Algumas palavras carregam mais do que parecem. Ditas no tempo errado, diante da pessoa errada, ou sob a desculpa da espontaneidade, deixam rastros. Nem sempre é o que se diz, mas o fato de ter sido dito. Uma notícia compartilhada sem filtro, um comentário lançado no meio de uma conversa, uma frase solta como quem não mede — ou mede demais. Há formas de falar que soam como pequenas provocações, mesmo quando ditas com um sorriso.
Nem todo mundo diz sem intenção. Às vezes, é só descuido mesmo — a falta de perceber que o outro escuta de outro lugar. Mas às vezes não. Às vezes é cálculo: um jeito de marcar presença, de cutucar, de testar os limites do que ainda pode doer. A fala, nesses casos, não é sobre o que se vive agora, mas sobre o efeito que se deseja causar. E quando isso acontece, não há leveza que disfarce: fica a pergunta suspensa no ar — precisava?
Falar, a gente fala o tempo todo. Mas pensar antes, quase nunca. E é aí que mora o problema: na pressa de dizer, a gente esquece que nem tudo precisa virar enunciado. Há coisas que poderiam muito bem ter ficado no pensamento, na confidência de um amigo, na página de um diário. Dizer é escolher. E escolher com cuidado é também reconhecer que o outro escuta com o corpo todo — inclusive com as feridas que ainda não fecharam.