segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Autohomofobia que se alimenta de rejeitar o outro



A autohomofobia é um fenômeno que carrega em si a violência de um sistema opressor introjetado no sujeito. É o resultado de uma sociedade que constrói o desejo como algo normativo e punível quando escapa às regras impostas. O sujeito, interpelado por discursos homofóbicos, internaliza a rejeição à sua própria sexualidade, gerando um conflito profundo entre o que sente e o que acredita que deveria ser. Essa rejeição não apenas fere sua relação consigo mesmo, mas também mina a possibilidade de viver um amor pleno e sincero com o outro. Amar, nessas condições, torna-se um campo de batalha onde o desejo é ao mesmo tempo força vital e terreno de culpa.

Quando o amor do outro é sabotado, ele alimenta a narrativa interna da autohomofobia. Na tentativa de se proteger de julgamentos externos, o sujeito projeta sua própria rejeição no parceiro, na relação ou até na ideia de amar. O outro passa a ser um espelho do desejo que não se pode assumir, um lembrete doloroso do que a sociedade condena. O amor, que poderia ser espaço de encontro e cura, é transformado em mais uma arena de negação e autoagressão. O sujeito fere o outro na tentativa de sufocar em si mesmo aquilo que acredita não ter o direito de existir.

Romper esse ciclo exige um enfrentamento das ideologias que sustentam a autohomofobia e uma reconstrução discursiva do desejo. Reconhecer que o amor é possível, legítimo e humano é o primeiro passo para quebrar as correntes do ódio internalizado. Não se trata de uma mudança simples, mas de um processo de desconstrução de um sistema de sentidos que organiza o sujeito contra si mesmo. Amar o outro sem destruir o que ele representa só será possível quando o sujeito começar a amar a si mesmo como é, reescrevendo sua história e resistindo aos discursos que o interpelam como alguém que deve negar sua própria existência.

Mudando de sala






Chega o fim do ano, e com ele a sensação de que tudo passou rápido demais — ou devagar demais, dependendo de como foi sua jornada. É o momento em que olhamos para trás e enxergamos uma mistura de conquistas, tropeços e aquele tanto de coisa que prometemos fazer, mas ficou pelo caminho. E aquele outro tanto que não prometemos, mas as condições nos impuseram fazer.

Não foi fácil: teve gente que nos decepcionou, gente que se decepciou conosco, teve dias que pareciam intermináveis, e momentos em que o cansaço parecia maior do que a nossa vontade de seguir em frente. Teve semana que passou num piscar de olhos. Segunda-feira que chegou sem que a gente tenha descansado. Mas, de algum jeito, estamos aqui, inteiros (ou remendados), mas aqui.

No meio de toda a correria, certamente aprendemos algumas coisas. Aprendemos que nem sempre a vida vai nos entregar o que queremos, mas que ainda assim temos a força para buscar o que precisamos. Que não importa quantas vezes nos sentimos pequenos, frágeis, sozinhos ou perdidos, sempre há uma faísca que nos faz recomeçar. Talvez tenha sido um sorriso inesperado, um abraço silencioso, um olhar ou até uma palavra dita na hora certa. Entre as agruras, descobrimos que mesmo os dias difíceis deixam marcas que, mais tarde, se tornam histórias de superação.

E agora, enquanto o calendário se prepara para finalizar, não se trata apenas de esperar que o próximo ano seja melhor. Trata-se de reconhecer o tanto que já fizemos, o tanto que resistimos. De nos permitirmos acreditar, mais uma vez, que o que vem pela frente pode não ser novo, mas, visto com uma certa distância, menos dolorido. 

sábado, 28 de dezembro de 2024

A esperança que se renova no ano que chega


O Ano Novo, mais do que um evento marcado pelo calendário, é um espaço discursivo onde se inscrevem expectativas, desejos e projeções de um futuro melhor. No movimento materialista da análise do discurso, compreendemos que a esperança que se manifesta nesse momento não é um sentimento do sujeito (ainda que se menifeste nele como se nele surgisse), mas um sentido sustentado por relações históricas, sociais e ideológicas. Ao dizer "Feliz Ano Novo", carregamos sentidos que ultrapassam a literalidade, ecoando uma memória (em nossa formação social) de recomeços e transformações possíveis, mesmo em meio às contradições do cotidiano.

Essa esperança, no entanto, não surge como algo autônomo ou natural, mas como um efeito de sentido que articula as condições materiais de produção da vida. Ela é atravessada por ideologias que interpelam os sujeitos, fazendo-nos desejar o novo enquanto lidamos com marcas do passado e do presente. O Ano Novo torna-se, assim, um lugar onde o sujeito se projeta para além das limitações impostas, buscando no simbólico e no imaginário a possibilidade de mudança. É um tempo em que os discursos sobre superação e renovação ganham força, configurando-se como práticas que reafirmam a dimensão histórica da luta por dias melhores.

Na materialidade discursiva, a esperança do Ano Novo pode ser lida como resistência. Resistência às adversidades, às desigualdades, às imposições de um tempo que muitas vezes nos parece rígido e imutável. Esse gesto de desejar e projetar o "novo" é, em si, um ato político e simbólico que interpela os sujeitos a não apenas esperar, mas a agir. Que este Ano Novo seja um espaço de inscrição para novos sentidos, onde a palavra "esperança" não seja apenas a repetição do já-dito, mas a afirmação de que, ao produzir novos discursos, também somos capazes de produzir novas realidades.

2025: O ano da Serpente de Madeira




O ano Serpente de Madeira faz parte do calendário chinês, que segue o zodíaco baseado em ciclos de 12 anos, cada um associado a um animal, combinado com os cinco elementos da filosofia chinesa: MadeiraFogoTerraMetal Água. Cada combinação ocorre uma vez a cada 60 anos.

Simbologia da Serpente

Na cultura chinesa, a Serpente é um símbolo de sabedoria, intuição, mistério e transformação. Pessoas nascidas em anos regidos pela Serpente são vistas como analíticas, perspicazes e inteligentes. Elas têm uma forte capacidade de introspecção e muitas vezes são associadas à elegância e ao charme.

O elemento Madeira

A Madeira é um elemento que representa crescimento, criatividade e adaptabilidade. É também associada à vitalidade, compaixão e ao impulso de construir e expandir. Quando combinada com a Serpente, esse elemento adiciona uma energia mais gentil e equilibrada às características geralmente reservadas e estratégicas da Serpente.

Características do ano Serpente de Madeira

  • Personalidade do ano: É um período marcado por sabedoria prática, criatividade e busca por harmonia. Pode ser um ano de transformações sutis e profundas, onde as pessoas são incentivadas a planejar cuidadosamente e a confiar em sua intuição.
  • Energia coletiva: O ano Serpente de Madeira favorece estratégias bem pensadas, decisões calculadas e crescimento pessoal. É ideal para aprender, crescer e explorar aspectos mais profundos de si mesmo e dos outros.
  • Relacionamentos e trabalho: O elemento Madeira suaviza o caráter estratégico da Serpente, promovendo maior cooperação e compaixão nos relacionamentos e ambientes profissionais.

Um ano de transformação

O ano Serpente de Madeira convida as pessoas a olharem para dentro, valorizando o crescimento pessoal e a renovação. É um tempo de construir com paciência e sabedoria, deixando que as sementes plantadas se desenvolvam de maneira sólida e duradoura. É uma energia que mistura inteligência, criatividade e intuição para transformar desafios em oportunidades.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Por que choramos?


Chorar é um ato profundamente humano, uma entrega que transcende palavras e nos conecta com o que há de mais íntimo em nós. Cada lágrima que escorre carrega um peso que às vezes nem sabemos nomear — uma dor guardada, uma saudade que aperta, ou mesmo uma felicidade tão intensa que explode em líquido. O choro é o idioma das emoções quando o coração, incapaz de silenciar, encontra seu próprio jeito de falar. Ele revela nossa fragilidade, mas também nossa força, porque só quem sente profundamente é capaz de derramar-se assim, por inteiro.

Há algo de belo na vulnerabilidade que o choro expõe. Ele abre um portal para o outro, permitindo que quem nos vê, nos sinta, nos alcance. Ao chorar, dizemos sem dizer: “estou aqui, humano como você, com as mesmas dores e esperanças”. E nesse momento, é como se as barreiras do mundo se desmanchassem. Um choro não precisa de tradução; é universal, compreendido por todos, de qualquer lugar ou cultura. Ele nos lembra que, no fundo, compartilhamos a mesma essência, essa necessidade de sentir, de amar, de pertencer.

E depois de chorar, vem o alívio, como uma chuva que limpa o céu para que o sol brilhe novamente. Chorar nos esvazia do que pesa, nos renova. É como se a alma, ao derramar-se, encontrasse espaço para respirar de novo. É um ritual silencioso de cura, um reencontro consigo mesmo. Então, da próxima vez que o coração pedir para chorar, permita-se. É um gesto de coragem, de aceitação, de amor por si mesmo. Porque é no ato de chorar que, paradoxalmente, encontramos força para seguir em frente.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Retrospectiva

Mais um ano está terminando. Já são 59 anos por aqui. Caramba!!!! É isso: quando se vê já é sexta, quando se vê já é o fim de semana, o fim do mês, quando se vê acabou o semestre e quando se vê passaram 60 anos. Quando tudo dá certo... é assim que acontece.

Claro que dá um medinho, mas já foram tantos medinhos ao longo dessa vida que mais um não vai fazer nenhuma diferença.

É tempo de retrospectiva por aqui.

Este ano, diferente do fim do ano passado, não estou apaixonado. Foi um ano turbulento em se tratando de relacionamento. Termina, volta, termina, volta (um ad eternum). Até que, finalmente, depois de tanta dor de cabeça, chateação (e tantas outras coisinhas), o copo transbordou de vez.

Financeiramente estou na mesma. Nem melhor e nem pior. Isso não é uma boa notícia. Ah, mas, como no ano passado, joguei na mega-sena da Virada e, tb como  no ano passado, já estou fazendo os planos caso eu ganhe os 600 milhões (vai ser assim porque eu sequer sei quanto zeros tem esse valor). Acho que são 6 zeros além dos 3 = algo assim: 600.000.000.

Nesta retrospectiva vou registrar aqui o que farei de cara. Pagar todas as dívidas. Reformar os apartamentos do Rio e de Cascavel. Vender os dois. Comprar um ap. para mim, para Nanci e o Erik no mesmo prédio (o bairro decidimos depois). Ah, lagar meu trabalho no fim do ano letivo de 2024 (vou esperar sim fechar o ano letivo. Sei o quanto dá trabalho e é problemático perder um professor no final de um ano letivo.

Profissionalmente não aconteceu nada de novo. Ah, sim...nasceu a filha de uma grande amiga e eu assumi a coordenação da pós-graduação. Já está acabando. Ufa!!!! Não gosto de cargos. Gosto de dar aula, fazer pesquisa, orientar...

A saúde não anda muito boa. Será um sinal? Sinal dos tempos? É bem possível. Uma dor insistente no pé esquerdo e no braço direito. No braço sei que é devido ao excesso de uso do celular e do mouse. Vamos consertando isso aos poucos. Agora do pé esquedo...não faço ideia...tb não foi ver o que é...

Entre mortos e feridos me salvei. Estou na perspectiva de um ano melhor...Sei que o ano muda e a vida segue o seu curso. Sei que o fim de um ano e o início de outro é uma invenção maravilhosa porque nos dá a sensação de que é possível recomeçar...de que será diferente, que é possível dar uma nova direção para qualquer que seja a questão: amor, trabalho, quilos, amizade...

domingo, 22 de dezembro de 2024

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

19 de novembro

Ontem, no dia em que seria o aniversário do meu pai, me peguei pensando no tempo que não vivemos juntos. Ele se foi quando eu tinha 18 anos, e a nossa relação foi marcada pela distância, pela ausência física e emocional. Meus pais se separaram quando eu tinha sete meses. Descobri recentemente a certidão de nascimento dele, uma lembrança tardia, mas significativa, de alguém que, embora ausente, deixou uma marca na minha vida. Os pais sempre deixam marcas na vida dos filhos. O tempo que não compartilhei com ele pesa, mas, ao mesmo tempo, é uma oportunidade de refletir sobre a vida, as escolhas e os caminhos que nos moldam. Hoje, recordo não só o que não foi, mas também o que me ensinou indiretamente. Feliz aniversário, Edenyr.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Comentário Interpretativo Crítico (CIC)

Um comentário interpretativo crítico é uma análise escrita que busca interpretar e avaliar de forma reflexiva e criteriosa um texto, uma obra ou uma ideia. Esse tipo de comentário combina interpretação (análise do significado) com crítica (avaliação fundamentada), partindo de uma leitura aprofundada e considerando o contexto, as intenções do autor e os efeitos produzidos no leitor.

Características de um comentário interpretativo crítico

  1. Base em evidências: Todas as interpretações e críticas são sustentadas por elementos presentes no texto ou obra analisada.
  2. Consciência do contexto: Leva em conta o contexto histórico, social, cultural ou teórico em que o texto foi produzido.
  3. Argumentação clara: Os pontos de vista apresentados são organizados de forma lógica e coerente.
  4. Dialética: Envolve tanto a escuta ao texto (compreensão) quanto a resposta ao texto (crítica), construindo um diálogo reflexivo.
  5. Reflexividade: Inclui questionamentos, comparações e aprofundamento das implicações do que está sendo analisado.
  6. Objetividade e subjetividade equilibradas: Equilibra a objetividade (baseada no texto) com a subjetividade (posição do crítico) para evitar interpretações descontextualizadas.

Etapas para realizar um comentário interpretativo crítico

1. Leitura atenta e contextualização

  • Leia o texto com atenção, buscando entender o tema principal, os argumentos centrais e os recursos expressivos utilizados.
  • Identifique o gênero textual e o contexto em que foi produzido.

2. Identificação de elementos relevantes

  • Estrutura do texto: Como o texto se organiza? Quais são as partes principais?
  • Conteúdo: Qual é a mensagem central ou ideia defendida?
  • Recursos linguísticos e estilísticos: Há metáforas, ironia, repetições ou outras estratégias que enriquecem o sentido?
  • Ponto de vista do autor: De onde o autor fala e para quem ele fala?

3. Interpretação

  • Proponha uma leitura do significado do texto com base nos elementos observados.
  • Pergunte-se: "O que o texto diz e como diz isso? Qual é sua intenção principal?"

4. Crítica

  • Avalie os pontos fortes e fracos do texto: sua coerência, pertinência, originalidade, impacto e possíveis lacunas.
  • Posicione-se de maneira fundamentada: "Concordo ou discordo? Por quê? Que implicações têm essas ideias no contexto atual?"

5. Organização do comentário

  • Introdução: Apresente brevemente o texto ou obra analisada e sua abordagem geral.
  • Desenvolvimento:
    • Parte interpretativa: Explique o significado do texto e os elementos que o sustentam.
    • Parte crítica: Avalie o texto, com argumentos e referências claras.
  • Conclusão: Reafirme sua posição e destaque a relevância do texto e do comentário.

6. Revisão

  • Certifique-se de que sua argumentação está clara e fundamentada, e que não há contradições ou afirmações sem suporte.

Exemplo de estrutura de um comentário interpretativo crítico

Texto analisado: Poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto.

1. Introdução: Apresente o poema, seu autor, contexto (literatura de 2ª fase modernista) e objetivo geral do comentário.

2. Interpretação: Explique a temática central do poema (as agruras do sertanejo) e os recursos expressivos (verso livre, repetição, tom narrativo).

3. Crítica: Avalie a eficácia do texto em retratar a realidade nordestina e seu impacto social. Proponha possíveis reflexões atuais sobre a obra.

4. Conclusão: Resuma os principais pontos do comentário, destacando a relevância estética e social da obra.

Seguindo essas etapas, você poderá produzir um comentário interpretativo crítico consistente e bem fundamentado.

Depois da morte, segundo Chris Langan


Chris Langan, conhecido por seu altíssimo QI e pelo desenvolvimento da "Teoria Cognitiva-Teórica do Universo" (CTMU, na sigla em inglês), aborda a questão da morte e da existência em termos filosóficos e metafísicos. Sua perspectiva é profundamente enraizada em uma visão teórica que combina lógica, metafísica e espiritualidade.

Na CTMU, Langan sugere que o universo é uma espécie de "meta-mente" ou sistema cognitivo autorreferente, no qual consciência e realidade estão intrinsecamente ligadas. Dentro dessa visão, ele propõe que a morte física não significa o fim absoluto da existência, pois a consciência individual seria parte de uma estrutura maior e universal. Em vez de desaparecer completamente, a consciência poderia ser "reintegrada" ao todo universal.

Embora Langan não forneça uma descrição clara ou dogmática do que acontece exatamente após a morte, ele argumenta que o universo opera como uma espécie de "simulação autoconsistente". Nesse contexto, a identidade ou consciência individual pode persistir de alguma forma, seja como um padrão informacional ou como parte do tecido maior do universo.

Essas ideias se alinham mais com uma visão filosófica/metafísica do pós-vida, em oposição a interpretações religiosas específicas. Segundo Langan, a realidade é profundamente interconectada e estruturada, sugerindo que a morte pode ser uma transição para um estado diferente de existência dentro dessa estrutura maior.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Um convite ao acolhimento

Fim de ano. Luzes nas ruas, vitrines decoradas, sorrisos nos cartões de Natal, abraços calorosos em propagandas de televisão. Para muitos, essa é a época de celebrações em família, reencontros e jantares ao redor de uma mesa farta. Mas, para outros, essas mesmas luzes podem parecer distantes, os sorrisos alheios ecoam a ausência de vozes queridas, e a mesa fica vazia. São os que passam o Natal e o Ano Novo sozinhos.

A solidão, quando todas as vozes ao redor gritam festa, pode ser um peso silencioso. Ela sussurra perguntas que tentamos evitar durante o ano: "Quem sou eu sem os outros?", "Por que me sinto tão à parte?", "Será que alguém pensa em mim agora?". Não é fácil estar só em meio ao coro das comemorações.

Mas a solidão não precisa ser uma sentença final, e as festas não precisam ser apenas um lembrete do vazio. Talvez, sejam uma oportunidade de olhar para si com carinho e compaixão. De cuidar de quem está aí, do outro lado do espelho. De acender uma vela, preparar um prato especial para si mesmo, ou até escrever uma carta — para si, para o ano que termina, ou para o que está por vir.

E para aqueles que vivem a alegria do coletivo neste período, o convite é o de olhar ao redor. Existe alguém próximo que pode estar só? Alguém que talvez só precise de um gesto simples: um convite para o café, uma mensagem sincera, um "lembrei de você hoje". Não subestimemos o poder das pequenas gentilezas. Elas aquecem e atravessam paredes de silêncio.

Se você, que lê estas palavras, se sente sozinho nesta época do ano, saiba que sua existência é valiosa. Mesmo que as luzes pareçam mais frias e as canções soem distantes, você importa. Você é alguém que merece cuidado, afeto e acolhimento — de si mesmo e dos outros.

As festas de fim de ano são sobre encontros. Sejam eles com os outros, sejam consigo mesmo. Que possamos, como sociedade, enxergar os invisíveis dessa época e construir laços — mesmo que discretos, mesmo que efêmeros — que transformem a solidão em um espaço de companhia.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Nem centro nem escanteio

Não querer ser o centro da vida de ninguém, mas também não aceitar ser colocado de lado, é um desejo legítimo de equilíbrio nas relações humanas. Ser o centro implica uma posição de demanda constante, onde o outro gira em torno das nossas necessidades e expectativas. Essa posição, embora tentadora, pode ser sufocante tanto para quem ocupa esse lugar quanto para quem está ao redor. O que se busca, então, é uma relação mais saudável, onde o cuidado, o respeito e a atenção se equilibram sem que haja anulação de nenhum dos lados.

Por outro lado, ser colocado no escanteio é a vivência da exclusão e do descaso. É como se a nossa presença não importasse, como se as nossas palavras, sentimentos e gestos não tivessem peso ou lugar na vida do outro. Essa posição fere porque nega o desejo humano fundamental de pertencimento e reconhecimento. Querer ser prioridade, portanto, não é um capricho, mas um pedido para que nossa existência tenha espaço e valor. É reivindicar um lugar significativo na vida de alguém, onde haja tempo, dedicação e acolhimento mútuo.

O equilíbrio entre não ser o centro e não ser escanteado está na reciprocidade. Ser prioridade significa estar em um lugar onde somos ouvidos, cuidados e respeitados, mas sem sobrecarregar o outro com expectativas irrealizáveis. É desejar uma atenção que não venha do exagero, mas do reconhecimento da importância que se tem na vida de quem está ao nosso lado. Essa busca é um convite para relações mais maduras, onde existe espaço para o eu, o outro e o nós, sem perder de vista que toda conexão verdadeira se constrói na medida da atenção compartilhada.


Por que incluir?

Na perspectiva da Análise do Discurso materialista, a língua é concebida como uma prática social e, portanto, atravessada pela ideologia. A linguagem inclusiva emerge como um gesto político que desloca sentidos estabilizados, questionando as formações discursivas que naturalizam a exclusão de determinados sujeitos. Ao propor alternativas que visibilizem identidades historicamente silenciadas – como pessoas não binárias, mulheres, negros e outros grupos marginalizados –, a linguagem inclusiva desestabiliza a relação entre língua, história e ideologia. Nesse sentido, a escolha por uma linguagem que acolha a diversidade se torna um ato de resistência aos sentidos hegemônicos, produzindo fissuras no simbólico e possibilitando novos lugares de enunciação.



A língua, para a análise do discurso, possui uma opacidade que impede os sujeitos de perceberem imediatamente os efeitos de sentido que produzem. Assim, a linguagem inclusiva desafia essa opacidade ao trazer à superfície os mecanismos de invisibilização e subordinação inscritos nos usos linguísticos. 

Expressões como o uso genérico do masculino ou termos carregados de preconceito são marcas discursivas de uma ordem ideológica que organiza os lugares sociais. Ao interpelar esses sentidos, a linguagem inclusiva não apenas questiona o lugar dominante de determinados sujeitos, mas também torna possível a construção de novos sentidos que contemplam a pluralidade de sujeitos e experiências. Esse processo nos mostra que a língua não é um instrumento neutro, mas um espaço de luta ideológica, onde os sentidos estão sempre em disputa.

A importância da linguagem inclusiva, sob a lente da Análise do Discurso materialista, reside em sua capacidade de produzir deslocamentos discursivos. A proposta inclusiva não consiste em corrigir a língua, mas em transformar as condições de produção do discurso, ao possibilitar novas formas de dizer e significar o mundo. Ao visibilizar sujeitos e experiências antes marginalizados, a linguagem inclusiva não apenas promove um reconhecimento simbólico, mas também intervém materialmente na constituição ideológica dos sujeitos, convidando-os a ocupar novos lugares no discurso. Portanto, trata-se de um gesto ético e político que questiona o funcionamento ideológico da língua e, ao fazê-lo, abre espaço para uma sociedade mais democrática e plural.

domingo, 15 de dezembro de 2024

Psicopatologia da vida cotidiana e sobre os sonhos (1901)

Ontem eu perdi minha carteira, hoje esqueci uma palavra, troquei o nome de alguém, não me lembrei do nome de uma coisa e de uma pessoa, não consegui recordar de uma palavra em francês, da minha infância eu tenho lapsos de memória, eu li uma palavra por outra, escrevi uma palavra lugar de outra, esqueci o nome de uma rua, de uma cidade, de um bairro.

Freud revela como fenômenos comuns do dia a dia, como lapsos e esquecimentos, são portas de entrada para compreender o inconsciente. Esses atos falhos mostram que o inconsciente interfere ativamente na vida consciente, trazendo à tona desejos, memórias e conflitos reprimidos. O inconsciente permeia a existência cotidiana.

Tema Central: Freud explora os fenômenos do cotidiano que revelam aspectos do inconsciente, como lapsos de linguagem (atos falhos), esquecimentos, erros e enganos. Ele demonstra que esses eventos aparentemente triviais têm causas psíquicas profundas, ligadas a desejos reprimidos e conflitos internos.

Ato Falho: Freud argumenta que os lapsos de fala, escrita e memória não são meras casualidades, mas expressões de conteúdos inconscientes que escapam ao controle do sujeito.

Esquecimentos: Freud analisa casos de esquecimento de nomes, compromissos ou palavras e os relaciona a desejos inconscientes ou memórias reprimidas, muitas vezes associadas a conflitos emocionais.

Enganos: Os erros de julgamento, leitura ou compreensão também são interpretados como manifestações de desejos reprimidos ou conflitos inconscientes.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Da Série: Contos mínimos

Seria muito tarde? Eu relembrava pontos cruciais dos últimos anos. Não eram questões para refazer absolutamente nada, apenas para me entender...o que está lá atrás nunca nos é indiferente. O passado não fica no passado. Ao contrário. Ele volta sempre.


Nem todo sentimento precisa ser imediatamente decifrado

Ultimamente tenho me sentido como um peixe fora d’água — não tanto por estar sendo expulso de algum lugar, mas talvez por já não reconhecer ...