Há um amor que nos atravessa feito uma saudade que aperta o peito como se faltasse ar. É um amor que não se satisfaz com o som da voz, nem com a imagem refletida numa tela ou numa lembrança; é um amor que quer mais, que precisa do toque, do calor da pele, do cheiro, da presença física que faz o tempo parar por instantes. Ouvir o outro dizer "eu também sinto sua falta" até consola, mas é insuficiente: o desejo é de estar, de pertencer, de caber no outro como quem encontra um lugar seguro no meio de um mundo que sempre ameaça ruir. É um amor que pede um abraço que dure mais que o tempo, que seja mais que o gesto, que seja quase um esconderijo, uma concha onde o som do mundo se aquieta e o ritmo da respiração alheia embala o corpo cansado. Há momentos em que amar é querer ser segurado pelo outro como quem segura uma criança com medo do escuro: firme, com cuidado, sem pressa de soltar.
E quando se ama assim, intensamente, parece que nada é o bastante. Ver, ouvir, tocar: tudo é pouco. Há uma necessidade quase primitiva de sentir o outro inteiro, de se encaixar no peito alheio como se fosse ali, entre ossos e carne, o seu verdadeiro lar. O abraço vira casa, o toque vira prece, e o cheiro do outro é um fio invisível que costura as partes do mundo que pareciam desfeitas. Amar é também um jeito de querer ser acolhido, de pedir para o outro nos carregar por um instante, como se pudesse nos dar alívio da dor de existir. E nessa fusão que é abraço, o tempo some, as palavras cessam, e tudo o que resta é o desejo de permanecer ali: dois corpos, dois mundos que, por um momento raro e precioso, se tornam um só.