sexta-feira, 6 de maio de 2011

Supremo reconhece união estável de homossexuais (texto)

Os ministros Ayres Britto, relator das ações sobre união homossexual, e Ricardo Lewandowski durante julgamento no Supremo (Foto: Dida Sampaio / Agência Estado) O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por unanimidade, nesta quinta-feira (5) a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar. Na prática, as regras que valem para relações estáveis entre homens e mulheres serão aplicadas aos casais gays. Com a mudança, o Supremo cria um precedente que pode ser seguido pelas outras instâncias da Justiça e pela administração pública.
O presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, concluiu a votação pedindo ao Congresso Nacional que regulamente as consequência da decisão do STF por meio de uma lei. “O Poder Legislativo, a partir de hoje, tem que se expor e regulamentar as situações em que a aplicação da decisão da Corte seja justificada. Há, portanto, uma convocação que a decisão da Corte implica em relação ao Poder Legislativo para que assuma essa tarefa para a qual parece que até agora não se sentiu muito propensa a exercer”, afirmou Peluso.

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De acordo com o Censo Demográfico 2010, o país tem mais de 60 mil casais homossexuais, que podem ter assegurados direitos como herança, comunhão parcial de bens, pensão alimentícia e previdenciária, licença médica, inclusão do companheiro como dependente em planos de saúde, entre outros benefícios.
Em mais de dez horas de sessão, os ministros se revezaram na defesa do direito dos homossexuais à igualdade no tratamento dado pelo estado aos seus relacionamentos afetivos. O julgamento foi iniciado nesta quarta-feira (4) para analisar duas ações sobre o tema propostas pela Procuradoria-Geral da República e pelo governo do estado do Rio de Janeiro.
Em seu voto, o ministro Ayres Britto, relator do caso, foi além dos pedidos feitos nas ações que pretendiam reconhecer a união estável homoafetiva. Baseada nesse voto, a decisão do Supremo sobre o reconhecimento da relação entre pessoas do mesmo sexo pode viabilizar inclusive o casamento civil entre gays, que é direito garantido a casais em união estável.
A diferença é que a união estável acontece sem formalidades, de forma natural, a partir da convivência do casal, e o casamento civil é um contrato jurídico formal estabelecido entre suas pessoas.
A lei, que estabelece normas para as uniões estáveis entre homens e mulheres, destaca entre os direitos e deveres do casal o respeito e a consideração mútuos, além da assistência moral e material recíproca.

Efeitos da decisãoA extensão dos efeitos da união estável aos casais gays, no entanto, não foi delimitada pelo tribunal. Durante o julgamento, o ministro Ricardo Lewandowski foi o único a fazer uma ressalva, ao afirmar que os direitos da união estável entre homem e mulher não devem ser os mesmos destinados aos homoafetivos. Um exemplo é o casamento civil.
“Entendo que uniões de pessoas do mesmo sexo, que se projetam no tempo e ostentam a marca da publicidade, devem ser reconhecidas pelo direito, pois dos fatos nasce o direito. Creio que se está diante de outra unidade familiar distinta das que caracterizam uniões estáveis heterossexuais”, disse Lewandowski.
“Não temos a capacidade de prever todas as relações concretas que demandam a aplicabilidade da nossa decisão. Vamos deixar isso para o caso a caso, nas instâncias comuns. A nossa decisão vale por si, sem precisar de legislação ou de adendos. Mas isso não é um fechar de portas para o Poder Legislativo, que é livre para dispor sobre tudo isso”, afirmou o relator do caso, ministro Ayres Britto.
Ministros do Supremo durante sessão sobre união entre homossexuais (Foto: Carlos Alberto / Imprensa STF) "Esse julgamento marcará a vida deste país e imprimirá novos rumos à causa da homossexualidade. O julgamento de hoje representa um marco histórico na caminhada da comunidade homossexual. Eu diria um ponto de partida para outras conquistas", afirmou o ministro Celso de Mello.
No primeiro dia de sessão, nove advogados de entidades participaram do julgamento. Sete delas defenderam o reconhecimento da união estável entre gays e outras duas argumentaram contra a legitimação.
A sessão foi retomada, nesta quinta, com o voto do ministro Luiz Fux. Para ele, não há razões que permitam impedir a união entre pessoas do mesmo sexo. Ele argumentou que a união estável foi criada para reconhecer “famílias espontâneas”, independente da necessidade de aprovação por um juiz ou padre.
“Onde há sociedade há o direito. Se a sociedade evolui, o direito evolui. Os homoafetivos vieram aqui pleitear uma equiparação, que fossem reconhecidos à luz da comunhão que tem e acima de tudo porque querem erigir um projeto de vida. A Suprema Corte concederá aos homoafetivos mais que um projeto de vida, um projeto de felicidade”, afirmou Fux.
“Aqueles que fazem a opção pela união homoafetiva não podem ser desigualados da maioria. As escolhas pessoais livres e legítimas são plurais na sociedade e assim terão de ser entendidas como válidas. (...) O direito existe para a vida não é a vida que existe para o direito. Contra todas as formas de preconceitos há a Constituição Federal”, afirmou a ministra Cármen Lúcia.

Preconceito
O repúdio ao preconceito e os argumentos de direito à igualdade, do princípio da dignidade humana e da garantia de liberdade fizeram parte das falas de todos os ministros do STF.
“O reconhecimento hoje pelo tribunal desses direitos responde a grupo de pessoas que durante longo tempo foram humilhadas, cujos direitos foram ignorados, cuja dignidade foi ofendida, cuja identidade foi denegada e cuja liberdade foi oprimida. As sociedades se aperfeiçoam através de inúmeros mecanismos e um deles é a atuação do Poder Judiciário”, disse a ministra Ellen Gracie.
“Estamos aqui diante de uma situação de descompasso em que o Direito não foi capaz de acompanhar as profundas mudanças sociais. Essas uniões sempre existiram e sempre existirão. O que muda é a forma como as sociedades as enxergam e vão enxergar em cada parte do mundo. Houve uma significativa mudança de paradigmas nas últimas duas décadas”, ponderou Joaquim Barbosa.
O ministro Gilmar Mendes ponderou, no entanto, que não caberia, neste momento, delimitar os direitos que seriam consequências de reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo. “As escolhas aqui são de fato dramáticas, difíceis. Me limito a reconhecer a existência dessa união, sem me pronunciar sobre outros desdobramentos”, afirmou.
Para Mendes, não reconhecer o direitos dos casais homossexuais estimula a discriminação. “O limbo jurídico inequivocamente contribui para que haja um quadro de maior discriminação, talvez contribua até mesmo para as práticas violentas de que temos noticia. É dever do estado de proteção e é dever da Corte Constitucional dar essa proteção se, de alguma forma, ela não foi engendrada ou concedida pelo órgão competente”, ponderou.

Duas ações
O plenário do STF concedeu, nesta quinta, pedidos feitos em duas ações propostas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo governo do estado do Rio de Janeiro.
A primeira, de caráter mais amplo, pediu o reconhecimento dos direitos civis de pessoas do mesmo sexo. Na segunda, o governo do Rio queria que o regime jurídico das uniões estáveis fosse aplicado aos casais homossexuais, para que servidores do governo estadual tivessem assegurados benefícios, como previdência e auxílio saúde.
O ministro Dias Toffoli não participou do julgamento das ações. Ele se declarou impedido de votar porque, quando era advogado-geral da União, se manifestou publicamente sobre o tema.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Cuitelinho (música)

 
Cheguei na bera do porto
Onde as onda se espaia
As garça dá meia volta
E senta na bera da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia ai


Ai quando eu vim de minha terra
Despedi da parentaia
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes bataia ai

A tua saudade corta
Como o aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma, a otra faia
E os oio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia ai.

Vou pegar o teu retrato
vou botar numa medaia
com um vestidinho branco
e um laço de cambraia
vou pendurar no meu peito
que onde o coração trabaia.

Essa é pra Helô e pra Fátima (Viver é afinar os instrumentos).

Composição : Paulo Vanzolini / Antônio Xandó

Da série Contos mínimos

Ele se sentia culpado por sentir felicidade. Não se sentia merecedor. Era como se ficasse à vontade apenas quando alguma coisa não ia bem.

sábado, 30 de abril de 2011

Da Série Contos Mínimos

Sentia-se como se tivesse trombado com uma manada de elefantes. Pernas, braços, tórax, cabeça: nada fazia sentido. Nada compunha um todo. Um homem aos pedaços.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Para Cris (texto)

Cris, dia desses nos falamos por aqui. O post era sobre música. Eu escrevia sobre as minhas impressões em relação ao mais recente CD da Adriana Calcanhotto. Naquele post eu disse que o CD havia me decepcionado, justamente porque, como gosto muita da Adriana (pareço até íntimo), esperava muito mais de um disco de samba, já que ela é uma compositora especial.
Vc me disse que fazia tempo que não se surpreendia com nada em relação à música. Lembra-se? Pois bem, hoje um aluno me indicou o CD da Mônica Salmaso - Alma Lírica Brasileira (clique aqui para ouvir). Olha, comprei pela net. mas enquanto não chega estou ouvindo pela UOL, sem parar, diga-se.
Ouça e depois me diga o que achou. O selo é Biscoito Fino, raramente produz algum CD/DVD que não seja muito bom. Tomara que, como eu, vc se surpreenda. Além da voz, dos arranjos, dos músicos que a acompanham, a seleção musical é impecável! De Carnavalzinho até Trem das onze, imperdível. A alma é mesmo brasileira da melhor espécie, do mais alto nível.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pra você guardei o amor (Nando Reis)

Que o Nando Reis é um grande letrista não é novidade para ninguém, pelo menos, pra quem já tenha escutado por exemplo All Star, Por onde andei, Luz dos olhos, Relicário, O segundo sol, Cegos do Castelo e tantas, tantas outras músicas, cantados por ele, ou eternizadas pela voz da Cássia Eller.
Dia desses, um amigo me mandou Pra você guardei o amor, e fiquei ouvindo sem parar, até que a música grudou como se tivesse sido parte da minha trilha sonora.
A letra é demais!! Interpretada por ele e por Ana Cañas, é uma declaração de amor. Confira:

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir


Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir


Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar


Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar


Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar


Pra você guardei o amor
Que aprendi vem dos meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que o arco-íris
Risca ao levitar


Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar


Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar


Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar


Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir


Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar


Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar


Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Da Série Contos Mínimos

Sabia, porque a gente sempre sabe, que nem tudo depende do desejo. Sabia tb que a responsabilidade não era de outra pessoa. Mas, às vezes, sentia uma vontadezinha de compartilhar. Um mesmo espelho sempre é pouco.

Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me (texto)

Ando nostálgico. Mas sei que a nostalgia talvez seja de algo que nem mesmo tenha existido. É possível que esteja apenas numa memória inventada. Uma saudade boa (e triste) de se ter.
Não é o desejo de voltar ao passado, propriamente dito, mas a vontade de se ter alguma coisa que não tenho, nem sei se tive, mas como não a(o) encontro aqui agora, me iludo com a possibilidade de encontrá-la(o) em outro lugar. Se não está aqui e se não a(o) vislumbro num futuro, só poderia achá-la(o) no passado. 
Não sei exatamente o que me faz sentir assim.
Hoje numa conversa com amigos no almoço, me dei conta de que o mês de abril está no fim e a impressão é a de que não fiz nada. Nem um passo. Primeiro, quando penso no que preciso fazer, depois, quando vejo que nem dei conta do que eu deveria ter feito. Estar longe desses pensamentos já seria bom. Mas, por hora, não dá.
Escrever já ajuda um pouco, enquando aperto as letras do teclado, penso um pouco sobre essa sensação. E pensar é, em parte, organizar para resolver.
Quando estou assim tenho vontade de estar com uma grande amiga do Rio, ela sempre tem alguma coisa para me dizer, para me confortar.
Na vitrola The Smiths dá vida à cena, ouço Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me, e seus primeiros versos Last night I dreamt/ That somebody loved me/ No hope, no harm/ Just another false alarm me chamam a atenção para todos esses últimos anos, talvez eu devesse modificar o pronome para a primeira pessoa, talvez fosse preciso repensar os últimos 11 anos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Círculos concêntricos das amizades (texto)

A fuga para as cidades, para as grandes cidades, não representa para os homossexuais somente a possibilidade de viver num certo anonimato. Trata-se, segundo Didier Eribon, de um verdadeiro corte na biografia dos indivíduos.
A cidade pequena é o lugar onde é difícil escapar do único espelho disponível, o que nos é apresentado pela vida familiar, pela escola, pelas instituições de uma forma geral. Nas cidades pequenas é muito difícil escapar dos modelos afetivos, culturais, sociais da heterossexualidade.
Quando refiro-me às pequenas cidade, refiro-me tb aos subúrbios em torno das capitais, por exemplo. Eles são uma espécie de cidades miniaturas onde vizinhos, familiares estão sempre de olho nos comportamentos. É muito comum a migração de gays para os grandes centros, partam eles de cidade menores ou de subúrbios que gravitam em torno de capitais.
Por isso é que a sociabilidade gay - ou lésbica - funda-se primeiramente, e antes de tudo, numa prática e numa "política" da amizade.
Estar com outros homossexuais permite ver a si mesmo. Permite partilhar e experimentar a própria existência, como escreveu Henning Bech.
As redes de amigos são uma das instituições mais importantes da vida homossexual. Só nesse quadro é possível desenvolver uma identidade mais concreta e mais positiva de si.
O círculo de amigos está no centro das vidas gays, e o percurso psicológico do homossexual marca uma evolução da solidão para a socialização em e pelos lugares de encontro.
Assim, o modo de vida homossexual está fundado nos círculos concêntricos das amizades ou na tentativa sempre recomeçada de criar tais redes e de estabelecer tais amizades.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A interpelação sexual e étnica (texto)

Quando nascemos o mundo já está pronto. A língua está pronta. Os sentidos que as palavras têm ou o peso que elas carregam tb estão dados antes mesmo de nascermos.
Os gays, por exemplo, vivem num mundo de ofensas. A linguagem os cercam. O mundo os insulta. As palavras do mundo político, médico,  jurídico atribuem a cada um deles e a toda coletividade um lugar de inferioridade na ordem social. 
Mas essa linguagem os precedeu: Esse mundo já está dado e se apodera deles antes mesmo de eles se reconhecerem como tal.
Tudo isso quer dizer, em outras palavras, que existimos não porque somos reconhecidos mas porque somos reconhecíveis.
Cada sujeito homossexual tem uma história particular, mas ela não está desvinculada desse coletivo que é constituído pelos outros sujeitos que são assujeitados pelo mesmo processo de inferiorização.  
O homossexual nunca é um indivíduo isolado, até quando se acha sozinho no mundo ou quando, depois de entender que não está, busca separar-se dos outros para escapar, precisamente, à dificuldade de se assumir como pertencente a esse conjunto estigmatizado, embora só a consciência reflexiva e crítica desse pertencimento possa permitir que ele se libere tanto quanto for possível fazer.
O coletivo existe independentemente da consciência que dele podem ter os indivíduos e independentemente da vontade destes.
Assim que entra num bar, assim que paquera num parque ou num lugar de encontros, assim que frequenta os lugares da sociabilidade gay, assim que abre um livro e se reconhece (e por isso mesmo que escolhe ler tal ou tal livro: senão, como explicar que os homossexuais leiam Proust, ou Genet, até quando não leem nunca literatura?), um gay se liga a todos aqueles que cumprem esses mesmos gestos, no presente, mas tb a todos aqueles que, no passado, criaram esses lugares, todos aqueles que os frequentaram antes dele, às tenacidades individuais e coletivas que os impuseram e os mantiveram contra a repressão, aos esforços e às coragens que foi preciso empregar para que existissem numa literatura e uma reflexão homossexuais.
Seja consciente ou não, aceita ou não, a subjetividade de um gay é imposta por um mundo e um passado que ele talvez ignore, mas que funda um pertencimento coletivo que a visibilidade contemporânea só fez manifestar à luz do dia.
Já há linguagem quando chego ao mundo. Já há papeis sociais que são designados por palavras, e principalmente por injúrias.
No caso dos negros não é diferente. Quando se trata da cor da pele, designa um estigma visível. É possível alguém esconder que é homossexual, mas esconder a cor da sua pele...
É possível, entre 10 e 15 anos de idade, alguém não saber que é - ou que será - homossexual, mas aos 10 anos, quem é negro sabe disso e, desde a infância, experimenta todos os dias o que isso significa em sociedade ocidentais, raramente isentas de todo o racismo.
No entanto, essa diferença não é absoluta, porque um jovem negro pode ignorar que é negro antes de ser confrontado com a violência do preconceito racial (em casa por exemplo, longe de experimentar seu ser para o outro).
Um jovem negro, por exemplo, tem todas as chances de viver numa família negra e, portanto, ser apoiado, na medida em que é vítima do racismo, ao passo que um jovem gay tem pouquíssimas chances de viver numa família gay ou lésbica, e o estigma ou a injúria que lhes são enviadas pelo mundo exterior atravessam igualmente o meio no qual vive.
O que engendra nos jovens gays um silêncio, uma prática da dissimulação e talvez produza traços psicológicos muito particulares pelos quais os homossexuais puderam ser definidos na literatura e no cinema (sorrateiros, mentirosos, traidores), que remetem, é claro, à percepção homófoba da homossexualidade, mas tb a certas realidades produzidas pela homofobia e a dissimulação de si que ela implica, e que seria absurdo querer negar. Em todo caso, as infâncias gays e lésbicas são fundamentalmente cheias de segredos, e isso não pode deixar de ter efeitos profundos e duráveis na personalidade deles.

A partir do texto de Didier Eribon - Reflexões sobre a questão gay.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A burca, o cuspe do ator e a morte da travesti em Campina Grande (texto)

O que a proibição do uso de véus em lugares públicos na França, a cusparada do ator Paulo Vilhena no rosto do repórte do CQC, Rafael Cortez, a morte de uma travesti em Capina Grande nos revelam?
Em princípio, todos esses fatos não teriam quaisquer vínculos, mas pensando melhor, eles têm sim uma relação.
Os franceses decretaram Lei proibindo o uso de dois tipos de véus mulçumanos: a burca e o niqab (que mostram apenas os olhos). Os argumentos são vários:  o Estado é laico, as pessoas são livres (ah, como assim?), o véu é uma forma de opressão, esconder o rosto pode significar esconder um terrorrista.
É verdade que as mulçumanas que são obrigadas por seus maridos a esconder os seus rostos estariam livres para mostrá-los. E as que querem usar a burca, as que não abrem mão de se vestirem assim? Obrigar a quem quer que seja se padronizar é um desrespeito, é violar os direitos.
Por detrás dessa lei, penso eu, há uma espécie de xenofobia. Quer usar a burca? Pois bem, volte, então, para o seu país! Ops, como assim seu país? Muitas são francesas.
Além disso, há uma espécie de superioridade racional dos franceses: vejam vocês como somos civilizados e respeitamos nossas mulheres. Se quiserem ficar na França, faça como os franceses.
Cuspir na cara do repórte, como fez o playboy e dublê de ator Paulo Vilhena diante de uma câmera ligada nos sinaliza uma forma de se colocar em um lugar que lhe permite fazer o que bem entende. Quem sou eu para lhe falar assim? Quem é vc para se dirigir a mim desse jeito? Não sabe com quem está falando? Pois bem, cuspir na cara é dizer ao outro quem ele é e como ele deve se comportar. Veja vc, reportezinho, sou um ator Global, me respeite ou...
Tb diante de câmeras, só que agora de trânsito, em Campina Grande, três homens esfaquearam uma travesti de 24 anos. Deram-lhe mais de 30 facadas. A vítima morreu no local.
Um dos assassinos justificou a morte por conta de um desacordo sobre o valor de um programa sexual com o travesti.
A vida da travesti valia para os assassinos o que vale um programa sexual. Para satisfazer os desejos sexuais dos meninos, ou do menino, porque não se sabe ao certo o que aconteceu, a travesti servia, mas ela não era, definitivamente, igual aos rapazes. Sua essência (e travesti tem essência?) era de outra natureza. A relação aí era desigual. Ela tb não sabia com quem estava lidando e nem o que poderia esperar. Quem manda se meter com gente (ops) de outras castas?

Quando "dois" é pouco (texto)

Dizem por aí que um é pouco, dois é bom e três, demais. É bem verdade que em algumas situações o ditado popular tá certo. Por exemplo, se uma relação a dois já é complicada, a três  se deve  acrescentar, pelo menos, um terço de complicação (uns poderiam dizer, mas se deve acrescentar tb, pelo menos, um terço de diversão etc.).
No entanto, quando não se tem uma margem, um a mais, em se tratando, por exemplo, de uma família,  se falta um, sobra apenas um. Aí  não é fácil segurar a barra sozinho.
Decidir sozinho, resolver com vc mesmo, fazer exatamente sem ouvir o outro, não ter uma segunda impressão, não ter outra opinião, não é das situações a mais confortável.
É bom ter uma margem de segurança, e margem aqui não é estepe, reserva, moletas, é ter segurança para, se pintar uma barra bem pesada, poder dividi-la.

Em torno de uma mesa (texto)

Já era para eu estar dormindo, ou, pelo menos, me praparando para isso. Hoje o dia foi puxado, além de Sobrados teve Mucambos. Não parei um minuto, mas nem posso reclamar. Muito bom, muito agradável meu final de noite. Acho que posso dizer mais, muito bom esse final de semana.
Fazia tempo que eu não tinha por aqui dias tão intensos. Algum tempo sem pessoas interessantes que me tirassem de um certo lugar de conforto, aquele de ficar sozinho ouvido a minha música, ou vendo o meu filme, ou escrevendo o meu texto, ou lendo qualquer coisa. Bom poder sair desse meu-mundo-igual-de-todo-fim-de-semana. Não é uma reclamação, de jeito nenhum!, não fico em casa por falta de opção, fico porquer gosto (fi-lo porque qui-lo).
De qualquer forma, aproveito para pensar um pouco no que ouço por aí, para haver diversão nem é preciso tanto malabarismo, mágicos, trapezistas, globo da morte, um pequeno comitê reunido em torno de uma mesa é suficiente.

sábado, 16 de abril de 2011

Vontade de rever amigos (Joyce)

Revendo amigos
Vontade de rever amigos
Os gestos de sempre, a risada em comum
Contando as histórias e os casos antigos
As músicas novas
Sem moda, sem tempo nenhum

Vontade de rever amigos
Dizer que estou solta na minha prisão
Gritar pras pessoas
Vem cá que eu tô viva
Me tira a tristeza de dentro
Do meu coração

Saber quem morreu
Perguntar quem chegou de viagem
Se foi porque quis
Explicar que o amor me pegou de mal jeito
Mas tudo somado acho que fui feliz

No entanto, cadê meus amigos
Vai ver que a poeira do tempo levou
A barra da vida tem muitos perigos
E a gente se afasta sem querer
Se esquece sem querer
Se perde dos velhos amigos

Se esquece e se perde dos velhos amigos.
 
Pra vocês: Teresa, Robson, Dias, Vera, Maga, Aline, Nanci, Renato, Gil, Patrícia, Íngridi, Luciana, Rômulo, Zequinha, Suzana, Márcia Crepaldi, Bárbara, Renato, Léo, Michael, Sandro, Zé, Mônica, Cátia, Aparecida, Rosana, Célia, Georges, Suley, Neném, Ana, Anselmo, Marina, João, Sebastian, Mauro, D. Teresa, Helô, Nika, Madelon, Serginho, Renato, Dórian, Binha, Tom, Rose, Tony, Glauco, Narda, Lu, Toninho, Paulo, Inês e tantos outros velhos amigos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Da Série Contos Mínimos

Espalhou fotografias por toda a casa para se encontrar, ou não se perder, na ausência do seu rosto.

Naftalina (texto)

Que tristeza quando vai chegando a época de retirar do sarcófago todos os casacos, edredons, cobertores, pijamas, meias, pantufas, gorros, luvas, cachecóis etc.
Ontem a noite foi fria. Estava eu deitado, depois de um dia daqueles (conversas, provas corrigidas, aula preparada), quando me dei conta de que o quarto já estava frio e nem era madrugada. Pensei algumas vezes antes de me levantar (eu estava podre) para pegar um edredon.
Achei até que pudesse ser demais. Mas já estamos no outono (estamos?!) e a possibilidade de esfriar sempre está presente.
Não me enganei. Fez frio. Fez um frio de verdade e eu estava agasalhado. Mas é claro que isso não é tudo, hoje acordei cedo, às 7h, para dar aula e ainda estava frio. Aí, realmente, não dá para ficar de bom humor. Quem pode achar bom acordar nessas condições: neblina, chuva fina, 2 casacos, luvas? Não dá, né?
Pois bem, a manhã foi desse jeito. A chuva parou não faz muito tempo. Relaxar porque vai piorar.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

O micróbio do samba - Adriana Calcanhotto (texto)

Como já dito no post abaixo, não sou do tipo que me apaixono de cara por um CD. Insisto um pouco. Insisto um pouco mais se tenho boas referências do cantor.
E tb não tenho mais idade para sair por aí dizendo que vale o que se vê de imediato. Definitivamente, não. Mas a impressão que tive do mais recente CD de Adriana Calcanhotto, O micróbio do samba, não foi das melhores.
Fiquei com a sensação de que ela tenta fazer (considerando sempre as condições de cada um dos artistas) um samba sofisticado como o de Paulinho da Viola, mas derrapa. Achei o CD pretensioso e sem qualidade.
Samba com guitarra é modernoso, mas... 
Nem mesmo as já conhecidas Beijo sem gravada por Teresa Cristina e Marisa Monte ou Vai saber? gravada por Marisa Monte funcionaram na voz da cantora. Fiquei desapontado, primeiro, porque, em geral, uma música sempre cola em mim quando se trata da gaúcha cantando e compondo, depois, porque nem uma letrinha, umazinha sequer, me surpreendeu.
Tomara que na insistência eu mude de opinião.

Marcelo Camelo (Texto)

Não sou do tipo que se apaixona de cara por um CD inteiro. Na verdade, sou do tipo que vai gostando um pouquinho hoje, outro amanhã, até gostar (ou não, como diria Caetano) da obra. Mas o novo CD do compositor, cantor, intrumentista Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos, é muito bom.
Desde o primeiro acorde até surgir a sua voz em A noite ou até finalizar o último som em Meu amor é teu, é tudo bom demais! Coloquei para tocar assim que cheguei ontem de viagem e não dá para parar de ouvir.
Destaque para Despedida. Por enquanto, minha favorita. Mas todas as outras são bem feitas, casando voz, letra e música. O encarte é um datelhe que conta (tb por isso não deixo de comprar CD) de forma positiva para o conjunto. Bom demais ter um artista dessa qualidade no mercado.

Que só quando eu cruzo a Ipiranga com a Avenida São João (texto)

Acabei de chegar de São Paulo, foram apenas 2 noites e 3 dias. Bem pouco para uma capital com tanto para fazer, muito para ver, quantidades de lugares para ir.
Fiz quase nada, diante de um mundo. A ida foi motivada pelo show do U2, que merece um post exclusivo. Fica pra depois. Mas, honestamente, fiquei mais feliz por estar em Sampa.
Primeiro porque participei da comemoração de 8 anos do casamento de amigos, e nessa festinha, pra poucos, me diverti muito. Éramos onze, com os anfitriões, ou seja, um pequeno comitê. Participei quase que por um acaso...de qualquer forma foi bom demais estar por lá. Ri muito, conversei bastante, me senti como se fosse velho amigo dos amigos dos amigos.
No sábado, depois de uma sexta-feira meio alcoólica, acordei relativamente tarde, mas o Conjunto Nacional eu não poderia perder. Fiquei boa parte da manhã em volta dos livros e CD´s. Pena não ter grana suficiente para comprar tudo que me fez suspirar. O saldo foi positivo, posso dizer assim.
Em seguida, almocei com um velho amigo (Cacau) e passamos a tarde juntos. Comemos num lugar delicioso, comida tailandesa. Todos os gostos, cheiros, sabores me impressionaram. Muito. Além disso, o papo foi divertido. Colocamos um pouco dos assuntos em dia. E daí para a Augusta e Frei Caneca foi um pulo. Menos até.
Mas não é exatamente isso que me encanta na mais capital das capitais, é alguma coisa que só se encontra por lá. Gente demais na rua sem que se tenha essa impressão, gente em toda a parte e em todos os lugares sem que isso seja alguma coisa para se achar fora do catálogo. E tb fazer parte disso sem que isso seja um tom acima do demais.
Meus amigos reclamam do cada um por si da cidade, eu tb reclamaria, com certeza, mas estava ali de passagem e isso, inclusive, me fazia bem. Mais um na multidão. Tudo é tanto, tanto é tão grande, muito é demais que dois olhos são poucos para ver o que se passa, quem passa, como se passa. Um ano é pouco pra São Paulo.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Qual a máscara que vc mais usa? (texto)

Todos nós temos máscaras sociais, ou seja, a gente se traveste, às vezes de nós mesmos (isso acontece quando a gente vira uma autocaricatura), para dar conta de situações diversas. Fiquei agora pensando nessa minha máscara mais batida, velha de uso, empoeirada, mas que me salva em alguns momentos.
Acho, eu escrevi acho, que a minha máscara mais frequente é a de engraçado. Não sou engraçado, ou melhor, não quero ser divertido sempre. Bem ao contrário, sou silencioso, não gosto de muita falação, mas para sobreviver, não me afogar, não me jogar do terceiro andar e cair em mim, brinco. Faço piadas. Rio de mim mesmo.
Qual a máscara que vc mais usa?

sábado, 2 de abril de 2011

A bíblia como o único parâmetro para explicar o mundo (texto)

Nada contra quem carrega a bíblia embaixo dos braços e a cada fala cita um provébio, salmo ou alguma passagem para justificar os comportamentos humanos.
Nada contra quem acha que tudo é possessão. Uma dor de cabeça é um demônio que habita o corpo.
Nada contra quem acha que a miséria é uma provação. Que o sofrimento é o desejo de Deus.
Nada contra nenhuma religião. Nada contra pastores, padres, pastoras, papas, pais e mães de santo, entidades, santos, espíritos desencarnados, profetas.
Enfim, tenho por princípio: cada um é o que pode e o que se pode diz respeito apenas a cada um. Eu sou o que eu posso, não o que eu quero ser.
A partir disso, não posso admitir que se use um livro, seja ele qual for, como parâmetro único para explicar, justificar, impelir comportamentos.
Tô cansado, muito mesmo, de responder provocações que giram em torno da normalidade heterossexual em detrimento da anormalidade homossexual. Isso não me diz mais nada. Não tenho tempo para isso, meu trabalho me consome de tal forma que tenho selecionado, com muito critério, o que ler. Antes, quando da graduação, eu lia tudo, tudo me interessava.
Continuo me interessando por muitas coisas, mas cada vez menos por pessoas que se interessam apenas por verdade absoluta, única, de uma só mão
O site da ABGLT foi invadido nesta madrugada, dia 02, por ráqueres que por lá postaram textos. Um deles um enunciado sobre Bolsonaro (o tal deputado sexista, racista, homofóbico, burro) para a presidência da república. O que sozinho já seria o suficiente para me calar.
Não se pode esperar de um presidente comportamentos que desrespeitem a Constituição, por exemplo. Todos somos iguais perante a Lei e isso significa que Todos, sem exceção, temos os mesmos direitos. Ou teremos cidadãos de segunda classe. Não sou de classe alguma.
Como se pode esperar de um presidente declarações racistas, preconceituosas, homofóbicas, ou coisas parecidas?
O outro, um texto com base numa leitura bíblica de inteligência tão duvidosa que tb não merece comentário. Nenhum. Deus criou o homem e a mulher. Deus criou o sexo para procriação. Deus criou a boca para o beijo? Sexo anal só acontece entre dois homens? Todo sexo tem por objetivo se multiplicar? Cansei. Por que não: Nada acontece sem que seja vontade dEle?
Não sei muita coisa, ou melhor, sei quase nada, mas tenho a certeza apenas de que estamos perdendo o nosso tempo com brigas sem propósito, que não nos levam a lugar nenhum, mas que produzem sofrimento. 
Estranho, eu acho, falar em nome de deus para produzir sofrimento, separação, desigualdades, ódio, diferenças. Mais estranho ainda se achar no lugar de poder falar em nome dele. Mas como disse há algumas linhas, cada um acha o que pode e não o que quer.

quinta-feira, 31 de março de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Para Lamentar (texto)

Que o Para Lamentar Jair Bolsonaro do PP/RJ é um idiota, não é novidade pra ninguém, ou pra quase ninguém. Mas tenho percebido, nesses últimos meses, que ele tem dado declarações, no mínimo, curiosas. 
Parece que o ilustre deputado tem se sentido ultrajado pela presença de homossexuais, sugiro que ele procure no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar  tanto ultraje.
Fico desconfiado que as suas noites estejam sendo atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis. Ou ele não estaria tão incomodado com a sexualidade dos outros. A foto aí acima é para contribuir com essas possíveis fantasias.
Porque até onde sei, pessoas bem resolvidas sexualmente não ficam preocupadas, por exemplo,  se a colega de trabalho é apaixonada por uma mulher, se o vizinho dorme com outro homem?
Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.
Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo.
(a partir do texto de Dráuzio Varella - publicado aqui neste blog no dia 10 de dezembro de 2010)

NOTA PÚBLICA

O Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT), repudia com veemência as declarações racistas, sexistas e homofóbicas feitas pelo Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP/RJ), em entrevista exibida no programa Custe o Que Custar (CQC), em 28 de março de 2011, quando foi questionado por várias pessoas, uma delas a cantora Preta Gil, sobre como reagiria se seu filho namorasse uma mulher negra.
A resposta de Bolsonaro foi: “Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”. Após ser acusado de racista, o parlamentar lançou nota afirmando que “A resposta dada deve-se a errado entendimento da pergunta - percebida, equivocadamente, como questionamento a eventual namoro de meu filho com um gay (…). Reitero que não sou apologista do homossexualismo (sic), por entender que tal prática não seja motivo de orgulho.”. Em outro momento, na mesma entrevista, o Deputado também disse que jamais poderia ter um filho gay.
Aproveitando-se da falta de instrumento legal que criminaliza atos homofóbicos, Bolsonaro tem se notabilizado como destilador contumaz de ódio e intolerância contra a população LGBT. Agora, o referido Deputado tenta esquivar-se da acusação de racismo – crime tipificado na legislação brasileira -, agredindo e injuriando novamente a população LGBT.
Com tais posições e declarações, Bolsonaro reforça a sua faceta homofóbica, racista e sexista, agindo, de forma deliberada, com posturas incompatíveis com o decoro e a ética exigida de um representante da sociedade brasileira no Congresso Nacional, especialmente considerando os princípios da democracia e do respeito à diversidade do povo brasileiro.
O CNCD/LGBT endossa todas as representações apresentadas por Parlamentares junto a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Federal e requer ao Procurador Geral da República a instauração de investigação criminal para apuração do crime de racismo (Art. 20 da Lei 7.716/89) e injúria e difamação ( Art. 139 e 140 do código) contra a população de mulheres e LGBT.

terça-feira, 29 de março de 2011

José Alencar - 17 de outubro de 1931/ 29 de março de 2011(texto)

O câncer mata milhares de pessoas todos os anos. Todos os dias, sem exceção, recebemos notícia de alguma vítima da doença. Morrer de câncer não é, portanto, nenhuma novidade.
Nunca votei no Partido Republicano Brasileiro (PRB). Nem sabia, antes de conhecer o vice de Lula, da sua existência.  Nunca acompanhei a trajetória política de José Alencar, no entanto, a minha simpatia por ele foi imediata.
Acompanhamos, via mídias, a sua luta diária contra a doênça desde os primeiros anos ao lado de Luís Inácio Lula da Silva. O que mais me impressionava no homem era a forma com a qual encarava a doença: ele parecia não desistir nunca da vida. Além disso, o que não é pouco, não perdia o humor, não perdia a paciência diante das câmeras.
Não sei quem ele foi além do que eu li e acompanhei durante todos esses anos. Não sabia a sua idade, o nome da cidade natal, os partidos pelos quais passou, nada além do que me era fornecido pelos meios de comunicação. 
Não soube nunca de envolvimentos seus com desvios de verbas, licitações ilícitas, nomeação de parentes para cargos públicos, nada que manchasse a sua trajetória pública. Ou seja, uma grande exceção num cenário repleto de escândalos envolvendo parlamentares.
Fiquei triste com a notícia de sua morte. Lamento mesmo, mas sobre a morte, ele nos disse: "Não tenho medo da morte, porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho. Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele.”

segunda-feira, 28 de março de 2011

Da Série Contos Mínimos

Precisava apenas de um colo para descansar. Sem perguntas, sem maiores explicações. Apenas um colo.

O que nos revelam as palavras (texto)

Estou ainda atravessando a crise de falta do que escrever, por isso recorri aos amigos que por aqui passam para alguma sugestão sobre um tema. A Rosa da Rosa deu várias sugestões. 
Dentre elas me foi sugerido escrever sobre as  palavras que se tornam cafonas, datadas demais. E aí fiquei pensando, sobretudo, nas gírias. Todas as palavras têm algum registro de sua história: quando foram dicionarizadas, quando receberam sentidos novos, quando deixaram de fazer parte do vacabulário mais formal, quando migraram de classe social etc.
Basta consultar um dicionário qualquer para saber, por exemplo, quando uma palavra passa a ser dicionarizada, além é claro, da sua etimologia (estudo da origem e da evolução das palavras). A palavra heterossexualidade, por exemplo, no dicionário eletrônico Houaiss, aparece com a datação do século XX. Palavra relativamente nova se pensarmos na história da língua portguesa.
Mas é claro que quando usamos determinadas palavras não ficamos pensando em sua origem, formação etc. Elas quando nos são conhecidas, fluem com muita naturalizadade das nossas bocas.
As gírias tb, como todas as outras palavras, são datadas. E ao contrário do que muita gente pensa, não são apenas os mais novos que fazem uso delas. Nós todos utilizamos em algum momento uma ou outra.
Não podemos, portanto, perder de vista que essas palavras revelam muito mais do que a gente se dá conta. Vamos ver por que.
Não dá para imaginar, hoje em dia, um adolescente chamando uma menina bonita que passa de brotinho. Muito menos outra adolescente chamando de pão um homem bonito que se vê por aí. Isso quer dizer que quem usa pão e brotinho, por exemplo, está  revelando qual a sua faixa etária. 
O mesmo acontece quando se usam: putz grila, pintei, papo firme, mora, saquei, pagar mico, pombas, uva, pra frentex, chuchu beleza, bocomoco, batata, amigo da onça, beleza pura, caranga, mandar brasa, parada dura.
E tb quando se ouve: tipo assim, ficar, caraca, fui, sequelado, gorfei, gramei, ganso, balada, meter o pé, abraça, veneno etc. Também revelam a idade de quem as enunciam.
As gírias têm tb outras características. Elas muitas das vezes fazem parte de certos grupos bem específicos. Os gays, por exemplo, usam expressões próprias entre si, para, dentre outras coisas, afirmar a sua identidade, brincar, falar para que os não-iniciados não  os compreendam: odara, nena, neca, mona, edí, acué etc. 
As patricinhas, os skatistas, os surfistas, os jogadores de futebol, todos eles têm gírias próprias para a comunicação.
As finas que gostam sempre de uma palavrinha em inglês para dá um up ou não ficar out na fita.
O que não podemos perder de vista é que as gírias quando usadas em excesso restringem muito o poder de comunicação. Nem todo mundo é um Fashion-victim em se tratando da gíria mais atual.

domingo, 27 de março de 2011

Bem que os amigos poderiam deixar aqui uma ideia sobre o que escrever (texto)

Nunca escrevi tão pouco aqui no Blogue quanto neste mês de março. O que será que isso significa? Falta do que dizer? Desânimo? Sinal de que o meu interesse pelo blogue está diminuindo? Muito trabalho? Outras questões mais interessantes à vista?
Fiquei preocupado ao perceber que durante o mês de março escrevi apenas 10 pequenos textos. Tudo bem que teve aí um carnaval,  uma gastroenterite, 5 dissertações de mestrado, aulas. Mas já tive tempos piores com uma produção mais significativa.
Carnaval acontece todo ano e normalmente em fevereiro, mês com um número menor de dias, e que eu lembre nunca foram tão poucos escritos. Acabei de verificar, para não escrever assim de orelhada, quando escrevi menos foram postados 19 textos (em dezembro de 2010). Dezenove  não são 10, já me confirmaria Saussure.
Se pelo menos eu tivesse descoberto alguma coisa mais interessante para fazer que justificasse essa falta, mas nada aconteceu.
Portanto não há, que eu me lembre, um motivo que explique tão poucas linhas. Pera aí, estou falando de linhas ou de textos? Será que verifico? Não! Isso seria demais! Ou de menos, talvez!
Melhor, caso eu queira não ficar tão na lanterna, aproveitar esses dias que faltam para finalizar o mês e mandar brasa. Mandar brasa é tão cafona!
Olha, de qualquer forma, bem que os amigos podiam deixar alguma ideia aqui sobre o que escrever. Sei que isso é um perigo, mas pode, por outro lado, ajudar. Conto com vocês!
Como é bom dividir a irresponsabilidade.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Haiti não é aqui (texto)

É impressionante a capacidade de recuperação do Japão, país atingido por um terremoto de intensidade 8,9 (numa escala de 0 a 10) na sexta-feira, dia 11 de março.
As fotos, postadas no site do G1, nos dão uma ideia de como essa reconstrução será rápida.
Para se ter uma noção do que ocorreu: tremores que variam entre 7 e 7,9 graus na escala Richter são propícios à retirar os edifícios de sua fundações, sem contar o surgimento de fendas no solo e danificação de toda tubulação contidas no subsolo.
Abalos sísmicos com intensidade que oscila entre 8 e 8,5 graus nessa mesma escala configura como de grande magnitude, seus efeitos destroem pontes e praticamente todas as construções existentes.

Destruição total ocorre com tremor de 9 graus na escola Richter, e, hipoteticamente, se houvesse um terremoto de 12 graus a Terra seria partida ao meio.  

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sites, uma profusão deles prometendo desconto e estimulando compras quase inúteis (texto)

Recebo muitos e-mails, muito mais do que eu preciso/gostaria ou consiga dar conta. Ficam sempre muitos para responder. Alguns esquecidos, inclusive. Só depois de algum tempo minha memória, extremamente seletiva, me alerta de algum esquecimento sintomático.
Não é sobre a minha memória que gostaria de escrever (tá vendo o que nos acontece se a gente não tem foco?), mas sobre a grande quantidade de e-mails que tenho recebido, às vezes mais de uma vez por dia, me oferecendo produtos sem os quais eu não poderia viver.
Groupalia, Alvo da Cidade, Peixe Urbano são alguns sites que tentam me fisgar pela boca, estômago, espelho. São tiros para todos os lados: hotel na serra, 2 horas de painball, colocação de insulfilme, kit páscoa, filé à parmegiana + fritas + arroz em Ponta Negra, 2 diárias para casal, porção de acarajés + 1 caipiroska, 1 delicioso x-salada, 6 meses de asinatura da revista Época e por aí vai.
Com exceção do Peixe Urbano, do qual aceitei participar, os demais, e põe demais nisso, não faço ideia (ou faço) de como entrei nesse barco furado de ofertas diárias. 
O Alvo da Cidade, por exemplo, me manda por dia tantas ofertas que mesmo se eu fosse um comprador contumaz não daria conta de acompanhar o seu raciocínio mercadológico.
Como casar um x-salada +  2 horas de painball + uma máscara facial antirrugas e uma aula de mergulho na Ilha Grande, no Rio de Janeiro? Sem chance, pelo menos pra mim.
Fica aqui um pedido de coerência.

sábado, 19 de março de 2011

Final feliz tem que ter filhos e casamentos, muitos casamentos (texto)

Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho (Vinícius de Moraes), o resto é mar...
Ontem acabou mais uma novela, não novela no sentido retórico, mas novela dessas que se iniciam no primeiro capítulo prometendo muitas novidades e terminam no último iguaizinhas a todas as outras novelas (isso se deve apenas ao gênero?!). Não acredito nisso.
Vamos aos motivos que me trouxeram a esse texto. Primeiro dizer que acompanhei Ti-ti-ti, novela das 19h30 da Rede Globo, porque as novelas desse horário, com raríssimas exceções, são divertidas; depois, como nesse horário eu costumo jantar, quero estar diante de um programa (não costumo jantar ouvindo música) que não me exija muito e se possível me faça rir (diante disso, nada melhor do que novelas)E ainda, os dois motivos anteriores já me seriam bastante, pelo elenco. Gosto demais da Cláudia Raia, sou apaixonado pela Dira Paes, Rodrigo Lopes é um ótimo ator e por aí vai...
Dito isso, vamos ao texto, propriamente dito.
Os últimos capítulos de Ti-ti-ti foram dedicados aos princípios  de felicidade cristalizados em parte de nossa sociedade, ou seja, casar e ter filhos. Ninguém poderia, portanto, ser feliz sozinho.
Esse foi o final supreendente prometido pela autora da novela. Todos se arranjaram, com raríssimas exceções. Quem não ficou feliz junto de alguém recebeu dinheiro (ou fama) como recompensa. Alguns receberam dinheiro e companhia para reforçar ainda mais essa equação: felicidade é = casamento e dinheiro.
Acho que não é apenas o gênero-novela que define como vai ser a direção desses folhetins. Sei que o público tem, porque novela sem audiência não vende, não tem patrocío etc e tal, um papel fundamental na continuidade dos capítulos. Há, inclusive, uma equipe de telespectadores que dá retorno aos autores e diretores. E isso é determinante nesse processo de escritura da novela, no caso dessa, reescritura porque é uma remake dos anos 1985-1986.
O que mais me surpreendeu nesse reforço todo, foi o exagero de encontros que aconteceu nessa última semana, até os vilões se deram bem (quem sabe a surpresa anunciada não fosse essa?). Chegaram novos atores para evitar que as prováveis solteiras ficassem sozinhas. Homens de tudo quanto foi lado.
O casal gay Thales e Julinho (Armando Babaioff e André Arteche) ficaram mesmo no abraço enquanto todos os outros casais  héteros caíram nos beijos.
Só não teve par quem não tinha muita importância na trama, aqueles personagens que existem apenas para introduzir os personagens centrais. 
Uma pena, eu pelo menos acho, que um programa com tanta audiência não possa, justamente por ser muito assistido,  descristalizar estereótipos, subverter as ordens, inovar. 
Fiquei um pouco, um pouco porque isso não tem importâcia nenhuma na minha vida, decepcionado diante de tanta possibilidade e de tão pouca ousadia. Uma pena que as novelas tb sirvam para nos catequizar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Da Série Contos Mínimos

Conheceram-se em uma reunião de condomínio. Fazia pouco que estavam naquele prédio. A cada reunião um novo encontro. Sempre tinham o mesmo ponto de vista em relação à portaria, ao uso do play,  ao barulho no salão de festas, aos funcionários, à limpeza da área comum.
Resolveram, depois de uma daquelas reuniões  quentes, esticar a conversa na companhia de uma cerveja bem gelada. E não pararam nunca mais de beber juntos.
Alugaram um dos apartamentos e vivem juntos sem dar bola para os condôminos.

terça-feira, 15 de março de 2011

Gastroenterite (texto)

Pronto, soube hoje que tive uma gastroenterite (inflamação das mucosas do estômago e dos intestinos). Já medicado, já fora da cama, já não tão sem força, já com pouca febre, e o melhor, sem dúvida quanto à indisposição. Fiz exame de sangue e urina e o médico já me deu (incluído no preço da consulta) o diagnóstico.
Hoje eu já acordei melhor, sem aquele cansaço do final de semana que me dava forças apenas para me manter deitado.

domingo, 13 de março de 2011

Indisposição total (texto)

Não sei se o corpo passando por uma ressaca pós-carnaval, não sei se comi alguma coisa que me fez mal, ou se deixei de comer e isso me  derrubou, sei que esses dias pós-folia não foram nada fácil. Tô melhorando um pouco agora, à noite. 
Sábado amanhaci bem e fui dar aula, mas não levei bem o dia. Ainda no final da manhã me senti tonto. E fiquei tonto o final de semana inteiro.
Pensei até na possibilidade de dengue, mas felizmente não. Não fiquei tão debilitado assim. Sem força até para sair e almoçar ou jantar. Me virei com o que tinha em casa. 
Sabe aquele tipo de gente que tem um tomate na geladeira e consegue fazer uma bacalhoada? Pois é, não sou esse tipo de gente. Comi mesmo o tomate.
Hoje tinha churrasco do primeiro ano. Coloquei maior fogo para a garotada participar e não consegui sair da cama. Amanhã já é segunda e me sinto ainda na sexta-feira à noite, vontade apenas de dormir.
Se continuar assim tenho que ir ao médico para descobrir o que se passa. Médicos se não descobrem o que a gente tem, dizem que é virose. Fico bravo quando me dão essa resposta. Como assim, cara-pálida? Melhor seria, acordar bem amanhã.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Vestígios da folia (texto)

Ainda continuo cansado dos dias de carnaval. Cheguei ontem e hoje ainda tem vestígios da festa em casa. Colocar-se em ordem não é tarefa pra um dia. Fazer ou desfazer a mala não é, definitivamente, a melhor parte das viagens. 
Não consegui entra no ritmo do trabalho funcionário-público que bate cartão e cumpre horário. O pior é que os compromissos não aguardam vc se recuperar. 
Ontem mesmo caí numa dissertação, restam 4 até final de março, ou seja, uma por semana, sem intervalo ou tempo pra respirar. E pra quem não curte trabalhar final de semana, não me restou muita alternativa.
E pra piorar essa situação, me convocaram pra 4 aulas no sábado. Ou seja, preciso, ainda hoje, preparar aula e exercícios, do contrário, os alunos morrem de tédio com tanta teoria.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Cacá, Dadvânia, sombrinha, Santo Antônio de Lisboa, carnaval, fim de festa (texto)

O carnaval acabou. Foram 5 dias de festa, praia, sol e amigos por perto. Florianópolis é uma cidade especial. Além das praias lindas, o clima  friendely, a sorte de conviver com o Cacá (ligado nos 220w  assim que acordava e nos 680w no final do dia) e tantos outros amigos numa mesma casa. 
O clima por lá não era nada familiar, quer dizer, apenas o café da manhã lembrava uma casa, digamos, mais conservadora. Os horários tb não eram nada católicos, as refeições inexistiam, mas a caipiroska batia ponto todos os dias.
Conviver com 8 pessoas num mesmo espaço tem lá as suas desvantagens, todos nós sabemos que dividir banheiro e quarto não é fácil, mas em se tratando de 9 pessoas movidas pela vontade de se divertir, o clima não esquentou em nenhum momento dentro de casa. Bem ao contrário, enquanto um comprava os pães para o café, o outro colocava a mesa. E assim fomos nos (des)organizando durante o carnaval.
O melhor de tudo é sempre o riso fácil. E isso esteve sempre presente. Dadvânia, quando aparecia, não nos deixava sem uma boa gargalhada. 
Cacá, pra variar, roubou a cena: suas tiradas filosóficas, sua sombrinha inseparável, suas filhas (Jaqueline e Comprida) levando a culpa por tudo nos divertiam o tempo todo. A Tia, a Paula Poste tb deram o ar da graça.
O bom da festa na Ilha da Magia sempre é a praia, o local de confraternização. Frequento Floripa desde 2000 (e vai é tempo) e a cada ano sempre acho o carnaval melhor.
Neste ano, conheci um pedaço especial da ilha: Santo Antônio de Lisboa. Vontade de morar por lá. Me lembrou Parati, no Rio de Janeiro, consideradas as proporções. Um bom peixe como prato principal, o camarão como entrada num restaurante na beira da praia. Alguém precisa de mais alguma coisa?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Em defesa da defesa (texto)

Não há dissertação ou tese que não tenha problemas. Futucando bem, todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina...só a bailarina que não tem*. Isso é já-dito.
Todos nós sabemos, porque isso faz parte do nosso dia a dia, que erros de digitação, concordâncias mal feitas, empregos de palavras equivocados, conceitos mal entendidos, parágrafos longos, também fazem parte de quase todos os trabalhos entregues.  Mesmo os que passam por uma revisão daquelas. Acho que não há dúvida quanto a isso. Acho.
No entanto, o que não se deve achar tão comum é uma defesa sem defesa. Vou me explicar melhor. Quando um componente da banca aponta algum engano no nosso trabalho, e esse engano é legítimo, mas não foi percebido a tempo, ele deve ser explicado. Ninguém tem a obrigação de ser perfeito, mas uma dissertação/tese deve ser explicada.
Não se pode fingir que não se tem o que dizer. Isso é vergonhoso. Não tenho dúvida. Quem faz o apontamento está aguardando uma explicação sobre a leitura feita, sobre a palavra mal empregada, sobre a bibliografia que não apareceu, sobre a conclusão a que se chegou.
Não se pode receber, nessas ocasiões, um puxão de orelha da mesma forma que se recebe um elogio. A cara para o puxão deve ser uma e para o elogio, outra. Não se engane!
O momento de uma defesa é um momento único, já dizia a minha ex-orientadora: É o tempo que nós temos para falar a respeito daquele trabalho realizado. Ou vc toma as rédeas e se torna o responsável pelo que entregou ou não vai para a defesa.
O que não dá, e isso é realmente inaceitável, é para se calar diante de equívocos, se houver, como se eles não existissem.
*Ciranda da Bailarina (Edu Lobo / Chico Buarque)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Atravessamos o deserto do Saara (texto)

Ainda que meu exílio político dure quase vinte anos e seja bem aqui no Oeste no Paraná, mais precisamente em Cascavel, minha cabeça continua no ritmo de uma cidade, relativamente mítica, acidentalmente distante, absolutamente presente na minha constituição.
Às vésperas da maior festa carioca meu coração anda batento na cadência do samba. Mas o resto do corpo, incluindo aí até as  partes que não andam muito bem, como as pernas, por exemplo, anda forçosamente no compasso do trabalho.
Por aqui não se fala em carnaval, não se respira carnaval, não se ouve carnaval. Tudo continua como se ele sequer existisse. Nem aquele batuque ao longe, como eu estaria possivelmente ouvindo, do Bloco das Quengas, meus vizinhos mais ilustres na Lapa, se materializa nos meus sonhos. Na-da.
Nem ruas interditadas para os blocos que insistem em sair antes do sábado de carnaval (Sábado de carnaval existe? Perguntariam uns.). Nem um ensaiozinho do Bloco da Preta no Circo Voador às quartas-feiras. Apenas planos intermináveis para esta semana, aula, defesa de mestrado, grupo de estudo, projetos, processo de transferência externo etc & tal.
Como é que se pode pensar tanto em trabalho num momento único como este? Carnaval acontece apenas uma vez por ano (minha gente), são 4 diazinhos que exigem concentração, preparo físico, espírito de folião. E isso não se consegue assim de véspera como um passe de mágica: amanhã é sábado de carnaval e eu acordei animado. Não! Não é assim que a banda toca. Carnaval exige força na peruca, passagens pelos brechós, encontros com Vanise, idas à Ipanema, conhecimento musical, ou seja, um amontoado de grandes detalhes que nos dão o tom da festa.
Beleza, não tem mesmo jeito. Não vai ser esse texto que vai produzir nos meus chefes: João, Sanimar, Cida, Helenita, Cascar e Alcebíades uma outra organização do trabalho em função da festa que acontece a sei lá quantos quilômetros. Conformado (nem tanto) volto à leitura de uma dissertação porque a defesa é quinta. Bom carnaval pra quem é de carnaval!

Da Série Contos Mínimos

Conectava-se a cada instante na esperança de encontrar a mensagem que insistia não chegar.

Porque a gente acredita, mesmo não acreditando muito, que vc está me protegendo

Faz quinze anos que vc nos deixou! Eu já era um homem. Vivia há um longo tempo longe de vc. Tive a sorte de conviver contigo por 44 anos. Um...