segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A relação entre Literatura e Identidade na ficção contemporânea, principalmente nos países de recente passado colonial (texto)

Escritores de sociedades pós-coloniais tiveram em geral uma educação muito mais internacional e cosmopolita, se comparado com sistemas educacionais mais restritos e nacionais. Em Bombaim, eu estudava numa escola jesuíta espanhola. Tínhamos manuais que vinham da Inglaterra e dos EUA. Aprendíamos não somente a geografia da Índia, mas tb da Grã-Betenha, por causa do colonialismo braitânico - embora eu tenha frequentado a escola depois da independência. Estudávamos a América Latina, aprendíamos a literatura de diferentes partes do mundo. Nós sabíamos que os abusos do nacionalismo se referem ao fechamento, a estreitar a janela. Mas as pessoas em sociedades pós-coloniais experimentaram a ampla e aberta janela do mundo, embora fossem muitas vezes os desgraçados da terra. Vc vê o paradoxo? Um dos primeiros líderes políticos dos intocáveis na Índia escreveu um livro sobre a escravidão de sua casta. Ele dedicou a obra aos negros americanos. Era alguém que nunca tinha saído da Índia àquela época, a sua base era uma aldeia do interior. Para ele, a fronteira nacional não possuía a metade da importância, em sua própria língua vernacular, da extensão cosmopolita  do mundo. Por  isso chamo de cosmopolitismo vernacular. A literatura sempre rompeu com os limites nacionais. São muito poucas obras da literatura que seguem uma perspectiva estritamente patriótica. Não nego que existam algumas. Mas as obras mais interessantes, mesmo com perspectiva nacional, têm a ver com contradições e disjunções da nação. As obras literárias que só recitam um credo nacional não têm nenhum interesse. Só interessam a políticos tiranos. Ditadores adoram obras assim.

Homi Bhabha, entrevista concedida ao Jornal O Globo, caderno Prosa e Verso em 14 de janeiro de 2012.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Bebendo água da privada (texto)

Acabei de sair do Facebook, não faz um minuto. Talvez faça mais quando eu, finalmente, concluir este pequeno texto. Foi uma passada bem rapidinha, daquelas para mandar um abraço para quem está fazendo aniversário hoje. Às vezes, fico bem mais por lá. Dessa vez, não.
Entre um abraço e outro, li pequenas frases postadas por amigos ou por amigos de amigos e percebi, mais uma vez, que elas têm muito em comum. 
São informações absurdamente necessárias sobre atividades que estão sendo realizadas (ou foram) por faceparticipantes: estou assistindo TV. Fui ao mercado. Estou dormindo. Estou com sono. Vou almoçar. Minha TV estragou. Estou jogando. Dor de barriga. Penteando os cabelos. Lavando roupa. Limpando a casa. Minha bolsa estourou. Prendi meu pinto no fecho éclair. Dor de dente. Minhá avó tá maluca. Quero vê-la sorrir. Quero vê-la cantar. Me depilando. Hoje é domingo. Acordei tarde. Batendo um bolo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Marcelo Serrado, o equivocado (Alexandre Vidal porto)

Na década de 1920, a cidade de Berlim conheceu um dos períodos mais tolerantes da história em relação à homossexualidade.
Casais do mesmo sexo eram tratados com respeito, e a cultura homossexual era aceita sem constrangimentos. Essa situação propícia se manteve até a emergência de Adolf Hitler, que mandou dezenas de milhares de homossexuais para campos de extermínio, todos com um triângulo rosa no peito.
No Brasil, ocorre situação análoga. Lentamente, a conquista pela igualdade de tratamento para os homossexuais avança. Mas a luta é inglória. Quando se pensa que os avanços estão consolidados, surge um Silas Malafaia, um Jair Bolsonaro ou um Ives Gandra Martins para lembrar que a questão está longe de ser resolvida.
O último nessa linhagem de homofóbicos é o ator Marcelo Serrado, que interpreta o personagem homossexual Crô, na novela "Fina Estampa". Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, publicada na edição do último domingo deste jornal ("Arrasa, bii!"), Serrado expôs seu preconceito abertamente ao declarar que não gostaria de que a sua filha de sete anos visse um beijo gay na televisão.
Em sua conta no Twitter, o ator negou que fosse preconceituoso. Como se não querer que uma criança assista a um beijo gay nada tivesse de discriminatório. Exatamente como a senhora que diz que não é racista, mas que preferiria que a filha não se casasse com um negro.
A maneira como Serrado educa a sua filha é problema dele. Não se condena o teor de suas declarações preconceituosas, porque a homofobia ainda não é crime no Brasil.
O condenável em sua atitude é a negação do óbvio. Ele tem o direito de educar a sua filha como quiser, mas não pode enganar a população tentando descaracterizar a natureza do seu preconceito. Ou seja, Serrado é um homofóbico no armário. Precisa sair dele.
Serrado terá alcançado o auge da sua fama às custas da ridicularização dos homossexuais. Para ele, explorar a homofobia da sociedade brasileira deu certo. Para a Rede Globo, também, porque os índices de audiência da novela são altos. É triste, porém, que uma emissora de televisão preste tal desserviço à consolidação da cidadania.
A imagem desrespeitosa que a televisão brasileira difunde dos homossexuais pode dar lucro às emissoras e aos atores. No entanto, causa prejuízo ao Brasil como um todo, porque solapa os esforços do governo e da sociedade no combate ao ódio e à intolerância.
A caricatura homossexual que Aguinaldo Silva compôs e que Marcelo Serrado se presta a interpretar, por exemplo, levará anos para ser desmantelada no imaginário da nação. Produzirá discriminação e gerará violência.
Em defesa da novela, poder-se-ia falar em liberdade de criação artística. No ataque, porém, é necessário recordar a noção de responsabilidade social, que as redes de televisão têm o dever de preservar.
Homossexuais caricatos sempre existiram. Não temos de negá-los. Pergunto-me, no entanto, em que novela ou reality show estarão os homossexuais comuns, que têm relações estáveis, acordam cedo para ir trabalhar e levam uma vida convencional. Eles também existem. São muitos. Pagam impostos e exigem respeito.
Ah, e beijam-se também, Marcelo Serrado, como qualquer ser humano normal. Querer ocultar esse fato de sua filha ou de quem quer que seja constitui homofobia, quer você queira, quer não.

ALEXANDRE VIDAL PORTO, 46, mestre em direito pela Universidade Harvard, é diplomata e escritor.
Artigo  publicado na Folha de São Paulo de hoje, 13/01.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O sobrevoo migratório dos politicos (texto)

As migrações das aves são fenômenos voluntários e intencionais com caráter periódico e com o objetivo de encontrar alimento e boas condições meteorológicas. O voo dos políticos tem características bem parecidas, tb são voluntários, intencionais, com caráter periódico (normalmente em épocas de enchentes como as que estão acontecendo no sudeste do Brasil ou em períodos de catástrofes naturais que assolam algumas regiões e matam muitas pessoas ou deixam outras tantas desabrigadas).
O objetivo, diferentemente das aves, não é o de encontrar alimentos ou boas condições climáticas, mas apenas o de tomar ciência dessas desgraças anunciadas cuja frequência a cada ano se intensifica.
Faz exatamente um ano que 918 pessoas morreram (e 215 ainda estão desaparecidas) soterradas ou foram levadas pelas enchentes e deslizamentos de encontas na região serrana do Rio. Lembro-me perfeitamente das promessas do Governador do Rio, Sérgio Cabral, que, como aquelas aves, sobrevoou a região atingida e prometeu (prometer é, além de sobrevoar, uma das características mais comuns dos políticos) doações de verbas para recuperar a região, casas para os desabrigados e principalmente retirar as pessoas dos locais de risco.
Quase nada foi feito. Nova Friburgo, por exemplo, tem mais de 10 mil pessoas morando em locais que visivelmente correm algum risco de serem atingidos por deslizamento de encontas ou por cheias de rios, caso a chuva castigue um pouco mais a região.
Como eu disse, muitas vítimas até hoje não foram encontradas. Os sobreviventes sofrem com as lembranças e o medo de novas tragédias. Em um ano, pouca coisa mudou na região do desastre. As novas construções ainda são promessas (sem prazo de entrega).
O que não muda, faz um bom tempo, são os comportamentos dos governadores, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, enfim, dos políticos que são eleitos para trabalhar pela comunidade. Entram e saem gerações de políticos, mas as práticas continuam exatamente as mesmas: sobrevoar e prometer.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Atores deveriam interpretar e não achar que podem falar sobre tudo e qualquer coisa (texto)

O ator Marcelo Serrado, em entrevista, esta semana, na coluna de Mônica Bergamo, disse ser contra beijo gay em novela das 21h. Disse ainda que "Isso é algo que tem que ir quebrando aos poucos. Não quero que minha filha [Catarina, 7] esteja em casa vendo beijo gay às nove da noite [na TV]. Que passe às 23h30."
Acho, como já escrevi aqui, algumas vezes, diga-se de passagem, que artistas devem ser avaliados pela forma como trabalham e não por suas opiniões, normalmente, equivocadas. O ator não sabe o que diz e ponto.
Tanto não sabe que para ele a filha assistir  às 21h as cenas de sexo de casais héteros, as atitudes negativas baseadas em caráter questionável (como as da personagem Tereza Cristina), a subserviência canina e alienada do Crô, não há problema! Dá para levar a sério o que o ator diz?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Casamento gay diz que Papa Bento XVI ameaça Humanidade

Em entrevista coletiva, o Casamento Gay declarou ontem que o Papa Bento XVI é uma ameaça à Humanidade. Citando o comportamento preconceituoso do sumo pontífice, que condena os homossexuais, o casamento gay não tem papas na língua ao criticar o sacerdote. “As pessoas precisam de humanidade e as declarações do papa vão contra o amor ao próximo que Jesus pregou”, diz o Casamento Gay, que já é legal em vários países da Europa.
Ao saber das declarações do Casamento Gay contra sua santa pessoa, Bento XVI radicalizou: pediu aos católicos que deixem de ver programas em que haja personagens gays, a começar pelo Crô de Fina Estampa. O papa disse ainda que vai entrar com pedido no Vaticano para mudar seu nome artístico para Bolsonaro XXIV.

Desiree Aparecida e Leonardo Lanna

Publicado em: http://www.sensacionalista.com.br/2012/01/10/casamento-gay-diz-que-bento-xvi-ameaca-a-humanidade/

Eles fritam ovos na cozinha, falam sobre qualquer bobagem e o público vota (texto)

Hoje, à noite, recomeça, na TV Globo, o BBB (sabe-se lá qual edição. Eu poderia pesquisar, mas não quis) e esse é também o recomeço de uma histeria nacional, ou, pelo menos, da divulgação de uma histeria. E como algumas pessoas se reunem em torno da TV para acompanhar tanta bobagem!!!
George Orwell deve se remexer no túmulo cada vez que reestreia essa idiotice (cujo título foi saqueado de sua obra).
Hoje, um amigo, postou no Facebook um vídeo bem interessante do artista plástico brasileiro Antonio Veronese com algumas considerações sobre o programa (vale à pena ver e ouvir).
Uma, dentre as suas ideias, me tomou completamente: já que a TV brasileira é uma concessão do Estado, ela, por obrigação, deveria contribuir com a educação, com a cultura, com informaçãos que ajudassem a população, de uma forma geral, a conhecer melhor a sua história.
Programas como Domingão do Faustão, Xuxa, Gugu e restos desse gênero deveriam ser banidos da TV brasileira, já que não contribuem em nada com a formação cidadã (ao contrário, deformam qualquer possibilidade de fazer cultura). E isso não é um privilégio da TV brasileira, o mundo tá cheio de besteiras como essas.
O que me interessa se o(a) modelo e manequim (ainda existem manequins?) pensa assim ou assado sobre qualquer coisa? Não quero (e não permito) que essas imagens entrem na minha casa, invadam meus olhos, instalem-se na tela da minha TV.
É vergonhoso o tanto de mídia em torno desse programa. Deveríamos sim nos reunir para boicotar qualquer produto que promovesse esse tipo de programa. Quem sabe assim as TVs abertas não se tocassem do emburecimento que elas produzem.

Papas vão queimar no fogo do inferno (texto)

O papa Bento XVI (este aí ao lado) disse hoje, segunda-feira, 09 de janeiro, que o casamento homossexual é uma das várias ameaças atuais à família tradicional, pondo em xeque "o próprio futuro da humanidade".
Segundo ele, a educação das crianças precisa de "ambientes" adequados, e "o lugar de honra cabe à família, baseada no casamento de um homem com uma mulher". "Essa não é uma simples convenção social", continuou o Papa, "e sim a célula fundamental de cada sociedade. Consequentemente, políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana e o próprio futuro da humanidade".
"A unidade familiar é fundamental para o processo educacional e para o desenvolvimento dos indivíduos e Estados; daí a necessidade de políticas que promovam a família e auxiliem na coesão social e no diálogo", disse Bento XVI aos diplomatas no Vaticano.
Além dessas cafonices, família tradicional, ambientes adequados, por em xeque o futuro da humanidade, Bento disse também que a Igreja Católica (assim, em maiúscula e negrito) tem recebido muitos fiéis de outras religiões que discordam de tantas ideias liberais (de outras religiões, é claro).
Bem, vamos ao que me interessa. Papas deviam se aposentar, ideias como essas deviam ter data de validade. A família tradicional a qual o papa faz menção não existe faz tempo (graças a deus, diga-se de passagem). E casamentos como os que o papa se refere nunca existiram: ou alguém acha que viver num ambiente em que as mulheres eram (são) subjugadas pelos homens é saudável? Ou ainda, num extremo de exemplificação, porque isso não acontece em todos os lares, pais que abusam sexualmente de seus filhos não estão em ambientes saudáveis, né não?
O que pode colocar em xeque o futuro da humanidade é a FOME. E por falar nela, que tal o Vaticano dividir um pouco da sua riqueza com os miseráveis (fiéis e infieis) católicos? Miseráveis pela condição econômica e miseráveis de conhecimentos.
A Igreja Católica exterminou milhares de pessoas em nome de Deus. A Inquisição queimou, tomou bens, matou, excluiu tb em nome de Deus. Até avanços científicos se calaram diante da mão forte da Igreja Católica. Papas acham que podem falar em nome de Deus. Não podem. Deus não precisa da tradução de ninguém para que os seus princípios sejam entendidos: ama o próximo como a ti, seria suficiente para vivermos em paz.
A Igreja recebia dos seus fiéis bens para que os seus  pecados (dos fiéis) fossem perdoados. Os Papas vão quiemar no inferno, tenho certeza. Acho que Papas não têm mais nada o que fazer. São figuras retóricas e deveriam, portanto, enquanto há tempo pedir perdão pelos excessos cometidos (ou farão isso, necessariamente, em alguns anos). Pobre de quem não pensa sozinho. Pobre de espírito aquele que não enxerga as barbaridades que produzem esse tipo de afirmação sobre a homossexualidade.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Velho reality show da TV Globo

QUE BOSTA!

Novo reality show da TV Bandeirantes

SEM COMENTÁRIO.

Da Série Contos Mínimos

Não entendiam, sobretudo ele, para onde teria ido tanto amor. Havia promessa de para toda vida. Foram tantos planos: casa, filhos, cachorro, saudades. 
Talvez fosse preciso um tempo maior para descobrir que o amor continuava por ali, no fundo do armário, na posta-restante. Eis aí o amor, brincando de esconde-esconde.

Uma aposta que se perde!

A gente aprende a lidar com a ausência quando só há ausência. Se a presença é escassa, se não há reciprocidade, se é preciso implorar a comp...