quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Havia um mundo mas eu não me encontrava em canto algum. Eu me senti assim por muito tempo. Estava verdadeiramente sozinho. A minha salvação era o Rivotril. Só ele me fazia acreditar que aquilo uma hora passaria. Não passou.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Leva e traz

Alguns encontros são sempre bons. Hoje, encontrei um dos meus amigos mais antigos e ficamos parte do dia juntos jogando conversa fora: falando sobre coisas desimportantes, rindo de situações antigas e de novas situações, falamos sobre coisas sérias,  matamos a saudade de tanto tempo...
Sinto por você um amor que não se acaba. A vontade era a de estar mais próximo, mas a vida nos chama para outros lugares e a gente ouve e vai. Mas ela também nos traz de volta e a gente obedece.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Como uma boa lembrança

Bem, hoje remexendo nas minhas coisas, aqui no Rio, encontro  6 cartas antigas. 3 delas da minha mãe. Todas de 1999. Não foi fácil lê-las. É um turbilhão de lembranças e sentimentos misturados que me levam pra muitos lugares, nem todos bons, nem todos fáceis de rememorar ou de estar.
De toda forma, foi muito bom poder reler essas cartas (mesmo me transbordando) e me lembrar de coisas que estavam acontecendo à época. 
Minha mãe estava sempre preocupada, querendo saber se eu tinha grana, se eu estava me alimentando bem, como estava o trabalho, quando eu voltava para o Rio etc. (assim como a maioria das mães o fazem). Em uma delas, ela sugere que eu largue as aulas na universidade e volte para as aulas de segundo graus, no Rio, para ficar mais próximo.
Em todas as cartas ela faz referência à conclusão do mestrado. As cartas eram de abril de 1999 e muito provavelmente eu devia tá numa tensão daquelas. Esse período não foi fácil! Eu defendi a dissertação apenas em julho desse ano.
Ela me escrevia muito. E eu tinha todas as cartas até me mudar para o Rio, para o doutorado. Nessa mudança, perdi todas elas (com exceção dessas 3). A esperança é a de que um dia eu as encontre. Sabe-se lá. 
São 3 cartas de abril, dia 09, 15 e 18. Ela me escrevia muito mesmo e era bom demais receber notícias também por escrito. Nos falávamos quase que diariamente por telefone.
Bem, restaram 3 cartas. Duas delas de um ex de Curitiba, que havia voltado para a casa dos seus pais, em Blumenau. Foi tão bacana poder reler essas cartas. Não namoramos por muito tempo, apenas ficamos algumas vezes.
Uma dessas cartas ele me escreveu no dia do meu aniversário: faz exatamente 16 anos. É tempo demais! Eram cartas ora de despedida, ora de amor, ora de saudade. Ela era muito confuso em relação a mim. Era um menino, ele devia ter uns 20 anos. Nunca mais nos vimos. Ele deixou de responder as minhas cartas, eu liguei certa vez para a casa de seus pais e eles me disseram que ele havia ido embora (mais uma vez) e nos perdemos. Tentei encontrá-lo numa rede social, mas ele à época já era tão alternativo que não me surpreende que não participe dessas redes. Bem, a vida tem dessas coisas, e se encontrar e se perder também fazem parte.
A última carta também de um namoradinho de final de semana. Nos conhecemos em Curitiba em algum lugar que agora já não me lembro. Foi um final de semana intenso. Ele estava sozinho e era um cara muito agradável e bonito. Trocamos cartas por um bom tempo. Não me lembro qual o motivo que nos afastou, acho que a minha volta para o Rio em 2004 ou ele ter se casado outra vez, sei lá. Alguma coisa assim. Faz tempo e já não me lembro mais dos detalhes.
Essa carta não foi também fácil de ler. Por motivos bem distintos dos das da minha mãe. Mas ali ele escreve coisas sobre mim que hoje ainda me são caras e presentes. Acho que em certos aspectos não mudei tanto assim como eu pensava e ler aquilo (claro que não vou mencionar aqui já que se tratam de coisas muito pessoais) me tocou.
Mas foi uma boa lembrança e eu o reencontrei numa rede social e enviei um convite de amizade. Fisicamente, estou tão diferente. Ele não. Não sei se ele vai me reconhecer. Vamos ver...
Bem, essas histórias antigas e tão atuais foram muito agradáveis de reviver.  Bom saber que pessoas deixam também boas lembranças em nossas vidas. Tomara que eles se lembrem de mim com carinho. Recontar o passado quase sempre é melhor do que vivê-lo.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Não tinha sido "aproveitar uma oportunidade", como eu supunha. Ou era aquilo ou era praticamente nada. Ele não tinha alternativa: morava numa favela com a mãe e os quatro irmãos,  abandonou bem cedo a escola, não conheceu o pai. Eles quase não tinham o que comer. Os dois irmãos mais velhos foram mortos pelo crime organizado do qual faziam parte. Sua vida já estava quase definida até que conheceu um italiano e foi embora com ele.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Da Série Contos Mínimos

De fevereiro até novembro, ele pensou apenas em morrer. Nesse longo e tenebroso tempo, por diversas vezes, achou que a melhor solução para as suas angústias seria por fim a própria vida. Não o fez. E não sabe até agora o motivo de não tê-lo feito. Se morrer fosse apenas abrir aquele portão que estava ali diante dele, ele certamente o teria atravessado.

Desconstruindo gênero

Bem, quem me conhece de verdade, quem convive comigo, conviveu (e conviverá) deve saber que não tenho o menor jeito para trabalhos que envolvam eletricidade, cimento, massa, encanamento e coisas afins (de consertar chuveiro, ou mesmo trocar lâmpadas). 
Eu tremo demais, não tenho paciência e conhecimentos suficientes para realizar nada disso. Sou um zero, definitivamente.
No entanto, para a minha surpresa e depois de ficar por mais de duas semanas tentando encontrar alguém que resolvesse o meu problema: remover e recolocar o rejunte do banheiro do meu apartamento no Rio, eu mesmo o fiz.
A internet é mesmo a enciclopédia dos novos séculos. Não há o que não se encontre por aqui. 
Bem, procurei no Youtube algum tutorial e eis que encontro não apenas um mas vários ensinando desde de preparar a massa, os instrumentos necessários e cada etapa do processo até a limpeza que se deve fazer após a aplicação do rejunte. Eu fiz. Tá lá secando e amanhã, depois de 12 horas de aplicação e secagem, vou ver  resultado desse novo trabalho.
A cara não é a das melhores, mas fiz como se fosse um profissional. Tô feliz com a atitude. O lema é: se não tem quem o faça, faço eu mesmo.
Tenho uma grande amiga, Jacicarla, que é a rainha desses pequenos afazeres. Ela é praticamente um faz-tudo. Quando ela ainda morava em Cascavel, foi diversas vezes no meu apartamento para consertar, trocar, colocar no lugar, instalar, enroscar alguma coisa. Tudo ela sabia/sabe fazer. Eu morria de vergonha, e ela ali desconstruindo gênero.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Abriu a porta do seu apartamento como fazia toda manhã. Mas ela não dava mais para o grande corredor do seu prédio. Estava em algum lugar e não sabia como sair dali.

Um ano inteiro que ficou...

Os dias voam. E, de repente, um ano inteiro ficou lá atrás. Não propriamente como se o passado não mais nos pertencesse. Não! Nunca é desse jeito se a vida continua. 
Dentro da "vida" tem "ida", porque a vida é assim, pra frente. E é bacana essa ideia de um novo ano para renovar os votos de felicidades e planejar os próximos dias: gosto dessas promessas que fazemos a cada 31 de dezembro. 
É inspirador acreditar na possibilidade dos novos tempos (mesmo que eles sejam apenas uma continuação de tudo aquilo que fizemos/vivemos no ano anterior. E quase sempre é assim). 
Também fiz as minhas promessas. Dessa vez, fui mais ponderado, prometi apenas o que preciso mesmo fazer para melhorar a minha qualidade de vida: é claro que isso esbarra em um montão de gente, mas, em princípio, depende muito de mim.
Já coloquei em prática um pouquinho do que me prometi para 2015. E vou acreditando nisso.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Ela não apareceu. Logo hoje! Não deu sinal de vida. Não ligou. Nem uma mensagem no celular...
Acho que ela não usa o messenger, não conhece o FaceTime, nem sabe usar o skype. Ela, definitivamente, não é das tecnologias. Vou olhar o Facebook pra ver se ela apareceu por lá. E se não der certo, peço a algum conhecido para mandar um whatsApp. Alguém deve ter o seu contato.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O homem, seus amigos e suas viagens

2014 foi, sem dúvida, o ano das amizades. Foi um ano de descoberta e de fortalecimento de laços afetivos. Foi um ano que explorei os amigos e fui atendido. Acho que é um ano que poderei, futuramente, dividir entre um antes e um depois.
Por outro lado, mas isso não é de todo ruim (sei que depois de certo tempo assim será), foi um ano também de separar o que valia do que não-valia: descobri quem eram aqueles que estavam disponíveis, quem eu podia verdadeiramente contar e quem eram os outros: aqueles amigos dos dias alegres, aqueles que gostam de dividir o seu chope, o seu afeto, a sua atenção. Os de ocasião. Esses não ficarão. Ou melhor, já ficaram em 2014. E daqui não vão sair. Jamais, com sotaque francês.
Eu podia fazer uma lista enorme de agradecimentos, mas, como sei que não sou muito bom de memória, certamente me esqueceria de alguém importantíssimo. Melhor deixar assim, na geral.
Um ano de encontros e despedidas: o trem que chega é o mesmo trem da partida. Fui e voltei diversas vezes. Cheguei, parti outra vez. Deixei parte do meu coração em cada abraço, em cada lágrima de despedida ou de chegada. Eram lágrimas verdadeiras.
Também foi um ano de viagens. Não apenas as geográficas, mas a mais importante e dangerosíssima, como diria o maior poeta, de si a si mesmo. Precisei colocar os pés no chão do meu coração para me colonizar, me humanizar, me civilizar para, finalmente, descobri em minhas próprias entranhas a perene e insuspeitada alegria de viver.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Da Série Contos Mínimos

Só ha cinco anos ele havia se sentido assim: solto no mundo, sem direção. Como se fizesse uma retrospectiva de sua vida recente, pensou se ainda valia à pena. Mas não havia nada que o fizesse acreditar outra vez: todas as pessoas, sem exceção, lhe pareciam jogar com a sua fé. Ficava lembrando de cada uma e pensando se ainda era possível. Não era. Não sobrou ninguém! 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Da Série Contos Mínimos

A casa estava abandonada. Nada nela nos fazia lembrar daqueles velhos tempos. Tudo estava triste: folhas secas, teias de aranha, lixo. Um homem sozinho vivendo de um passado que não ia mais voltar. Era  demais ver tudo aquilo sem nada poder fazer.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Ele ficou sem resposta.

Dia desses alguém não compreendeu muito bem a minha gentileza e deu a entender que o meu gesto tinha sido uma "cantada". De cara, eu fiquei sem ação, porque eu li e reli a mensagem enviada e não consegui ver ali nada que não fosse uma forma gentil de convidar um "estrangeiro" para conhecer o Rio. Me coloquei às ordens, caso o "colega" estive com vontade de conhecer o Centro e tomar um café.
É no mínimo estranho quando alguém compreende a intenção do outro apenas em uma direção. E julga que todos só se aproximam com segundas, terceiras intenções (não deve ser nada agradável achar que os outros só se aproximam da gente com sede de sexo - ou ainda, quanta pretensão!!!).
Como eu não queria deixar nada mal explicado, respondi, no dia seguinte, que tinha havido algum mal entendido porque a minha intenção era apenas a de ser gentil. E lhe disse também que eu gosto de tratar os outros da mesma forma que gostaria de ser tratado.
Bem, acho que aí a ficha caiu e o meu "provável amigo" entendeu a besteira que fez. Tentou me explicar o inexplicável, mas, aquela tinha sido a minha última mensagem. Ele ficou sem resposta.

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...