quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Lua, estrela (texto)

Hoje acordei pensando nas crianças de Macau,  Hong Kong e, quiçá, toda China, que não conhem lua, estrelas, sol... Como o céu sempre é tomado por uma camada espessa de poluição, nunca se veem os astros, os satélites, os corpos celestes.
É claro, acho, que em alguma parte do país o céu não deve ser todo tomado por esse cinza_constante. Mas a impressão que tenho é a de que só através da TV, fotografias, filmes, histórias se saiba que existem esses corpos no céu.
Canção do exílio não faria qualquer sentido por aqui porque ter mais estrelas não quer dizer absolutamente nada. Lua e estrela, de Caetano seria outra perda de tempo, já que pra fazer sentido, as palavras têm que já fazê-los.
Por outro lado, descobri o porque de toda a cidade está enfeitada com flores, bichos, lanternas: é a festa da lua. Pelo calendário lunar, na China assinala-se no mês de agosto o meio do outono. A lua cheia une as famílias e os amigos que se juntam à noite para comer bolos e olhar o céu. Dizem eles - é uma festa de união, um dos festivais tradicionais chineses que remonta à Dinastia Tang (唐朝).
É claro que não se vê lua alguma, mas pelo visto ninguém aqui é devoto de São Tomé.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Macau é uma estufa (texto)

Hoje, depois das palestras de abertura do Simpósio (III - Simelp) fomos (Vanise, Amanda* e eu)  conhecer Macau, antes que alguém estranhe, não estou propriamnte em Macau, mas em Taipa, uma espécie de distrito de Macau. Separados por uma ponte enorme. De carro não levamos mais do que 15min para atravessá-la.
Foi impactante chegar e ver o Rio nas ruas de Macau: ver Santa Teresa, Gamboa, enfim, me sentir em casa, não fosse os olhos puxados e a língua estranha dos nativos (estranho no sentido de não ser o português).
A cidade é uma mistura daquele Brasil com a China, naturalmente. O Brasil, nas construções (de uma forma geral) e a China na religião, nos cheiros, na comida (claro que a culinária portuguesa está bastante presente), nos enfeites e, é claro, no comércio. Vende-se de tudo. Tem de tudo um pouco e um pouco mais.
Não comprei nada, minha grana é curta. Mal pude estar por aqui.Pra ser sincero não tive muita vontade de comprar, fico comparando os preços e concluo que o que vale à pena eu já tenho, pra que mais um?
Tirei cinco mil fotografias, de tudo. Depois de fotografar as construções, resolvi eternizar a moda macauense. Os adolescente se vestem de forma bem colorida. Cabelos modernos, de cores diversas. É estranho, a primeira vista, ver um chinês loiro, depois fica normal, porque é bastante comum ver esse estilo por aqui, e pelo visto por toda a China.
O que mais tem me incomodado é o calor. É quente demais. Abafado. Em todos os lugares tem condicionar de ar, mas é sair dos carros, casas, universidade e encarar um calor infernal. Achoi até que me senti um pouco mal hoje por conta da temperatura. Se chove não refresca. À noite, não refresca. O dia inteiro estamos sob a mira de algum ar condicionado.
*Amanda está hospedada em Macau.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Hong Kong in e out (texto)

Hoje, descobrimos 2 Hong Kong bem diferentes (é possível que existam tantas outras versões, numa proporção infinita, filtrada por cada um que esteja na cidade): uma completamemte desinteressante, cheia de prédios altíssimos, com um céu totalmente tomado por uma nuvem de poluição, repleta de turistas e virada num shopping center. Odiamos essa versão futurista. Hi-tec.
A outra, uma versão tb moderna, mas uma modernidade menos templo do consumo desmedido. Aquela, uma versão de flores de plástico em vasos gigantescos, com escadas rolantes que nos levavam para lugar algum, golfinhos coloridos enfeitando as paisagens e tantas quinquilharias que me lembravam Ciudad del Este.
Esta, rodeada por construções antigas numa versão agradável aos olhos, bares, restaurantes pequenos, um clima descontraído de fim de tarde depois do trabalho. Ficamos encantados com esta outra versão, ainda que no mesmo calor infernal, com o mesmo cinza ocupando o céu. Sentamos para uma cerveja e batemos um longo papo. Rimos, tiramos fotografias.
Não levamos fé quando no Guia encontramos a informação sobre o Escalator (achamos que pudesse ser alguma criação das Organizações Tabajaras): uma ladeira que se sobe por escadas rolantes. Essas escadas nos levaram a diversas ruas repletas do que fazer: lojas de artes, livrarias, cdteca, confecções de jovens estilistas etc.
Além disso, descobrimos no Centro Velho, uma infinidade de lojas vendendo especiarias exóticas (chifre, rabo, pata, pênis de veado, morcego, cavalo marinho desidratados, lagartas de diversos tipos, cogumelos de todas as cores e tamanhos, peixes vivos, carangueijos, ostras e tantas outras coisas que só na conchinChina se encontram).
Outro dia, quando eu postar as fotos, vocês poderão ver e comprovar se eram ou não estranhas aos nossos ocidentais olhos.

domingo, 28 de agosto de 2011

Se não a maior, muito perto disso (texto)

Não sei se a maior aventura da minha vida, mas com certeza uma das. Cheguei em Hong Kong e para pegar a minha mala precisei passar pela imigração. Eu não devia fazer isso, mas achei que com a mala nas mãos reencontraria o caminho que eu devia ter seguido.
Não foi o que aconteceu. Não me deixaram retornar e tive que me vira com um inglês que deixaria qualquer chinês envergonhado.
Procurei o setor de informação e disse que precisava pegar a barca para Macau.
Fiquei, mais ou menos, meia hora de um lado para o outro sem saber ao certo o que fazer.
Uma luz: trocar euro pela moeda local para comer, hotel, se fosse preciso, táxi para chegar em algum lugar.
O combinado era não passar pela imigração porque não era necessário já que meu destino era Macau. Além disso, duas amigas me aguardavam para que eu não me perdesse. Não tinha retorno. Eu teria que me virar sozinho.
Meu telefone não tem sinal, não há internet disponível e um desespero, que é sempre ruim, me tomando o racional.
Tentei um pouco mais e encontrei uma rede livre. Me conectei e eis que recebo um e-mail de um amigo que já sabia do meu drama. Além disso, consigo via Viber falar com uma de minhas amigas.
Fico mais tranquilo, mas de qualquer forma eu precisava sair de Hong Kong e chegar em Macau.
Com as anotações em mandarin da moça que trabalha no aeroporto no setor de informação, me dirijo para o táxi. O rapaz que me conduz não me entende, a senhora que me coloca dentro do táxi conversa qualquer coisa com o motorista e estamos a caminho de algum lugar. O desespero é tanto que não percebo a cidade, apenas os 30min que me pareceram uma eternidade.
Começo a ficar desconfiado de que alguma coisa está errada. Tento uma conversa com o motorista, mas compreendo muito pouco do que ele me diz.
Finalmente, ele me fala em chinglês que está me levando para o único lugar de onde se sai para Macau. Frisa muito o "único" lugar.
Fui ficando mais tranquilo, ficando, veja bem...
Minha neura era tão somente saber se o dinheiro trocado daria para o as despesas que viriam: táxi, barca, táxi.
Embarquei, depois do que me pareceu uma eternidade, para Macau, passei outra vez pela imigração e NA-DA de falante de português.
Fui outra vez à informação e mostrei o endereço do meu amigo, uma menina reescreveu "aquilo" num papel, me levou até um táxi e o motorista me troxe pra cá.
Claro que não tinha ninguém em casa, estavam loucos atrás de mim. Uma hora depois eles apareceram e me senti, nesse instante, salvo.

sábado, 27 de agosto de 2011

Sentido Hong Kong (texto)

Estou a caminho de Hong Kong, perdido, sozinho num aeroporto em Londres. Meu inglês não dá sequer para pedir licença, dizer que a cidade é linda ou que ao chegar em Hong Kong vou para Macau. Mas aquele velho ditado "quem tem boca vai a Roma" deslizou para "quem tem um amigo vai à China". Esse tá valendo.
No momento estou sozinho, fiz o check in e aguardo o voo. Não faço ideia sobre o que me espera quase do outro lado do mundo, mas vou. Quer dizer, imagino sim, duas amigas. E por falar em amigos, acabo de encontra uma que tb vai para o mesmo congresso. Mundo pequeno. Mundo pequeniníssimo, acabo de encontrar mais uma.
Este post não tem foto (coloco assim que estiver numa internet que eu não precise digitar com apenas um dedo), ele apenas aponda uma direção.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Meu coração e meus olhos (texto)

Depois de uma viagem de 12h na classe econômica, finalmente, cheguei em Londres. Completamente podre, com as pernas arrebentando as meias de alta compressão e a cabeça doendo. Depois de uma hora para sair do avião, vamos em direção à imigração.
Não entendo todas as palavras que a mim são dirigidas pelo simpático senhor que examina o meu passaporte. Ele torna a me perguntar e somando as palavras que eu conheço, percebo que ele quer saber por quanto tempo ficarei por aqui. Não sei o que responder, mas saco da minha pasta um texto pronto que lhe informa tudo sobre a minha viagem: um dia em Londres, mas a caminho da China.
Ele me pede agora para ver o bilhete, as reservas...mostro tudo e pronto, recebo o visto por seis meses.
Antes de eu ir embora ele percebe que saí de Foz do Iguaçu e me pergunta se fica no Amazonas. Além de ri, tento explicar que Foz e Amazonas de comum apenas o mesmo gentílico: todos brasileiros, mas separados por quilômetros, muitos quilômetros de rios, mares, florestas, cataratas de distância. Ele finge que me entende, agradeço e descubro Londres.
A cidade é linda demais, mesmo sob a chuva intensa e um trânsito que faz São Paulo parecer Cascavel. Os prédios são baixos, as ruas floridas e estreitas, muitos ciclistas e vezinquando uma paisagem conhecida se descortina diante dos meus olhos. Fiquei em silêncio observando tudo, nem ouvia o que as amigas me perguntavam, apenas olhava a cidade, as pessoas.
Depois de duas horas, chego na casa dos meus amigos que me hospedam. Uma breve comunicação e quero sair para comer porque a última refeição honesta que fiz foi na quarta-feira à noite. Continuo cansado, mas depois de um banho quente e alimentado consigo escrever um pouco.
Meu coração ficou no Brasil, mas meus olhos me acompanham por cada ruazinha que atravesso. Amanhã, se deus quiser, tem mais.

sábado, 20 de agosto de 2011

Sou eu (Ivan Lins e Chico Buarque)


Na minha mão o coração balança
Quando ela se lança no salão
Pra esse ela bamboleia
Pra aquele ela roda a saia
Com outro ela se desfaz da sandália
Porém depois que essa mulher espalha
Seu fogo de palha no salão
Pra quem ela arrasta a asa
Quem vai lhe apagar a brasa
Quem é que carrega a moça pra casa
Sou eu
Só quem sabe dela sou eu
Quem dá o baralho sou eu
Quem manda no samba sou eu

Na minha mão o coração suspira
Quando ela se atira no salão
Pra esse ela pisca o olho
Pra aquele ela quebra o galho
Com outro ela quase cai na gandaia
Porém depois que essa mulher espalha
Seu fogo de palha no salão
Pra quem ela arrasta a asa
Quem vai lhe apagar a brasa
Quem é que carrega a moça pra casa
Sou eu
Só quem sabe dela sou eu
Quem dá o baralho sou eu
Quem dança com ela sou eu
Quem leva esse samba sou eu
Na área o robário sou eu
Desculpe a modéstia
sou eu
Adiós pampa mía
Sou eu
Sou eu
Sou eu

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Digno de pena (texto)

A cada dia sou convencido de que, na maior parte das vezes, a pergunta que se faz na universidade quando se é solicitado é: se eu posso te atrabalhar por que eu iria ajudar?

Digno de nota (texto)

RIO - A partir de hoje, quinta-feira, dia 18 de agosto de 2011, os fãs da cantora Marisa Monte poderão acompanhar em seu site oficial http://www.marisamonte.com.br/ as novidades sobre o seu novo disco, o oitavo da carreira, previsto para ser lançado ainda no segundo semestre deste ano. Seus fãs ainda poderão escolher a rede social de preferência para receber as novidades.
Marisa Monte é a mais nova artista a usar a internet como ferramenta de divulgação de seu novo trabalho. Chico Buarque, em junho, criou um site para publicar vídeos exclusivos, fazer pré-venda seu novo disco e apresentar um show com música inédita.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

As entranhas da homofobia (por Bia Cardoso)

A homofobia é a aversão, ódio ou discriminação contra homossexuais e, consequentemente, contra a homossexualidade. Para ser homofóbico não é preciso agredir um gay ou uma lésbica. A homofobia e qualquer tipo de preconceito tem suas sombras e suas sutilezas. O fulano que não dança “música de viado”, a ciclana que diz para o irmão: “um desperdício você ser gay”, o beltrano que não acredita que lésbicas sejam felizes, a pessoa que se refere a travesti sempre como cidadãos de segunda categoria.
A misoginia é a aversão, ódio ou discriminação contra mulheres. Quando é que essas duas formas de preconceito se encontram? No preconceito contra gays efeminados, lésbicas, travestis e transexuais.
Interessante é que a caricatura mais aceita dos personagens gays nos meios de comunicação é a da “bichinha super animada, cheia de gírias”. Geralmente é um personagem que gera simpatia, mas que não tem o respeito dos telespectadores, é apenas o bobo da corte. Não é o personagem principal, é apenas o alívio cômico. O mesmo acontece com travestis e transexuais. Já com as lésbicas a coisa muda de figura, elas raramente são personagens de programas populares como novelas e, quando existem, não têm seu romance e nem enredo plenamente desenvolvido. Flutuam como se só existissem para criar manchetes nas revistas de fofoca sensacionalistas.
Masculinidade e feminilidade existem e se definem em sua relação e por meio dela. São as relações sociais de sexo marcadas pela dominação masculina, que determinam o que é considerado “normal” — e, no geral, interpretado como “natural” — para mulheres e homens.
A crueldade que enxergamos atualmente com a utilização e disseminação de termos como “heterofobia”, “ditadura gay” e “propaganda de opção sexual” mostram o quanto a artilharia vem pesada. A criação de um Dia do Orgulho Heterossexual acaba sendo o resultado do funil. Toda vez que uma determinada minoria social começa a se organizar, ganhar voz, exigir direitos e combater preconceitos, há a reação conservadora, de quem quer ver gays apenas em seus guetos, confinados em mundos subterrâneos e notívagos paralelos. De quem afirma que o cara pode até ser gay, mas não pode ser efeminado.
A homofobia e o machismo caminham lado a lado. Quem em nossa sociedade repassa de geração a geração a ideia de que homens não podem ser frágeis, devem ser másculos e viris? É imperativo se desassociar do mundo das mulheres e das crianças para se tornar um homem. Queremos respeito aos homossexuais por serem quem são. Queremos que ofensas e violências sejam punidas. E as pessoas vêm dizer que queremos privilégios sociais. Veja bem, querer respeito significa querer ser privilegiado? Numa sociedade em que qualquer criança ouve desde pequena que menino não pode ser bicha, que menina não pode fazer coisas de menino, querer o fim do preconceito significa privilégio?

– O backlash homofóbico –
A intolerância vem em forma de avalanche, covardemente mascarada por uma defesa da moral, dos costumes e da família. Temos atualmente um representante declaradamente homossexual na Câmara dos Deputados, a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo, as músicas da subcultura LGBT estão nas paradas de sucesso, avançamos em alguns direitos básicos como a união estável. Mas, por outro lado, vemos os canhões sendo apontados. Gays, lésbicas e travestis sendo atacados e mortos em locais públicos dos grandes centros urbanos. Leis estapafúrdias sendo propostas. Muito espaço nos meios do comunicação para figuras caricatas e perigosas com Jair Bolsonaro e Silas Malafaia. Gritos de vitimização, pobres coitados oprimidos pela ditadura gay. Esse é o backlash homofóbico, a reação contrária e conservadora que visa barrar as mudanças sociais em relação aos direitos de homossexuais, bissexuais, transexuais e transgêneros. O backlash é como uma chicotada nas costas, para aprendermos onde é nosso lugar. E tem como principal instrumento de disseminação a mídia conservadora, com seus códigos, ângulos e criações de mitos.
Todos sabemos que a sexualidade humana não é uma caixa fechada, como tantos religiosos e conservadores querem nos fazer acreditar. A sexualidade também faz parte da construção social. Porém, como tudo, sofre com conjuntos de regras e normas que visam a manutenção e permanência da sociedade heterocentrada. Não há espaço, dentro da normalidade, para nada que não seja a heterossexualidade. Qualquer outra manifestação é considerada diferente, nunca “normal”. A instituição da heterossexualidade e a obrigatoriedade da reprodução são elementos essenciais que organizam a sexualidade.
Então, como é possível existir heterofobia se todas as referências que temos na sociedade são heterossexuais? A invisibilidade da homossexualidade é explícita na publicidade, nos meios de comunicação, nos materiais escolares. Os movimentos feminista e LGBT são o estopim para uma crítica radical às normas sexuais. E é na representatividade política que o backlash mais age. Perceba que cada vez mais a mídia busca minimizar e desmoralizar as lutas dessas bandeiras. Não há mulheres declaradamente feministas em programas de TV, é difícil achá-las até mesmo entre as entrevistadas. E não há gays ou lésbicas assumidos em programas de destaque. A sexualidade contemporânea avançou na questão do sexo por prazer e no seu exercício fora da instituição do casamento, mas não permite o reconhecimento social e jurídico de outras formas que não o modelo heterossexual.
Em relação às qualidades físicas, sociais e culturais, os papéis sociais que cada sociedade atribui aos sexos são confundidos com as diferenças ligadas à fisiologia da reprodução; quando se fala dos homens e do masculino, designa-se o conjunto geral da humanidade, o universal, o “normal”, e dá-se um lugar específico às mulheres e ao feminino. É aí que a homofobia encontra sua forma. Um dos crimes mais cruéis que existem é o estupro corretivo de lésbicas, porque é inconcebível existir prazer sexual sem a figura do pênis. Ao mesmo tempo, uma das maiores fantasias eróticas heterossexuais é o sexo entre duas mulheres, que só é aceito porque elas estarão ali para o deleite do olhar do macho. Lésbicas não podem escapar ao controle masculino. Aos “verdadeiros” homens, aqueles que mostram em tudo e sobretudo uma imagem e comportamentos considerados viris, são dados os privilégios da honra, do poder, da colocação das mulheres ou de homossexuais efeminados à disposição doméstica e sexual. Além do direito a realizar agressões e violências.
É preciso deixar claro que a homofobia é uma forma de controle social que se exerce principalmente sobre os homens, mas também sobre as mulheres, desde os primeiros passos da educação. Desde o momento em que é vetado aos meninos certas brincadeiras e às meninas certos comportamentos. Além disso, a homofobia assegura a produção e reprodução das fronteiras de gênero que reificam a dominação da heterossexualidade e a visão bicategorizada de gênero. Isso reduz a identidade sexual ao comportamento imposto pelo gênero, excluindo o desejo e a subjetividade humana.
O discurso homofóbico é conservador e ao mesmo tempo reclama das mudanças proporcionadas por ações ditas “politicamente corretas”. Não há espaço para se pensar fora da caixa. E, principalmente, não há espaço social para que pessoas homossexuais, bissexuais, transexuais e transgêneros vivam suas vidas plenamente. A homofobia pode impedir pessoas de estudarem e trabalharem. Também pode cercear seus direitos à saúde, segurança e aos direitos humanos, apenas porque uma pessoa gosta de outra pessoa do mesmo sexo. O backlash é, ao mesmo tempo, requintado e banal, muito decepcionado com as mudanças “progressistas” e orgulhosamente retrógrado. Ostenta novas descobertas científicas para reafirmar como éramos felizes no passado, com o moralismo bolorento impregnando todos os espaços.
Nesse momento vemos que as conquistas do movimento LGBT são chamadas de “privilégios” e vistas como a praga contemporanêa que ameaça deliberadamente a virilidade da sociedade machista. Tenha certeza, ninguém nos dará espaço na sociedade de livre e espontânea vontade. É preciso brigar e mostrar que sexualidade humana é muito mais do que macho e fêmea, como afirma Silas Malafaia, é diversidade e liberdade.

Disponível em: http://www.amalgama.blog.br/08/2011/as-entranhas-da-homofobia/ 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Esquentando os tamborins (texto)

No Rio, dizemos esquentando os tamborins quando estamos próximos do Carnaval e, sobretudo, se frequentando ensaios de escolas de samba, experimentando fantasias, no ritmo da maior festa da cidade, enfim.
A expressão siginifica muito mais do que estar envolvido com o carnaval, dizer esquentando os tamborins é querer dizer que estamos nos aprontando para algum evento, seja ele qual for.
Estou esquentando os tamborins, mas só revelo o motivo em uns dias. Para isso me indicaram a leitura do livro da Sônia Bridi, Laowai, que em chinês quer dizer estrangeiro.
A Sônia, perdoe-me a intimidade, foi com o Paulo (seu marido e tb repórter) morar na China em 2005. Depois de 32 horas de voo, contando as escalas, chegaram no Oriente para montar a primeira base da TV Globo do outro lado do mundo (do outro lado, porque parto sempre da minha referência).
O livro é muito interessante, não só porque nos revela uma cultura tão distinta da nossa, mas porque a jornalista escreve bem e com humor, ainda que tenha passado por poucas e boas (e quando escrevemos por poucas e boas queremos dizer, muitas e más).
São 335 páginas, mais um anexo com as fotografias do Paulo Zero. Estou passando pelo primeiro 1/3 do livro. Comprei-o na quinta-feira e, sempre que me sobra um tempinho, fico grudado nele. Pena que amanhã é segunda-feira e já sei que, por conta do trabalho, não terei muito tempo para ler.
Termino a leitura até sexta-feira, dessa semana. Porque aí sim, começo com uma pequena série que vai durar 15 dias aproximadamente.
Quem se interessa por outras culturas e pelas impressões de uma jornalista que mudou com a família para a China, não pode deixar de ler o livro. A editora é a Letras Brasiliense e já está na sexta edição: Laowai - História de uma repórter brasileira na China.

sábado, 13 de agosto de 2011

"Foi um motim de consumidores excluídos", diz sociólogo Zygmunt Bauman

Um dos mais influentes acadêmicos europeus, já descrito por alguns comentaristas mais entusiasmados como o mais importante sociólogo vivo da atualidade, o polonês Zygmunt Bauman viu nos distúrbios de Londres uma aplicação prática de suas teorias sobre o papel do consumismo na sociedade pós-moderna. Um assunto que o acadêmico, radicado em Londres desde 1968, quando deixou a Polônia após virar persona non grata para o regime comunista e por conta de uma onda de anti-semitismo no país, explorou bastante em conjunção com as discussões sobre desigualdade social e ansiedade de quem vive nas grandes cidades.
Aos 85 anos, autor de dezenas de livros, como "Amor líquido" e "O mal-estar da pós-modernidade", Bauman não dá sinais de diminuir o ritmo. Há cinco anos, no lançamento de "Vida para Consumo", uma de suas obras mais populares, fez uma turnê por vários países. Em entrevista ao Globo, por e-mail, ele afirma que as imagens de caos na capital britânica nada mais representaram que uma revolta motivada pelo desejo de consumir, não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social.
- Londres viu os distúrbios do consumidor excluído e insatisfeito.
O GLOBO: O quão irônico foi para o senhor ver os distúrbios se concentrando na pilhagem de roupas e artigos eletrônicos?
ZYGMUNT BAUMAN: Esses distúrbios eram uma explosão pronta para acontecer a qualquer momento. É como um campo minado: sabemos que alguns dos explosivos cumprirão sua natureza, só não se sabe como e quando. Num campo minado social, porém, a explosão se propaga, ainda mais com os avanços nas tecnologias de comunicação. Tais explosões são uma combinação de desigualdade social e consumismo. Não estamos falando de uma revolta de gente miserável ou faminta ou de minorias étnicas e religiosas reprimidas. Foi um motim de consumidores excluídos e frustrados.
O GLOBO:Mas qual a mensagem que poderia ser comunicada?
BAUMAN: Estamos falando de pessoas humilhadas por aquilo que, na opinião delas, é um desfile de riquezas às quais não têm acesso. Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas. O problema é que a receita está além do alcance de boa parte da população.
O GLOBO:Trata-se de um desafio a mais para as autoridades na tarefa de acalmar os ânimos, não?
BAUMAN: O governo britânico está mais uma vez equivocado. Assim como foi errado injetar dinheiro nos bancos na época do abalo global para que tudo voltasse ao normal - isso é, as mesmas atividades financeiras que causaram a crise inicial - as autoridades agora querem conter o motim dos humilhados sem realmente atacar suas causas. A resposta robusta em termos de segurança vai controlar o incêndio agora, mas o campo minado persistirá, pronto para novos incêndios. Problemas sociais jamais serão controlados pelo toque de recolher. A única solução é uma mudança cultural e uma série de reformas sociais. Senão, a mistura fica volátil quando a polícia se desmobilizar do estado de emergência atual.
O GLOBO:Jovens de classe baixa reclamam demais da falta de oportunidades de trabalho e educação. O senhor estranhou não ter visto escolas pegando fogo, por exemplo?
BAUMAN: Qualquer que seja a explicação dada por esses meninos e meninas para a mídia, o fato é que queimar e saquear lojas não é uma tentativa de mudar a realidade social. Eles não se rebelaram contra o consumismo, e sim fizeram uma tentativa atabalhoada de se juntar ao processo. Esses distúrbios não foram planejados ou integrados, como se especulou no início. Tratou-se de uma explosão de frustração acumulada. Muito mais um porquê que um para quê.
O GLOBO:Mesmo o argumento de protesto contra os cortes de gastos do governo não deve ser levado em conta?
BAUMAN: Até agora, não percebi qualquer desejo mais forte. O que me parece é que as classes mais baixas querem é imitar a elite. Em vez de alterar seu modo de vida para algo com mais temperança e moderação, sonham com a pujança dos mais favorecidos.
O GLOBO:Mais problemas são inevitáveis, então?
BAUMAN: Enquanto não repensarmos a maneira como medimos o bem-estar, sim. A busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza, pois isso apenas resulta numa erosão do espírito comunitário em prol de competição e egoísmo. A prosperidade hoje em dia está sendo medida em termos de produção material e isso só tende a criar mais problemas em sociedades em que a desigualdade está em crescimento, como no Reino Unido.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A gente se supera (texto)

Vc é  um cagonildo, diria um grande amigo sobre mim. Eu teria que, em parte, concordar com ele. Sou mesmo um cara medroso. Inseguro até o pescoço. Mas eu disse que a concodância é apenas em parte, porque ainda que eu seja um cara com os meus medos (e quem não os tem?), ele não me paralisa. Não me impede de acreditar que pode ser diferente.
Já achei que ia morrer, já morreram grandes amigos, já perdi minha mãe (grande perda), já perdi muitos amores, outros amigos foram morar longe, já fui morar longe, fui reprovado algumas vezes, ouço "não" quase todos os dias, já passei altas vergonhas, mas não deixo que o medo me impeça de resistir. Passei por todos esses momentos e quando se está atravessando um deles não dá, quase sempre, para achar que há superação.
Eu posso dizer que há. Até a morte a gente supera. A gente supera a dor. A gente se supera. E por mais que nos pareça impossível, insuportável, dolorido, angustiante, intransponível, sufocante, por mais forte que seja a pressão, vai acalmar. Bem, não estou falando de solução, não escrevo sobre isso, mas sobre a tranquilidade que, mais cedo ou mais tarde, chega.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...