sábado, 21 de março de 2009

A leveza da dança (texto)

É impressionante o que se pode fazer com um corpo tão frágil como o que temos. Nos quebramos por pouco, somos quase porcelanas, e, no entanto, o bailarino, com muita força, brinca delicadamente com o seu instrumento. Podemos muito mais do que imaginamos e imaginamos pouco em virtude do que é possível para a dança.
Parece até que o que se faz numa apresentação do corpo de baile da Escola de Balé Bolshoi, por conta de tanta técnica, leveza, concentração, ritmo, é fácil. Como se pudéssemos também subir ao palco e voarmos aos saltos ou rodopiarmos vinte e oito vezes na ponta dos pés sem uma respiração mais ofegante, sem parecer precisar de um balde de água para repor as energias, ou uma cadeira para relaxar e não ter que se levantar nunca mais depois de um mortal.
A dança, como a literatura, nos leva para lugares distantes. Somos transportados por uma brisa como pedacinhos de algodão tão impactante é cada uma das pequenas apresentações desses grandes jovens e profissionais bailarinos da companhia.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Saudades (texto)

É quase um passe de mágica. Num dia somos crianças e estamos ali protegidos pela mãe (de mãos dadas atravessando a rua, esperando que ela nos acorde para ir à escola, deitados em seu colo recebendo carinho, felizes da vida com a hora de sua chegada) e no outro estamos nos virando para sobreviver (preocupados com o final do mês, pensando na quantidade de trabalho para dar conta e nos compromissos que se acumulam para a semana seguinte).
Quando se é criança parece que todos os dias são domingo, mas não esses domingos vésperas de segundas-feiras, domingo véspera de sábado, véspera de domingo, véspera de sexta-feira. Domingo véspera de nada.
Hoje me deu uma saudade muito grande desse tempo com minha mãe. Um vontade de estar mais próximo para conversar. Temos tantos códigos que são (re)lembrados a cada encontro nosso. E como nos divertimos com isso!!! Nos encontramos menos a cada ano e nos acostumamos com essa falta. Ou pensamos que sim para que tudo seja mais fácil.
As vezes acho que os dias não têm sentido mesmo. Inventamos esse final do mês para não dar cabo desse vazio de todo esse tempo.

terça-feira, 17 de março de 2009

Quente ou frio. Morno? Nunca! (texto)

Existem pessoas que ou são amadas, adoradas, queridinhas ou odiadas ao extremo. Eles produzem no outro nunca a indifereça, nunca o morno, o mais ou menos, mas esses extremos que (i)mobilizam os sentimentos.
A morte de Clodovil me fez pensar hoje sobre isso. Ele despertou amores e ódios por onde passou: nas emissoras de TV's, nos jornais e revistas, na moda (vale lembrar a rivalidade mostrada entre ele e Dener) e, ultimamente, entre os deputados em Brasília: por conta, principalmente, do que acreditava.
Numa entrevista à revista Época, em junho de 2007, ele disse que em sua lápide escreveria: "É preferível afrontar o mundo e servir nossa consciência a afrontar nossa consciência para ser agradável ao mundo." O que ilustra bem como ele se comportava diante de algumas questões.
É claro que não sei se o seu comportamento era uma construção ficcional, se Clodovil era um personagem criado justamente para produzir polêmica. É possível que não fosse, não acho razoável manter por tanto tempo um personagem sem que hora ou outra se tropece nessa contrução e se revele.
Gostaria de lembrar aqui a sua coragem de se expor como homossexual na TV brasileira nos anos 80 não apenas como estilista (porque no campo da moda há uma certa condescendência com a diversidade sexual), mas como apresentador de programas em horários nobres, em um país machista e homofóbico.
Essa exposição, é claro, não condizia, por exemplo, com o que alguns esperavam dele. O Movimento de defesa dos direitos dos homossexuais lhe entregou diversos prêmios debochados por conta de suas declarações ultrarreligiosas e na contramão do movimento. Impossível agradar a gregos e colombianos e o deputado seguia direitinho o manual prescrito do "sou sim, mas sou católico, sou da Globo, sou a madrinha que seus filhos merecem."
Amado ou odiado, mas nunca indiferente. Vai fazer falta no cenário nacional, principalmente na política porque, nesse campo, sempre é preferível não se mostrar como se é.

sábado, 14 de março de 2009

Cinema em Cascavel (texto)

Ir ao cinema em Cascavel é, muitas das vezes, um ato de heroismo. Além da escassez de bons filmes, passamos por provações que eu pensava estar, em 2009, a salvo. Normalmente não se tem grandes dificuldades para encontrar o ingresso do filme a ser visto, além disso, professores pagam meia entrada. Oba! No entanto, somos obrigados a ouvir adolescentes que acham que estão na sala de suas casas e podem, por isso, conversar, comentar o filme, fazer diversos barulhos porque não entendem que ALI, no CINEMA, não é a casa-da-sogra e que, portanto, não se deve incomodar os demais expectadores.
Hoje, além desses adolescentes mal-educados (como é ruim ter que conviver com pessoas que não conseguem compreender o mínimo necessário para estar num ambiente com outras pessoas!) um senhor atendeu diversas vezes o seu celular (ele, pelo menos não tocava). E pensa que foi tudo?! Não! Sempre pode ser pior e foi. Um pai (que dormia) e o seu filho que não parava sossegado na cadeira porque, pelo visto, nem sabia que passava um filme na grande tela.
Sei que a paciência não é mesmo uma das minhas maiores virtudes, mas tudo tem um limite. E sempre acho que a educação é o que delimita.

Watchmen (filme)

Os Deuses gregos tinham formas e atributos humanos: em corpos de homens e mulheres sentiam inveja, amavam, odiavam, eram sexualizados. A humanidade conduzia os seus atos. A Ira que sentiam provocava grandes catástrofes. O Amor, encontros ardentes. O Deus Cristão possui apenas a forma humana, nada nEle pode lembrar homens e mulheres. Sua bondade está acima de todas as outras características e não há nEle desejos sexuais. Devemos amá-Lo sobre todas as coisas porque elas nos foram dadas por Ele.
Os super-heróis, esses das HQ's transformadas em filmes, são um pouco dos deuses gregos e do Deus cristão: têm formas humanas, até sentem raiva, mas ela logo é vencida por uma compreensão divina. O seu dever é combater o mal, a todo custo. As recaídas são, em algum momento, vencidas pela mesma comprensão. O sexo, no entanto, é apenas tangenciado.
Em Watchmen, o filme, além de formas humanas, os heróis são sexualizados a ponto de poderam mostrar a sua genitália (desnuda). Ela, a genitália, não está ali como coadjuvante, é usada para o sexo. O sexo nem sempre é consentido, porque seus desejos são animalescos. Esses heróis humanizados, como os gregos, desejam o Poder, e vale tudo para conquistá-lo.
O filme é uma superprodução: as cenas de uma crueldade ímpar; as lutas são, como todas depois de Matrix, um espetáculo à parte.
E a Paz (rs) só pode ser alcançada com a Guerra. Gostei bastante do filme e vejo outra vez, só que em casa.
http://watchmenmovie.warnerbros.com/

sexta-feira, 13 de março de 2009

O Príncipe e a Passista (texto)

Faz 31 anos que uma passista da escola de samba carioca Beija-Flor de Nilópolis dançou com o herdeiro do trono britânico. Pinah e o Príncipe Charles encontraram-se no dia 10 de março de 1978 no Palácio da Cidade, na zona Sul do Rio de Janeiro, quando o membro da realeza fez sua primeira visita ao Brasil.
Esse encontro mudou a vida de Maria da Penha Ferreira. Ela conta que dançar com o príncipe foi um marco em sua vida profissional, porque passou a ser conhecida tanto no Brasil, já que foi destaque (desculpe o trocadilho) de todos os noticiários por semanas, e também em outros países, porque fez com que um escocês caísse no samba: "Minha vida mudou da água para o vinho. Fiz trabalhos marcantes na Cisjordânia, no Marrocos, na França e em Mônaco".
Não é um conto de fadas, nem podemos dizer aqui, que eles foram felizes para sempre, porque passaram, o príncipe e a ex-passista, por diversidades em suas vidas. No entanto podemos afirmar que aquele encontro ainda produz sentidos tanto para um quanto para outro.
Nesta semana, em visita ao país, Charles disse que se lembrava de ter dançado "samba com uma moça seminua no Rio”. Não foi necessariamente de samba os passos dados pelo príncipe, mas o que importa é que Pinah ainda faz o príncipe sonhar.


quarta-feira, 11 de março de 2009

Ao vivo (texto)

Todos os dias, sem excecão, nos telejornais, nos jornais impressos, nos rádios ficamos sabendo da violência que acontece no país e no resto do mundo. A primeira impressão que se tem é a de que o mundo não tem mesmo jeito. Não é possível não se chocar com o americano que depois de matar os pais e os avós sai pelas ruas atirando em quem quer que esteja no seu caminho ou com o adolescente alemão que volta à escola e mata 15 pessoas. Temos das últimas décadas centenas de milhares de imagens desses horrores armazenadas em nossa memória. Poderíamos buscá-las com pouca exigência de nossas lembranças.
Mas não quero aqui falar dessas lembranças ou mesmo dessa certeza atual que se tem do fim dos tempos por conta de filhos matando pais, crianças estupradas, Tiros em Columbine. Quero apenas escrever sobre as novas tecnologias fazendo com que seja possível ver ao vivo e em cores todas essas barbáries e os sentidos produzidos de época dos horrores.
Imaginem os Espanhóis chegando à Cidade da Guatemala há 1.200 anos e exterminando sem pena e sem dó milhares de nativos (com golpes de lança e machadadas na cabeça e no pescoço) com transmissão via satélite para as nossas salas e narração da Fátima Bernardes e Willian Bonner? Acho que teríamos a impressão dos fim dos tempos, né não? Ou os nazistas, por exemplo, submetendo os judeus aos gazes mortais, ou ainda os nativos brasileiros por volta de 1.500 sendo exterminados pelos portugueses? Não teríamos saída! Não poderíamos supor uma época mais violenta dentre todas as outras.
Mas aí, numa retrospectiva de final do ano, as TV's nos mostrariam as imagens de Alexandre, O Grande, na Batalha de Isso em 333 a.C e pensaríamos, já foi pior. E tantos outros históricos genocídios agora televisivos e concluiríamos que o mundo não ficou mais violento, mas se tornou menor, mais próximo e em dolby stereo.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...