quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr (16, agosto de 1923 - 28 de março de 2012)


Millôr Fernandes me fez, não tenho dúvidas, gostar mais da língua portuguesa, gostar mais de ler, gostar muito de escrever (assim como Luis Fernando Veríssimo, Carlos Drummond, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Sérgio Porto, Moacir Scliar, Nelson Rodrigues, Mário Prata etc.).
Ele me fez muito mais feliz em certos momentos. Como ri com suas tiradas, com seu humor, com a sua ironia, com sua capacidade de síntese, com seus pensamentos impensados, com, sobretudo, a desconstrução do pensamento linear.
Millôr, que era pra ser Milton, já chegou por aqui subvertendo ordens. Só descobriu na adolescência o erro ortográfico, a caligrafia duvidosa que o (des)subjetivaria para o resto da vida.
Mas nada disso importaria se a sua escrita não me contaminasse completamente, se as suas charges não me tornassem um pouco mais curioso, se as suas ideias não tivessem me feito pensar mais de uma vez a respeito do que ali se punha.
Se Milton ou Millôr, nada disso seria fundamental se certa vez eu não tivesse me defrontado com Hierarquia, com Poesia Matemática, com tantos outros textos (que, naturalmente, não caberiam aqui) sobre política, políticos, costumes.
O tanto que eu me surpreendia com sua escrita e desenho na revista Veja. Eu, ainda adolescente, muito pouco ou quase nada compreendia de toda aquela confusão ortográfica, mas inquieto, curioso e fascinado diante do que eu via.
Não estou aqui escrevendo sobre subserviência intelectual. Nunca!! Mas de poder pensar outra vez a respeito do que ele pensava, sem nunca deixar de respeitar o que ali eu via.
Uma pena não mais saber de um texto inédito no jornal de domingo, na revista semanal ... pensando bem ... seus textos sempre serão atuais porque Político profissional jamais tem medo do escuro. Tem medo é da claridade.

Poesia Matemática (Millôr Fernandes)

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

terça-feira, 27 de março de 2012

Demóstenes Torres Texto)

Em carta ao presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), o senador Demóstenes Torres (GO) pediu nesta terça (27) afastamento da liderança do partido no Senado.
Demóstenes retornou nesta terça ao Senado, depois de, na última sexta, o jornal O Globo ter relatado ligações dele com o empresário do ramo de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro por suposto envolvimento com jogo do bicho e máquinas caça-níqueis.
"A fim de que eu possa acompanhar a evolução dos fatos noticiados nos últimos dias, comunico a Vossa Excelência o meu afastamento da liderança do Democratas no Senado Federal", afirmou Demóstenes Torres no texto da carta.
A reportagem de O Globo afirma que gravações telefônicas em poder da PF mostram que o senador pediu R$ 3 mil emprestados e vazou informações de reuniões oficiais.
Cachoeira foi preso pela PF no fim de fevereiro em uma ação contra o jogo ilegal e está em uma prisão federal em Mossoró (RN).
O presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), afirmou nesta terça que, se comprovadas as denúncias, o partido vai "se mover".
"Não é que se abra discussão sobre expulsão, mas qual a gravidade das denúncias? Qual a qualidade das denúncias? O que existe? Se a Procuradoria dispõe de elementos e se os elementos são contundentes, é evidente que o partido irá se mover. O que é preciso é que a Procuradoria apresente os fatos que tem para que o partido e a nação avaliem a gravidade e a qualidade da denúncia", afirmou o líder antes de participar da reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
 
Relatório da PF
Nesta segunda, a Corregedoria Parlamentar do Senado pediu à Procuradoria-Geral da República acesso a um relatório da Polícia Federal que contém o teor de conversas entre Demóstenes e Carlinhos Cachoeira. A Justiça Federal negou revogar a preventiva de Cachoeira.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, havia dito que outros parlamentares de Goiás são mencionados nas investigações da PF. Ele analisa pedido de esclarecimento sobre as denúncias contra Demóstenes.
O relatório da PF está na PGR desde 2009, mas ainda não foram anunciadas investigações. O corregedor do Senado, Vital do Rêgo (PMDB-PB), diz que só poderão ser tomadas providências na Casa depois que os parlamentares tiverem acesso ao material.

G1 em 27/03/2012 14h12 - Atualizado em 27/03/2012 14h29.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Gafes, vexames & micos

Celular nas refeições, indiscrições no Facebook, comentários fora de hora – e tudo aquilo que fazemos de errado, mesmo sem perceber.
A falta de boas maneiras, além de contratempos, pode diminuir dramaticamente nossas chances de sucesso e felicidade, elas são um conceito relativo, que muda de acordo com as circunstâncias – é isso que torna impossível a tarefa de estabelecer regras claras de convivência atualmente.
Uma dica para definir o que são boas maneiras é pensar em seu oposto, as atitudes grosseiras.
A lista abaixo, representa um conjunto de dicas para treinar respeito, afeto e gentileza:

INTERNET
- Mantenha o nível.

Você pode manter ou elevar o nível. Baixar, nunca. Se receber um e-mail, tudo bem responder à mensagem ou telefonar, mas, se receber uma ligação e responder por e-mail, pode parecer que está fugindo do interlocutor.

- Não é assim que se escreve.

Cuidado ao corrigir os erros gramaticais que as pessoas escrevem, no lugar de corrigi-los, use a resposta para escrever a palavra correta.

- Sem papo.

Ao encontrar alguém, não conclua que a pessoa está disponível. Pergunte se ela pode conversar.

- Adapte o discurso.

Usar formas próprias de falar, não quer dizer que a mensagem será compreendida por qualquer um.


- Menos é menos.

É uma indelicadeza responder a todo mundo no grupo da mensagem só para dizer “ótimo, obrigada!”.

- Não deixe mensagem sem resposta.

Quando alguém lhe pede uma informação, não deixe esperando. Diga que está procurando a resposta e que depois responderá.

- Pergunte antes.

Não publique fotos em que seus amigos aparecem com roupas de banho, posições constrangedoras ou com um namorado antigo em redes sociais.

- Não curta.

Curtir, no Facebook, denota um sentido positivo e não é um aviso de que você leu um comentário. Não curta: “meu cachorro morreu” ou “fui demitido”.


FAMÍLIA
- Dê o exemplo.

Gentileza é contagiosa mesmo com as crianças. Saber como ensinar boas maneiras a elas é tão importante quanto o que ensinar.

- Mudar o discurso sem mexer no conteúdo.

É comum entre casais comentários recorrentes que irritam o parceiro. Descubra um jeito de passar o recado no melhor tom possível.

- Não piore as coisas.

Os mais velhos cansam de ouvir as perguntas: “você está bem” ou “você está feliz”. Isso os faz pensar como estão perto da morte. Da mesma forma, pacientes com doenças terminais não querem ouvir: “você está ótimo”.

- Fale do futuro.

O futuro é reconfortante, principalmente quando se está doente. Pressupõe longevidade.

AMIGOS
- O problema do “sem problema”

Quando alguém não puder ir a sua festa, não devolva um “sem problema”. O correto seria “você faz falta, mas eu entendo”.

- Conversa não é competição.

Se alguém lhe conta um episódio curioso e você tem uma história similar, escute o que a pessoa tem a dizer até o fim. Cuidado para não entrar numa competição de histórias.

- Memória.

Lembrar de um comentário feito há anos ou perguntar sobre o desfecho de alguma história, é uma atitude de gentileza.

- Solidarize-se.

Se alguém perto de você precisa limpar o nariz, peça licença, traga dois lenços e diga que vocês dois precisam assoar o nariz. Compartilhar o embaraço diminui seu efeito.


- Parabenize. Não desestimule.

Por que as pessoas não podem ser encorajadoras?


- O anfitrião dá o tom.

Numa recepção, é de bom-tom você mesmo atender a porta, apresentar os convidados uns aos outros e levantar algum assunto que possa aproximar as pessoas.


- Gastrochatos.

Se você foi convidado e é um chato para comer, não transfira o problema para o anfitrião.


SOCIEDADE
- Não basta ter a razão.

Não é necessário ser rude para ter a razão.


- Contenha-se na loja.

Se você vir uma moça com uma roupa que lembre uniforme, não conclua que ela é a vendedora.


- Você primeiro.

É um ato corriqueiro que faz diferença.


- Esquecer é humano.

Ao ser abordado por alguém que parece conhecê-lo, mas de quem você não se lembra, seja franco.


- Apresente-se.

É um ato educado apresentar-se dizendo seu nome, e de onde você conhece a pessoa.


- Ninguém sabe tudo.

Não finja que você sabe do que a outra pessoa está falando.


- Grávida ou muito bem alimentada?

Não assuma que uma mulher está grávida até ser informado sobre isso – mesmo que pareça que ela tenha uma melancia na barriga.

Retirado da Revista Época.

Os 7 passos para passar dos 100 (texto)

1. Curtir a vida — "não adoidado!", fazendo alusão ao nome de um filme de comédia. A proposta é harmonizar corpo, mente e alma. Pesquisas feitas com pessoas centenárias apontam para uma relação entre espiritualidade e longevidade, segundo a médica. Esse fator é importante para que a vida tenha um significado.

2. Uso de medicamentos — o uso de medicamentos é uma parte importante do tratamento de doenças como hipertensão e diabetes, por exemplo. Mas é uma das. "Se o paciente só toma o remédio, mas não pratica exercício, não se alimenta bem, não terá o mesmo efeito".

3. Refeições equilibradas — existem alimentos antioxidantes e anti-inflamatórios que ajudam a prolongar os anos de vida. Mas, para começar, a médica receita três atitudes simples: comer um pouco menos, comer mais devagar e preferir alimentos a produtos industrializados.

4. Ocupação prazerosa — o trabalho ocupa boa parte do nosso tempo, então deve ser uma atividade prazerosa. O convite é para que seja feita uma reflexão se o trabalho está fazendo lhe bem ou não e como melhorar seu bem-estar profissional. A satisfação com o trabalho é um ponto comum entre os octagenários, conforme pesquisas.

5. Tabagismo e drogas zero — de acordo com Mariela, não há meio termo para cigarro, diferentemente do álcool, que até pode ser consumido em doses moderadas. Para quem quer parar de fumar, a dica é valorizar o hoje: cada dia sem cigarro é um avanço rumo à longevidade saudável.

6. Exercício físico — a médica diferencia o exercício físico, programado para melhorar a performance cardiovascular e o gasto energético, da atividade física, que está mais relacionada ao dia a dia — ir a pé para o trabalho, usar a escada em vez do elevador, lavar roupas, cuidar da horta, etc. Está mais do que comprovado que se movimentar é essencial para o bom funcionamento do organismo.

7. Limpeza impecável dos dentes — a boca é a porta de entrada da saúde do corpo. Uma boa dentição pode permitir que as pessoas sejam mais funcionais por muito mais anos, além de evitar doenças sistêmicas. Trabalhos científicos relacionam o número de dentes que a pessoa tem com sua longevidade. Pelo menos uma vez ao dia deve ser feita a escovação "impecável", que inclui a escovação completa dos dentes com uso de fio dental.

http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/noticia/2012/03/conheca-os-sete-passos-para-viver-bem-por-mais-de-100-anos-3706842.html

domingo, 25 de março de 2012

Espírito de porco aos montes (texto)

Já escrevi aqui algumas vezes, diga-se, sobre a salvação que é poder escrever. Escrever me salva e me tira, na maior parte das vezes, de grandes angústias. Por exemplo, a que me encontro agora.
Estou organizando um evento para o Colegiado do meu curso, na universidade, O Simpósio de Estudos da Linguagem (SNEL). Acontece que organizar um evento sozinho não é fácil. Nem com um grupo é fácil, mas sozinho, menos ainda.
Hoje, recebi algumas ligações e e-mails reclamando das normas para a proposição de Simpósios e Sessões coordenadas de comunicação. Perguntem se alguém me escreveu para oferecer ajuda para elaborar alguma coisa? Se alguém se ofereceu para pensar junto comigo antes da página do evento entrar no ar?
N I N G U É M deu as caras, ninguém me ligou e muito menos esteve junto comigo para por o bloco na rua.
Então, por que é que para reclamar aparece sempre alguém? Nem é mais fácil, dá tanto trabalho quanto. Procurar meu endereço, redigir um e-mail, enviar. Cansa tanto quanto escrever para contribuir. Sei que cada um faz o que pode e não o que quer, sei também que espírito de porco existe aos montes.
Pronto, escrevi e já estou me sentindo um pouc melhor.
 

quinta-feira, 22 de março de 2012

Bato para o outro aprender a não ser violento (texto)

Neste último mês, assisti algumas matérias na TV e no G1, principalmente, sobre agressões em portas de escolas aqui no Paraná, em Santa catarina, em São Paulo, em Porto Alegre e em outros estados.
Cenas de violência entre alunas, mães de alunas e estudandes. Em todas elas, sem exceção, justificavam-se as agressões em virtude de outras agressões que ocorreram.
Todas, senhoras de si, cheias de razão, mães de alunos ou alunas que não viam em suas ações nada de violento, já que estavam, de alguma forma, segundo seus relatos, "batendo para que a outra aprendesse".
O que se aprende com a violência? Quem são essas mães que partem para um confronto achando que seus atos justificam-se? Como é que um adulto pode por meio de brigas achar que está dando um bom exemplo? Como é que uma mãe de aluno pode agredir em nome da agressão e se justificar?
Não sei não, mas diante dessas cenas bárbaras que se repetem quase que diariamente nas escolas (pra que serve mesmo a escola?), muito pouco, ou quase nada, me faz acreditar na educação.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Novidade pra quem? (Texto e vídeo)

Assisti a matéria sobre corrupção produzida para o Fantástico apenas hoje no Jornal Nacional (JN), confesso que não me surpreendi com a cara de pau do envolvidos, com os golpes combinados, com a roubalheira, com o mau exemplo que se dá, mas não posso dizer que fiquei indiferente apenas porque sei que tudo isso (e muito mais) existe.
A grande questão é quando se vê materializado em vídeo tudo aquilo que já estamos carecas de saber. Ou alguém duvidaria de que aquilo tudo não acontecesse?
Os caras são profissionais, não há ali nenhum amador em se tratando de crimes contra o Estado. Acho, inclusive, que gestores públicos tb sabem de tudo isso, e mais, participam do esquema recebendo grande quantidades de dinheiro em subsolos de shoppings, em praias acima de quaisquer suspeitas.
Num clima de descontração, fala-se em percentual, em quebra-galhos, em uma mão-lava-a-outra de forma que se pode compreender que há muito tudo isso acontece.
Não é novidade para ninguém.
Na continuação da matéria no JN, políticos indignados falando em nome da moralidade e bons costumes. Era pra rir? Figurões que estão faz anos mamando dinheiro público dando uma de acima de quaisquer suspeitas. Sabe quando tudo isso vai acabar? Depois que, no mínimo, três gerações passarem para o andar de cima.

Precisa mesmo cursar jornalismo pra isso? (texto)


Definitivamente, não me interessa a vida de “famosos”. Não quero saber com quem se casaram, aonde foram, se foram, com quem almoçaram ou jantaram, se fizeram um passeio pelas ruas do Leblon, se compraram uma casa nova, se estão grávidas, se trocaram de namorado, se traíram o ex e muito menos se pousaram na revista X ou Y. Nada mais sem graça, ao meu ver, do que acompanhar as  celebridades de plantão.
Não quero saber o que eles pensam da fome no mundo, não quero saber o que acham da situação da mulher mundo afora, não me importo como apareceram na entrega do prêmio (até porque sempre aparecem da mesma maneira: o microvestido mostrando mais do que devia - precisa se formar em jornalismo para isso?). Nada, absolutamente nada do que fazem ou pensam diz respeito a mim (se é que eles pensam ou fazem alguma coisa que realmente importaria).
Não tem nada mais brochante do que abrir a página do provedor do meu endereço eletrônico e me deparar com a última da ex-BBB: saber como ele se vestiu para almoçar naquela churrascaria badalada do Rio de Janeiro (normalmente aquela que fica na Barra da Tijuca) ou ver a foto do galã de malhação que foi lanchar com os amigos e pediu mais queijo branco no seu sanduíche.
Meu deus, quanta mediocridade!!!! Não é possível que as pessoas se interessem por essas porcarias. E se se interessam, não seria a hora da mídia não estimular tamanha besteira?! Será que vende mais porque é crocante ou é crocante porque vende mais?

Dilma e o bloco dos sujos (Texto - Ruth de Aquino)


RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)

Chantagear a presidente e impedir votações importantes não ajuda nem o Senado nem o país

Algo me diz que, se Renan Calheiros, Romero Jucá e Blairo Maggi estão possessos com Dilma, a presidente está certa. Não reconheço em nenhum dos três senadores acima condições morais para exigir cargos de liderança ou ministérios.
Se os parlamentares, em vez de se esconder em Brasília, quisessem escutar a voz do povo, que paga seus salários e privilégios absurdos em troca de nada, saberiam que Dilma está bem melhor no filme do que eles. Chantagear a presidente e impedir votações importantes no Congresso não ajuda os senadores. A base real, o eleitorado, enxerga o Congresso como venal e fisiologista, atuando em benefício próprio e contra o interesse público.
Vou me abster de enfileirar aqui escândalos de que Calheiros, Jucá e Maggi foram acusados, que envolvem superfaturamento, desvio de dinheiro, abuso de poder, fraudes, compra de votos, uso de laranjas e doleiros. Uma página não seria suficiente. Mas estão todos aí, vivinhos da silva, pintados de guerra e bravatas, graças ao toma lá dá cá tropicalista.
Estão aí também porque, à maneira do ex-presidente Lula, são camaleões, mudam convicções e ideias – se é que as têm – ao sabor de quem manda. Pode ser PT, PMDB, PSDB, não importa. Jucá foi presidente da Funai no governo Sarney em 1986. Aprendeu a se fazer cacique e atravessou governos incólume.
O que importa para os políticos “com traquejo” é manter a boquinha. E se tornar eterno. O presidente vitalício do Senado, José Sarney, uma vez mandou carta a esta coluna reclamando do adjetivo “vitalício”. Achou injusto.
O que importa para o Senado é aumentar de 25 para 55 o número de cargos comissionados por parlamentar. O gasto anual subiu 157%, de R$ 7,4 milhões para R$ 19 milhões, se contarmos apenas o vale-refeição. Os “comissionados” são servidores contratados com nosso dinheiro, sem concurso público, pelos senadores. O guia do parlamentar diz que cada gabinete pode contratar 12 servidores. A Fundação Getulio Vargas, em estudo de 2009, definia como teto 25 funcionários de confiança por senador. Por causa de uma “brecha” (chamo isso de outra coisa), esses 25 se tornaram 55. Quantos fantasmas, alguém arrisca uma estimativa dos que nem aparecem para trabalhar? Muitos senadores liberaram seus fantasmas da exigência de ponto. São coerentes nisso. Como exigir ponto de invisíveis?
O campeão dos comissionados é Ivo Cassol, do PP de Rondônia, que contratou 67. Repetindo: Rondônia. Mas nosso inesquecível Fernando Collor, do PTB de Alagoas, não faz feio no ranking: tem 54 pajens. Collor “aconselhou” Dilma a não peitar o Congresso, porque ele teria sofrido impeachment por ser impetuoso demais. Falta memória ou desconfiômetro? É por essas e outras que os programas de humor na televisão têm reforçado suas equipes no Congresso. A OAB diz que os fantasmas são imorais – até o Facebook está pensando em censurá-los. Estão pelados, pelados, nus com a mão no bolso.
E daí? Alguém vai fazer algo ou a pauta do Congresso, fora da “zona de conforto”, é a queda de braço com Dilma e o boicote a temas reais?
Que injustiça, não vamos generalizar. Existe um tema real, candente, tão importante que une todos os partidos. Da base aliada, da base oposicionista, da base mascarada. Não é o Código Florestal. Dezoito partidos pediram ao Tribunal Superior Eleitoral que libere os candidatos com “conta suja”. Políticos com gastos de campanha reprovados deveriam disputar eleição, como sempre foi. Por que mudar a regra?
Dá para entender o rebuliço. Só em três Estados, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, as contas de 1.756 políticos foram reprovadas, e eles não poderiam concorrer. No país inteiro, é um blocão de sujos, e cada vez aumenta mais. Resista, TSE.
Dilma enfrentou das viúvas do Lula nos últimos dias uma saraivada de críticas a seu estilo. Foi comparada ao lutador Anderson Silva, do vale-tudo. Cientistas políticos dizem que ela mexeu numa casa de marimbondos. Devem ter se referido aos marimbondos de fogo. É ruim isso? Ela não teria traquejo, nem gosto para a política, uma presidente isolada, sem amigos. Que amigos? Os que compõem dinastias, oligarquias e são donos de capitanias hereditárias? Quando Lula distribuía afagos e benesses, era acusado de lotear o Estado. Agora, Dilma é acusada de intempestiva, virulenta e de colocar um turrão e um durão no Senado e na Câmara.
A frase da semana é do presidente do PR e ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, deposto por suspeitas de irregularidades em julho do ano passado. Ele saiu em defesa da bancada vira-casaca do PR. Ameaçou o governo: “Acabou, chega! Ninguém aqui é moleque”. É. Pode ser. Afinal, os senadores se tratam por Vossa Excelência. Os moleques devemos ser nós, os 190 milhões que vêm sendo tratados como trouxas. 

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...