terça-feira, 31 de maio de 2011

Da Série Contos Mínimos

Avessos à todas (im)previsões, eles mantinham-se firmes em suas jornadas. Nem ventos, tem tempestades, nem o temido e colérico Poseidon os tirariam de seus caminhos. Eram fortalezas. Firmes como rochas na difícil tarefa de (con)viver.

Ainda sobre o kit anti-homofobia (texto)

A Presidenta vetou a distribuição do kit anti-homofobia alegando que o governo não fará propaganda de nenhuma orientação sexual. Preciso concordar com ela. Não é mesmo atribuição de nenhum governo fazer apologia, propaganda de quaisquer que sejam as orientações sexuais. Estamos em acordo.
Não cabe ao Estado esse tipo de obrigação. O que cabe ao Estado é defender os direitos de seus cidadãos. Tratá-los de forma igual. Sem distinção. Inclusive, no artigo 5º do Direito Constitucional (Constituição Federal do Brasil) está escrito: Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...
Cabe tb ao Estado, assim eu penso, cumprir a Lei. E o fato da não distribuição do kit, em princípio, não a viola. No entanto, o motivo, ou os motivos que levaram a Presidenta a vetar a distribuição foi, até onde sei, um acordo com alguns representantes da bancada evangélica da Câmara dos Deputados.
E se isso procede, a Lei não foi descumprida. Porque em nome de determinada religião, determinado ponto de vista, alheio à vontade de TODOS os brasileiros, a decisão da Presidenta prejudica, de certa forma, uma parcela desta sociedade. Eu poderia escrever aqui sobre os 260 assassinatos de LGBT´s ocorridos no Brasil no ano passado, mas nao vou. Poderia tb, seu eu quisesse, escrever sobre a quantidade de crianças e adolescentes que sofrem por conta de suas orientações sexuais. De pessoas que são infelizes por isso. Das que se matam por conta apenas de sentir desejo por alguém do mesmo sexo. Mas tb nao vou.
Entendo por Estado Laico, aquele que não professa alguma religião, mas que garante que todas elas possam coexistir sem que as religiões possam interferir no funcionamento dele.
 A religião, nesse caso, está interferindo na forma como a presidência lida com questões de orientação sexual. Será que ela perguntaria a uma bancada racista como lidar com os negros? Será  que ela se dirigiria a uma bancada machista para tratar de questões que dizem respeitos às mulheres? Será que ela se aconselharia com pedófilos para tratar de assuntos que tivessem relação com a penalização de crimes sexuais contra crianças? Não, né?
Portanto, não consigo entender o por quê de se aconselhar com os avangélicos sobre a homofobia. Eles são, quase sempre, homofóbicos, não sabem respeitar nenhuma diversidade (basta relembrar o que aconteceu a pouco tempo com alguns recintos que professavam religiões africanas; os tratamentos que são oferecidos para curar homossexuais).

sábado, 28 de maio de 2011

Cores & Nomes

Minha mãe se chamava Heloísa Helena, era professora, meu pai Edenyr, era fotógrafo, meu padrasto se chama Ilton, aposentado de empresa privada. Minha avó materna Dayse, era professora, meu avô Alberto, militar, minha bisavó materna, Carolina, costureira, meu bisavô materno, Antônio, não sei o que fazia da vida. Minha avó paterna, Rosa, dona de casa, meu avô paterno, Sebastião, funcionário público. Só eu fiquei para contar suas história. Quem contará as minhas?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Para Roseli Buffon (abraço e beijo em forma de texto)

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O kit anti-homofobia (texto)

Ainda não tive acesso ao kit anti-homofobia que seria distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) nas escolas de ensino fundamental e médio. Sei apenas o que me disseram sobre ele. 
Faço parte de um grande grupo virtual de discussão sobre a sexualidade e diversos temas já foram abordados durante essas trocas de e-mails. O kit foi um deles.
Sou a favor de todos os movimentos que se dizem contrários à exclusão, ao preconceito. Além disso, como professor, tenho, por obrigação, que incluir. Quando escrevo obrigação, não estou escrevendo que ela seja de uma forma imposta, além da minha vontade. Não é isso. É atribuição do professor receber todas e quaisquer diversidades em sala de aula, sejam elas, sexuais, religiosas, étnicas etc., sem distinção.
Ensinar o respeito é tb uma das atribuições da escola, justamente porque ali, em sala de aula, ou na escola como um todo, alunos convivem com uma grande diversidade de crianças: cores, sexos, alturas, pesos, religiões e sabemos, sobretudo quem circula nesse ambiente, que pouco ou quase nada se fala sobre isso.
Fala-se de etnia numa data especial, como se fosse uma oportunidade para discutir um tema fora da realidade, assim como se fala do índio apenas no dia 19 abril. Um índio exótico que descerá de uma estrela colorida e brilhante. E as crianças voltam para a casa pintadas como um índio.
Discussões feitas dessa forma são improdutivas, porque é o mesmo que falar que a Terra é redonda ou que o sol é o centro do universo. Não muda nada. É tão distante que não produz efeito nenhum.
A sexualidade não pode ser tratada como um tema fora da realidade. Não pode ser tratada como se ela não nos constituísse. Porque tratada assim, fora da realidade, é que ouvimos, sabemos, vemos acontecer tanta violência contra gays, lésbicas, travestis e transexuais. 
Precisamos discutir, fazer com que as crianças saibam que essa diversidade existe, que faz parte da sociedade (e não que está fora dela). O mundo é muito maior do que a nossa casa. Além disso, quando a proposta é discutir a sexualidade, estamos falando em nome, inclusive, do seu filho, não apenas do filho da vizinha. Estamos falando em nome dessa criança que é agredida fisicamente, insultada, injuriada, destratada e que, na melhor das hipóteses, deixa de frequentar a escola porque o ambiente passa a ser perigoso.
O kit-anti homofobia é um material que vai promover uma discussão, ele não tem o poder de transformar ninguém em homossexual. Ele apenas coloca na ordem do dia um assunto que faz parte da ordem do dia, só que com outra abordagem, sem o ranço religioso, sexista, moralista, porque não se pode impor em nome de uma religião, sexualidade, moralidade que a sociedade seja homogêna. Ela não é. Não adianta querer que ela seja, tapar os olhos para o diferente. Não vai adiantar. Seria uma luta inglória.
Precisamos tirar do silêncio, da clandestinidade, da marginalidade todas as minorias. Precisamos incluir. Eu me sentiria muito mal se soubesse que ajudei a promover alguma exclusão. Não quero isso pra mim, não quereria isso pro meu filho nem para o seu.
Não consigo compreender o medo que se tem do tema. Talvez eu compreenda sim. Só não posso compactuar com ele. O kit sozinho não produz nada, mas o kit acompanhado de um professor, que o compreenda e que possa realizar as discussões, pode produzir uma sociedade muito mais acolhedora, uma sociedade capaz de receber bem o outro, seja lá quem ele for.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Fast Food que não engorda


O abraço é saudável.
Ajuda o sistema imunológico do Organismo Humano; mantêm-nos saudáveis, cura a depressão; reduz o estresse; conduz ao sonho; é fortalecedor; é rejuvenescedor e não tem efeitos secundários desagradáveis.
O abraço não é mais nem menos do que uma medicina milagrosa.
O abraço é absolutamente natural, biológico, doce mas sem açúcar, sem pesticidas, sem corantes nem conservantes, sem ingredientes artificiais e cem por cento integral.
O abraço é praticamente perfeito: é grátis, não derrama, não tem baterias que se descarregam, não necessita de controles periódicos, tem baixo consumo de energia, produz muito vigor, é á prova de inflação, não engorda, não tem quotas mensais nem requisitos de seguro.
É á prova de roubos, não contamina e é totalmente reciclável.

Sobre os "erros" em livro didático - Sírio Possenti (Texto)

Aceitam tudo

Reprodução
Trecho do livro Por uma Vida Melhor apresenta a pergunta posso falar 'os livro'?
 
Trecho do livro "Por uma Vida Melhor" apresenta a pergunta "posso falar 'os livro'?"

Sírio Possenti
De Campinas (SP)
De vez em quando, alguém diz que lingüistas "aceitam" tudo (isto é, que acham certa qualquer construção). Um comentário semelhante foi postado na semana passada. Achei que seria uma boa oportunidade para tentar esclarecer de novo o que fazem os linguistas.
Mas a razão para tentar ser claro não tem mais a ver apenas com aquele comentário. Surgiu uma celeuma causada por notas, comentários, entrevistas etc. a propósito de um livro de português que o MEC aprovou e que ensinaria que é certo dizer Os livro. Perguntado no espaço dos comentários, quando fiquei sabendo da questão, disse que não acreditava na matéria do IG, primeira fonte do debate. Depois tive acesso à indigitada página, no mesmo IG, e constatei que todos os que a leram a leram errado. Mas aposto que muitos a comentaram sem ler.
Vou tratar do tal "aceitam tudo", que vale também para o caso do livro.
Primeiro: duvido que alguém encontre esta afirmação em qualquer texto de linguística. É uma avaliação simplificada, na verdade, um simulacro, da posição dos linguistas em relação a um dos tópicos de seus estudos - a questão da variação ou da diversidade interna de qualquer língua. Vale a pena insistir: de qualquer língua.
Segundo: "aceitar" é um termo completamente sem sentido quando se trata de pesquisa. Imaginem o ridículo que seria perguntar a um químico se ele aceita que o oxigênio queime, a um físico se aceita a gravitação ou a fissão, a um ornitólogo se ele aceita que um tucano tenha bico tão desproporcional, a um botânico se ele aceita o cheiro da jaca, ou mesmo a um linguista se ele aceita que o inglês não tenha gênero nem subjuntivo e que o latim não tivesse artigo definido.
Não só não se pergunta se eles "aceitam", como também não se pergunta se isso tudo está certo. Como se sabe, houve época em que dizer que a Terra gira ao redor do sol dava fogueira. Semmelveis foi escorraçado pelos médicos que mandavam em Viena porque disse que todos deveriam lavar as mãos antes de certos procedimentos (por exemplo, quem viesse de uma autópsia e fosse verificar o grau de dilatação de uma parturiente). Não faltou quem dissesse "quem é ele para mandar a gente lavar as mãos?"
Ou seja: não se trata de aceitar ou de não aceitar nem de achar ou de não achar correto que as pessoas digam os livro. Acabo de sair de uma fila de supermercado e ouvi duas lata, dez real, três quilo a dar com pau. Eu deveria mandar esses consumidores calar a boca? Ora! Estávamos num caixa de supermercado, todos de bermuda e chinelo! Não era um congresso científico, nem um julgamento do Supremo!
Um linguista simplesmente "anota" os dados e tenta encontrar uma regra, isto é, uma regularidade, uma lei (não uma ordem, um mandato).
O caso é manjado: nesta variedade do português, só há marca de plural no elemento que precede o nome - artigo ou numeral (os livro, duas lata, dez real, três quilo). Se houver mais de dois elementos, a complexidade pode ser maior (meus dez livro, os meus livro verde etc.). O nome permanece invariável. O linguista isso, constata isso. Não só na fila do supermercado, mas também em documentos da Torre do Tombo anteriores a Camões. Portanto, mesmo na língua escrita dos sábios de antanho.
O linguista também constata the books no inglês, isto é, que não há marca de plural no artigo, só no nome, como se o inglês fosse uma espécie de avesso do português informal ou popular. O linguista aceita isso? Ora, ele não tem alternativa! É um dado, é um fato, como a combustão, a gravitação, o bico do tucano ou as marés. O linguista diz que a escola deve ensinar formas como os livro? Esse é outro departamento, ao qual volto logo.
Faço uma digressão para dar um exemplo de regra, porque sei que é um conceito problemático. Se dizemos "as cargas", a primeira sílaba desta sequência é "as". O "s" final é surdo (as cordas vocais não vibram para produzir o "s"). Se dizemos "as gatas", a primeira sílaba é a "mesma", mas nós pronunciamos "az" - com as cordas vocais vibrando para produzir o "z". Por que dizemos um "z" neste caso? Porque a primeira consoante de "gatas" é sonora, e, por isso, a consoante que a antecede também se sonoriza. Não acredita? Vá a um laboratório e faça um teste. Ou, o que é mais barato, ponha os dedos na sua garganta, diga "as gatas" e perceberá a vibração. Tem mais: se dizemos "as asas", não só dizemos um "z" no final de "as", como também reordenamos as sílabas: dizemos as.ga.tas e as.ca.sas, mas dizemos a.sa.sas ("as" se dividiu, porque o "a" da palavra seguinte puxou o "s/z" para si). Dividimos "asas" em "a.sas", mas dividimos "as asas" em a.sa.sas.
Volto ao tema do linguista que aceitaria tudo! Para quem só teve aula de certo / errado e acha que isso é tudo, especialmente se não tiver nenhuma formação histórica que lhe permitiria saber que o certo de agora pode ter sido o errado de antes, pode ser difícil entender que o trabalho do linguista é completamente diferente do trabalho do professor de português.
Não "aceitar" construções como as acima mencionadas ou mesmo algumas mais "chocantes" é, para um linguista, o que seria para um botânico não "aceitar" uma gramínea. O que não significa que o botânico paste.
Proponho o seguinte experimento mental: suponha que um descendente seu nasça no ano 2500. Suponha que o português culto de então inclua formas como "A casa que eu moro nela mais os dois armário vale 300 cabral" (acho que não será o caso, mas é só um experimento). Seu descendente nunca saberá que fala uma língua errada. Saberá, talvez (se estudar mais do que você), que um ancestral dele falava formas arcaicas do português, como 300 cabrais.
Outro tema: o linguista diz que a escola deve ensinar a dizer Os livro? Não. Nenhum linguista propõe isso em lugar nenhum (desafio os que têm opinião contrária a fornecer uma referência). Aliás, isso não foi dito no tal livro, embora todos os comentaristas digam que leram isso.
O linguista não propõe isso por duas razões: a) as pessoas já sabem falar os livro, não precisam ser ensinadas (observe-se que ninguém falao livros, o que não é banal); b) ele acha - e nisso tem razão - que é mais fácil que alguém aprenda os livros se lhe dizem que há duas formas de falar do que se lhe dizem que ele é burro e não sabe nem falar, que fala tudo errado. Há muitos relatos de experiências bem sucedidas porque adotaram uma postura diferente em relação à fala dos alunos.
Enfim, cada campo tem seus Bolsonaros. Merecidos ou não.
PS 1 - todos os comentaristas (colunistas de jornais, de blogs e de TVs) que eu ouvi leram errado uma página (sim, era só UMA página!) do livro que deu origem à celeuma na semana passada. Minha pergunta é: se eles defendem a língua culta como meio de comunicação, como explicam que leram tão mal um texto escrito em língua culta? É no teste PISA que o Brasil, sempre tem fracassado, não é? Pois é, este foi um teste de leitura. Nosso jornalismo seria reprovado.
PS 2 - Alexandre Garcia começou um comentário irado sobre o livro em questão assim, no Bom Dia, Brasil de terça-feira: "quando eu TAVA na escola...". Uma carta de leitor que criticava a forma "os livro" dizia "ensinam os alunos DE que se pode falar errado". Uma professora entrevistada que criticou a doutrina do livro disse "a língua é ONDE nos une" e Monforte perguntou "Onde FICA as leis de concordância?". Ou seja: eles abonaram a tese do livro que estavam criticando. Só que, provavelmente, acham que falam certinho! Não se dão conta do que acontece com a língua DELES mesmos!!

Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia.

Fale com Sírio Possenti: siriopossenti@terra.com.br
Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...