terça-feira, 29 de março de 2011

José Alencar - 17 de outubro de 1931/ 29 de março de 2011(texto)

O câncer mata milhares de pessoas todos os anos. Todos os dias, sem exceção, recebemos notícia de alguma vítima da doença. Morrer de câncer não é, portanto, nenhuma novidade.
Nunca votei no Partido Republicano Brasileiro (PRB). Nem sabia, antes de conhecer o vice de Lula, da sua existência.  Nunca acompanhei a trajetória política de José Alencar, no entanto, a minha simpatia por ele foi imediata.
Acompanhamos, via mídias, a sua luta diária contra a doênça desde os primeiros anos ao lado de Luís Inácio Lula da Silva. O que mais me impressionava no homem era a forma com a qual encarava a doença: ele parecia não desistir nunca da vida. Além disso, o que não é pouco, não perdia o humor, não perdia a paciência diante das câmeras.
Não sei quem ele foi além do que eu li e acompanhei durante todos esses anos. Não sabia a sua idade, o nome da cidade natal, os partidos pelos quais passou, nada além do que me era fornecido pelos meios de comunicação. 
Não soube nunca de envolvimentos seus com desvios de verbas, licitações ilícitas, nomeação de parentes para cargos públicos, nada que manchasse a sua trajetória pública. Ou seja, uma grande exceção num cenário repleto de escândalos envolvendo parlamentares.
Fiquei triste com a notícia de sua morte. Lamento mesmo, mas sobre a morte, ele nos disse: "Não tenho medo da morte, porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho. Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele.”

segunda-feira, 28 de março de 2011

Da Série Contos Mínimos

Precisava apenas de um colo para descansar. Sem perguntas, sem maiores explicações. Apenas um colo.

O que nos revelam as palavras (texto)

Estou ainda atravessando a crise de falta do que escrever, por isso recorri aos amigos que por aqui passam para alguma sugestão sobre um tema. A Rosa da Rosa deu várias sugestões. 
Dentre elas me foi sugerido escrever sobre as  palavras que se tornam cafonas, datadas demais. E aí fiquei pensando, sobretudo, nas gírias. Todas as palavras têm algum registro de sua história: quando foram dicionarizadas, quando receberam sentidos novos, quando deixaram de fazer parte do vacabulário mais formal, quando migraram de classe social etc.
Basta consultar um dicionário qualquer para saber, por exemplo, quando uma palavra passa a ser dicionarizada, além é claro, da sua etimologia (estudo da origem e da evolução das palavras). A palavra heterossexualidade, por exemplo, no dicionário eletrônico Houaiss, aparece com a datação do século XX. Palavra relativamente nova se pensarmos na história da língua portguesa.
Mas é claro que quando usamos determinadas palavras não ficamos pensando em sua origem, formação etc. Elas quando nos são conhecidas, fluem com muita naturalizadade das nossas bocas.
As gírias tb, como todas as outras palavras, são datadas. E ao contrário do que muita gente pensa, não são apenas os mais novos que fazem uso delas. Nós todos utilizamos em algum momento uma ou outra.
Não podemos, portanto, perder de vista que essas palavras revelam muito mais do que a gente se dá conta. Vamos ver por que.
Não dá para imaginar, hoje em dia, um adolescente chamando uma menina bonita que passa de brotinho. Muito menos outra adolescente chamando de pão um homem bonito que se vê por aí. Isso quer dizer que quem usa pão e brotinho, por exemplo, está  revelando qual a sua faixa etária. 
O mesmo acontece quando se usam: putz grila, pintei, papo firme, mora, saquei, pagar mico, pombas, uva, pra frentex, chuchu beleza, bocomoco, batata, amigo da onça, beleza pura, caranga, mandar brasa, parada dura.
E tb quando se ouve: tipo assim, ficar, caraca, fui, sequelado, gorfei, gramei, ganso, balada, meter o pé, abraça, veneno etc. Também revelam a idade de quem as enunciam.
As gírias têm tb outras características. Elas muitas das vezes fazem parte de certos grupos bem específicos. Os gays, por exemplo, usam expressões próprias entre si, para, dentre outras coisas, afirmar a sua identidade, brincar, falar para que os não-iniciados não  os compreendam: odara, nena, neca, mona, edí, acué etc. 
As patricinhas, os skatistas, os surfistas, os jogadores de futebol, todos eles têm gírias próprias para a comunicação.
As finas que gostam sempre de uma palavrinha em inglês para dá um up ou não ficar out na fita.
O que não podemos perder de vista é que as gírias quando usadas em excesso restringem muito o poder de comunicação. Nem todo mundo é um Fashion-victim em se tratando da gíria mais atual.

domingo, 27 de março de 2011

Bem que os amigos poderiam deixar aqui uma ideia sobre o que escrever (texto)

Nunca escrevi tão pouco aqui no Blogue quanto neste mês de março. O que será que isso significa? Falta do que dizer? Desânimo? Sinal de que o meu interesse pelo blogue está diminuindo? Muito trabalho? Outras questões mais interessantes à vista?
Fiquei preocupado ao perceber que durante o mês de março escrevi apenas 10 pequenos textos. Tudo bem que teve aí um carnaval,  uma gastroenterite, 5 dissertações de mestrado, aulas. Mas já tive tempos piores com uma produção mais significativa.
Carnaval acontece todo ano e normalmente em fevereiro, mês com um número menor de dias, e que eu lembre nunca foram tão poucos escritos. Acabei de verificar, para não escrever assim de orelhada, quando escrevi menos foram postados 19 textos (em dezembro de 2010). Dezenove  não são 10, já me confirmaria Saussure.
Se pelo menos eu tivesse descoberto alguma coisa mais interessante para fazer que justificasse essa falta, mas nada aconteceu.
Portanto não há, que eu me lembre, um motivo que explique tão poucas linhas. Pera aí, estou falando de linhas ou de textos? Será que verifico? Não! Isso seria demais! Ou de menos, talvez!
Melhor, caso eu queira não ficar tão na lanterna, aproveitar esses dias que faltam para finalizar o mês e mandar brasa. Mandar brasa é tão cafona!
Olha, de qualquer forma, bem que os amigos podiam deixar alguma ideia aqui sobre o que escrever. Sei que isso é um perigo, mas pode, por outro lado, ajudar. Conto com vocês!
Como é bom dividir a irresponsabilidade.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Haiti não é aqui (texto)

É impressionante a capacidade de recuperação do Japão, país atingido por um terremoto de intensidade 8,9 (numa escala de 0 a 10) na sexta-feira, dia 11 de março.
As fotos, postadas no site do G1, nos dão uma ideia de como essa reconstrução será rápida.
Para se ter uma noção do que ocorreu: tremores que variam entre 7 e 7,9 graus na escala Richter são propícios à retirar os edifícios de sua fundações, sem contar o surgimento de fendas no solo e danificação de toda tubulação contidas no subsolo.
Abalos sísmicos com intensidade que oscila entre 8 e 8,5 graus nessa mesma escala configura como de grande magnitude, seus efeitos destroem pontes e praticamente todas as construções existentes.

Destruição total ocorre com tremor de 9 graus na escola Richter, e, hipoteticamente, se houvesse um terremoto de 12 graus a Terra seria partida ao meio.  

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sites, uma profusão deles prometendo desconto e estimulando compras quase inúteis (texto)

Recebo muitos e-mails, muito mais do que eu preciso/gostaria ou consiga dar conta. Ficam sempre muitos para responder. Alguns esquecidos, inclusive. Só depois de algum tempo minha memória, extremamente seletiva, me alerta de algum esquecimento sintomático.
Não é sobre a minha memória que gostaria de escrever (tá vendo o que nos acontece se a gente não tem foco?), mas sobre a grande quantidade de e-mails que tenho recebido, às vezes mais de uma vez por dia, me oferecendo produtos sem os quais eu não poderia viver.
Groupalia, Alvo da Cidade, Peixe Urbano são alguns sites que tentam me fisgar pela boca, estômago, espelho. São tiros para todos os lados: hotel na serra, 2 horas de painball, colocação de insulfilme, kit páscoa, filé à parmegiana + fritas + arroz em Ponta Negra, 2 diárias para casal, porção de acarajés + 1 caipiroska, 1 delicioso x-salada, 6 meses de asinatura da revista Época e por aí vai.
Com exceção do Peixe Urbano, do qual aceitei participar, os demais, e põe demais nisso, não faço ideia (ou faço) de como entrei nesse barco furado de ofertas diárias. 
O Alvo da Cidade, por exemplo, me manda por dia tantas ofertas que mesmo se eu fosse um comprador contumaz não daria conta de acompanhar o seu raciocínio mercadológico.
Como casar um x-salada +  2 horas de painball + uma máscara facial antirrugas e uma aula de mergulho na Ilha Grande, no Rio de Janeiro? Sem chance, pelo menos pra mim.
Fica aqui um pedido de coerência.

sábado, 19 de março de 2011

Final feliz tem que ter filhos e casamentos, muitos casamentos (texto)

Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho (Vinícius de Moraes), o resto é mar...
Ontem acabou mais uma novela, não novela no sentido retórico, mas novela dessas que se iniciam no primeiro capítulo prometendo muitas novidades e terminam no último iguaizinhas a todas as outras novelas (isso se deve apenas ao gênero?!). Não acredito nisso.
Vamos aos motivos que me trouxeram a esse texto. Primeiro dizer que acompanhei Ti-ti-ti, novela das 19h30 da Rede Globo, porque as novelas desse horário, com raríssimas exceções, são divertidas; depois, como nesse horário eu costumo jantar, quero estar diante de um programa (não costumo jantar ouvindo música) que não me exija muito e se possível me faça rir (diante disso, nada melhor do que novelas)E ainda, os dois motivos anteriores já me seriam bastante, pelo elenco. Gosto demais da Cláudia Raia, sou apaixonado pela Dira Paes, Rodrigo Lopes é um ótimo ator e por aí vai...
Dito isso, vamos ao texto, propriamente dito.
Os últimos capítulos de Ti-ti-ti foram dedicados aos princípios  de felicidade cristalizados em parte de nossa sociedade, ou seja, casar e ter filhos. Ninguém poderia, portanto, ser feliz sozinho.
Esse foi o final supreendente prometido pela autora da novela. Todos se arranjaram, com raríssimas exceções. Quem não ficou feliz junto de alguém recebeu dinheiro (ou fama) como recompensa. Alguns receberam dinheiro e companhia para reforçar ainda mais essa equação: felicidade é = casamento e dinheiro.
Acho que não é apenas o gênero-novela que define como vai ser a direção desses folhetins. Sei que o público tem, porque novela sem audiência não vende, não tem patrocío etc e tal, um papel fundamental na continuidade dos capítulos. Há, inclusive, uma equipe de telespectadores que dá retorno aos autores e diretores. E isso é determinante nesse processo de escritura da novela, no caso dessa, reescritura porque é uma remake dos anos 1985-1986.
O que mais me surpreendeu nesse reforço todo, foi o exagero de encontros que aconteceu nessa última semana, até os vilões se deram bem (quem sabe a surpresa anunciada não fosse essa?). Chegaram novos atores para evitar que as prováveis solteiras ficassem sozinhas. Homens de tudo quanto foi lado.
O casal gay Thales e Julinho (Armando Babaioff e André Arteche) ficaram mesmo no abraço enquanto todos os outros casais  héteros caíram nos beijos.
Só não teve par quem não tinha muita importância na trama, aqueles personagens que existem apenas para introduzir os personagens centrais. 
Uma pena, eu pelo menos acho, que um programa com tanta audiência não possa, justamente por ser muito assistido,  descristalizar estereótipos, subverter as ordens, inovar. 
Fiquei um pouco, um pouco porque isso não tem importâcia nenhuma na minha vida, decepcionado diante de tanta possibilidade e de tão pouca ousadia. Uma pena que as novelas tb sirvam para nos catequizar.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...