sábado, 31 de março de 2012

Homenagem ao Golpe de 64?! (texto)

Segundo o G1, militares da reserva promoveram, na manhã deste sábado, dia 31 de março, uma nova homenagem ao Golpe Militar de 1964, que completa 48 anos. 
Veteranos da Brigada Paraquedista saltaram de um avião, cada um deles carregando uma bandeira do Brasil, e pousaram na Praia da Reserva, no Recreio, diante de um quiosque frequentado por militares paraquedistas.
Dez coronéis da reserva estavam entre 50 veteranos que participaram do encontro. Entre eles, o deputado Jair Bolsonaro, que contratou um avião para circular pelas orlas da Barra e da Zona Sul com uma faixa que trazia a mensagem "Parabéns, Brasil, 31 de março 64".
— Esta é uma comemoração em memória do período que viveu o nosso país, que foi conturbado, mas permitiu o progresso e a transição para o estado democrático — diz André Chrispin, que, até novembro, ocupou o cargo de chefe do Estado Maior da Brigada de Infantaria Paraquedista e chegou a participar das operações no Complexo do Alemão. O oficial acaba de entrar para a reserva.
— Estamos aqui para comemorar, sim. Democracia é liberdade de manifestação — defende.
Ops, "comemorar um período conturbado que permitiu o progresso e a transição para o estado democrático". Como assim, a ditadura militar permitiu a transição para o estado democrático? O golpe impediu a democracia em todos os sentidos, ou melhor, em todos os sentidos que não fossem da vontade dos golpistas.
Um período que deveria ser motivo de vergonha. Inclusive, acho que deveríamos apurar e responsabilizar os excessos cometidos pelos militares durante os anos de tortura, assassinatos, covardias. Como é que alguém pode falar em preparo para a democracia durante um período sangrento e nebuloso da nossa história recente?
Alguém se surpreende com a presença de Jair Bolsonaro, um dos pais desse período,  nessa comemoração? Deveriam, sim, apurar a participação do deputado no evento, nesse mato aí tem coelho. Comemorar o Golpe de 64 é democracia para os envolvidos no episódio.
será que Bolsonaro merece mais uma melancia? Merece sim!

Personalidade felina (texto)

Já tive cachorros, calopsitas e agora tenho um filhote de gato em casa. Filhotes de cachorros são bastante inteligentes, pelo menos os vira-latas e os labradores (são as minhas experiências com cães). Aprendem depressa o que podem ou não fazer, aonde podem ou não entrar, aonde tem comida, aonde devem fazer cocô e xixi e tantas outras coisas, em pouco tempo. 
Meu ex-labrador, Spike, aprendeu em uma semana que para o cocô e o xixi tinha hora e local determinados. Aprendeu tb que essa hora e local dependiam tb de certa precisão da minha parte. Ou seja, se eu falhasse, ele fazia em qualquer lugar.
As calopsitas não são inteligentes!! Pelo menos o Ferdinand não era. Ele não aprendeu nada enquanto ficou comigo. Na verdade, aprendeu a assobiar um começo de música, nada além disso.
Os gatos são espertíssimos. Tb aprendem logo esses detalhes importantes e fundamentais das necessidades fisiológicas. Meu gato, Duscha, aprendeu a usar a caixinha higiênica no primeiro dia aqui em casa. Pra mim, isso foi incrível.
Mas os gatos vão além dos cães. Os gatos vão muito além dos cães quando o assunto é inteligência, percepção, destreza, engenho e atitude. Duscha está a menos de um mês aqui em casa, acho que mais ou menos 15 dias, ou alguma coisa em torno disso, e não tem um único lugar na casa sem que ele tenha deixado de estar. Ele vê tudo, não deixa um único ruído passar desapercebido. E, não sei se qualidade ou defeito, não sossega um momento sequer. 
Se ele está sumido, posso contar que ou está mordendo alguma coisa, ou brincando, subindo ou descendo, se enfiando em algum lugar. Nunca dormindo, apenas.
Dormir é outra novela. Um capítulo a parte do dia do gato. E não vou escrever sobre isso. Mas, talvez, em outra oportunidade. 
Os gatos, o meu, pelo menos, já entendeu, em pouco tempo de convivência, o "NÃO", ainda que ele insista 1000 vezes pelo sim. Inclusive, está agora nessa insistência. E não se pode titubear, caso contrário, esqueça. 
São esperto nisso tb: acho que sabem que a insistência é produtiva.

Pelo casamento civil igualitário (vídeo)


Pelo casamento civil igualitário (vídeo)


quinta-feira, 29 de março de 2012

Ademilde Fonseca (4 de março de 1921 - 27 de março de 2012)

Conheci a Rainha do Chorinho através da minha mãe. Não conheci, conhecendo assim de falar, ver, conversar, mas de ouvir as músicas em casa.
Minha mãe cantava, principalmente, os chorinhos Brasileirinho e Galo Garnizé para fazer graça. Quem não sabe, esses Chorinhos se cantam de forma bem acelerada. E, é claro, enquanto se acelara mais a cantoria mais difícil é para conseguir cantar a letra da música sem se atrapalhar. Ademilde Fonseca fazia isso como ninguém: ela tinha como marca registrada a destreza com que cantava versos enormes em velocidade inacreditável.
Não há como não transferir para a cantora o carinho que minha mãe tinha por ela. Eu acompanhei a sua carreira de alguma forma, meio de longe porque não tenho nenhum disco (vinil) ou CD gravado por ela.
Aos 91 anos ela ainda fazia shows pelo Brasil. Em tempos de celebridades relâmpagos, famas de 15 minutos, Ademilde Fonseca se manteve firme e forte na música e nos palcos por mais de 70 anos. Mais do que a expectativa de vida da maior parte dos brasileiros.
Deixa saudades.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr (16, agosto de 1923 - 28 de março de 2012)


Millôr Fernandes me fez, não tenho dúvidas, gostar mais da língua portuguesa, gostar mais de ler, gostar muito de escrever (assim como Luis Fernando Veríssimo, Carlos Drummond, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Sérgio Porto, Moacir Scliar, Nelson Rodrigues, Mário Prata etc.).
Ele me fez muito mais feliz em certos momentos. Como ri com suas tiradas, com seu humor, com a sua ironia, com sua capacidade de síntese, com seus pensamentos impensados, com, sobretudo, a desconstrução do pensamento linear.
Millôr, que era pra ser Milton, já chegou por aqui subvertendo ordens. Só descobriu na adolescência o erro ortográfico, a caligrafia duvidosa que o (des)subjetivaria para o resto da vida.
Mas nada disso importaria se a sua escrita não me contaminasse completamente, se as suas charges não me tornassem um pouco mais curioso, se as suas ideias não tivessem me feito pensar mais de uma vez a respeito do que ali se punha.
Se Milton ou Millôr, nada disso seria fundamental se certa vez eu não tivesse me defrontado com Hierarquia, com Poesia Matemática, com tantos outros textos (que, naturalmente, não caberiam aqui) sobre política, políticos, costumes.
O tanto que eu me surpreendia com sua escrita e desenho na revista Veja. Eu, ainda adolescente, muito pouco ou quase nada compreendia de toda aquela confusão ortográfica, mas inquieto, curioso e fascinado diante do que eu via.
Não estou aqui escrevendo sobre subserviência intelectual. Nunca!! Mas de poder pensar outra vez a respeito do que ele pensava, sem nunca deixar de respeitar o que ali eu via.
Uma pena não mais saber de um texto inédito no jornal de domingo, na revista semanal ... pensando bem ... seus textos sempre serão atuais porque Político profissional jamais tem medo do escuro. Tem medo é da claridade.

Poesia Matemática (Millôr Fernandes)

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...