sexta-feira, 27 de julho de 2012

Navegar impreciso

hhttp://www. O que mudou depois de 14 anos de web? Fiquei hoje pensando sobre todas as mudanças proporcionadas com a chegada da internet aqui no Brasil (na minha casa, no meu celular). A onipresença da rede no nosso dia a dia: compras, trabalho, relacionamentos, educação, entretenimento, informação e tantas outras interferências diretas e indiretas.
Esta semana, encontrei um endereço de um professor da Universidade de Lisboa, enviei um email para ele e pronto: aquela distância impossível que nos separava de todo o resto do mundo não existe mais.
Claro que não é tudo sempre assim, fácil, rápido, ao lado e ao alcance da ponta do dedo. Não mesmo. O acesso ainda é restrito, para poucos. A acessibilidade não é democrática (aquela mesma história da tv digital: para todos desde que se tenha uma tv, uma antena, um decodificador etc. etc. etc.). Sabemos todos que ainda existem muitos excluídos desse processo.
No entanto, não dá para pensar mais, não pelo menos no meu dia a dia, em viver sem ela: meu trabalho seria quase impossível sem a rede de alcance mundial (World Wide Web = WWW), sem o HTTP (HyperText Transfer Protocol - Protocolo de Transferência de Hipertexto), sem essa telinha mágica que nos transporta e nos informa com a agilidade de um tempo que não dá às vezes para medir.
"De jangada leva uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação", pela rede apenas um toque e estamos em qualquer lugar. O mundo não é grande, ele cabe dentro de megabytes. E toda a distância é mínima diante das possibilidades da rede mundial de computadores.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

7 vidas (texto)

Dizem que gatos têm sete vidas, o meu não teve nem umazinha pra contar história. Cinco meses apenas, um outono e meio inverno, e lá se foi o Duscha, pro céu dos gatos, se é que gatos têm céu. 
Viajei e nem bem tinha chegado e já fiquei sabendo que o gato morreu, diferentemente daquele que atiraram tantas vezes o pau e ele continuou vivinho da silva.
Fazer o quê? Gatos, como homens, também morrem e sabe-se lá quando. Hoje bateu uma saudadezinha dele: correndo feito um louco pela casa, se escondendo para quando eu passasse ele pular sobre o meu calcanhar com um mordida ou as suas insistências para ficar no meu colo enquanto eu digitava (às vezes quieto dormindo, noutras tantas querendo pegar os meus dedos, mordendo o mouse etc.). 
Todo o movimento para ele era brincadeira. Nada lhe era indiferente: a própria sombra, a bolinha de papel, qualquer pedaço de qualquer coisa, as bolinhas do pet, o ratinho de borracha, os sininhos, a luz do laser.
Ele me irritava muito. Nem conto o quanto: toda manhã arranhava a porta do meu quarto para entrar ou se eu estava conzinhando  ele pulava sobre a mesa. Queria enforcar o gato.
Ele tb me fazia rir, muito: era eu tentar arrumar a cama e ele pular sobre as cobertas, se eu pegava a vassoura tava lá ele pronto para me atrapalhar. Não havia pano que ele não puxasse pela casa e nem galho que ele não quisesse comer ou brincar com as patinhas.
Sempre que eu chegava do trabalho eu o pegava no colo e fazia uns carinhos, ele ficava todo espichado nos meus braços. Fiz do gato gato e sapato. Quem sabe ele não foi feliz... eu fui.

domingo, 8 de julho de 2012

Imagens em movimento


A cura gay (Contardo Calligaris)


   Em 1980, a homossexualidade sumiu do "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais". Em 1990, ela foi retirada da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde.
Médicos, psiquiatras e psicólogos não podem oferecer uma cura para uma condição que, em suas disciplinas, não é uma doença, nem um distúrbio, nem um transtorno. Isso foi lembrado por Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia, numa entrevista à Folha de 29 de junho.
No entanto, o deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, pede que, por decreto legislativo, os psicólogos sejam autorizados a "curar" os homossexuais que desejem se livrar de sua homossexualidade.
Um pressuposto desse pedido é a ideia de que os psicólogos saberiam como mudar a orientação sexual de alguém (transformá-lo de hétero em homossexual e vice-versa), mas seriam impedidos de exercer essa arte - por razões ideológicas, morais, politicamente corretas etc.
Ora, no estado atual de suas disciplinas, mesmo se eles quisessem, psicólogos e psiquiatras não saberiam modificar a orientação sexual de alguém --tampouco, aliás, eles saberiam modificar a "fantasia sexual" de alguém (ou seja, o cenário, consciente ou inconsciente, com o qual ele alimenta seu desejo).
Claro, ao longo de uma terapia, alguém pode conseguir conviver melhor com seu próprio desejo, mas sem mudar fundamentalmente sua orientação e sua fantasia.
Por via química ou cirúrgica (administração de hormônios ou castração real --todos os horrores já foram tentados), consegue-se diminuir o interesse de alguém na vida sexual em geral, mas não afastá-lo de sua orientação ou de sua fantasia, que permanecem as mesmas, embora impedidas de serem atuadas. A terapia pela palavra (psicodinâmica ou comportamental que seja) tampouco permite mudar radicalmente a orientação ou a fantasia de alguém.
O que acontece, perguntará João Campos, nos casos de homossexualidade com a qual o próprio indivíduo não concorda? Posso ser homossexual e não querer isso para mim: será que ninguém me ajudará?
Sim, é possível curar o sofrimento de quem discorda de sua própria sexualidade (é a dita egodistonia), mas o alívio é no sentido de permitir que o indivíduo aceite sua sexualidade e pare de se condenar e de tentar se reprimir além da conta.
Por exemplo, se eu não concordo com minha homossexualidade (porque ela faz a infelicidade de meus pais, porque sou discriminado por causa dela, porque sou evangélico ou católico), não posso mudar minha orientação para aliviar meu sofrimento, mas posso, isso sim, mudar o ambiente no qual eu vivo e as ideias, conscientes ou inconscientes, que me levam a não admitir minha orientação sexual.
Campos preferiria outro caminho: o terapeuta deveria fortalecer as ideias que, de dentro do paciente, opõem-se à homossexualidade dele. Mas o desejo sexual humano é teimoso: uma psicoterapia que vise reforçar os argumentos (internos ou externos) pelos quais o indivíduo se opõe à sua própria fantasia ou orientação não consegue mudança alguma, mas apenas acirra a contradição da qual o indivíduo sofre. Conclusão, o paciente acaba vivendo na culpa de estar se traindo sempre --traindo quer seja seu desejo, quer seja os princípios em nome dos quais ele queria e não consegue reprimir seu desejo.
Isso vale também e especialmente em casos extremos, em que é absolutamente necessário que o indivíduo controle seu desejo. Se eu fosse terapeuta no Irã, para ajudar meus pacientes homossexuais a evitar a forca, eu não os encorajaria a reprimir seu desejo (que sempre explodiria na hora e do jeito mais perigosos), mas tentaria levá-los, ao contrário, a aceitar seu desejo, primeiro passo para eles conseguirem vivê-lo às escondidas.
O mesmo vale para os indivíduos que são animados por fantasias que a nossa lei reprova e pune. Prometer-lhes uma mudança de fantasia só significa expô-los (e expor a comunidade) a suas recidivas incontroláveis. Levá-los a reconhecer a fantasia da qual eles não têm como se desfazer é o jeito para que eles consigam, eventualmente, controlar seus atos.
Agora, não entendo por que João Campos precisa recorrer à psicologia ou à psiquiatria para prometer sua "cura" da homossexualidade. Ele poderia criar e nomear seus especialistas; que tal "psicopompos"? Ou, então, não é melhor mesmo "exorcistas"?

*Folha de São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2012 - Ilustrada.

Um "ao vivo" mais para morto (Texto)

Faz mais de um mês a TV Globo anuncia a transmissão ao vivo da luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen (UFC 148). Se fosse apenas o anúncio não seria tão grave/sério, se nos avisassem, por exemplo, que não tinha sido possível a tal transmissão por conta disso ou daquilo, mas o cúmulo do desrespeito é transmitir uma luta duas horas depois de acontecida em Las Vegas como se fosse ao vivo.
Galvão Bueno tem o descaramento (é claro que a imoralidade faz parte de toda a mutretagem da emissora) de a cada volta do intervalo de anunciar um "voltamos ao vivo". Eles sabem que não se trata de uma transmissão em tempo real, mas comportam-se como se fosse.
Sei que alguns podem dizer: Por que não se vê a luta em outra emissora? Porque a Rede Globo comprou os direitos de exclusividade das transmissões do UFC e assim impede que outra emissora possa transmitir essas imagens.

sábado, 7 de julho de 2012

Ausência (Vinícius de Moraes e Marília Medalha)


Ausência

Vinicius de Moraes , Marília Medalha

Deixa secar no meu rosto
Esse pranto de amor que a presença desatou
Deixa passar o desgosto
Esse gosto da ausência que me restou
Eu tinha feito da saudade
A minha amiga mais constante
E ela a cada instante
Me pedia pra esperar

E foi tudo o que eu fiz, te esperei tanto
Tão sozinha no meu canto
Tendo apenas o meu canto pra cantar
Por isso deixa que o meu pensamento
Ainda lembre um momento a saudade que eu vivi
A tua imagem fiel
Que hoje volta ao meu lado
E que eu sinto que perdi

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...