segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre o tempo (texto)

Segunda-feira, quase véspera de viajar. Tenho sonhado nesses últimos dias com sombra e água fresca, mas o trabalho tem me assombrado diariamente, me atormentando em forma de sustos, irrompendo como um balde de água fria nas costas. Sombra versus assombro e água fresca versus água fria.
Em contagem regressiva, mas os emails cobrando revisão, notas, conceitos, bibliografias, não cessam. 
Não há quem cale o vizinho que insiste na música alta. 
E todas as lojas me lembrando que é natal, todas as vitrines reforçando que Papai Noel está chegando. 
No entanto, o calendário emperrado na mesma data, na mesma hora. Sempre véspera da véspera da véspera de natal. Olho, ameaço riscar mais um dia, a caneta falha, a ponta quebra. Calendário insensível.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Barcelona ou Santos? (texto)

A imprensa constroi rivalidades mesmo quando elas sequer podem existir: cria expectivas, embates, rixas, competições, disputas sem  qualquer fundamento e nos coloca, quase sempre, como coadjuvantes nessas improváveis querelas.
Foi o que aconteceu, na minha opinião, entre o futebol do Barcelona e do Santos. Fiquei com algumas pulgas atrás da orelha quando li uma declaração do Guardiola, técnico daquele time, sobre nunca ter ouvido falar no Santos (para além dos anos de Pelé), até pouco tempo antes de saber que poderiam jogar contra ele.
E a imprensa aqui cheia de expectativas sobre quem teria o melhor futebol: Messi ou Neymar.
Depois da vitória do time espanhol, Josep disse, em entrevista coletiva, que viu cinco ou seis partidos do Santos, e "sabíamos que era preciso estar preparado quando Neymar tivesse a bola". Disse ainda que "o que tentamos fazer é tocar a bola o mais rápido possível. Na verdade, é o que o Brasil sempre fez, segundo me contavam meus pais e meus avôs".
Pareceu-me mais gentileza do que qualquer outra coisa.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Final de ano sempre é um bom tempo para reformas. Todos sabemos disso. Há, no ar, uma esperança de fim e recomeço que, mesmo o mais descrente, não consegue se esquivar dessa sensação. Pois bem.
Hoje, uma amiga me perguntou quais eram os planos para o próximo ano. Não me lembrei de imediato de nenhuma promessa daquelas que fazemos para o início do ano novo. Não quero emagrecer, nem engordar, não quero cabelos lisos, não quero cabelos. Não quero um novo amor. Nem ganhar na mega-sena (olha, acho que isso eu quero sim!)
Parei por uns segundos pensando no que poderia mudar. Acho que o fim de ano tá tão cheio de coisas ainda para fazer que não tive tempo para pensar nisso.
Há dois anos, me prometi retornar aos exercícios. Voltei. Final deste ano, um desânimo tomou conta de mim e faz dois meses que não passo sequer para uma caminhada no esteira.
Ano novo, vida velha, eu sei, mas nem por isso poderia deixar de pensar no que seria bacana mudar.
Vou começar por um maior distanciamento com os problemas do trabalho. Esta promessa me fiz este ano (bem no finzinho dele), mas não tive muita opotunidade de colocar em prática. Espero, sinceramente, colocá-la no início do próximo ano letivo. Nada de confrontos. Chega. Cada um que cuide da sua vida. E se o circo pegar fogo, problema de quem incendiou.
Minha vida é muito importante para eu me preocupar com os problemas que não me dizem respeito. Aprendi, este ano, que se fulano não quer trabalhar e quem deve cuidar disso, não vê, eu não tenho nada com isso. A canoa já estava furada quando eu embarquei.
Este é o meu desejo para o próximo ano: salve-se quem puder.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O grande circo: uma fábula às avessas (texto)

O circo sempre funcionou da mesma maneira: os trapezistas solidários (cada um ajudando o outro): mãos dadas para ninguém se ferir, cair, se machucar; os palhaços sempre prontos para produzir algumas gargalhadas (geralmente rir da própria desgraça); os malabaristas sobre a corda bamba; as feras? adestradas; o apresentador apenas com um chicote nas mãos, mais para produzir efeito de sentido do que para produzir sentido (tudo de brincadeirinha. Fingimos que acreditamos no jogo de cena).
E circo velho é um fiasco: a lona furada, a arquibancada sem conforto, até a pipoca sem sal ou dormida. E quando as feras são homens travestidos? Uma fábula às avessas
O carro de som atrevessa a cidade, chama o público: promete grande espetáculo: mágicos, elefantes, tigres, globo da morte, jogos de luzes, mas oferece apenas o feijão com arroz. E a plateia aplaude.
Ficamos (ficamos quem, cara-pálida?) na expectativa de grandes mudanças, mas não se pode mudar ... mudanças significam tirar pessoas do lugar, inverter a ordem, correr o risco do novo. Mas pra quê o novo se o velho tá tão bom?
Nos comportamos (eu me recusava) como crianças diante do tombo do palhaço. Sabemos dele para qualquer momento e mesmo assim nos divertimos. Torcemos, lá do fundo da nossa alma, para o trapezista cair (sabemos que tem uma rede de  proteção). Ficamos na expectativa de uma fera avançar no seu domador (que horror!). E se as motos dentro do globo perdem a direção? Não!! Não!!
Como é engraçado ver o circo pegar fogo!
Cansei se ser artista. Quero me aposentar. Minhas piadas não têm mais graça, são todas, como o circo, velhas. Só os amigos acham graça para não enfraquecer a amizade.
Mas o velho palhaço sabe de si. Sabe que chegou a hora de se recolher. E, sábio, reconhece quando o espetáculo termina.
Admiro o palhaço mais do que qualquer outro personagem. Mesmo na adversidade, diante da dureza da vida, é preciso armar o circo. Fazer rir. Cada um merece o circo que tem...
Senhoras e senhores, obrigado pela presença. Amanhã tem mais. Se gostaram do espetáculo, avisem para os amigos, se não gostaram, mandem vir os inimigos. O show deve continuar: e o palhaço o que é?

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

No limite (texto)

Dezembro não termina nunca mais, pelo o que eu tenho acompanhado. Tenho trabalhado exaustivamente todos esses dias e ainda estamos no dia 14. Na verdade, não quero assim que o ano acabe, quero, diga-se, que o dia 23 chegue logo. Aí estarei em recesso e, em seguida, em férias.
Tenho sonhado faz um mês, pelo menos, com o dia 23 de dezembro. Tô no meu limite de saúde mental e física.
As noites têm sido curtas. Os dias longos. Acordo cansado e se tropeço no tapete, por exemplo, solto uns palavrões, chuto cadeira, empurro objetos. Não aguento mais ver uma cara conhecida. Nem ouvir a voz de um companheiro de colegiado. Preciso, antes que um infarto fulminante me cale para sempre, de sombra e água fresca (não necessariamente nesta ordem).

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...