segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Cigarra e a formiga (Textol)



Era uma vez, uma formiguinha e uma cigarra muito amigas. Durante todo o outono, a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o período de inverno.
Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem o bate-papo com os amigos ao final do trabalho tomando uma cervejinha gelada. Seu nome era "Trabalho", e seu sobrenome era "Sempre".
Enquanto isso, a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos e nos bares da cidade; não desperdiçou nem um minuto sequer. Cantou durante todo o outono, dançou, aproveitou o sol, curtiu prá valer sem se preocupar com o inverno que estava por vir. Então, passados alguns dias, começou a esfriar. Era o inverno que estava começando.
A formiguinha, exausta de tanto trabalhar, entrou para a sua singela e aconchegante toca, repleta de comida. Mas alguém chamava por seu nome, do lado de fora da toca. Quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o que viu. Sua amiga cigarra estava dentro de uma Ferrari amarela com um aconchegante casaco de vison. E a cigarra disse para a formiguinha:
- Olá, amiga, vou passar o inverno em Paris.
- Será que você poderia cuidar da minha toca?
- E a formiguinha respondeu:
- Claro, sem problemas!
- Mas o que lhe aconteceu?
- Como você conseguiu dinheiro para ir a Paris e comprar esta Ferrari?
E a cigarra respondeu:
Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um produtor gostou da minha voz. Fechei um contrato de seis meses para fazer show na Cidade Luz...
A propósito, a amiga deseja alguma coisa de lá?
Desejo sim, respondeu a formiguinha.
Se você encontrar por lá um tal de La Fontaine, manda ele ir para a
'Puta Que O Pariu!!!'

domingo, 4 de abril de 2010

As minhas implicâncias (texto)

Sou implicante mesmo. Implico com as celebridades que são produzidas aos montes e sobrevivem, quiçá, a uma temporada. Implico tb com os agroboys que passam a toda velocidade na rua, na cidade onde eu moro ouvindo música sertaneja no último volume (nada contra a música, mas ao volume), com gente que acaba de comer e enfia palito de dente na boca ou fica chupando os dentes. Implico tb com gente que joga lixo no chão, gente que não diz "bom dia", gente que não sabe a diferença entre público e privado, gente que vai ao cinema para conversar. Gente que não respeita fila. Gente que acha normal chegar atrasado etc etc etc etc e tal.
Como se pode perceber estou a cada dia mais implicante. Agora, não tenho suportado aquela mãozinha em forma de coração que se faz quando se é fotografado. Meu deus, o que é isso? Que coisinha mais brega! O que será que passa pela cabeça de alguém que  diante do fotógrafo faz esse gesto?

sábado, 3 de abril de 2010

Um passado (texto)

O passado não existe, quero dizer, não empiricamente. Ele é reiventando à medida que se esbarra nele, é reconstruído pelas histórias que se contam, mas de fato ele não está em lugar algum. Ando, faz alguns meses, querendo reencontrar um passado, às vezes distante demais, às vezes logo ali, mas não consigo, porque é um jogo que se inicia já perdido.
Nenhuma história fica congelada. O tempo é dinâmico e toca os atores de maneira distinta. Não escrevo aqui me baseando em nada, apenas sinto. Não tenho nenhuma pretensão em teorizar a memória, o passado, a história pessoal, mas, como vivo, tenho sensações que me permitem escrever.
Não é um desinteresse pelo presente ou uma resistência ao futuro. Mesmo. Até porque o tempo que será, já foi, se já foi é passado, se é não é mais e assim por diante.
Eu não quero repeti-lo (refiro-me ao passado), não quero acordá-lo, não o quero de volta. Mas me sinto, certas vezes, sem história. Parece que falta referência. Há um grande vazio que queria poder explicar, e não consigo, não posso.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Feriado (texto)

Estamos em recesso desde quinta-feira. Muito bom não precisar ir à universidade. Não tem nada a ver com não trabalhar, hoje mesmo tenho coisas do trabalho para fazer. Ontem, não fiz absolutamente nada. Aproveitei o dia para dar uma volta no centro porque nunca dá tempo já que estamos trabalhando o dia inteiro e aos sábados o movimento é outro.
A semana foi boa: conversa com antigos amigos, papo com o Paolo, ligação rápida para Nanci (que preparava a páscoa para os meninos). Não sei bem o que vou fazer já que os amigos viajaram. Não quis viajar e por isso vou ter que inventar algum programa. A vida no interior não é muito fácil quando o assunto é inventar coisas para fazer. Acostuma-se.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Piada: dia internacional do homem (texto)

Não faz sentindo algum um dia Internacional do Homem, dias comemorativos remetem quase sempre a lutas por espaço, a reconhecimento, a direitos civis, a direitos políticos etc. Numa sociedade machista como a nossa um dia para se comemorar o dia do homem seria tão importante quando um dia Internacional do Tênis número 43. Bobagem pura. Sentido nenhum. O homem não precisa de um dia para lutar contra a repressão, humilhação, diferença no tratamento. 
Só poderíamos mesmo comemorar isso num dia Internacional da Mentira!

O serviço público (texto)

E como tudo tem sempre um outro lado, há tb no Serviço Público (SP), e todos sabemos disso, ilhas de excelências em prestação de serviço em todos os níveis, diga-se de passagem. Mesmo porque  se consegue driblar a estrutura, quase sempre precária, e oferecer um atendimento de primeira. Tenho vários exemplos de SP que funciona: a Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, é um bom exemplo para se pensar nesse SP que produz com qualidade. Lá existe a cultura da equipe, ou seja,  na senhora da limpeza  que compreende como essa cultura deve funcionar até o pesquisador empenhado na novas descobertas.
Quando se trabalha por uma causa: educação, saúde pública, talvez o SP, finalmente, tenha encontrado a sua função e nessas áreas, sobretudo, ele (ainda que precariamente estruturado) produz. Concentra-se nas universidades públicas a maioria das pesquisas  brasileiras, nestas tb há o ensino de qualidade (não se buscar entrar numa instituição pública apenas porque não se paga) porque se investe na formação do professor e isso se reflete em sala de aula: a pesquisa a serviço do ensino.
Além disso, o foco do SP é sempre o coletivo, não devendo funcionar por conta de interesses individuas.

quarta-feira, 31 de março de 2010

O (de)serviço público (texto)

O setor público é cheio de vícios: desde o telefone que toca e ninguém atende, passando pelo paletó pendurado numa cadeira vazia  até aquele que discursa pelo trabalho (mas tudo não passa de encenação). 
O pior de todos os vícios está entranhado numa grande parte dos funcionários que é o protecionismo, ou seja, tenta-se a todo custo varre para baixo do tapete tudo aquilo que está errado (o velho jeitinho que todo mundo diz, em tese, abominar), às vezes porque há um rabo preso, noutras porque não se quer aborrecimento com aquilo que nunca dá em nada.
Não sei o que é pior, se é aquele que enxerga e não vê ou se aquele que vê mas não quer enxergar. Sei apenas que dar murro em ponta de faca ou tentar entender como o serviço público (não) funciona é mais ou menos a mesma sensação: uma tristeza grande descobrir que vc foi vencido pelo casaço, que tanto desgaste apenas desbota as relações pessoais e, que no final, tudo estará igualzinho sem um avanço sequer, porque não existe a vontade de mudar, porque já se apreendeu viver daquele e naquele jeito, porque qualquer mudança requer esforço. E tudo isso cansa muito.

"Nossas vidas começam a morrer no dia em que calamos coisas que são verdadeiramente importantes". (texto)

O título deste post é uma frase de Martin Luther King, ele lutou pelos direitos dos negros nos E.U.A. Essa luta pelos direitos dos negros norte-americanos extrapolou as fronteiras do país. O ativista é reconhecido e citado quase sempre quando as lutas por direitos estão na pauta do dia.
Essa frase foi citada por Ricky Martin, 38 anos, porto-riquenho, esta semana quando em seu blog assumiu a sua homossexualidade: "Tenho orgulho de dizer que sou um felizardo homem homossexual. Sou muito abençoado em ser o que sou", escreveu ele.
Li alguns comentários em blogs sobre o fato do cantor "sair do armário", alguns deles diziam respeito à questão de que a sexualidade do cantor não era um segredo (ou seja, já era de conhecimento público que  o ex-menudo era gay), outros diziam que não era relevante, em 2010, ainda haver preocupação com a sexualidade de alguém, alguns ainda diziam que assumir-se publicamente era perigoso já que existe muito preconceito em torno da homossexualidade.
O que mais achei interessante, nisso tudo, é que, como falamos de um lugar bastante específico, ou seja, falamos aquilo que nos cabe e não aquilo que queremos dizer, existem muitas versões disputando espaço sobre a homossexualidade: resistência, preconceito, perigo, banalização, sexualidade, entre outros, e isso tb significa dizer que, ainda que haja muita resistência (no sentido negativo) sobre o tema, há tb uma forma de encará-la com mais tranquilidade.
Como tudo o que é "novo" briga por espaço, não seria diferente em relação à homossexualidade, sobretudo em relação à sexualidade (todas elas) que é um tema silenciado ainda hoje.

terça-feira, 30 de março de 2010

Velhos amigos (texto)

Não faz muito tempo, postei um pequeno texto sobre as cartas, que encontrei na casa dos meus pais, dos velhos amigos, aqueles lá da adolescência (para ser mais preciso, o post foi do dia 27 de dezembro de 2009).
Enquando eu escrevia aquele texto nem imaginava que eu pudesse reencontrar um daqueles amigos. O encontro foi virtual, mas valeu à pena poder saber como uma grande amiga estava. 
Perguntei, sem muita pretensão, para uma amiga sobre uma amiga que tínhamos em comum. Mas a chance delas ainda estarem em contato era tão improvável quanto o contato que eu poderia ter com ela (a segunda amiga). Mas o improvável às vezes nos surpreende. E não é que elas ainda eram amigas próximas! Daí para nos encontrarmos, um pequeno passo. Já trocamos alguns e-mails (na verdade, recados no orkut) e tem sido muito bacana saber o quanto pensamos um no outro durante todos esses anos (mais ou menos uns 20 anos sem nos ver).
Acabei de pedir permissão para postar uma foto dela aqui. Agora é aguardar e ver o que ela me diz. 
Ando saudosista, é verdade, desde que a minha mãe começou a ficar mais doente. Talvez seja uma vontade inconsciente de voltar no tempo e poder fazer o que não fiz.


segunda-feira, 29 de março de 2010

Armando Nogueira

"Pelé é tão perfeito que se não tivesse nascido gente, teria nascido bola” Armando Nogueira 1927-2010.

D. Neusa (texto)

Ontem trabalhei até às 22h. Isso mesmo! Domingo trabalhei o dia inteiro. E quando escrevo o dia inteiro quero dizer das 6h30 até às 22hs. Foi bastante cansativo. Hoje, viajamos 7hs para chegar em casa. Cheguei e ainda estou aqui, diante do computador lendo uma monografia para conversar com um aluno amanhã (é claro que não leio ao mesmo tempo que escrevo no blog). Mas antes disso, já coloquei a roupa para lavar e fui ao mercado, além é claro, de colocar ordem na casa, porque na desordem não consigo ler, não consigo escrever, não consigo pensar, já que o meu pensamento para na desorganização. TOC total.
Mas como tudo tem sempre o outro lado, mesmo um dia cansativo como o de ontem, tive horas agradáveis: principalmente no início da noite (próximo das 20hs) quando, num intervao entre os recursos que chegavam, paramos para conversar um pouco. D. Neusa é um professora aposentada e coordenadora da comissão do concurso que organizamos. Uma senhora bonita, não me atrevo a adivinha a sua idade, mesmo. Sei apenas que ela deu aulas durante 51 anos e se formou mais ou menos aos 20, não sei quanto tempo está aposentanda.
Ouvi histórias interessantíssimas de Getúlio Vargas à ditadura militar, passamos por Darcy Ribeiro (aí me lembrei muito da minha mãe que era fã do antropólogo), pelas histórias de Sto. Antônio da Platina, sobre os seus filhos, enfim, sobre a sua forma de ver o mundo. Sempre tão lúcida e atual. Fiquei ali ouvindo e pensando no quanto se acumula com o tempo. No quanto as pessoas podem se tornar interessantes com a idade.
Envelhecer com sabedoria: a melhor receita, a mais complicada.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...