nossa jovem democracia. Nesse domingo, milhares de manifestantes bolsonaristas protagonizaram atos violentos ao invadir e depredar as sedes dos Três Poderes — o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional (Câmara e Senado) e o Supremo Tribunal Federal. Movidos por narrativas golpistas e falsas alegações de fraude eleitoral, eles buscaram desestabilizar o sistema democrático, desafiando o Estado de Direito em sua essência. As cenas de destruição chocaram o país e o mundo, evidenciando o perigo das campanhas de desinformação e do radicalismo político.

No decorrer das investigações, 1.682 pessoas foram denunciadas, indicando ampla mobilização de grupos alinhados a ideais autoritários. Desses, quase 900 tiveram denúncias aceitas pela Justiça, com 527 réus condenados até o momento. As penas variaram de medidas mais leves, como restrição de direitos, a condenações severas, com 317 sentenças de prisão que chegam a 17 anos de reclusão. Essas decisões judiciais refletem o esforço do sistema de Justiça brasileiro para punir os envolvidos e reafirmar que atos contrários à democracia terão consequências. No entanto, o processo também expõe os desafios institucionais em lidar com um evento de tamanha gravidade e com implicações tão amplas.

Os atos do 8 de janeiro não foram simples manifestações: representaram uma tentativa explícita de golpe de Estado. Os manifestantes buscavam reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022, que consagraram Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, desafiando a soberania popular expressa nas urnas. Mais do que um ataque físico às instituições, o ocorrido foi um ataque à democracia brasileira. O episódio exige uma reflexão profunda sobre as raízes do extremismo político, o papel das lideranças que incentivaram esses atos e a importância de fortalecer os mecanismos democráticos e educativos para evitar que eventos semelhantes voltem a ocorrer.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Sobre a vitória de Fernanda Torres - melhor atriz de drama - no Globo de Ouro



A conquista do Globo de Ouro pela atriz Fernanda Torres foi um marco não apenas para sua carreira, mas para a representação do talento latino-americano no cenário internacional. Ao se tornar a primeira brasileira e sul-americana a ser indicada e a ganhar o prêmio, Fernanda quebrou barreiras culturais e linguísticas. Sua vitória destaca a relevância da produção cultural fora do eixo anglófono, em um evento tradicionalmente dominado por obras e artistas de língua inglesa. É um reconhecimento histórico que eleva o cinema e o talento brasileiro a um patamar mais visível no panorama global.

Fernanda Torres é uma artista multifacetada, com uma trajetória que transita entre o drama e a comédia, sempre trazendo profundidade e autenticidade aos seus papéis. Sua atuação é marcada por uma inteligência sensível que capta as nuances da condição humana, seja ao interpretar personagens complexos em dramas intensos, seja ao explorar o humor com maestria. Além de sua atuação como atriz, Fernanda é uma escritora talentosa e pensadora que reflete sobre questões da sociedade contemporânea em suas crônicas e ensaios, reafirmando-se como uma intelectual completa. Essa versatilidade é rara e fundamental para a compreensão de seu impacto no cenário cultural.

O fato de Fernanda Torres ter sido uma das poucas atrizes não falantes de inglês a ser indicada ao Globo de Ouro realça a dimensão de sua conquista. Até hoje, apenas uma pequena parcela de artistas de fora do circuito anglófono conseguiu romper essa barreira, demonstrando a dificuldade de reconhecimento internacional para produções e artistas que desafiam o hegemonismo cultural. Sua vitória não apenas celebra sua própria excelência, mas também levanta uma reflexão sobre a importância de diversificar as narrativas reconhecidas e premiadas por instituições culturais globais. É um lembrete de que o talento transcende fronteiras e idiomas.

A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro é mais do que um prêmio individual; é uma conquista coletiva que simboliza a força e a riqueza da cultura brasileira e sul-americana. Sua trajetória inspira novas gerações de artistas a sonharem alto, mesmo em um cenário desafiador e muitas vezes excludente. É também um convite para que o mundo olhe com mais atenção e respeito para a diversidade artística de nossa região, reconhecendo que a universalidade das emoções e narrativas não depende da língua em que são expressas, mas da verdade com que são contadas. Fernanda, com seu talento e dedicação, tornou-se um símbolo desse potencial universal.

domingo, 5 de janeiro de 2025

Da Série: Contos Mínimos


O sofá parecia menor do que o habitual, nossos braços inevitavelmente se tocavam.

Da Série: Contos Mínimos

Me interessei por um cara que ainda nem conheci pessoalmente. Tudo começou ali, nas mensagens trocadas sem pressa, silêncios e perguntas. Nã...