O vídeo é lindo e a filmagem maravilhosa.
ossǝʌɐ op: É UM ESPAÇO PARA EU ESCREVER SOBRE O QUE GOSTO E NÃO-GOSTO: FILMES, DISCOS, LIVROS, FOTOGRAFIAS, TV, OUTROS BLOGUES, PESSOAS, ASSUNTOS VARIADOS. NENHUM COMPROMISSO QUE NÃO SEJA O PRAZER. FIQUEM À VONTADE PARA CONCORDAR OU DISCORDAR (SEMPRE COM RESPEITO E COM ASSINATURA), SUGERIR OU OPINAR. A CASA É MINHA, MAS O ESPAÇO É PARA TODOS.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Queimando ou agredindo moradores de rua (texto)
No último sábado, dia 25, dois moradores de rua foram queimados em Santa Maria, cidade satélite de Brasília. Um deles está internado com 30% do corpo queimado, o outro não resistou à violência e morreu no domingo, dia 26.
Por que isso acontece com certa frequência? Minha hipótese é a certeza da impunidade. Ou será que estou enganado? Veja reportagem abaixo sobre os jovens de classe média que queimaram vivo o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos.
Assassinos do índio Galdino estão em liberdade
Dez anos depois de assassinarem o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, em Brasília (DF), os cinco jovens condenados pelo crime, incluindo um menor de idade na época, estão soltos. Na ocasião, os jovens de classe média colocaram fogo no índio enquanto ele dormia em um ponto de ônibus. Em 2001, foram condenados a 14 anos de prisão, mas desde 2004 estão em liberdade. Eles teriam que cumprir cerca de nove anos de reclusão sob regime fechado, porém, com medidas judiciais, conseguiram ficar em regime semi-aberto ? em que o detento só vai dormir na prisão.
A promotora Maria José Miranda, uma das responsáveis pela denúncia contra os jovens, conta os privilégios que eles tiveram desde o início do processo.
Durante o curso do processo, eles teriam que ficar presos preventivamente. Então para não ficar em cela comum foi desocupada uma biblioteca para eles. Eles tinham a chave, tinha cortinas nas janelas, banho quente, vaso sanitário. Ou seja, tinham tudo o que os outros prisioneiros não tinham?.
Em regime semi-aberto foram flagrados diversas vezes em festas e bares da cidade. Para a promotora, esta impunidade pode aumentar a criminalidade no país.
Eu sei que outras pessoas comuns não conseguem estes benefícios. É a mesma justiça interpretando diferentemente a mesma lei. Entre todos os fatores de criminalidade, não resta dúvida que a impunidade é o maior incentivo, maior estímulo ao crime. Muito mais grave é que no caso de pessoas abastadas ou pessoas importantes ela é 100% garantida?.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia que desde a morte de Galdino em 1997 mais de 250 indígenas foram assassinados em todo o país.
De Brasília, da Radioagência NP, Gisele Barbieri
Dez anos depois de assassinarem o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, em Brasília (DF), os cinco jovens condenados pelo crime, incluindo um menor de idade na época, estão soltos. Na ocasião, os jovens de classe média colocaram fogo no índio enquanto ele dormia em um ponto de ônibus. Em 2001, foram condenados a 14 anos de prisão, mas desde 2004 estão em liberdade. Eles teriam que cumprir cerca de nove anos de reclusão sob regime fechado, porém, com medidas judiciais, conseguiram ficar em regime semi-aberto ? em que o detento só vai dormir na prisão.
A promotora Maria José Miranda, uma das responsáveis pela denúncia contra os jovens, conta os privilégios que eles tiveram desde o início do processo.
Durante o curso do processo, eles teriam que ficar presos preventivamente. Então para não ficar em cela comum foi desocupada uma biblioteca para eles. Eles tinham a chave, tinha cortinas nas janelas, banho quente, vaso sanitário. Ou seja, tinham tudo o que os outros prisioneiros não tinham?.
Em regime semi-aberto foram flagrados diversas vezes em festas e bares da cidade. Para a promotora, esta impunidade pode aumentar a criminalidade no país.
Eu sei que outras pessoas comuns não conseguem estes benefícios. É a mesma justiça interpretando diferentemente a mesma lei. Entre todos os fatores de criminalidade, não resta dúvida que a impunidade é o maior incentivo, maior estímulo ao crime. Muito mais grave é que no caso de pessoas abastadas ou pessoas importantes ela é 100% garantida?.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia que desde a morte de Galdino em 1997 mais de 250 indígenas foram assassinados em todo o país.
De Brasília, da Radioagência NP, Gisele Barbieri
domingo, 26 de fevereiro de 2012
O espírito da folia carioca (Ruth de Aquino)
O espírito da folia carioca
Não havia nem uma moeda na bolsinha de crochê com chave, celular e
filtro solar. “Moço, estou com um problema”, eu disse, constrangida, ao
senhor que trabalha no quiosque da Praia do Arpoador, depois de beber
com um amigo a água doce e fresca de dois cocos verdes. “Estou sem
dinheiro nenhum, esqueci em casa.” “Mas que problema”, perguntou Jósa,
sorrindo, gentil, com o facão na mão, “os cocos não estavam bons?”
“Ótimos”, respondi. “Então não tem nenhum problema”, ele disse, “uma boa
praia para vocês.”
Eu fiquei de pagar depois. Não nos conhecíamos. Eu me divertia, ele
trabalhava, num canto da orla carioca de onde avistamos o Morro Dois
Irmãos e a Pedra da Gávea ao fim da curva de mar, areia e barracas
coloridas.
Pensei. Em Paris, Londres ou Nova York, essa cena de cordialidade não
existiria. Os vendedores de lá cobram com rigor cada “centime”, cada
“penny”, cada “cent”, jamais arredondam um preço para baixo – e não há a
menor chance de que eles retribuam com um sorriso generoso uma falta de
dinheiro imprevista.
“Princesa, que horas são?”, pergunta o banhista de sunga. Não tem
“bonjour” nem “merci”, não tem “hi” e “thanks”, é uma consulta direta,
sem um pingo de cortesia formal, mas sedutora na medida da carioquice.
Pode ser o sol, os blocos de rua, a determinação de ser feliz em
fevereiro. O carioca anda mais extrovertido e simpático do que já é.
Não importa o resto. Ele parou de acompanhar o julgamento do
Lindemberg, a ficha suja dos políticos, o careca do mensalão, a greve
que se desmilinguiu em confete, os bueiros explosivos, a gasolina mais
cara, os fantasmas do Senado e os taxistas falsos que desonram a
fantasia de pirata nos aeroportos. Por um tempo, só importa se vai dar
praia, se o banho de mar está liberado, se a cerveja está gelada e se
cabem mais seis no boteco lotado, mesmo em pé do lado de fora.
Esse Rio pré-carnavalesco atrai, hoje, 800 mil turistas. Deles, 250 mil
são estrangeiros, os mais apaixonados pela beleza da cidade. Não há
como andar sem ouvir francês, inglês, italiano, espanhol e outros
idiomas egressos da neve. Dos turistas de outros Estados, paulistas e
mineiros são os campeões. O mais curioso é que passou a ter muito
carioca no Carnaval do Rio. Porque os blocos de rua foram ressuscitados.
Em vez de ir pular no Nordeste, o folião carioca agora fica nas
quebradas de sua cidade.
Cenas de cordialidade como as que existem no Rio de Janeiro não se veem em Paris, Londres ou Nova York
São 425 blocos, de janeiro até o domingo depois do Carnaval, quando o
Monobloco arrasta 400 mil na Avenida Rio Branco. Os nomes são poéticos,
como o Simpatia é Quase Amor. Irreverentes, como o Suvaco do Cristo,
Spanta Neném, Desliga da Justiça. Picantes, como Vem ni Mim que Sou
Facinha, Fogo na Cueca e Só o Cume Interessa. No som, há uma mistura até
blasfema, de tão democrática. Tem brega, rock, sertanejo e MPB. Sempre
em ritmo de samba. Preta Gil levou 250 mil foliões para o centro do Rio e
fez a multidão rezar um padre-nosso pelas vítimas dos desabamentos
recentes.
Por um bom (ou mau) tempo, o Carnaval carioca se resumiu ao desfile das
escolas de samba, a rua tinha dançado. “Quando eu era jovem, ou alguém
me arrumava um ingresso para a Sapucaí ou eu ia para Salvador, Angra,
Petrópolis”, diz o prefeito Eduardo Paes, de 48 anos. “Em vez de
ignorar, resolvemos abraçar os blocos, organizar, dialogar. E estamos
evoluindo ano a ano.” O que não vai ter nunca, diz Paes, é cordinha,
camarote ou corredor para os blocos. Têm de se concentrar nos bairros de
origem e ser ampliados nos subúrbios.
Claro que o trânsito complica. Mas a comunicação e o esquema
funcionaram melhor, e os engarrafamentos foram menores. No último fim de
semana, 700 mil pessoas desfilaram em paz em 111 blocos no Rio, com
muita azaração e criatividade. E menos lixo, menos vândalos e menos
mijões que nos anos anteriores. Há mais banheiros disponíveis. Canteiros
foram protegidos por redes na orla da Zona Sul para não ser pisoteados.
Em Santa Teresa, bairro ferido de morte pelos desastres com bondinhos, o
primeiro destaque do sábado de carnaval será o Céu na Terra. O
homenageado será o bondinho. O Cordão da Bola Preta irá da Candelária à
Cinelândia. A Banda de Ipanema obrigará os ipanemenses a deixar o carro
em casa. No Bloco do Barbas, em Botafogo, o carro-pipa deve refrescar os
foliões. O Empolga às 9 sairá em Copacabana, na Avenida Atlântica. De
bônus, temos as musas dos blocos, essas moças de gingado carioca sem
anabolizante.
Alienação? Transtorno? Pode ser, se você torce o nariz para esse
delírio popular. Para quem festeja a volta da folia de rua após tantos
anos de Carnaval exportação, é hora de curtir, não no Facebook ou na
televisão, mas na vida real. Ao ar livre, com cantoria, suor e beijos.
Deixe o samba correr.
Amanhã tudo volta ao normal (fotos)
Mas é Carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.
(Noite dos Mascarados - Chico Buarque)
Amanhã tudo volta ao normal. Foram 4 dias de festa, me surpreendendo com a criatividade dos foliões. Hoje, em frente ao meu prédio, a concentração do Bloco das Quengas, muita diversão e fantasia. Mas como tudo tem um fim, o carnaval acabou. Fica a sensação de muita alegria e a vontade de voltar no próximo ano.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Arte pra quem, arte pra quê?
O Museu é de Arte Moderna, a exposição da Nan Goldin, mas a cabeça da atendente/caixa era da Idade Média.
Fomos,
três amigos e eu, hoje ao MAM
assistir a exposição da fotógrafa americana Nan Goldin. Na chegada, compraríamos 3 ingressos inteiros e uma
meia entrada para estudante; um dos meus amigos faz mestrado em letras na Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, campus
de Cascavel.
Ele
portava a carteira de estudante (sem data de validade) e a declaração de
matrícula do ano passado (consta nessa declaração “1º semestre de 2011”). Ela nos
barrou dizendo que deveríamos apresentar uma declaração deste ano. Explicamos
que o tal curso é anual e que ele ainda estava em férias. Explicamos também que
a matrícula do mestrado apenas aconteceria a partir do dia 17 de março de 2012
e que, por isso, não poderíamos apresentar uma declaração deste ano, mas a
funcionária foi categórica: argumentou que a Lei estava ali para quem quisesse
ler e que ela era bem clara. Contra-argurmentei que uma Lei não pode ser
interpretada apenas de uma maneira já que a situação não poderia ser generalizada,
haja vista que a instituição na qual o meu amigo estuda funciona de outra
maneira. Mas ela não entendeu que não se pode colocar no mesmo quadrado todas as
situações, ainda que “trabalhe” com arte moderna.
Pedimos
para falar com o gerente. Depois de algum tempo, veio um funcionário se dizendo
gerente (e mais tarde se desdizendo porque este estaria em férias...), reforçando
que estava bem claro o que se dizia
na Lei.
Tornamos
a lhe explicar todos os detalhes, em vão. Além desses dois funcionários, uma terceira,
que trabalha no balcão, nos disse ser aluna de uma universidade federal cuja
matrícula já havia ocorrido em sua instituição. Eu lhe disse que ele, o que era
e deixou de ser gerente, estava duvidando do que estávamos falando, mas ele nos
disse que eu estava colocando palavras em sua boca, já que em momento algum,
segundo ele, havia dito que era mentira o fato de meu amigo estar matriculado
num curso que não havia ainda realizado a matrícula de 2012. Enfim, acabamos tendo
de pagar a entrada inteira.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Fazia muito tempo que eu não passava o carnaval no Rio de Janeiro, mais ou menos uns 6 anos. E, por isso, acredito, havia me esquecido da delícia que é o nosso carnaval de rua. Milhões de pessoas fantasiadas de tudo o que a imaginação possa permitir (e um pouco mais) e nenhuma violência, nenhum desrespeito, nenhum tumulto fora os normais, ou seja, multidão de pessoas nas ruas, blocos por todos os lados, e a gente ali sem poder atravessar uma rua. Fora isso, apenas riso e surpresas.
Hoje me diverti de montão, saí de peruca verde e voltei de branca de neve (pena não ter uma foto para socializar tanta coragem, afinal sou um professor sério). Acabei de chegar em casa depois de um longo dia atrás de blocos, encontros com amigos e uma passada no cinema (a caráter) para assistir A Dama de Ferro. Dia longo, mas nada que uma bom descanso merecido não me coloque em dia para o domingo de carnaval. Bom carnaval para quem gosta de festa!!!
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Quem não gosta de samba bom sujeito não é (texto)
Está aberta, oficialmente, a temporada de blocos de carnaval no Rio de Janeiro. A cidade respira carnaval. E é bom demais!! Um clima bem divertido e descontraído.
No Face(book), dia desses, vi algumas manifestações de alguns paranaenses sobre quem gosta de carnaval ser vagabundo e fiquei pensando, naqueles dias, sobre o que faz alguém achar que gostar de festa faz de alguém um desocupado. Mas aquele pensamento logo se dissipou ao me lembrar do Porco no Rolete, do Boi no Rolete, da Oktoberfest, das Festas do Seminário (costelaço), da Festa das Nações, dos bailões sertanejos, da Mega Fantasy, das cervejadas, dos Encontros de blocos, das festas de cada curso de graduação e achei melhor nem comentar.
Continuo achando que quem não gosta de festa bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé. Ou é doente do pé e ruim da cabeça. Um bom feriado de carnaval para todos.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Os filhos da época (poema)
Somos os filhos da época,
e a época é política.
Todas as coisas - minhas, tuas, nossas,
coisas de cada dia, de cada noite
são coisas políticas.
Queiras ou não queiras, teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um brilho p...olítico.
O que dizes tem ressonância,
o que calas tem peso
de uma forma ou outra - político.
Mesmo caminhando contra o vento
dos passos políticos
sobre solo político.
Poemas apolíticos também são políticos,
e lá em cima a lua já não dá luar.
Ser ou não ser: eis a questão.
Oh, querida, que questão mal parida.
A questão política.
Não precisas nem ser gente
para teres importância política.
Basta ser petróleo, ração,
qualquer derivado, ou até
uma mesa de conferência cuja forma
vem sendo discutida meses a fio.
Enquanto isso, os homens se matam,
os animais são massacrados,
as casas queimadas,
os campos se tornam agrestes
como nas épocas passadas
e menos políticas.
(Poema de Wisława Szymborska, traduzido por Ana Cristina César)
sábado, 11 de fevereiro de 2012
O insustentável preconceito do ser (texto)
Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite
de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter.
Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e
indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a
alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos.
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....
De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.
Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:
-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....
De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.
Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:
-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:
"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".
"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem.
A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta:
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje?
A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:
- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?
Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu!
A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem". Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
-Só podia ser mendigo!
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.
PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos.
Rosana Jatobá - jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo.
A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta:
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje?
A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:
- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?
Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu!
A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem". Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
-Só podia ser mendigo!
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.
PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos.
Rosana Jatobá - jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo.
Os sons da memória (texto)
Dentre tantos sons que me fazem lembrar a minha infância, a música Madalena, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, gravada por Elis Regina em 1970, é uma delas. Minha mãe cantava sem parar e, por tabela, eu sem saber decerto o que cantava, acompanhava do jeito que eu entendia esta música. Hoje, fiquei em casa ouvindo muitas canções que me fizeram lembrar de amigos, de tempos, de outras canções.
Aí vai música e letra:
Madalena
O meu peito percebeu
Que o mar é uma gota
Comparado ao pranto meu.
Fique certa
Quando o nosso amor desperta
Logo o sol se desespera
E se esconde lá na serra.
Madalena
O que é meu não se divide
Nem tão pouco se admite
Quem do nosso amor duvide.
Até a lua se arrisca num palpite
Que o nosso amor existe
Forte ou fraco alegre ou triste.
O meu peito percebeu
Que o mar é uma gota
Comparado ao pranto meu.
Fique certa
Quando o nosso amor desperta
Logo o sol se desespera
E se esconde lá na serra.
Madalena
O que é meu não se divide
Nem tão pouco se admite
Quem do nosso amor duvide.
Até a lua se arrisca num palpite
Que o nosso amor existe
Forte ou fraco alegre ou triste.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
É para lamentar (texto)
É difícil escrever sobre a greve dos policiais na Bahia, por, pelo menos, dois motivos. Primeiro, porque sabemos que a Polícia Militar é fundamental para manter a ordem de um Estado (deixemos de lado quaisquer desordens provocadas pela corporação), ou seja, ela é essencial e por isso a greve de PMs coloca em risco a população de uma forma geral. Segundo, como tb sou funcionário público sei que negociar com o governo nunca é tranquilo, porque as promessas são vazias, há falta de compromisso,os salários são defasados, e, em se tratando da Polícia Militar, a segurança é zero, há risco de vida e nenhum plano de carreira decente.
Ontem no Jornal Nacional (JN), assisti a matéria sobre as gravações de conversas entre os comandos de greve da Bahia: promoção de vandalhismo, acertos com os comandos de outros Estados etc. É claro que não esperamos isso de policiais militares, mas tb não esperamos atitudes como as dos governadores em relação ao tratamento que se dá aos seus funcionários.
Hoje em dia, todas as respostas sobre aumento de salário, plano de carreira etc. vai de encontro à responsabilidade fiscal do Estado, mas a má admistração do dinheiro público, sobretudo, nunca entra na ordem do dia. O Estado arrecada muito dinheiro, todos sabemos, e a distribuição dessa verba está aí para quem quiser ver. Tudo isso nos faz questionar a ilegalidade da greve dos policias.
A matéria do JN colocou, decerto, a população contra a greve dos policias, não a matéria em si, mas a forma de abordagem da matéria: um conluio dos PMs em torno do carnaval de Salvador e do Rio de Janeiro. Interessante como os governadores se preocupam tanto com o carnaval (o dinheiro que gira em torno dele) e tão pouco com a segurança de quem faz a festa.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Banheiro LGBT: ah?, pra quêm mesmo?! (texto)
Um adolescente teimoso insiste em correr todas as tardes ao redor do Maracanã, ainda que os seus pais lhe digam que não é muito seguro aquela localização. Não tendo mais o que fazer por conta de toda insistência do filho, os pais resolvem o problema retirando o Estádio de onde está e o transferindo para o quintal de casa.
É mais ou menos isso o que aconteceu em uma escola estadual, Colégio Estadual Vicente Rijo, no interior do Paraná, em Londrina, para não enfrentar o problema da intolerância sexual, na escola, o diretor resolve criar um banheiro para o público LGBT. Bem mais fácil do que educar, né não?
O assunto dividiu
opiniões nesta quarta-feira (8), primeiro dia de aula. O colégio
destinou um banheiro que era pouco usado e outro, que até então, era
exclusivo dos professores, para os alunos LGBTs.
A medida, segundo o diretor Donizetti Brandino, foi adotada porque alunos reclamaram de constrangimento no sanitário masculino e foi aprovada pelo Conselho Escolar.
A medida, segundo o diretor Donizetti Brandino, foi adotada porque alunos reclamaram de constrangimento no sanitário masculino e foi aprovada pelo Conselho Escolar.
Um estudante de 17 anos que não quis se identificar afirmou que aprova a
medida. “Meninos ficam olhando com cara feia”, afirmou o jovem. Ele
contou que em 2011 uma inspetora do colégio o flagrou dentro do banheiro
feminino e o encaminhou para a direção do colégio. O rapaz disse também
que foi pedido para que ele usasse o banheiro dos professores para
evitar constrangimentos para as meninas.
Na avaliação dos professores e da direção da escola, a medida não é
discriminatória e não visa isolar os homossexuais, mesmo assim, afirmam
que não pretendem estimular que mais alunos utilizem os banheiros já
denominados de alternativos. “O nosso objetivo é a educação. É
conscientizar para que essas realidades possam ser trabalhadas de forma
que todos tenham direitos”, declarou o diretor Donizetti Brandino.
A opinião, entretanto, não é compartilhada por Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (AGLBT). Segundo ele, ainda que tenha sido para beneficiar os homossexuais, a atitude representa uma solução simplista que não se aprofunda na questão do respeito.
A opinião, entretanto, não é compartilhada por Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (AGLBT). Segundo ele, ainda que tenha sido para beneficiar os homossexuais, a atitude representa uma solução simplista que não se aprofunda na questão do respeito.
Não podemos fazer essa segregação"
Toni Reis, presidente AGLBT
“Nós queremos uma escola inclusiva que respeita a diversidade na
biblioteca, na sala de aula e banheiros”, disse o presidente da AGLBT
que também é doutor em educação. Toni Reis afirmou ainda que é preciso
sensibilizar a comunidade escolar e capacitar os profissionais para que
haja o entendimento de respeito a individualidade. “Não podemos fazer
essa segregação”.
Flávio Arns, secretário estadual de Educação, disse desconhecer a existência banheiros alternativos para homossexuais nas escolas e vê com cautela a medida. “Consideramos completamente desnecessário. Não é importante, não é necessário. Nós temos, sim, criar na escola um clima de respeito à diversidade”, disse o secretário.
Flávio Arns, secretário estadual de Educação, disse desconhecer a existência banheiros alternativos para homossexuais nas escolas e vê com cautela a medida. “Consideramos completamente desnecessário. Não é importante, não é necessário. Nós temos, sim, criar na escola um clima de respeito à diversidade”, disse o secretário.
Ainda nesta quarta-feira, a AGLBT vai encaminhar um ofício para a
Secretaria Estadual de Educação solicitando uma intervenção na escola
londrinense. A ideia, de acordo com Reis, é suspender a medida e evitar
que ela seja replicada em outras unidades de ensino. Caso o pedido não
seja atendido, a Associação pretende recorrer ao Ministério Público
(MP).
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Qual o signo de Saussure?
Saussure, pai da linguística moderna, nasceu em Genebra, no 26 de novembro de 1857, portanto ele é do signo de sagitário. Quando alguém te perguntar sobre o signo de Saussure, vc já sabe a resposta correta.
Mas quando alguém se pergunta sobre o signo de Saussure tb pode estar se referindo, claro que é uma questão de segunda ordem, um assunto um pouco menos importante e relevante, já que signo refere-se necessariamente a representação de uma faixa imaginária do firmamento celeste dividida em doze signos zodiacais (Áries ou Carneiro, Touro, Gêmeos, Câncer ou Caranguejo, Leão, Virgem, Libra ou Balança, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes) e cada um é regido por um planeta/astro (Marte, Vênus, Mercúrio, Lua , Sol, Mercúrio, Vênus, Plutão, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, respectivamente), ao signo linguístico que antecipa os princípios da ciência linguística do século XX com sua análise sobre a estrutura da linguagem.
A obra apresenta a teoria do signo linguístico, resultante da combinação
entre um significante (o componente sonoro) e um significado (o
conceito).
O Signo foi a teoria explicativa criada por
Saussure ao tentar responder a questão que havia entre os linguistas, ou
seja, a relação que poderia haver entre o "nome dado às coisas
existentes" e "a coisa em si".
Para o pesquisador, tudo que é existente e conhecido é representado por
um signo e este é composto por duas partes, devidamente explicadas acima: significante e significado.
Filhos, melhor não tê-los (texto)
Alguns vão me achar
agressivo demais, no entanto, eu me sinto ultrajado quando leio nos
jornais casos como o que ocorreu no Rio de Janeiro, na Ilha do
Governador, na madrugada do dia 03 de fevereiro, deste ano. Cinco
adolescentes espancaram um outro adolescente porque este não se
conformou com a agressão daqueles contra um morador de rua.
Vamos à notícia: A tentativa de evitar uma covardia contra o morador de rua que estava
passando mal e era agredido por cinco jovens quase terminou em tragédia
para o estudante de Desenho Industrial Vítor Suarez Cunha. Ao tentar proteger o homem, que estava sendo
chutado pelos agressores, na Praça Jerusalém, no bairro Jardim
Guanabara, Ilha do Governador, o estudante foi espancado quase até a
morte. Ele está internado com diversas fraturas na face em uma clínica
particular.
Ao se aproximar de um dos agressores, pedindo que ele parasse, foi
hostilizado, dando início à confusão. Vítor contou que, depois disso,
começou a levar chutes e socos no rosto, quando caiu no chão. O
estudante disse que só não sofreu danos maiores porque Kléber se jogou
sobre ele no momento em que era agredido.
— Eu ainda reconheci um
deles, e disse que a gente estava sempre por lá. Disse que era uma
covardia o que eles estavam fazendo. Ainda tentei defender meu rosto com
o braço. Até que acabei desacordando — contou.
Que
tipo de educação esses marginais receberam? O que será que passa pela
cabeça desses caras quando se acham no direito de bater em alguém seja
lá por qual motivo? Como será que os pais desses pervertidos reagem
diante de uma situação como essa? Por que será que essas situações são
tão recorrentes? Seria apenas a certeza da impunidade?
Se
meu filho agredisse dessa forma uma outra pessoa eu acho que seria a
maior das minhas frustrações. Não sei se eu me sentiria pior diante de
qualquer outro ato de violência. Seria como se todos os meis esforços
para educar alguém ruíssem, e nada pior para um homem quando ele se dá
conta de que nada do que ele investiu em termos de preparar alguém para
o mundo não deu certo, pior, deu errado.
Hoje,
os jornais nos apresentaram o morador de rua que estava sendo agredido
pelos rapazes, João, de 47 anos. Ele foi à delegacia , prestar
depoimento, acompanhado de uma assistente social. O rosto dele
estava muito inchado. Ele também estava com um ferimento na perna. Ele
disse não se lembrar de nada.
Vitor passou por uma cirurgia de reconstituição facial, ele teve implantadas oito placas de titânio e 63 parafusos na cabeça.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Castanha da índia (texto)
Escrever sobre medicina popular tem lá seus perigos. Sobretudo por eu não ser especialista em nada que diz respeito às ervas. No entanto, sei que posso escrever sobre a minha experiência. Por isso, ficamos combinados que estou escrevendo sobre minha impressão.
Tive, alguns sabem disso, uma trombose em 2006. Foi barra pesada. Primeiro por conta do susto, depois por ser obrigado a ficar internado durante 8 dias. Nunca havia me internado por nada. A barra foi só piorando desde então.
Preciso usar diarimente aquelas meias que estimulam a circulação, faça frio ou faça calor (e haja calor!). Além de uma dor constante que tem me acompanhado desde 2006. Nunca mais soube o que é não ter dores nas pernas. Exercícios são uma benção. Durante caminhadas, natação etc. (nada de impacto) as dores somem, mas como não posso, não aguentaria, fazer exercícios durante 24h, e nem todos os dias, uma hora ou outra as dores retornam.
Dia desses, estive numa loja, aqui em Cascavel, de produtos naturais para comprar Noz de Macadâmia, porque me indicaram para diminuir as taxas de colesterol (FICAR VELHO É BOM DEMAIS!) e falei com o vendedor sobre as dores nas pernas, ele me indicou Castanha da Índia (em pó) três vezes ao dia. Basta dissolver num meio copo de água uma colherinha do pó da castanha e beber.
Fiz isso. Hoje é o terceiro dia da expeiência. E, acreditem, vocês, em 6 anos é a primeira vez que eu não sinto nenhuma dor nas pernas. Ontem fiquei a maior parte do dia sem as meias (aqui está fazendo um calor infernal) e não senti nenhum incômodo. Nada. Esqueci até que eu tinha pernas, sem exageros.
Olha, não sei se a castanha fez efeito ou se o efeito placebo cumpriu seu dever. O que sei é que não sinto aquelas dores. Indico.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Helô (versos)
A tua saudade corta
Como o aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma, a otra faia
E os oio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia ai.
Como o aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma, a otra faia
E os oio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia ai.
(Estrofe de Cuitelinho, composição de Paulo Vanzolini / Antônio Xandó )
Esperando Godot (Samuel Beckett)
Um grande amigo me fez uma visita nessas férias, no Rio. Apenas um final de semana (talvez nem tenha sido isso) ficamos juntos. Fomos à praia, à noite ao cinema, assistimos A Música Segundo Tom Jobim. Não é sobre o filme, tão pouco sobre a praia e muito menos sobre o meu amigo que vou escrever, ainda que tudo isso se cruze, não por acaso.
Estava no Rio a trabalho, para uma reunião que aconteceria na segunda-feira, posterior ao final de semana. Antes de ir embora, me deixou o livro que tinha acabado de ler É tudo tão simples (crônicas de Danuza Leão) e me presenteou com o livro de Beckett, Esperando Godot.
Eu não conhecia o livro, digo, nunca havia lido, mas conhecia o enredo porque já havia assistido uma montagem. O livro é um texto para teatro, publicado em 1952 (como a internet nos salva!). Dois amigos que estão esperando, como o título afirma, um tal de Godot (que não aparece).
Pra mim, o texto é uma metáfora da espera improdutiva da vida, da felicidade que não vem ao nosso encontro, mas que, amarrados por algum motivo, não nos precipitamos para ela. Sabemos, porque sabemos, que se não fizermos, nada vai acontecer.
Ontem à noite, finalmente, concluí a leitura desse texto e, como sempre, me senti feliz por isso. Além de ser um texto importante (pela forma como Beckett escreve, pela abordagem etc.) é um tema bastante importante para todos nós. Indico.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Tabacaria (poesia)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
As 10 cidades mais caras do mundo para se hospedar em 2012 (texto)
Uma pesquisa feita pelo site Hotel.info, um serviço de reservas on-line gratuito, que atende mais de 210.000 hotéis no mundo, revelou quais as cidades com as diárias de hóteis mais caras do mundo. Os valores são relativos a novembro de 2011. Seguem os dez mais:
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1. Nova Iorque (Estados Unidos): 208,96 euros (média de uma diária).
2. Moscou (Rússia): 183,78 euros.
3. Oslo (Noruega): 170,89 euros.
4. Tóquio (Japão): 168,85 euros.
5. Londres (Inglaterra): 159,83 euros.
6. Rio de Janeiro (Brasil): 158,78 euros.
7. Singapura (Singapura): 151,76 euros.
8. Hong Kong (Hong Kong): 151,09 euros.
9. Zurique (Suiça): 150,58 euros.
10. Estocolmo (Suécia): 144,10 euros.
Tenho apenas uma questão, já que se trata de uma pesquisa e, em princípio, comparar preços é uma ação bastante objetiva, será que os serviços prestados por essas cidades poderiam ser organizados tb a partir do mesmo ranking?
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