segunda-feira, 18 de abril de 2011

A burca, o cuspe do ator e a morte da travesti em Campina Grande (texto)

O que a proibição do uso de véus em lugares públicos na França, a cusparada do ator Paulo Vilhena no rosto do repórte do CQC, Rafael Cortez, a morte de uma travesti em Capina Grande nos revelam?
Em princípio, todos esses fatos não teriam quaisquer vínculos, mas pensando melhor, eles têm sim uma relação.
Os franceses decretaram Lei proibindo o uso de dois tipos de véus mulçumanos: a burca e o niqab (que mostram apenas os olhos). Os argumentos são vários:  o Estado é laico, as pessoas são livres (ah, como assim?), o véu é uma forma de opressão, esconder o rosto pode significar esconder um terrorrista.
É verdade que as mulçumanas que são obrigadas por seus maridos a esconder os seus rostos estariam livres para mostrá-los. E as que querem usar a burca, as que não abrem mão de se vestirem assim? Obrigar a quem quer que seja se padronizar é um desrespeito, é violar os direitos.
Por detrás dessa lei, penso eu, há uma espécie de xenofobia. Quer usar a burca? Pois bem, volte, então, para o seu país! Ops, como assim seu país? Muitas são francesas.
Além disso, há uma espécie de superioridade racional dos franceses: vejam vocês como somos civilizados e respeitamos nossas mulheres. Se quiserem ficar na França, faça como os franceses.
Cuspir na cara do repórte, como fez o playboy e dublê de ator Paulo Vilhena diante de uma câmera ligada nos sinaliza uma forma de se colocar em um lugar que lhe permite fazer o que bem entende. Quem sou eu para lhe falar assim? Quem é vc para se dirigir a mim desse jeito? Não sabe com quem está falando? Pois bem, cuspir na cara é dizer ao outro quem ele é e como ele deve se comportar. Veja vc, reportezinho, sou um ator Global, me respeite ou...
Tb diante de câmeras, só que agora de trânsito, em Campina Grande, três homens esfaquearam uma travesti de 24 anos. Deram-lhe mais de 30 facadas. A vítima morreu no local.
Um dos assassinos justificou a morte por conta de um desacordo sobre o valor de um programa sexual com o travesti.
A vida da travesti valia para os assassinos o que vale um programa sexual. Para satisfazer os desejos sexuais dos meninos, ou do menino, porque não se sabe ao certo o que aconteceu, a travesti servia, mas ela não era, definitivamente, igual aos rapazes. Sua essência (e travesti tem essência?) era de outra natureza. A relação aí era desigual. Ela tb não sabia com quem estava lidando e nem o que poderia esperar. Quem manda se meter com gente (ops) de outras castas?

Quando "dois" é pouco (texto)

Dizem por aí que um é pouco, dois é bom e três, demais. É bem verdade que em algumas situações o ditado popular tá certo. Por exemplo, se uma relação a dois já é complicada, a três  se deve  acrescentar, pelo menos, um terço de complicação (uns poderiam dizer, mas se deve acrescentar tb, pelo menos, um terço de diversão etc.).
No entanto, quando não se tem uma margem, um a mais, em se tratando, por exemplo, de uma família,  se falta um, sobra apenas um. Aí  não é fácil segurar a barra sozinho.
Decidir sozinho, resolver com vc mesmo, fazer exatamente sem ouvir o outro, não ter uma segunda impressão, não ter outra opinião, não é das situações a mais confortável.
É bom ter uma margem de segurança, e margem aqui não é estepe, reserva, moletas, é ter segurança para, se pintar uma barra bem pesada, poder dividi-la.

Em torno de uma mesa (texto)

Já era para eu estar dormindo, ou, pelo menos, me praparando para isso. Hoje o dia foi puxado, além de Sobrados teve Mucambos. Não parei um minuto, mas nem posso reclamar. Muito bom, muito agradável meu final de noite. Acho que posso dizer mais, muito bom esse final de semana.
Fazia tempo que eu não tinha por aqui dias tão intensos. Algum tempo sem pessoas interessantes que me tirassem de um certo lugar de conforto, aquele de ficar sozinho ouvido a minha música, ou vendo o meu filme, ou escrevendo o meu texto, ou lendo qualquer coisa. Bom poder sair desse meu-mundo-igual-de-todo-fim-de-semana. Não é uma reclamação, de jeito nenhum!, não fico em casa por falta de opção, fico porquer gosto (fi-lo porque qui-lo).
De qualquer forma, aproveito para pensar um pouco no que ouço por aí, para haver diversão nem é preciso tanto malabarismo, mágicos, trapezistas, globo da morte, um pequeno comitê reunido em torno de uma mesa é suficiente.

sábado, 16 de abril de 2011

Vontade de rever amigos (Joyce)

Revendo amigos
Vontade de rever amigos
Os gestos de sempre, a risada em comum
Contando as histórias e os casos antigos
As músicas novas
Sem moda, sem tempo nenhum

Vontade de rever amigos
Dizer que estou solta na minha prisão
Gritar pras pessoas
Vem cá que eu tô viva
Me tira a tristeza de dentro
Do meu coração

Saber quem morreu
Perguntar quem chegou de viagem
Se foi porque quis
Explicar que o amor me pegou de mal jeito
Mas tudo somado acho que fui feliz

No entanto, cadê meus amigos
Vai ver que a poeira do tempo levou
A barra da vida tem muitos perigos
E a gente se afasta sem querer
Se esquece sem querer
Se perde dos velhos amigos

Se esquece e se perde dos velhos amigos.
 
Pra vocês: Teresa, Robson, Dias, Vera, Maga, Aline, Nanci, Renato, Gil, Patrícia, Íngridi, Luciana, Rômulo, Zequinha, Suzana, Márcia Crepaldi, Bárbara, Renato, Léo, Michael, Sandro, Zé, Mônica, Cátia, Aparecida, Rosana, Célia, Georges, Suley, Neném, Ana, Anselmo, Marina, João, Sebastian, Mauro, D. Teresa, Helô, Nika, Madelon, Serginho, Renato, Dórian, Binha, Tom, Rose, Tony, Glauco, Narda, Lu, Toninho, Paulo, Inês e tantos outros velhos amigos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Da Série Contos Mínimos

Espalhou fotografias por toda a casa para se encontrar, ou não se perder, na ausência do seu rosto.

Naftalina (texto)

Que tristeza quando vai chegando a época de retirar do sarcófago todos os casacos, edredons, cobertores, pijamas, meias, pantufas, gorros, luvas, cachecóis etc.
Ontem a noite foi fria. Estava eu deitado, depois de um dia daqueles (conversas, provas corrigidas, aula preparada), quando me dei conta de que o quarto já estava frio e nem era madrugada. Pensei algumas vezes antes de me levantar (eu estava podre) para pegar um edredon.
Achei até que pudesse ser demais. Mas já estamos no outono (estamos?!) e a possibilidade de esfriar sempre está presente.
Não me enganei. Fez frio. Fez um frio de verdade e eu estava agasalhado. Mas é claro que isso não é tudo, hoje acordei cedo, às 7h, para dar aula e ainda estava frio. Aí, realmente, não dá para ficar de bom humor. Quem pode achar bom acordar nessas condições: neblina, chuva fina, 2 casacos, luvas? Não dá, né?
Pois bem, a manhã foi desse jeito. A chuva parou não faz muito tempo. Relaxar porque vai piorar.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

O micróbio do samba - Adriana Calcanhotto (texto)

Como já dito no post abaixo, não sou do tipo que me apaixono de cara por um CD. Insisto um pouco. Insisto um pouco mais se tenho boas referências do cantor.
E tb não tenho mais idade para sair por aí dizendo que vale o que se vê de imediato. Definitivamente, não. Mas a impressão que tive do mais recente CD de Adriana Calcanhotto, O micróbio do samba, não foi das melhores.
Fiquei com a sensação de que ela tenta fazer (considerando sempre as condições de cada um dos artistas) um samba sofisticado como o de Paulinho da Viola, mas derrapa. Achei o CD pretensioso e sem qualidade.
Samba com guitarra é modernoso, mas... 
Nem mesmo as já conhecidas Beijo sem gravada por Teresa Cristina e Marisa Monte ou Vai saber? gravada por Marisa Monte funcionaram na voz da cantora. Fiquei desapontado, primeiro, porque, em geral, uma música sempre cola em mim quando se trata da gaúcha cantando e compondo, depois, porque nem uma letrinha, umazinha sequer, me surpreendeu.
Tomara que na insistência eu mude de opinião.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...