quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Um vazio desconcertante



Há pessoas cuja única moeda de troca na vida parece ser a beleza (ou alguma beleza). Elas entram em qualquer ambiente e chamam atenção pelo físico, pela estética cuidadosamente trabalhada ou pela genética generosa. Mas, ao raspar a superfície, o que resta é um vazio desconcertante. Não há conversas que inspirem, reflexões que instiguem ou mesmo curiosidade sobre o mundo. Essas pessoas se apresentam como um quadro bonito em uma moldura cara, mas o conteúdo é tão raso que, no final, fica difícil sustentar qualquer tipo de conexão além do superficial.

A ausência de conteúdo não é apenas uma escolha, mas muitas vezes o resultado de uma vida que priorizou a aparência em detrimento do conhecimento, da empatia e do desenvolvimento pessoal. Não leem, não assistem a nada que as desafie, não se interessam por explorar ideias ou questionar as próprias certezas. Para elas, o tempo é consumido pelo espelho, pelas redes sociais ou pelo constante exercício de reafirmar a própria atratividade. A vida se reduz a um palco onde a performance física é o único espetáculo, e qualquer tentativa de aprofundamento é vista como desnecessária ou cansativa.

Quando o desempenho sexual na cama se torna o principal atributo, fica evidente como essas pessoas restringem suas relações à dimensão mais básica da experiência humana. O sexo, que pode ser uma expressão profunda de conexão, intimidade e troca, é transformado em um ato vazio, reduzido ao desempenho e à validação. Sem diálogo, sem troca de ideias e sem interesses comuns, o que resta é uma interação mecânica, incapaz de nutrir algo além do físico. Para quem busca relações mais ricas e completas, essa superficialidade se torna rapidamente frustrante.

No fundo, a beleza, por mais impressionante que seja, é transitória. Sem um conteúdo que a sustente, sem interesses, histórias ou valores, o brilho da aparência começa a se apagar com o tempo. E o que fica? Uma sensação de vazio, de oportunidades perdidas para crescer e construir algo significativo. Pessoas assim podem atrair no início, mas a verdadeira conexão exige muito mais do que um rosto bonito ou um corpo atraente. Exige presença, vontade de aprender, de crescer e de oferecer ao outro algo além do que é efêmero e visível.

Geração Beta



A Geração Beta, composta por aqueles nascidos a partir de 2025, será marcada pela imersão em um mundo moldado por avanços tecnológicos e desafios globais. Eles crescerão em um ambiente onde a tecnologia é onipresente, com ferramentas como inteligência artificial, realidade aumentada e internet das coisas integradas ao cotidiano. A educação dessa geração será altamente personalizada, baseada em dados e voltada para a resolução de problemas e o desenvolvimento de criatividade. Além disso, valores como sustentabilidade, inclusão e diversidade estarão no centro de suas prioridades, refletindo a pressão global para práticas mais conscientes e justas.

Esses avanços tecnológicos e médicos podem possibilitar que muitos integrantes dessa geração vivam até o século XXII. Com progressos na biotecnologia, terapias genéticas e inteligência artificial aplicada à saúde, a expectativa de vida está se expandindo significativamente. Isso transformará a forma como os Betas planejam suas vidas, carreiras e famílias, reorganizando os conceitos de juventude, maturidade e envelhecimento. No entanto, o desafio de navegar por um mundo em constante transformação exigirá resiliência diante de crises climáticas, desigualdades globais e dilemas éticos sobre o uso da tecnologia.

Os Betas serão herdeiros de problemas complexos, mas também pioneiros na busca por soluções inovadoras que redefinam os limites da humanidade. Com uma vida mais longa e um mundo em constante conexão digital, precisarão equilibrar o uso da tecnologia com a saúde mental e o bem-estar emocional. Ao mesmo tempo, sua capacidade de transformar a crise em oportunidade será crucial para moldar um futuro mais sustentável, inclusivo e dinâmico. Eles não serão apenas testemunhas do século XXII, mas protagonistas de uma era que promete reconfigurar as bases da vida humana.

A cara do bolsonarista: Um tipo em construção

O bolsonarista, enquanto figura construída discursivamente, carrega uma marca que se apresenta como um tipo social. Ele é frequentemente descrito como um homem de meia idade, branco, com o rosto marcado pelo tempo. Mas essas características não são apenas biológicas: elas se tornam símbolos de uma posição ideológica. Seu semblante carrega a agressividade de um discurso que clama por ordem, autoridade e controle (seja lá o que isso signifique em sua cabeça). Ele é o retrato de uma parcela da sociedade que sente que perdeu privilégios ou que está em luta constante para mantê-los.

Esse rosto, entretanto,  é uma expressão coletiva, uma máscara moldada por um discurso golpista, armamentista e autoritário. Ele é atravessado por narrativas que glorificam a violência como solução e demonizam a diferença como ameaça. O bolsonarista é o sujeito que se interpela pela promessa de um retorno a uma suposta “grandeza nacional”, onde hierarquias rígidas e valores conservadores (até a meia noite) seriam restaurados. Sua agressividade não é apenas um traço, mas uma performance ideológica: ele atua como defensor de um mundo que julga estar desmoronando.

Mas é importante lembrar que, como toda construção discursiva, essa figura não é imutável. Ela é sustentada por um contexto histórico, por condições sociais e por uma constante retroalimentação de discursos ideológicos. O “bolsonarista” como tipo social é uma metáfora poderosa, mas também perigosa, pois reduz a complexidade do sujeito a uma formação imaginária. Compreendê-lo em sua multiplicidade é um desafio necessário para desarmar as armadilhas do discurso que sustenta essa identidade.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Pêcheux vs. Foucault



As diferenças entre Michel Pêcheux e Michel Foucault sobre o discurso, conforme analisado no texto*, centram-se principalmente em seus pressupostos epistemológicos e no papel que atribuem à linguagem e à história:

  1. Relação com a Linguística: Pêcheux baseia sua análise do discurso em um diálogo direto com a linguística, utilizando conceitos como enunciado e formação discursiva, e reconhecendo a língua como uma base necessária para o discurso. Já Foucault se distancia da linguística tradicional, concentrando-se em como os discursos estruturam os campos de saber e poder, sem depender diretamente de categorias linguísticas específicas​.

  2. Historicidade do Discurso: Ambos concordam que o discurso é histórico, mas divergem na forma de abordar essa historicidade. Pêcheux considera que o discurso é atravessado pela ideologia e que as formações discursivas são ancoradas em condições materiais específicas. Foucault, por sua vez, vê o discurso como um espaço onde se desenrolam práticas discursivas que constituem e organizam saberes, com ênfase na normatividade e na dispersão dos enunciados​.

  3. Conceito de Enunciação: Pêcheux trabalha o conceito de enunciação como uma operação que articula língua, ideologia e história, destacando a relação entre estrutura e processo. Foucault, por outro lado, vê a enunciação como uma prática que não se restringe às fronteiras da língua, mas que é fundamentalmente histórica e heterogênea, problematizando o sujeito e suas condições de possibilidade no campo discursivo​.

Assim, enquanto Pêcheux enfatiza a materialidade da língua e sua relação com as formações discursivas ideológicas, Foucault se concentra na materialidade do discurso como prática histórica e normativa, explorando a constituição dos sujeitos e dos campos de saber. Essas diferenças refletem abordagens complementares e, por vezes, tensas no estudo do discurso.

*Hugo Dumoulin. Les théorisations du discours de Michel Pêcheux et Michel Foucault à la lumière du concept d’énonciation. Philosophie. Université de Nanterre - Paris X, 2022.

Do avesso


 

Para 2025



Chega um novo ano, e com ele, o desejo de ajustar os ponteiros internos. Para 2025, minha maior meta é simples, mas profunda: viver um dia de cada vez. Sem ficar preso ao passado, que já não posso mudar, e sem alimentar a ansiedade sobre um futuro que ainda não chegou. Quero estar presente, aproveitar o tempo que tenho, porque é no aqui e agora que a vida realmente acontece. Parece óbvio, mas não é fácil – exige atenção, escolhas conscientes e, sobretudo, paciência comigo mesmo.

Também quero cuidar mais do corpo e da mente. Comer de forma mais saudável, retomar os exercícios e me lembrar de que meu bem-estar não é algo que posso adiar. No trabalho, minha meta é buscar o equilíbrio: nem me sobrecarregar, nem me acomodar. Fazer o necessário com dedicação, mas sem perder de vista que a vida não pode ser resumida a metas de produtividade. Quero ser mais contido com o dinheiro, planejar melhor e evitar gastos desnecessários, mas sem transformar isso em um peso.

Por fim, 2025 será o ano de me abrir mais para o mundo. Aceitar convites, sair mais de casa, ouvir mais e falar menos – porque ouvir é um ato de generosidade e aprendizado. Quero ser menos irritado com a burocracia da vida, afinal, nem tudo precisa ser perfeito para funcionar. E, acima de tudo, quero seguir em frente com leveza, encarando as imperfeições como parte do caminho. Não são metas grandiosas, mas são as que, para mim, fazem sentido agora. Que venha 2025, um dia de cada vez!

Um vazio desconcertante

Há pessoas cuja única moeda de troca na vida parece ser a beleza (ou alguma beleza). Elas entram em qualquer ambiente e chamam atenção pelo ...