sexta-feira, 26 de abril de 2013

Portugal: Lisboa, Santarém e Cascaís

Faz muito tempo eu não passo por aqui. E isso não é alguma coisa positiva, definitivamente. Acontece que a vida anda num ritmo tão acelerado que mal tenho conseguido dar conta das minhas obrigações. E, é claro, que o prazer de escrever, mesmo sobre o prazer de algumas experiências, vai ficando pelo caminho.
Acabei de chegar de Portugal. Fui a Santarém (antiga Scalabis, foi conquistada a 15 de março de 1147, por D. Afonso Henriques. Num golpe audacioso, perpetrado durante a noite, a cidade caiu na posse de um escasso exército reunido pelo Rei de Portugal.
Esta cidade muito antiga terá sido contactada por Fenícios, Gregos e Cartagineses. A fundação da cidade de Santarém reporta à mitologia greco-romana e cristã, reconhecendo-se nos nomes de Habis e de Irene, as suas origens míticas. Os primeiros vestígios documentados da ocupação humana remontam ao século VIII a.C..) participar de um congresso sobre o ensino de língua portuguesa.
Dessa vez, fui sozinho, mas encontrei com velhos e queridos amigos. E foi divertido demais estar com eles durante uma semana e meia.
Além do evento, encontrei os alunos do Programa de Licenciaturas Internacionais que estão na Universidade de Lisboa. Foi muito bom vê-los todos bem, alegres, saudáveis, bonitos e dispostos. Uns até pensando em não voltar para o Brasil (pode isso?!).
Conheci tb Cascaís. Cidade litorânea, um céu azul que tomba sobre a gente. Ainda não tenho disponíveis as (minhas) fotografias, mas logo as tenhas, disponibilizarei aqui para compartilhar o que vi.



Viajar sempre é bom, né? 
 

sábado, 6 de abril de 2013

Da Série Contos Mínimos

Se um grande amigo vai embora, vai com ele um pouco de mim. Vou com ele em sentimentos, em pensamentos, em desejos de que ele um dia volte. Não se pode impedir um amigo de ir embora, mesmo porque um amigo, na verdade, nunca se vai.

domingo, 17 de março de 2013

Viver a diversidade (texto)

Falar sobre a diversidade é relativamente fácil e cada vez mais se ouve falar sobre ela nos dias de hoje. Assim como se fosse coisa simples de entender. De colocar em prática. De vivenciar.
Dizer que o Estado é laico virou quase uma oração, mas respeitar que haja pensamentos diferentes dos meus em relação às religiões é sim um grande obstáculo para podermos viver em paz, em respeito.
Eu, assim como Caetano, não espero pelo dia em que todos os homens concordem, mas penso que é possível diversas harmonias bonitas sem juízo final.
Não posso, apesar de tudo, concordar que se possa falar qualquer coisa em nome da liberdade de expressão ou de culto. Não mesmo. Liberdade de expressão não pode se confundir com desrespeito, com produção de ódio e, sobretudo, com o que "eu acredito" em detrimento da vida do outro.
Por que não posso respeitar outras maneiras de vida?
Não entra na minha cabeça que em nome de Deus se possa excluir. Me parece que são coisas tão distantes e estranhas e opostas falar do amor de Deus e da não-aceitação do outro que me sinto, de fato, cada vez mais distante de certas religiões. De certos religiosos.
Essa história de que tudo é coisa do diabo, de que o comportamento que não seja igual ao meu deve ser dizimado me parece um pensamento tão desrespeitoso, tão pequeno que não poderia estar na cabeça de algumas pessoas, algumas muito amigas e próximas.
As vezes fico pensando que enquanto movo a minha vida para mudar a vida do outro é porque não consigo de fato mudar alguma coisa na minha própria vida. Alguma infelicidade grande que me incomoda e eu a deixo de lado (tomando conta da felicidade do outro que me faz mais infeliz, porque eu gostaria que o outro fosse tão infeliz como eu sou).
Por que o fato de eu ser gay pode afetar a vida de uma amiga com a qual eu não tenha nenhuma intenção sexual? Por que o fato de eu ser evangélico, acreditar nos dogmas dessa religião, me coloca, necessariamente, em oposição a quem tem uma vida, digamos, não-cristã? Eu tenho que impor o meu pensamento ao outro? Ele tem que pensar como eu para que a gente possa conviver? Por que eu não consigo conviver com o diferente? 
Como eu faço então para estar no século XXI, viver em sociedade, criar os meus filhos, mandá-los para a escola sem que eu, minimamente, saiba que o mundo é muito maior do que o quintal da minha casa? Não posso, em nome de uma religião (até mesmo porque são muitas e distintas), negar ao outro seus desejos, seus direitos. Isso não é justo. Isso não pode ser um pensamento cristão. Duvido que Deus aprove isso!!!! Além de que, os direitos dizem respeito à igualdade, isso não é uma escolha, como um credo, isso não tem relação com o particular.
Um pequeno exemplo: sou professor e em minha sala de aula, a deste ano, primeiro ano do curso de letras, tem 51 alunos matriculados. Já os sondei  sobre suas religiões e, em relação aos que se manifestaram, são 5 distintos credos numa mesma sala de aula. Sobre a diversidade sexual, não os sondei, mas já foi possível perceber que há héteros e homossexuais neste mesmo ambiente. Além disso, tenho alunos brancos e pretos em sala de aula. Tenho tb gordos e magros. Altos e baixos. Tímidos e falantes. Muitos jovens e mais velhos. Além, é claro, de todas as outras diferenças ainda não percebidas.
E sempre foi assim. Desde que eu me entendo por gente, lá nos meus anos de escola primária, hoje, ensino fundamental, em minha sala de aula tinha gente de todo o tipo. Mas não era mais tranquilo, era apenas mais silencioso, ou seja, as pessoas fingiam ser todas iguais para produzir um certo-mesmo-padrão. Acontece que os tempos são outros: negros, mulheres, homossexuais querem poder ocupar seus espaços e isso tem incomodado mais do que devia.
A gente devia se incomodar com gente desonesta, mesquinha, falsa, caluniadora, mentirosa, hipócrita, mas isso, não tem nada a ver com orientação sexual, cor ou religião. Isso tem a ver com formação. E é outra história.
O meu problema não são os evangélicos, os católicos, ou os sejam lá quais forem as religiões, o meu problema é com o fundamentalismo. O meu problema é com a "intolerância", com o se colocar em uma posição de normal, de superior em relação ao outro. E isso não é pouco. Isso me afeta. Isso é fascismo.
Não posso entender que o meu comportamento tenha que ser O modelo para o comportamento do meu vizinho, da minha amiga lá do Rio. Não dá para eu engolir que eu só possa ser amigo de certas pessoas se elas pensarem ou forem como eu. Pra mim isso é inaceitável.
Uma pena que haja tanta resistência para uma coisa tão simples: convivência. Deixar que o outro possa ser quem ele é.
A religião não pode ser um fóssil, ela não pode ser/estar independente da sociedade. Não pode se voltar para ela mesma. A religião não é nada sem a sociedade. Ela não existe. O religioso que se comporta assim, muito provavelmente, fará parte das estatísticas de quem morreu de parada histórica. O mundo se movimento e não ser capaz de acompanhá-lo é atirar no próprio pé.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Da Série Contos Mínimos

"Há sempre um sorriso a nossa espera". Lembrei-me imediatamente dessa frase, repetida à exaustão por meu pai, que me havia deixado não fazia muito tempo. Assim que as lágrimas secaram eu repensei no rumo desejado para a minha vida: eu sabia apenas o que não queria mais.

O uso reto do corpo (sobre a eleição de Feliciano como presidente da CDHM) - Contardo Calligaris



Em tese, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) luta para que cada cidadão e cada grupo de cidadãos possam exercer plenamente sua diferença (claro, à condição de que essa diferença não atrapalhe a liberdade dos outros).
Parece lógico que a comissão seja presidida por um espírito libertário. Isso não exclui pastores, padres, imames e moralistas rigorosos, à condição de que, por cultura, experiência de vida e qualidades morais excepcionais, eles saibam colocar a liberdade dos outros antes de suas próprias convicções.
Esse não parece ser o caso do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), pastor evangélico, que acaba de ser eleito presidente da CDHM. Na notável série de suas declarações boçais citadas nestes dias, minhas preferidas são: 1) "Os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato."; e 2) "O reto não foi feito para ser penetrado -não sou contra o homossexual, sou contra o ato homossexual."
1) No texto bíblico que eu li, Cam zombou do pai Noé, o qual condenou Cam e sua descendência à servidão. Mais tarde, os defensores da escravatura decidiram que Cam era o antepassado dos africanos e se serviram dessa história para justificar a posse e o comércio de escravos.
Terminar a evocação de um relato bíblico com um "isso é fato" já é ingênuo. Terminar da mesma forma a revisão do relato bíblico proposta pelos defensores da escravatura é para além de ridículo.
Feliciano, formado em teologia, talvez leia a Bíblia no grego da Septuaginta e no hebraico do texto massorético. Eu me viro em grego antigo, mas, por hábito, leio a Bíblia no latim de São Jerônimo ou no inglês do rei James. Será que ele tem acesso a fontes que eu ignoro?
2) Cada deputado recebe uma verba considerável para que possa opinar com conhecimento de causa. Mas Feliciano parece não saber que uma porcentagem substancial de homossexuais não gosta de sexo anal, enquanto, inversamente, o sexo anal faz parte das fantasias e das práticas sexuais de muitos homens e mulheres heterossexuais. Isso, sem entrar no vasto capítulo das penetrações (fantasiadas ou reais, solitárias ou não) com objetos inanimados ou outras partes do corpo.
O deputado Feliciano poderia se corrigir, generalizando: "hétero ou homo, tanto faz: o reto não foi feito para ser penetrado". Eu entenderia melhor.
Mesmo assim, fico curioso. Será que, para o deputado Feliciano, as mãos foram feitas para carícias, solitárias ou não, recíprocas ou não? E como fica a boca? Sem pensar muito longe, será que ela foi feita para ser invadida pela língua do parceiro ou da parceira?
O deputado Feliciano poderia se entrincheirar atrás da ideia de que tudo o que não serve para a reprodução deveria ser banido do sexo. É uma opinião difícil de ser sustentada, pois, justamente, somos os únicos mamíferos cujo desejo sexual não depende nem um pouco da fertilidade da fêmea e, portanto, da reprodução. Mas é uma opinião respeitável e não incompatível com a presidência da CDHM, à condição de ser, para o próprio Feliciano, apenas uma opinião.
Em outras palavras, o deputado Feliciano tem o direito de ser impenetrável, para maior glória divina. Que diga, então, que SEU reto não foi feito para ser penetrado, e ninguém protestará.
Imaginemos que eu faça parte de um culto satânico que só permite atos sexuais que desprezem a finalidade reprodutiva, e isso justamente para contrariar um eventual plano divino. Ou imaginemos que eu pense, simplesmente, que o melhor uso do meu corpo é o prazer e o gozo.
Será que Marco Feliciano, presidente da CDHM, vai defender meus direitos? Se a resposta não for um sim retumbante, a CDHM deve trocar de presidente.
Agora, quem colocou o deputado Feliciano na presidência da CDHM? Seis deputados se retiraram assim que Feliciano foi eleito; entre eles, Domingos Dutra (PT), Luiza Erundina (PSB) e Jean Wyllys (PSOL). Mas, apesar do gesto dos seis, quem entregou a comissão ao PSC e a Feliciano foi a base aliada do governo.
A presidente Dilma disse que, nas eleições, "a gente faz o diabo" --ou seja, qualquer aliança vale para ganhar. De fato, nas eleições, a maioria de nossos políticos supostamente laicos e progressistas não fazem o diabo, fazem o santinho. Para conquistar votos fundamentalistas, beijam anéis e frequentam cultos; no fim, eles recompensam, de alguma forma. Por exemplo, com comissões.

sábado, 9 de março de 2013

Nem tudo que é trabalho é chato (texto)

Outra vez é sábado. Não sei se gosto ou se me assusto com o tempo que não me deixa percebê-lo de imediato. Semana passada quando me dei conta era sexta-feira, mas eu vivendo como se fosse quinta (tudo bem, um diazinho não é lá para se preocupar tanto).
Ontem, estava arrasado de tanto cansaço. Dormi com a tv ligada e acordei durante a madrugado com alguém conversando no quarto, era Jodie Foster. Não faço ideia de que horas eram. Apenas me situei e desliguei a tv. O bom disso tudo foi acordar tarde hoje.
Queria mesmo ter planos para descansar de verdade. Nem parece que as férias acabaram de acontecer. Me sinto sempre naquele instante de precisar fazer alguma coisa: tem muito acontecendo até final de março e preciso dar conta disso. Ontem terminei a leitura de uma dissertação, hoje inicio a outra.
Entre uma dissertação e outra, tenho concursos, provas, aulas, academus, tudo isso solicitando mais tempo do que eu gostaria de doar. Nem tudo é trabalho, é claro. Ou, nem tudo que é trabalho é chato. Não mesmo.
Tenho me divertido nas aulas no primeiro ano. Os alunos começam a se soltar. Isso é bom. Ler tb é bom. E estar em contato com alguns colegas do trabalho tb. Queria, de verdade, ter mais vontade de sair, mas não vejo a menor graça nos ambientes barulhentos ou nos assuntos intermináveis. Sinto saudades dos meus amigos de Curitiba, do Rio, de São Paulo, de Rondon, mas sei tb que se eu estivesse em um desses lugares ia aproveitar para ficar bem quieto. Na minha. Bem, acordar descansado me fez ter vontade de passar aqui para algumas linhas. É bom começar o dia assim. vai ser um bom dia! Bom Dia!!!!
 


quinta-feira, 7 de março de 2013

Sobre a eleição do Pastor Marco Feliciano para presidente da Comissão de Direiros Humanos

O pastor comprovadamente racista Marco Feliciano foi eleito (a portas fechadas e com seguranças para impedir que o povo ocupasse o espaço onde deveria se sentir representado) presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. 
Ontem, dia 6 de março, as manifestações contrárias à indicação do nome do pastor para presidir a Comissão conseguiram adiar a votação. Conseguiram apenas adiá-la.
A sua eleição resultou de uma manobra política da bancada evangélica (PSC - apoiado pelos partidos PP, PMDB e PSDB) para, certamente, dar continuidade às violências de todas as ordens contra as minorias no Brasil.
É lamentável que tudo isso aconteça e que nada se possa fazer contra a indicação e posse do pastor. Sinto uma mistura de vergonha e de horror diante desse fato. Vergonha porque considero que um fundamentalista não deveria ocupar sequer a função de síndico de um prédio, que dizer de Presidente de uma Comissão tão importante para as Minorias. Horror porque a sua eleição significa que partidos de direita (e tudo de pior que isso pode significar: intolerância) têm ocupado espaços importantes no atual governo.
Alguns (poucos) deputados insatisfeitos com a eleição do pastor se retiraram em protesto.
Mas existe um ditado popular que diz muito sobre isso: "Se um dia é da caça o outro é do caçador". Estou de luto pelos Direitos Humanos, e continuo na luta pelos Direitos Humanos.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Para não ficar parado nesse lugar (texto)

Bem, vamos ao que interessa. Ao receber uma mensagem de uma amiga. Um grande amiga, diga-se. Falando que deu uma passadinha por aqui, pelo blogue. E certamente não encontrou nada de novo (ela não disse isso, é claro. Poderia ter dito, mas não disse).
- Estou evitando, nesses últimos dias, entrar por aqui e escrever, porque certamente vai ser reclamação e não quero ficar, definitivamente, parado nesse lugar. -
Depois de receber esse recadinho da Nanci. Resolvi escrever, pelo menos, sobre este início de dia.
Hoje, o dia já começou meio tumultuado, quero dizer, cheio de atividades para realizar. Algumas atividades já foram concluídas, mas o grosso da semana, é natural por ser segunda-feira, estão apenas iniciando. Sei que trabalho é mesmo assim, ou não seria mais trabalho: vc precisa renovar as necessidades para que ele, o trabalho, faça sentido.
Claro que isso não é animar, mas, é assim que funciona. Teria outras propostas, fazer, mas descansar e assim ter mais prazer no que se faz. De qualquer forma, é este o panorama.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Voltas às aulas (texto)

É só recomeçarem as aulas que o blogue vai ficando de lado, vou me silenciando até ao ponto de ficar por mais de uma semana sem entrar por aqui. A vida já foi mais tranquila. Não tenho dúvidas.
Hoje me dei conta de que fazia tempo que eu não escrevia nada. As últimas postagens foram vídeos ou textos dos outros. Ou seja, não tive sequer tempo de uma paradinha para algum comentário sobre quaisquer coisas.
Tenho lido pouco e isso me deixa, é claro, pouco inspirado. Sem falar que o fato de retornar à universidade, depois das férias e encontrar um mundo de atividades por fazer, tb me deixa sem tesão. E olha que passar por aqui é um grande prazer, mesmo que eu não seja lido. Só o fato de parar para escrever já vai me dando uma certa alegria. Mesmo assim, falta inspiração ou como diria uma antiga orientadora, disciplina.
As aulas recomeçaram e isso é prioridade. Neste semetre tenho aulas na graduação às quartas e sextas-feiras. Em geral a minha disciplina é anual e é claro que menos corrida por conta disso. Agora, todo trabalhado na semestralidade, preciso me organizar melhor para não deixar a peteca cair.
Dar aula é praticamente um jogo de petecas, no sentido de que tanto um lado quanto o outro precisam estar atentos ao jogo para que ele se mantenha ativo. Não adianta receber bem os alunos se vc não tiver no mesmo pique.
Na quarta-feira, conheci os alunos do primeiro ano. São muito jovens, quase todos. A maioria cara desconhecida. Alguns foram ficando no meio do caminho e agora retornaram. Não sei se eles têm o mesmo prazer em me (re)ver. Provavelmente, não.
Se a primeira impressão é a que fica, posso dizer que gostei da garotada. Vamos ver no decorrer das atividades. Na quarta, são 3 aulas seguidas: será que tenho garganta e energia para tanto? Depois dos 45 a coisa começou a pegar.
Bem, melhor pagar para ver o que acontece

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Silas Malafaia e a Teologia da Estupidez: Homossexuais e Bandidos? (Alyson Freire)

Não há surpresas ou novidades quando o pastor Silas Malafaia fala. Cada vez em que é entrevistado ou empresta sua voz para algum programa de natureza política ou religiosa, assistimos e ouvimos o mesmo desfile de preconceitos, inverdades e sofismas. Bem sabemos que os disparates e infâmias habituais de sua retórica convicta e fundamentalista enojam e irritam. Entretanto, convém não perder a capacidade, e a paciência, de nos chocarmos e nem “acomodar com o que incomoda”, como diz a letra de uma bela canção.
E por que não devemos nos calar ou tão simplesmente dar de ombros, ignorar a ignorância? Porque o silêncio nos torna cúmplices da ignorância. Aliás, se é verdadeiro que em certas circunstâncias o silêncio pode ser mais eloquente do que a palavra, em outras o silêncio é o adubo fértil para o crescimento da ignorância e da barbárie. Por isso, cabe não calar. Falar a verdade ao poder e criticar os preconceitos é combater incansavelmente contra o silêncio que naturaliza ambos.
Voltemos, pois, a Malafaia, este paladino e missionário do ódio. Coube a jornalista Marília Gabriela a hercúlea tarefa de suportar o discurso de Malafaia, entrevistando-o em seu programa “De Frente com Gabi”. E se a jornalista por vezes se exaltou com as afirmações do pastor ou por este a atropelá-la em suas perguntas e raciocínios, penso que ela aguentou em nome de um compromisso com a verdade e com a sensatez; afinal, a mentira para ser desmascarada deve ser antes exposta.
O que disse o pastor desta vez? Num exemplo cristalino de homofobia cordial, disse que amava os homossexuais da mesma forma como ama os bandidos: “Eu amo os homossexuais como amo os bandidos”. Este amor misericordioso que Malafaia afirma cultivar não passa de um ardil ideológico que finge aceitar e acolher mas apenas para tentar “corrigir”, “reorientar”, “ajustar”. Em outras palavras, domesticar e “curar” a homossexualidade segundo os “meus valores” e “minha verdade”. Não creio que os homossexuais precisem deste amor denegador da liberdade e da autonomia individual. O amor de Malafaia é um amor tutelar, de correção moral e interesseiro.
A correlação valorativa entre “homossexuais” e “bandidos” é odiosa. Ela objetiva reforçar o vínculo entre homossexualidade e desvio, sustentando, sorrateiramente, a ideia de que a homossexualidade assim como o fenômeno da delinquência atenta e prejudica a sociedade. Em outros termos, a analogia diz o seguinte: os bandidos existem, são um fato social, mas precisamos mudá-los, puni-los e “ressocializá-los” para que não lesem a sociedade. Sem afirmar diretamente, Malafaia pensa o mesmo sobre os homossexuais; eles são um fato social, existem, mas precisamos corrigi-los para que não lesem à família, os bons costumes, etc..
A piedade e a compreensão amorosa do pastor são, com efeito, estratégias retóricas para a normalização pastoral e sexual. Nesse ponto, Malafaia se serve abundantemente de preconceitos e concepções de gênero, família e sexualidade que não se sustentam, nem do ponto de vista do conhecimento científico nem socialmente – haja vista todas as transformações culturais, sociais e jurídicas das últimas décadas.
Tentando atenuar os aspectos mais, digamos, etnocêntricos e interessados de suas opiniões, o pastor recorre a ciência em vez da religião pura e simplesmente; refugia-se em argumentos pseudo-científicos e pesquisas que nunca cita a fonte, Malafaia busca, com isso, preencher de autoridade, poder de verdade e neutralidade os seus preconceitos e sua intolerância. À bem da verdade, Malafaia achincalha a ciência – mais uma razão para não nos calarmos.
Quando prenuncia, num claro julgamento moral e especulativo, que a formação de famílias homoparentais ou a criação de filhos por casais homossexuais terá consequências sociais e psicológicas nefastas e nocivas, Malafaia esquece que, segundo Freud, a família independentemente das orientações sexuais do casal é a origem e o palco da maior parte dos problemas emocionais e psíquicos por conta dos conflitos subjetivos que envolvem a constituição do eu nas relações e identificações familiares. Aliás, a grande maioria das psicoses estudadas por Freud era produto das dinâmicas emocionais, repressivas e traumáticas da família vitoriana.
O artigo “Desconstruindo preconceitos sobre a homoparentalidade” dos psicólogos Jorge Gato e Anne Maria Fontaine cita diversos estudos psiquiátricos, psicológicos, sociológicos e antropológicos que desmentem as pré-noções estigmatizantes de que a criança em famílias homoparentais sofreria danos em seu desenvolvimento psicológico. Todos os estudos mencionados pelos autores foram unânimes na constatação da não-existência de uma excepcionalidade ou de diferenças substanciais que tornem a homoparentalidade especialmente danosa para o desenvolvimento emocional, cognitivo e sexual da criança em comparação às famílias heteroparentais. Inclusive, em algumas casos, de mães lésbicas, por exemplo, estudiosos verificaram um ambiente familiar no qual as crianças sentiam-se mais a vontade, livres e confiantes em discutir temáticas de caráter emocional e sexual, ocasionando um efeito positivo no desempenho escolar.
Em contrapartida, as dificuldades das crianças criadas em famílias homoparentais aparecem exatamente no plano das relações sociais, ou seja, obstáculos na aceitação e reconhecimento social por conta de contextos sociais discriminatórios como a escola. Mas, ainda assim, os estudos mostraram variações importantes nesse ponto a depender do país e região.
O que podemos concluir com os resultados das pesquisas científicas é que os problemas que estas crianças enfrentarão no futuro se devem precisamente de pessoas como Malafaia. Quer dizer, do preconceito, da intolerância e da ignorância que Malafaia pratica, semeia e propaga.
Portanto, o que atrapalha e lese o desenvolvimento psicológico e social é o preconceito e a intolerância, os quais Malafaia transforma em bandeira. As religiões se tornam nocivas à humanidade quando são eivadas de ódio e ignorância por profetas fundamentalistas e intolerantes que alimentam incompreensões.
Por mais que canse, devemos continuar a combater e criticar os absurdos odiosos do pastor Malafaia, pois ele, por sua retórica e status, goza de um poder de interferência na vida social capaz de favorecer violências simbólicas e físicas contra grupos e minorias sexuais que já tem de enfrentar práticas homofóbicas em seu cotidiano. Se não quisermos cair presas da retórica do preconceito e sua violência simbólica, devemos sempre exercitar a crítica pública. É com ela que podemos cultivar uma cultura de direitos humanos e de reconhecimento capaz de transformar uma esfera pública refratária ao debate racional dos direitos e das violências sofridas por minorias e grupos vulneráveis em uma esfera pública refratária a estupidez, a barbárie e ao preconceito. Para essa transformação ocorrer, então, é preciso jamais se cansar de se contrapor ao preconceito.

Da Carta Potiguar


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Da Série Contos Mínimos

Ele mesmo contruiu em torno de si uma parede de tijolos. Firme. Rígida. A prova de quase tudo. A curiosidade dos outros não lhe incomodava, mas ele não tinha tempo para essas coisas menores. Como um lendário cawboy ele vivia sozinho e silencioso.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Mas tb me diverti (texto)

Dia 4 de fevereiro, retorno à universidade. Pense em alguém desanimado. Pois é assim que me sinto só de pensar em voltar para tanta coisa (sempre) por fazer. 
O trabalho é um buraco sem fundo, não se consegue dar conta dele. Ah, doce ilusão ... a de poder estar mais livre, ou a de, pelo menos, poder fazer apenas aquilo de que se gosta. Missão impossível esta.
Na verdade, mesmo de férias, consegui escrever um projeto e mandar um resumo para um evento. Isso foi um trabalho e tanto, mas tb me diverti: cinema de montão, praia quando deu (janeiro no Rio é tanta chuva que não dá para acreditar), shows da Fátima Guedes, Tulipa Ruiz, Gal Costa (tudo a preço camarada e justo), teatro, amigos por perto (nem todos, é claro). Acordei sem compromisso, descansei muito.
Estou sim com saudades de dar aula, afinal é o que gosto de fazer. Conhecer os novos alunos. Rever alguns alunos antigos. Voltar a uma certa rotina. Isso eu gosto, muito! Saudades tb da minha outra casa, do silêncio da outra casa e dos amigos de Cascavel (alguns são tb da universidade). Pelo visto, voltar não é de todo ruim ... o que me preocupa mesmo são as chatices do trabalho (mas qual não tem    um lado ruim?): aquilo que chega, normalmente, hoje mas é para ontem. Êta trem ruim!!!!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

É tanto sentimento, deve ter algum que sirva

É praticamente impossível digerir uma desgraça da proporção da que atingiu a cidade de Santa Maria, RS. Desde domingo, quando acordei e liguei o meu computador e soube da tragédia (naquele momento ainda não sabia do número de jovens mortos), ando meio sem saber direito o sentimento que mais me afeta diante disso.
Fico aqui pensando o quanto de tristeza pela morte injustificada de tantas pessoas. O tanto de desespero pelo que aconteceu na madrugada de domingo dentro da boate. E a revolta pela descaso que nos acompanha desde sempre em relação ao poder público (o privado quase sempre o descaso é escancarado).
Ouvi o prefeito da cidade tentar justificar a falta de licença da boate, continuei ouvindo-o nas evasivas em relação à responsabilidade da prefeitura no controle das casas que funcionam sem a menor condição. 
Tudo isso como se o seu cargo não tivesse nada a ver com o caso, a indiferença de sempre dos governantes diante das catástrofes (sou do Rio e faz tempo, os prefeitos, governadores desta cidade, a cada verão, repetem, como um disco furado, a mesma frase, "estamos trabalhando para resolver", mas no verão seguinte, na-da foi feito). Ou os donos dos estabelecimentos que falam de uma "fatalidade" ou de um "acidente".
Li nas redes sociais sobre o excesso dos meios de comunicação, sobre a insensibilidade de alguns jornalistas, li até que a presidenta da república estaria fazendo média ao sair do Chile e prestar solidariedade aos familiares das vítimas.
Aí, minha preocupação, diante disso tudo: E quando isso acontecer em outro lugar? E quando isso acontecer com os nossos alunos, amigos, em nossas cidades? Porque isso acontece sempre (também como um disco furado, que insiste em permanecer na mesma frase), repetindo, repetindo as mesmas desgraças. 
Por que as autoridades que são pagas para supervisionar, fiscalizar, cobrar não fazem nada? Por que nos esquecemos logo desses fatos?
Não seria o caso desse prefeito nunca mais ocupar nenhum cargo público, além, é claro, de responder judicialmente pelas centenas de mortes? E o Corpo-de-bombeiros que não fez a fiscalização devida e não interditou a tal boate? E tantas outras boates que continuam funcionando nas mesmas condições em todas as partes do país?
Não seria a hora de não nos esquecermos nunca mais disso e cobrarmos mudanças imediatas em relação às leis que regem o funcionamento do comércio?
Não seria o momento de sairmos às ruas para cobrar dos prefeitos eleitos, dos vereadores, dos deputados, enfim, dos políticos que são eleitos por nós e que, portanto, nos devem satisfação dos seus atos?
Gente, são mais de 200 mortos, são filhos, alunos, mães, irmãos e irmãs, namorados e namoradas de todos nós que estavam em uma boate na noite de sábado apenas para se divertir.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

4 anos (texto)

4 anos de blogue. 1193 postagens (incluindo aí, fotos, charges, músicas, textos de outros autores, poesia, conto etc.). Não é fácil manter um padrão de escrita. O fôlego foi diminuindo a cada ano, mas o prazer de estar aqui permanece o mesmo. 
Não sei mais quem passa por aqui porque os comentários quase que desapareceram, sei que tem gente online, mas apenas identifico o país, a cidade, se estão ou não por aqui e por quanto tempo. O tempo urge ... pra todo mundo, eu sei...
De toda a forma, agradeço muito quem por aqui passa nem que seja para uma olhadinha. Comemorar os 4 anos é, para mim, agradecer também aos colaboradores: Cris, Fátima, Luiz, Tânia Aires, Luiz Hick, Orvalho do ceu, Mayumi, Fabrício Viana, Edhi Pheqheno, Joanir e tantos outros amigos que por aqui passaram nesses 4 anos.
Espero que a mudança no designer do blogue para comemorar o aniversário tenha agradado a todos. Eu, pelo menos, gostei.
Obrigado a todos!!!!

Da Série: Contos Mínimos

Ele ia contar para si que o dia não tinha sido dos melhores: ficou preso a um fato desagradável. Porém, percebeu o tanto de coisas outras qu...