quarta-feira, 11 de março de 2009

Ao vivo (texto)

Todos os dias, sem excecão, nos telejornais, nos jornais impressos, nos rádios ficamos sabendo da violência que acontece no país e no resto do mundo. A primeira impressão que se tem é a de que o mundo não tem mesmo jeito. Não é possível não se chocar com o americano que depois de matar os pais e os avós sai pelas ruas atirando em quem quer que esteja no seu caminho ou com o adolescente alemão que volta à escola e mata 15 pessoas. Temos das últimas décadas centenas de milhares de imagens desses horrores armazenadas em nossa memória. Poderíamos buscá-las com pouca exigência de nossas lembranças.
Mas não quero aqui falar dessas lembranças ou mesmo dessa certeza atual que se tem do fim dos tempos por conta de filhos matando pais, crianças estupradas, Tiros em Columbine. Quero apenas escrever sobre as novas tecnologias fazendo com que seja possível ver ao vivo e em cores todas essas barbáries e os sentidos produzidos de época dos horrores.
Imaginem os Espanhóis chegando à Cidade da Guatemala há 1.200 anos e exterminando sem pena e sem dó milhares de nativos (com golpes de lança e machadadas na cabeça e no pescoço) com transmissão via satélite para as nossas salas e narração da Fátima Bernardes e Willian Bonner? Acho que teríamos a impressão dos fim dos tempos, né não? Ou os nazistas, por exemplo, submetendo os judeus aos gazes mortais, ou ainda os nativos brasileiros por volta de 1.500 sendo exterminados pelos portugueses? Não teríamos saída! Não poderíamos supor uma época mais violenta dentre todas as outras.
Mas aí, numa retrospectiva de final do ano, as TV's nos mostrariam as imagens de Alexandre, O Grande, na Batalha de Isso em 333 a.C e pensaríamos, já foi pior. E tantos outros históricos genocídios agora televisivos e concluiríamos que o mundo não ficou mais violento, mas se tornou menor, mais próximo e em dolby stereo.

terça-feira, 10 de março de 2009

Eu quero ser um milionário! (filme)

Assisti hoje ao filme Quem quer ser um milionário? Sem entrar na celeuma (houve? semprá há em torno dos campeões) sobre o merecimento do prêmio de Melhor Filme de 2008 dado pela Academia de Cinema, preciso registrar que filmes que tratam de redenção (essa é a minha impressão, apenas) são sempre bem recebidos pelo grande público: sejam os membros da Academia sejam os críticos ou demais expectadores. Quem quer ser um milionário? é um filme de redenção. Um menino pobre, favelado, órfão, vítima de inúmeras violências (fome, abandono, assassinato de sua mãe, entre tantos outros flagelos) consegue em um programa de televisão, daqueles comuns nos anos 70/80 aqui no Brasil*, de perguntas e respostas, valendo a cada acerto um montante de dinheiro, tornar-se um milionário. Ele, com sua história triste, mobiliza o país inteiro em torno do programa. Todos, é claro, torcendo para que ele seja o grande vencedor, uma metáfora da vitória por deslizamento em um país de contradições sociais, de pobreza, da miséria que se mostra.
Além disso (o que não é pouco), corre, paralelamente, A história de amor entre duas crianças (crianças, sobretudo pobres e abandonadas, encatam) que ultrapassa toda a sorte de desencontros.
Pode parecer que eu tenha achado o filme apelativo demais. Achei mesmo! Mas achei tb que Bombaim ou Mumbai tem muito de Brasil e por isso me pegou! Gostei do filme, vejo outra vez.
* O céu é o limite, com J. Silvestre; A grande chance, com Flávio Cavalcanti; 8 ou 800, com Paulo Gracindo e Silvia Bandeira (dos que me lembro agora)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Oitentona (texto)

No domingo, 8 de março, a apresentadora e cantora Hebe Camargo completou 80 anos de idade. Em geral, passo batido quando os temas são as festinhas de celebridades, aniversários de atrizes, lançamento de novelas etc. Essas coisas não me interessam, mesmo. No entanto, completar 80 anos e estar atuando num mercado que valoriza, principalmente, o corpo definido, o escândalo sexual, a reconstituição do hímen, o preço que se pagou num modelo de tal estilista, a prótese de silicone, o carro de sei lá quantos milhões, a juventude em detrimento do talento, a bunda em forma de jamelão, abacaxi, melancia, mamão, acho que os seus oitanta anos na ativa é um bom motivo para um post.
Hebe, com um estilo que foge até aos padrões televisivos (elencados acima), continua firme e forte (nesta idade faltam oportunidades até para notinhas em revistas de fofocas) às segundas à noite num horário (20h) nobre do SBT concorrendo com o que se tem de "melhor" nas demais emissoras. Ela está distribuindo energia, bom humor e muita alegria para quem possa duvidar de que chegar aos 80 não seja sinônimo de decadência e de aposentadoria. Gracinha!!!!!

sexta-feira, 6 de março de 2009

8 de março (texto)

Que Diferença não signifique perigo, exclusão, silêncio, violência, humilhação! E todos os dias sejam de mulheres e homens!
Bethania, Odete, Nanci*, Cris, Teresa*, Rosana*, Cida*, Sandra*, Sil, Mônica*, Narda, Rita*, Gil, Vera*, Ingrid, Cátia, Magali, Heloísa, Deise, Daysa, Elba,* Célia*, Celi, Geó, Cota, Margareth, Elia, Carolina, Terezinha*, Vanise, Lulu, Elis, Ana*, Valdeci, Clarice*, Isabel*, Ivonete, Grace, Neide*, Nika, Silvia*, Bebeth, Rosana*, Sandra*, Maria*, Socorro*, Marcinha, Fátima, Elpy, Rosilda, Mara, Vanda, Márcia*, Rose*, Neidir, Conceição*, Suely, Sâmara, Climene, Bárbara, Maria Lúcia, Delnavi, Soninha, Ceres, Suzana, Roseli, Ilce, Inara, Maria Luiza, Marluci, Greice, Bia, Jaci, Juci, Ivonete, Carla, Selma, Alessandra*, Marlene, D. Neném, Rosinha, Ângela, Madelon, Cinha, Lúcia*, Lucimara, Nádia, Rosalra, Carla*, Josy, Patrícia, Sol, Mírian, Clariane, Júnia, Mara, Meire, Carla*, Cláudia, Adriana, Miri, Lizzie, Gabriela*, Paula, Luciane*, Marina, Aline, Nicinha, Palmira, Dora, Raimunda, Elvira, Zilda, Zaíra, Suely, Maud, Fernanda, Marly, Rosa Herman, Carmem, Wilma, Andréia, Tânia.
*nomes iguais para mulheres diferentes

"E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto E nenhum no marginal" (texto)

A Igreja Católica faz o seu papel: o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou a mãe e a equipe médica envolvida no procedimento de abordo de menina de 9 anos, estuprada por padrasto e grávida de gêmeos. Dom José Sobrinho afima que "A lei de Deus está acima de qualquer erro humano."
Estranho seria se Ela, a Igreja, interpretasse o fato de outra maneira Não sei por que tanta indignação com a atitude do Arcebismo. Ela, a atitude, está coerente com tantas outras: a visão que se tem do uso da camisinha ou anticoncepcional, em acordo com a posição que se tem sobre a homossexualidade, ao holocausto, à escravidão dos negros, à bruxas na Inquisição etc. etc. etc. etc. etc.
Nesta sexta-feira (6), o arcebispo disse que o padrasto não pode ser excomungado: "Ele cometeu um crime enorme, mas não está incluído na excomunhão", afirmou Sobrinho. "Esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente."
Os médicos, a mãe e tantos de nós estamos cientes da necessidade do abordo. A interrupção da gravidez é prevista por lei quando resulta de estupro ou põe em risco a vida da mãe. No caso da menina de 9 anos respondia aos dos critérios. Ponto.

quarta-feira, 4 de março de 2009

"Minha gente! Não me deixem só! Eu preciso de vocês." (texto)

Finalmente o pedido de Fernando Collor de Mello foi atendido! Renan Calheiros e José Sarney, o PMDB e o DEM ouviram as preces do ex-presidente da república e o elegeram Presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, derrotando a candidata do PT, a senadora Ideli Salvatti.
A história começou com a campanha de Sarney para a presidência do Senado, o líder do PMDB, Renan Calheiros, conterrâneo de Collor, ofereceu uma Comissão em troca do apoio a Sarney.
E havia quem acreditasse que os moradores da Casa da Dinda tinham se regenerado. A mansão e seus ex-moradores já foram sinônimos de decadência política, mas eis que das cinzas ressurge o Príncipe das Alagoas.

terça-feira, 3 de março de 2009

21 de dezembro de 2012 (texto)

No domingo, 1 de março, ouvi, meio de longe uma história sobre o fim do mundo em 2012. Só que eu estava no banho e não deu para saber detalhes dessa nova previsão. Aí ontem à noite no History Channel assisti a reportagem completa sobre as intepretações que alguns estudiosos fizeram de algumas quadras de Nostradamus e a relação dessas quadras com previsões dos Maias e de alguns escritos egípcios sobre o juízo final. A data provável é 21 de dezembro de 2012.
Aí fiquei pensando aqui comigo mesmo e meu umbigo e meus botões sobre esse fim do mundo tão próximo e inesperado. Já que estamos no início de 2009 e não tinha sido informado sobre o fim dos tempos. Na verdade eu andava mesmo desconfiado de que o mundo estava acabando: veja bem, temos uma novela na Rede Globo que se passa na Índia e a língua oficial é o Português do Brasil (Laura Cardoso, Tony Ramos, Márcio Garcia são indianos?!). Sejamos honestos, é ou não motivo para desconfiar de que alguma coisa não anda bem? Além dessa aberração, os jornais, quase todos eles, só falam de 2010, mais precisamente das eleições presidenciais, esquecendo-se completamente do ano em que estamos (só para lembrar, 2009). Um cachorro é a atração principal do carnaval do Rio. Ele teve mais destaque do que a Mocidade Independente de Padre Miguel. Luana Piovani quase encontra, pela milésima vez, Dado Dollabela. Ah, ele tem que andar com uma fita métrica porque precisa manter 250m de distância da "atriz". Suzana Vieira encontrou, pelo décima vez, o grande amor de sua vida. Ainda tem o BBB 9 e todas as novelas da Record, os casos escandalosos de políticos donos de castelos, mansões.
Tô começando a acreditar que Nostradamus tem razão.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Reuniões (texto)

Odeio reunião! Odeio ficar mais de uma hora sentando resolvendo problemas! Odeio ficar sentado! Odeio problemas! Alguns vão dizer que eu estou odiando demais. Mentira. Suporto alguns encontros desde que sejam objetivos, mas uma coisa é objetividade e outra coisa são as reuniões. Se um está presente o outro não vem, porque são como orcas e baleias-azuis (cão e gato; gato e rato; leão e hiena), não se misturam. Entendo que as reuniões são necessárias, só não entendo a quantidade delas. Mais, não entendo por que elas são tão parecidas, para não dizer iguais. Na universidade há uma quantidade tão grande delas que mesmo aquele que tem (se é que é possível) alguma simpatia se chatea.
Cheguei por volta das 7h40 para a minha aula. Almocei. Às 14h tínhamos uma reunião do colegiado do curso. Meu deus, já sofro por antecedência. Depois da reunião uma outra reunião para tratar de um evento, mas antes disso, uma reunião para avaliar o desempenho de uma colega.

domingo, 1 de março de 2009

444 (texto)

Hoje, Primeiro de Março, aniversário de São Sebastião do Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades, vontade de estar na Lapa e almoçar no Nova Capela (ou no Bar do Gomes), estar na companhia de Vanise e depois andar por Santa Teresa para um cafezinho (e encontrar a Bebeth e o Pedro). Final da tarde um cineminha em Botafogo com Nanci, mas antes uma passadinha na Praia de Ipanema, na Barraca da Lúcia e do Cláudio. De repente, por ali, encontrar Lulu e Elis e na saída o Juscelino e rir sem parar com as histórias deles todos. A Cidade nem anda assim tão maravilhosa, mas tem seu charme (ela sobreviveu a tantos maus governantes, ao lixo que é jogado pelas janelas dos carros etc.). Basta admirar o Aterro do Flamengo de cima da passarela enfrente ao MAM para saber porque o Rio de Janeiro encanta. Sem falar da Curva de Copacabana voltando do Arpoador ou ainda da vista do Cristo Redentor. Sobre o Botafogo Praia Shopping ver a Baía de Botafogo e seus barquinhos, o Pão-de-Açúcar e os carros que cruzam noite e dia as avenidas largas do bairro. São 444 anos da cidade.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A beleza não é matemática, é química (texto)

(Deu no Globo.com) "Cirurgias desastrosas transformam famosos em monstros" e a partir daí alguns Antes-e-depois nos são mostrados como prova da transformação monstruosa, no entanto, me pareceu, o fato dos famosos serem vistos como monstros pelo ponto com é quase uma sentença sem saída da monstruosidade. Ou melhor, é como se não tivéssemos saída e devêssemos, então, vê-los feios, horrorosos, abomináveis etc.
Não é assim, ninguém se vê da forma como é visto, e mais, beleza não deve mesmo ter forma, padrão, encaixe. Quem disse que o fato de não se parecer com Brad Pitt ou Angelina Jolie (últimos exemplos de beleza masculina e feminina em quase todas as mídias) significa se ver feio? Significa ser feio? Quem disse que depois dos 50 não se tem mais saída? Beleza é mais do que ter vinte anos, muito mais do que corpos sarados e plásticos (não que não seja bonito, para alguns), vai além dos padrões pré-estabelecidos nas novelas globais das 20h/21h, dos telejornais, dos anúncios veiculados em quase todos os canais (abertos ou não). Ela não se explica e muito menos se aplica numa fórmula fechada, a beleza não é matemática, é química.

Ronaldo, Ronaldinho, Ronaldão (texto)

Que coisa chata essa imprensa o tempo todo ocupada com Ronaldo. É sempre a mesma história, se ele está transando com isso ou aquilo e/ou se já se separou da mulher, se pegou outro traveco, se não compareceu à concentração porque estava com garotas de programa, ou se estava com garotas de programa e por isso não compareceu à concentração. Parece que não tem nada mais para ser dito, vai ver não tem mesmo, e vai ver também que RoRoRonaldinho faz com que a gente abra o jornal, tecle na notícia, para diante daquela revista, fique imóvel ajeitando os ouvidos para a TV e rádio. Não aguento mais saber se o joelho direito ou se a ponta dupla dos seus cachos (e se ele tem a cabeça raspada?) estão em intenso tratamento, imagine saber a vida sexual do jogador de futebol: viramos, todos nós por extensão, vigias da genitália alheia. Cuidar da própria vida sexual já é uma complicação, já pensou se agora antes de mais nada preciso saber a quantas andam as trepadas do Fenômeno?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Entre o México e os EUA (texto)

Hoje, sem querer, através da Globo.com, vi algumas fotografias da mexicana radicada nos Estados Unidos Maria Teresa Fernández que vem documentando, nos últimos 17 anos, a vida na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Fazia tempo que eu não me sentia tão tocado diante de fotografias. Elas estão disponibilizadas no endereço abaixo. Todas elas mostram algum tipo de muro que separa os dois países e a forma como mexicanos dos dois lados dessa cerca se relacionam. São fotos tão impactantes e sensíveis que fiquei um pouco sem palavras ao vê-las. São retratados, dos dois lados, familiares que se (re)encontram. Maria Teresa descreve da seguinte maneira as suas fotografias: "A cerca muda o tempo todo. Cresce, se deteriora, é reconstruída, aumentada, retirada. Com minhas fotos, tento mostrar este organismo vivo e como ele afeta aqueles cuja realidade gira ao seu redor."
Vale à pena ver esse trabalho.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/02/090220_galeria_cercamexico_ba.shtml

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Depois dos 40 (texto)

Depois dos 40 fiquei mais impaciente em relação a alguns comportamentos, principalmente, àqueles que me reportam à adolencência. Sendo mais claro: faz algum tempo e talvez isso se deva aos meus relacionamentos (em todos os níveis, ou seja, não tenho amigos que se comportam como crianças porque não são crianças) não passo mais pela delicada situação de ter que me explicar porque alguém disse que eu disse alguma coisa. Não tem nada que me aborreça mais do que disse-me-disse, e mais, não tem nada que me irrite mais do que alguém atribuir a outra pessoa àquilo que gostaria de dizer e não tem coragem ou não é homem (adulto) suficiente para isso. Acho deprimente, acho sujo, acho que quem se comporta dessa maneira merece o desprezo.
Sempre acho que a idade não importa muito, mas tenho acumulado decepções.
Não diga que não disse alguma coisa que tenha falado e nem que eu tenha dito algo que realmente eu não tenha dito porque vc estará correndo um grande risco de não mais falar nada para mim.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...