sábado, 13 de junho de 2015

Tem sempre uma música dessa dupla (Fernando Brant e Milton Nascimento) a me rondar

Resultado de imagem para milton nascimento e fernando brantQuem me conhece do dia a dia sabe o quanto eu gosto de música. Não diria de todos os ritmos e gêneros musicais. Há coisas que não entram pela porta de casa de jeito nenhum, mas, de uma forma geral, eu gosto muito mais do que desgosto.
Ontem, no Deezer (é um serviço de Streaming de música. Funciona como o Netflix, só que de músicas) fiz uma procura por Milton Nascimento, depois que ouvi a triste notícia da morte de Fernando Brant (parceirão de Milton em diversas músicas).
Fernando e Milton se misturam de tal forma que não dá pra pensar em um sem o outro: desde Travessia até o mais recente CD do cantor/compositor, Brant está ali. A gente mistura tanto que atribui aos dois músicas que não são deles.
Bem, não é sobre essa parceria, não é sobre Brant e nem sobre Milton, especificamente, que pretendo escrever aqui, mas sobre um mundo de músicas desses dois que beira o impossível se se tratasse de escolher algumas para ouvir, se se tratasse de selecionar algumas para deixar na minha playlist. Se se tratasse de selecionar apenas um CD para ouvir. Tarefa impossível. 
Dei uma passada na lista oferecida pelo aplicativo, porque fazia isso enquanto assistia a um jornal desinteressante da TV e percebi que seria uma jornada inglória. Não dá pra escolher um CD do Milton que tenha uma relação especial com a minha vida. Uma música então nem se fale! Em todos, sem exceção, têm alguma coisa que me encantou e ainda encanta. É um baile da vida inteira.
São tantas recordações, tantos momentos, tantas letras maravilhosas e melodias alegres e tristes que me tocaram e tocam de forma tão intensa que fiquei perdido nesse mar de notas e cordas vocais potentes.
Minha mãe, vou eu outra vez falar dela, gostava tanto de Milton tb por minha causa: a gente se influenciava tb musicalmente. E cantamos juntos tantas dessas canções. Tantas delas fizeram parte de algum momento de nossas vidas que seria difícil selecionar algumas.
Já disse isso aqui, e direi outra vez, se tivéssemos um Nobel de Música certamente acumularíamos muitos prêmios porque são tantos compositores de níveis estelares que sobrariam poucas edições (dessa provável premiação) sem uma indicação de algum brasileiro. E isso me dá um certo alívio, engraçado essa sensação pra mim, porque sei que não vou ficar jamais sozinho sem um fundo musical de alta qualidade pra ouvir se chove, se faz frio, se estou triste ou alegre, sozinho ou acompanhado, se nasceu alguém ou morreu se chegou ou se partiu porque chegar e partir são dois lados da mesma viagem.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Qual a palavra que nunca foi dita?

Hoje é dia 12 de junho, Dia Dos Namorados, aqui no Brasil. Tenho acompanhado desde cedo, no Facebook, principalmente, uma enxurrada de postagens de casais de todos os tipos (gordos, altos, brancos, héteros, novos, magros, gays, velhos, negros, baixos, um pouco de tudo isso ao mesmo tempo...) declarando-se ao/a seu/sua campanheiro/a.
Isso me fez pensar quado da minha adolescências, nos anos 80, como isso era impossível: declarar-se publicamente em rede social para o seu parceiro do mesmo sexo (tudo bem, diriam uns, que nos anos 80 aqui no Brasil, e quiçá no mundo, não existiam redes sociais). Mas não é exatamente sobre isso que estou falando.
Saímos daquele lugar do silenciamento, do armário com as portas obrigatoriamente trancadas. Ainda que seja fundamental chamar a atenção para a intolerância, a violência, o desamor que nos ronda.
Me sinto feliz pelas postagens, pela coragem (porque ainda é um gesto de coragem e resistência) de se expor publicamente.
Feliz dia dos namorados a todos!!!!!!

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A mulher crucificada, Pablo Morenno - Zero Hora

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A polêmica representação da transgênero crucificada na parada GLBT sofreu, ao meu ver, um equívoco de leitura: foi interpretada como protesto contra o cristianismo, quando na verdade é uma denúncia sob a linguagem cristã. Ou seja, a imagem comunica desde dentro do cristianismo, e não de fora. Ela não se opõe ao simbolismo da cruz, mas o atualiza e o explicita, o traduz e o contemporiza. O processo simbólico é o mesmo, por exemplo, quando se representa Jesus como negro, como índio, como cigano, ou como gaúcho. Mas por que, nesses casos, poucos se ofendem?
Porque o desconforto causado não é pela representação em si da crucificação. Isso acontece na Sexta-feira Santa, em filmes, peças teatrais, sem alvoroço. A “ofensa” é porque os ofendidos não acham digno o corpo sobre a cruz, uma vez que “impuro”. É blasfêmia.
Parece-se à visão sobre Jesus dos homens de seu tempo. Ele era impuro, porque vivia com impuros (prostitutas, leprosos, cobradores de impostos).
Jesus várias vezes enfrentou a ideia de impureza nos meios religiosos da época. Mas um relato me parece especial: quando trouxeram até ele uma prostituta para ser apedrejada. Quem não tiver pecado algum atire a primeira pedra. E cada um, começando pelos mais velhos, largou a sua pedra e foi embora.
Os que trouxeram a mulher queriam salvar a religião do que achavam ser uma ofensa a princípios religiosos. Jesus demonstra que o tempo do apedrejamento já tinha passado. A Lei exigia outra interpretação.
A cena na Paulista não foi um protesto. Foi uma denúncia, e como “instalação” artística cumpriu seu papel de causar desconforto. Porém, o desconforto não tem de ser com a instalação em si, um simulacro, mas contra aquilo do qual ela é metonímia: a violência real sofrida pelos gays.
Sou cristão, católico praticante, e não me senti ofendido, mas incomodado. Não com a cena. Mas porque acusam seus realizadores pelo mesmo pecado que levou Jesus à crucificação: blasfêmia.

sábado, 6 de junho de 2015

Da Série Contos Mínimos

Ela pensava que nada, nada mesmo seria capaz fazê-la continuar. Esqueceu-se apenas do Tempo. A gente se esquece do essencial, às vezes.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Em nome da sociedade e da família

Casais comemoram Dia dos Namorados (Foto: Reprodução/YouTube)O tempo passa rápido mesmo. Estamos no século XXI, eu já estou com 50 anos, cabelos (?) brancos, barba branca, estou a caminho da velhice. "Os tempos são outros" era uma oração frequente na boca da minha bisavó. E dependendo do que estamos falando, é mesmo outro tempo. Eles mudaram!
Mas, nem sempre essa mudança é pra frente. Às vezes damos muitos passos para trás.
Bem, ontem li no G1 que 20 reclamações chegaram ao CONAR em relação à propaganda do dia dos namorados do Boticário. O Conar é uma agência reguladora de propagandas (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária). Uma das suas atribuições é fiscalizar se há algum excesso nos anúncios (TV, rádio, outdoor etc.), ou seja, se produzem preconceitos, se expõem crianças, se reforçam estereótipos, se são discriminatórias etc.
A propaganda do Boticário do dia dos namorados apresenta três casais de namorados. Não ha beijo. Não há sexo. Não há nada além de trazer esses três casais formados por um homem e uma mulher, dois homens e duas mulheres comprando, no Boticário, o presente para o seu parceiro/parceira. 
Foi o bastante para que provocasse Em nome da sociedade e da família um alvoroço daqueles. Quer dizer, nem sei se é daqueles porque foram apenas 20 reclamações registradas no CONAR e algumas postagens defendendo o Boticário nas redes sociais. Por isso, penso que algum burburinho causou.
O argumento usado numa das reclamações, título desse post, me chamou a atenção: "Em nome da sociedade e da família". Isso é recorrente quando o assunto é a homossexualidade. Já me fiz essas perguntas e vou fazê-las outra vez pra ver se consigo, nessa insistência, compreender o que se trata:
1. Qual é a sociedade que tanto é evocada quando se fala do mal causado pelo homossexual/homossexualidade?
2. Quem é que fala em nome dessa sociedade?
3. Por que o homossexual é e ao mesmo tempo não é parte da sociedade?
4. Quem o exclui? E por que o faz?
5. Por que ao se falar sobre a homossexualidade, ainda hoje, não se podem incluir palavras tais como "amor", "moral e bons costumes", "família"?
Essa sociedade, quando surge, me parece que é uma entidade que paira acima de todos os interesses. Como um deus. Ela não é a sociedade heterossexual, porque ninguém pode, em sã consciência, falar em nome de todos os heterossexuais. É um "nós" estranho de entender. 
É um "nós" que se coloca em um outro lugar. Um lugar que o homossexual não pode/deve ocupar porque ele e seus costumes devem ser banidos, exterminados. A homossexualidade não tem/não pode ter espaço nessa sociedade. 
Mas essa sociedade é abstrata porque tanto o gay, a lésbica, a/o travesti, o/a bissexual, o transgênero quanto o não-gay fazem parte dela. Inclusive ela é o que é porque é composta da forma como é composta. Parece óbvio demais pra ser escrito aqui. E é mesmo.
Tb não é um "nós" evangélico, como gostariam uns de acreditar, porque li manifestações muito maduras de internautas que se dizem cristãos e evangélicos e que se colocaram num outro lugar em relação à propaganda.
Me parece que há uma falta com o que se preocupar porque o homossexual/homossexualidade passou a ser o que move a vida de algumas entidades religiosas. 
Alguns religiosos midiáticos fizeram desse assunto a sua bandeira: uma panfletagem política.
Além disso, o Boticário é uma empresa que quer vender. Ela não está preocupa se vende pra gays ou héteros, brancos ou negros, altos ou baixos. A sua preocupação é com o lucro e ela, assim como o sistema econômico, que incluir o máximo possível de compradores. Não por um acaso, os seus publicitários pensaram nessa forma de anunciar a marca: ela coloca a empresa em evidência porque produz um "escândalo". 
E, seria trágico se não fosse estratégico, o anúncio tem prazo de validade: dia 12 de junho é o dia dos namorados e muito provavelmente a peça sai do ar.
O CONAR nos avisou que tem prazo até julho pra avaliar essas reclamações. Ou seja, em julho, nada mais será importante.
A minha impressão é a de que vamos nos (esse "nos" é inclusivo porque vai dizer respeito a todos nós, sem exceção) envergonhar muito quando, futuramente, alguém pesquisar a sociedade brasileira do século XXI e os seus discursos sobre a sexualidade. Andamos um pouco pra frente, é verdade, mas continuamos reproduzindo sentidos tão caducos em relação à vida sexual dos outros! Que pena!

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Dancê, Tulipa Ruiz 2015



Antes de ouvir o mais recente CD da Tulipa Ruiz, fui convencido pela mídia especializada de que se tratava de um CD de músicas dançantes. Dancê é o nome deste trabalho. 
E eu fiquei imaginando um CD de pista de dança. Depois, pensando bem, qual música não se pode dançar? Pra dançar basta ter vontade.

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Bem, não acho que se trate disso. Não acho mesmo que seja um CD para dançar, não dentro daquele ideia (que eu tinha) de pista de dança. Agora, como eu disse, para danser avec vous basta ter vontade. 
Eu dancei sozinho mesmo, mas mais do que isso eu curti demais as músicas, as letras, os arranjos, a voz. Bem, o CD é formidável. Não consigo pensar num outro adjetivo para defini-lo.
De cara, a música Reclame me pegou pelo humor e pela interpretação da cantora. Acordo todos os dias com uma música (deste CD) diferente na cabeça e aí ouço sem parar.
Inclusive, estou agora, enquanto escrevo, ouvindo Tafetá. Uma música que me remete às músicas dos anos 60, tipo Teletema.

Ah, Proporcional, terceira faixa, é outra música que gruda, no bom sentido. 
Old Boy, penúltima faixa, que não tem nada a ver com pista de dança (naqueles termos), é a minha preferida . Me emocionou muito: tem uma melancolia na letra e um sax sensual, uma bateria excitante e um baixo que me vez velejar por aí.
Pra mim este CD é tão bom quanto os anteriores. Acho que ele nos dá a certeza de que ela é uma grande artista: cantora e compositora.
Vamos ouvir!?

terça-feira, 26 de maio de 2015

Estratosférica - Gal Costa - 2015

A cantora Gal Costa, que lança o disco 'Estratosférica' (Foto: Divulgação)Desde a primeira audição, tive a impressão (eu não queria rimar) de que as letras e músicas me eram familiares. E isso não é negativo. Gostei de cara. O que é, em geral, difícil, porque, pelo menos comigo, as músicas vão entrando aos poucos e somente depois de ouvi-las por muitas e muitas vezes. Mas não foi isso que aconteceu com Estratosférica.
O mais recente CD de Gal Costa lançado no último dia 21 de maio, é excelente. 
Com exceção da última faixa, todas as músicas são inéditas. Muitos compositores com uma longa trajetória na MPB. Os mais novos são bastante populares: há músicas de Mallu Magalhães, Marcelo Camelo, Céu, Thalma de Freitas, Junior Barreto, dentre outros. Uma parceria de Criolo e Milton (Nascimento), Tom Zé, Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Antonio Cícero, João Donato e Caetano e Zeca Veloso. Bem, com esse time, dificilmente teríamos qualquer coisa. E não temos!
Acho, é achismo mesmo já que não sou especialista em música, mas alguém que vive muito melhor porque existe música (e música brasileira). Digo sempre que se existisse um prêmio Nobel de Música (como existe para Literatura), certamente, teríamos muitos candidatos e premiados nessa categoria.
Gal até gravar o CD Recanto (CD anterior) não vinha de uma boa fase de bons discos (CDs). Ela vinha de regravações em regravações, sem surpresa, sem novidade alguma, sem arriscar, vinha no/do óbvio, daquilo que era certo vender e agradar. E agradava porque ela é uma cantora sensacional!
Não tenho muita certeza, mas acho que Aquele frevo axé foi o último CD em que ela trouxe alguma novidade (bem pouca), misturada, é claro, com muitas regravações.
Estratosférica é um grande trabalho: letras sensíveis, agressivas, impactantes. Me tocou, como eu disse, de cara. 
Vale conferir.

sábado, 23 de maio de 2015

Da Série Contos Mínimos

Resultado de imagem para se eu cair no mundoSe eu cair no mundo, não me levanto mais: vou de festa em festa, de bar em bar, experimentando alegrias e sabores diversos. Nem vou querer saber se é dia ou noite, se cedo ou tarde. Vou aproveitar até o sono me pegar de vez.

Da Série Contos Mínimos

Resultado de imagem para confiança perdida
Ele sempre vinha com a mesma conversa fiada. Achava que o tempo para refazer o mal-feito era ilimitado.
Precisou ouvir com todas as letras para compreender: Diferentemente de um jogo perdido ou de uma aposta que não deu em nada, e que é possível, no outro dia, jogar outra vez, arriscar de novo, a confiança perdida não dá segunda chance.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Da Série Contos Mínimos

Me dobrei como se dobra uma folha de papel até ficar bem pequenininho. De forma que eu coubesse na palma da minha mão. Fui me transformando em quadrados cada vez menores até atingir um ponto em que não me era possível virar-me sobre mim mesmo.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Memórias

Faz muito tempo que recebi esse recadinho triste e carinhoso de uma amiga que sabe o que diz e sabe como dizer:

"Alexandre, as mães não morrem. Elas ficam por aí piscando o olho pra gente - "cuidado, menino"; "ponha o casaco"; "vai mais um café, meu filo?", iluminando de memória o que a vida nos reserva. De memória e de ternura, pode crer." (Bea)

E sabe-se lá porquê eu não me lembrava mais dele, até que, de repente, me confronto, numa busca por mim mesmo, com um pedacinho de página online e lá estava ele me esperando.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...