domingo, 24 de abril de 2016

Me pego cantando sem mas nem porque

Minha mãe, outra vez a minha mãe (Freud deve explicar), tinha umas manias engraçadas. Dentre elas, dona Heloísa não gostava de roupas que a apertassem. As camisetas de ficar em casa eram cortadas de forma que não houvesse gola ou mangas.
Ela não usava, em casa, anéis, cordões, relógios, brincos porque ela se sentia sufocada. E eu achava tudo isso uma grande maluquice. Achava engraçado e, verdadeiramente, acreditava que aquele comportamento era mesmo uma anormalidade.
Bem, tempo vai, tempo vem e eu me pego agindo da mesma maneira e se me dou conta dessa repetição, me transbordo em saudade.
Até pouco tempo eu conseguia ir tranquilamente para a cama de relógio. Não mais. Aquela coisa me pesa no pulso de uma determinada maneira que eu não consigo dormir. É uma luta.
Camisetas que me apertem a cintura, o pescoço, ou os braços são imediatamente descartadas.  Dormir de meia se tornou impossível. 
Em casa, gosto mesmo de roupas largas que me deixem à vontade,  escolho aquelas que não me impeçam os movimentos. Do contrário, me sinto sufocado. Vai me dando uma angústia que ou eu saio daquele lugar ou o meu humor vai por água abaixo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...