segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ainda somos os mesmos...

Havia um comportamento da minha mãe que eu achava muito estranho. Eu lhe dizia sempre que aquilo não podia ser normal. Que ela devia se tratar porque era alguma coisa, no mínimo, esquisita. Bem, aos poucos me percebo exatamente da mesma maneira que ela e é claro que mesmo agindo como ela eu continuo achando que preciso de um tratamento porque não pode ser normal.
Vamos aos fatos: minha mãe não reconhecia algumas pessoas na rua ou se conhecia as pessoas num lugar específico, não era capaz de reconhecê-las em um outro ambiente. Veja bem, não é apenas não se lembrar (isso é normal e comum) é NÃO reconhecer em quaisquer hipóteses.
Era mais ou menos assim. Estávamos juntos em algum lugar e alguém vinha conversar com ela, sabendo o seu nome, tendo algum assunto em comum. 
Minha mãe tratava a pessoa como se a reconhecesse. Conversava, respondia. Só não se estendia ali. Mas bastava a pessoa se afastar e ela me dizia: "Nunca vi esta pessoa na minha vida". 
Eu perguntava: _mãe, como isso é possível? A senhora não pode ser desse jeito! Como é que alguém sabe o seu nome, vem com um assunto que faz sentido e a senhora não sabe quem é a pessoa?
Ela ria muito e me dizia, simplesmente, que a pessoa devia ser maluca. Que a pessoa tinha confundido ela com alguém. E não adiantava argumentar: não adiantava eu dizer que a pessoa sabia o nome dela, etc. etc. etc.
Isso aconteceu muitas vezes. Em situações diversas. Acontecia com muita frequência e ela não se importava com isso. Isso não era uma questão ou era encarado como um problema. Ela simplesmente não tinha essa habilidade.
Comigo, isso acontece tb com muita frequência. E não é não me lembrar de onde eu conheço a pessoa, é, como minha mãe, não reconhecer a pessoa de lugar algum. Hoje, saindo da universidade, veio uma senhora na minha direção com um sorriso que esbarrava as orelhas. Eu retribuí o sorriso, é claro. Ela me chamou pelo nome e perguntou se estava tudo bem. Eu respondi, naturalmente, mas a sensação é a de que ela me confundiu com alguém porque eu NUNCA vi aquela senhora na minha vida.
Bem, ao fazer isso, me lembrei imediatamente na minha mãe. E mais, me lembrei como eu achava isso um absurdo e dizia pra ela que talvez ela estivesse "monada" (monada era uma palavra muito comum nas bocas da minha bisavó, avó e mãe. O sentido é o de ridiculamente cômico; grotesco). Eu caí no riso ao me lembrar de tudo isso. Ri sozinho no meio da rua porque a gente é muito como nossos pais, mesmo que a gente não se dê conta ou que não queira sê-lo.

domingo, 9 de agosto de 2015

Da Série Contos Mínimos

Resultado de imagem para morrer num domingoMorri num domingo, dia que eu odiava. Numa hora totalmente imprópria. Quem gostaria de morrer às 15h, no meio de uma tarde calorenta, abafada, seca e silenciosa? Bem, ao menos fui enterrado numa segunda-feira, dessas cheias de gente nas ruas, de muito movimento, de trabalho intenso. Não se escolhe, é certo, o dia de partir.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Da Série Contos Mínimos


Ontem percebi o efeito do tempo em mim. Nem no meu rosto, nem nas minhas mãos. Pra isso, bastaria rever velhos amigos (a marca no outro que necessariamente reflete a minha)
O efeito estava na deslembrança. Num tempo inteiro de ausência. Em horas sem me dar conta. Ai, Como me senti feliz! E como agradeci ao tempo, sábio que só ele, de me trazer sem que eu soubesse um novo outro lugar para eu estar. Respirei aliviado quando me percebi numa quinta-feira qualquer e única na minha vida. 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Da Série Contos Mínimos

Não me lembro ao certo quando foi que deixei de confiar nas pessoas. Talvez isso tenha acontecido faz algum tempo. Talvez seja recente. Sei apenas que diante de alguma pista mínima que seja de desconfiança soa um sinal de alerta para que eu abandone o barco.

domingo, 2 de agosto de 2015

Da Série Contos Mínimos

Resultado de imagem para olhos de velhos
Acordei e fui direto para o banheiro escovar os dentes e tomar banho. Eu tinha um compromisso logo cedo. Mas antes disso me deparei com o espelho, olhei bem fundo nos meus olhos, que começaram a ficar velhos bem antes de mim. Percebi que só agora atingi a idade deles.

Das situações que não acontecem apenas nas crônicas de Fernando Sabino

Resultado de imagem para feirinha da general glicério
Dia desses, na verdade, faz bem mais do que isso, estava eu aguardando uma grande amiga, ali, na feirinha da General Glicério, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, descer do seu apartamento para uma conversa sem compromisso. Enquanto ela não descia, eu e uma outra amiga resolvemos tomar um caldo-de-cana e ouvir um chorinho que é frequente nessa feirinha, aos sábados. 
Caldo de cana vai, caldo de cana vem e nada da primeira amiga chegar. Cariocas têm uma característica bem peculiar: conversam até com pedra se esta lhe der alguma atenção. Bem, engatamos, e e a segunda amiga, um papo com um casal que também estava por ali tomando um caldo. 
Conversa vai, conversa vem, descubro que eles também estão por ali esperando alguém.

A feirinha da General Glicério é um ponto de encontro. Além do chorinho, do pastel e do caldo de cada tem um bolinho de bacalhau delicioso. É muito comum, pessoas que moram na região darem uma passadinha por ali.
Depois de algum tempo, minha amiga, Marta, desce e nos encontra na barraca do caldo. Ela chega e, como de costume, me dá dois beijos, um abraço, beija também a amiga comum e também o casal que está conversando comigo. Ficamos todos ali num papo de amigos de longa data.

Bem, em seguida, minha amiga nos convida pra subir e tomar um café com um bolo de laranja, que ela me devia fazia, pelo menos, uns dez anos. Todos animados subimos, nos sentamos na sala. Ela trouxe o café com bolo, comemos, bebemos, comemos mais, eu comi um pouco mais ainda porque era um bolo de dívida. Enquanto comíamos e bebíamos falamos de quase tudo. O casal muito agradável, ambos engraçados, cheios de histórias pra nos contar. A conversa rendeu.

Num certo momento, o casal se levanta e diz que precisa ir embora porque eles tinham um compromisso. Nos despedimos e como autênticos cariocas combinamos de nos encontrar num próximo sábado ali mesmo, na barraquinha do caldo-de-cana para mais uma conversa e, quem sabe, mais um bolo de laranja e um cafezinho na casa da Marta.

O casal vai embora e a minha amiga me diz:
_ Gostei muito dos seus amigos! 
_ Como assim, meus amigos? Eu não conheço essa gente. (lhe respondo).

De casal agradável passou para essa gente.

Ela, incrédula, acha que estou brincando e faz uma cara de surpresa. E eu lhe digo:

_ Achei que fossem seus amigos também já que você convidou todo mundo para um café com bolo.

Ela responde:
_ Mas só convidei porque achei que eram teus amigos já que estavam ali conversando animadamente.


Conclusão: eles não eram meus amigos, eles não eram amigos de ninguém. Nunca mais nos vimos porque cariocas têm dessas coisas: combinam de se encontrar, de se ligar com toda certeza no próximo fim de semana, mas deixam para o acaso o próximo encontro.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Da Série Contos Mínimos

Às vezes, partir é necessário. Era questão de vida ou morte, de saúde ou de doença, de alegria ou tristeza. E nem sempre estamos prontos pra morrer, pra adoecer ou pra ficar por aí se lamentando. Fui com o coração cheio de saudade da vida que eu deixava por ali e esperançoso da que eu poderia encontrar mais adiante.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Da Série Contos Mínimos

Embora não tivesse muita certeza, arriscou. Apostou para ver o que aconteceria. Aconteceu apenas o que poderia: nem mais, nem menos. Exatamente o que cabia. 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Auto-elogio

Resultado de imagem para auto-elogioSe um elogio a alguém pode produzir uma forçação de barra, imagine um auto-elogio. Bem, não vou me elogiar. Tenho senso de ridículo, mas fiquei pensando, depois de uma potagem de uma amiga no Facebook, sobre o que em mim me faz sentir uma certa "alegria" por ter conquistado, por ser. 
Não seria exatamente um elogio, mas um reconhecimento por algum esforço ou dedicação, sorte. Bem, não vou tb ficar me explicando porque isso não vai nem aumentar e nem diminuir qualquer efeito de sentido que posso produzir aqui.
Fiquei pensando muito para finalmente conseguir organizar uma pequena lista. Ela, a lista, não está por ordem de importância, por ordem cronológica, mas por ordem de lembrança:
1. Uma das grandes alegrias foi ser aprovado no vestibular para Letras, UFRJ, Português-Literaturas. Lembro-me da sensação de felicidade ao abrir o jornal e encontrar o número da minha inscrição. Contar pra minha mãe sobre a aprovação, então, nem se fale.
2. Finalizar o doutorado não foi exatamente uma sensação de alegria, mas o "dever" cumprido. Me senti no dia 13 de março de 2006 feliz por isso.
3. Ganhar a bolsa de pós-doutorado (Universidade de Coimbra) para ficar um ano em Portugal. Isso foi uma mistura de gratidão por tanta ajuda que recebi: Isabel Ferin (a orientadora) Vanise, Maria Cláudia, Lucília e, principalmente, Bethania.
4. Ter sido amigo do Sebastian. Foram anos de cumplicidade. Tb brigamos, mas nunca nos decepcionamos, mesmo quando precisamos nos separar. Separação sempre é difícil. Mas nunca traímos a confiança do outro. Não houve mágoa de lado algum. Apenas tristeza.
5. Os meus amigos. Tenho orgulho dos amigos que conquistei durante esses anos. Tenho amigos de 40 e poucos anos. Amigos que sei que posso contar. Tenho amigos recentes. Amigos de todas as idades, cores, orientações. Sei da importância dos amigos de verdade. Sou um amigo que os meus amigos podem contar.
6. Tb sei que sou um cara honesto. Sei tb que isso é obrigação e que sequer deveria constar nessa lista, mas a honestidade a que me refiro é, sobretudo, aquela que quer que todos tenham os mesmos direitos, sem que haja privilégios pra ninguém: nem pra mim e nem pra ninguém. E lutar por isso.
7. Tb nunca me aproximei de ninguém por interesse. Nunca estive com alguém para conseguir alguma coisa. Sou claro quando preciso de algum favor e não tenho vergonha disso.
8. Não quero nada de ninguém. Não invejo nada de ninguém. Sou muito focado naquilo que desejo e trabalho pra isso.
Bem, a lista não é longa, mas pode soar como pretensiosa. Pode tb não soar. E como não controlo o sentido que as palavras têm ou podem produzir. A postagem é essa.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Odeio o frio.

Resultado de imagem para frioEU ODEIO O FRIO. Eu não consigo encontrar um só motivo para gostar dele. Não há roupa que seja suficientemente quente para me proteger do vento. Não há água suficientemente quente que me deixe à vontade para escovar os dentes, lavar o rosto, lavar a louça. Antes que eu me esqueça, você que diz gostar do frio, quem lava a louça da sua casa?
Minha casa não é preparada para o inverno: entra, sei lá por onde, um vento gelado e não há alguém suficientemente bom para descobrir como isso acontece. Venta na sala, nos quartos, na cozinha, venta em todos os lugares.
O meu chuveiro é elétrico. E como TODOS os chuveiros elétricos que eu conheço se cai muita água, ela é fria. Se a água fica muito quente, ela pinga. O vaso sanitário é uma pedra de gelo. O piso do meu apartamento, com exceção dos quartos é frio.
Não existe calefação. Meus pés e mãos ficam o tempo todo gelados.
Eu sou careca. Minha cabeça dói durante à noite.
Não dá pra fazer as coisas de casa enrolado num cobertor: há risco de pegar fogo, há risco de se enroscar em alguma maçaneta. Há risco de sair puxando alguma coisa pela casa. Há risco por todos os lados.
Fiquei meia hora para ter coragem de sair da cama. MEIA HORA dava pra ler quase uma dissertação. Depois mais um bom tempo para tirar a roupa e tomar banho. Depois faltou coragem para sair do banho e colocar outra roupa. Depois de colocar a outra roupa, faltou coragem para sair do banheiro e por aí vai...
Desci as escadas do meu prédio de capacete (isso mesmo, eu não tenho carro, tenho apenas moto. Por que eu não compro um? Melhor eu não dizer aqui por conta do horário e das crianças na sala.). Nunca encontro as pessoas do meu prédio, mas foi descer com o capacete na cabeça para encontrar alguns vizinhos. Eles fingiram que eu não estava daquele jeito. Bem, provavelmente vou ser considerado maluco. Não me importo! Melhor ser maluco do que passar frio. 
O bom do inverno é que é apenas uma estação entre quatro. Ele acaba. Ele vai passar. E eu, espero, vou sobreviver ao frio.


sábado, 4 de julho de 2015

Da Série Músicas que me tocam

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Dia desses, falei aqui sobre um grupo dos anos 1980, o The Cure, cujas músicas conheci ao mesmo tempo em que fazia um novo grupo de amigos, volta de 1985, no Rio de Janeiro.
Tenho ouvido muito, praticamente todos os dias, os discos dessa banda, sucesso total no Brasil durante muito anos. Ontem, me lembrei de uma música deles e fui à caça: A Letter to Elise, faixa de muitos CDs. A banda lançava algumas músicas novas misturadas com músicas antigas num novo CD e assim muitas apareciam repetidas em discos diferentes. Este é uma delas.
A letra não é bonita, sensível ou coisa do gênero, mas a música é linda demais. Tenho ouvido tanto a mesma canção que acho que os vizinhos qualquer dia vão me proibir de ouvi-la mais uma vez.
Essa não me reporta a algum momento ou pessoas especiais, mas fez e ainda faz parte do que gosto de ouvir.
Bem, vale a pena conferir.


Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...